Polinização vibratória

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Uma abelha a praticar polinização por zumbido.
Zângão polinizando Solanum dulcamara.

Polinização vibratória ou polinização por zumbido designa a técnica usada por certas espécies de abelhas solitárias (Andrenidae) e de abelhões para extrair pólen das flores que requerem vibração para libertarem o pólen e completarem o processo de polinização.[1] Para desalojar o pólen, o insecto agarra a flor e move rapidamente os músculos alares, sem mover as asas. Essa acção produz um zumbido com um som característico e uma vibração que mobiliza os grãos de pólen e os faz emergir da antera. A abelha-doméstica (Apis mellifera) não é capaz de efectuar esta operação e não pode polinizar estas plantas.[2] Mais de 70 famílias e cerca de 20 000 espécies de plantas, ou seja aproximadamente 9% das espécies de plantas com flor, são polinizadas primariamente por polinização vibratória.[3]

Morfologia da flor[editar | editar código-fonte]

As anteras das plantas que são polinizadas por meio de vibrações tendem a ser tubulares, com uma única abertura, o poro, no extremo distal. Nestas flores, ao contrário do que ocorre quando as anteras apresentam deiscência, o pólen permanece dentro da antera e apenas é libertado através do poro quando a estrutura é vibrada. No caso de algumas plantas autogâmicas (que se autopolinizam), como por exemplo o tomateiro, o vento pode bastar para mover os grãos de pólen e realizar a polinização, mas na maioria das espécies que requerem actividade vibratória, apenas a vibração induzida por alguns tipos de insectos assegura um grau elevado de polinização.[2]

As flores que necessitam polinização vibratório apresentem uma forma particular de anteras, diferente da das restantes flores. O pólen permanece encerrado dentro da antera sendo libertado apenas por um pequeno poro no seu extremo ou por ranhuras longitudinais. Estas aberturas são demasiado pequenas para que o insecto as possa penetrar, mas suficientemente grandes para garantir a saída do pólen. Esta estrutura conduz à designação de anteras poricidas que lhes é aplicada.

Para além disso, o pólen apenas sai quando haja uma vibração de determinada frequência. Em consequência, neste tipo de flores a polinização apenas tem lugar quando o polinizador extrai o pólen. Determinados insectos estão especializados para realizar esta operação.[4] Geralmente o estigma deste tipo de flores está mais baixo que as anteras, o que se interpreta como uma estratégia evolutiva para impedir ou limitar a autofertilização.[4]

As plantas mais antigas que se sabe terem usado este tipo de polinização datam do período Cretácico.[5]

Alguma flora extante do presente, como a família Myrtaceae, exibe diversos tipos de anteras incluindo algumas poricidas que se assemelham ao tipo ancestral de flores com polinização vibratória.[5] Por um processo coevolutivo, as plantas desenvolveram uma estrutura particular e por sua vez os insectos polinizadores evoluíram estruturas anatómicas e comportamentos que permitem aceder ao pólen dessas flores.[6]

Importância económica[editar | editar código-fonte]

Há agricultores que importam polinizadores, como os abelhões, aonde haja escassez desses organismos. Na Nova Zelândia não era possível obter sementes de Trifolium pratense (trevo-vermelho), por ser uma planta que requer polinização vibratória, até serem introduzidas espécies oriundas da Europa que são capazes de o fazer.[7] Nos Estados Unidos importam-se espécies de abelhas-solitárias da Europa para a polinização de tomate (Lycopersicon esculentum) cultivado em estufa. Geralmente usam-se 50 colónias daqueles insectos por hectare. Com 40 000 ha cultivados mundialmente, calcula-se que esta operação tenha um valor de 13 milhões de dólares anuais.[8]

Apesar da importância destes insectos existem formas alternativas de polinização. Assim, no caso da cultura de tomate em estufa, é possível realizar a polinização manualmente, sem insectos, por meio do uso de um vibrador, por vezes designado por "abelha eléctrica". O dispositivo é similar a um diapasão ou a uma escova de dentes eléctrica. Contudo, o uso desses dispositivos requer trabalho humano que é mais caro que o uso de insectos polinizadores.

Na Austrália, continente que carece de polinizadores nativos, as espécies introduzidas para polinização escaparam e já se converteram em espécies assilvestradas. Esta introdução por sua vez tem repercussões na fauna de abelhas nativas. Actualmente estuda-se a possibilidade de usar espécies nativas australianas, como Amegilla cingulata, para este fim.[9]

Espécies que requerem polinização vibratória[editar | editar código-fonte]

Entre muitas outras, as seguintes plantas requerem polinização vibratória:

Espécies que polinizam por zumbido[editar | editar código-fonte]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Claus-Peter Lieckfeld, Markus Imhoof: More Than Honey: Vom Leben und Überleben der Bienen. orange-press, Freiburg 2013, ISBN 9783936086782, p. 206.
  • Theodor C.H. Cole (ed.), Ingrid Haußer-Siller (tradução): Wörterbuch der Biologie Dictionary of Biology: Deutsch/Englisch English/German. Springer-Verlag, Berlin 2014, ISBN 9783642553288, p. 366.
  • Gerhard Wagenitz: Wörterbuch der Botanik. Morphologie, Anatomie, Taxonomie, Evolution. Mit englisch-deutschem und französisch-deutschem Register. Nikol, Hamburg 2008 (2. erweiterte Auflage), ISBN 978-3-937872-94-0, p. 346.

Referências

  1. Fidalgo, Adriana De O.; Kleinert, Astrid De M. P. (1 de dezembro de 2009). «Reproductive biology of six Brazilian Myrtaceae:‐is there a syndrome associated with buzz-pollination?». New Zealand Journal of Botany. 47 (4): 355–365. ISSN 0028-825X. doi:10.1080/0028825x.2009.9672712 
  2. a b Thomas S. Woodcock (2012), Pollination in the Agricultural Landscape: Best Management Practices for Crop Pollination (PDF), Canadian Pollination Initiative (NSERC-CANPOLIN) 
  3. a b c d e f Buchmann, Stephen L. (1 de janeiro de 1985). «Bees Use Vibration to Aid Pollen Collection from Non-Poricidal Flowers». Journal of the Kansas Entomological Society. 58 (3): 517–525. JSTOR 25084671 
  4. a b Johnson, S.D. (1992). «Buzz pollination of Orpheum frutescens». Veld & Flora. 78 (2): 36–37 
  5. a b Proença, C. P. (1992). «Buzz pollination–older and more widespread than we think?». Journal of Tropical Ecology. 8 (1): 115–120. doi:10.1017/s0266467400006192 
  6. Harder, Lawrence D.; Thomson, James D. (1 de janeiro de 1989). «Evolutionary Options for Maximizing Pollen Dispersal of Animal-Pollinated Plants». The American Naturalist. 133 (3): 323–344. JSTOR 2462124. doi:10.1086/284922 
  7. Peter, Kevan,; Truman, Phillips, (5 de abril de 2001). «The Economic Impacts of Pollinator Declines: An Approach to Assessing the Consequences». Conservation Ecology (em inglês). 5 (1). ISSN 1195-5449. doi:10.5751/ES-00272-050108 
  8. Velthuis, Hayo H.W.; van Doorn, Adriaan (2006). «A century of advances in bumblebee domestication and the economic and environmental aspects of its commercialization for pollination». Apidologie. 37 (4): 421–451. ISSN 0044-8435. doi:10.1051/apido:2006019 
  9. Dollin A. (2006). "Blue Banded Bee Pollination Trials at Adelaide Uni." Aussie Bee, September 2006. Australian Native Bee Research Centre.
  10. a b Morgan, Tan; Whitehorn, Penelope; Lye, Gillian C.; Vallejo-Marín, Mario (1 de março de 2016). «Floral Sonication is an Innate Behaviour in Bumblebees that can be Fine-Tuned with Experience in Manipulating Flowers». Journal of Insect Behavior (em inglês). 29 (2): 233–241. ISSN 0892-7553. PMC 4841848Acessível livremente. PMID 27194824. doi:10.1007/s10905-016-9553-5 
  11. [1]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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