Pouso de tropeiros em Cubatão, 1826

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Datada de 1922 [1], a obra Pouso de tropeiros em Cubatão, 1826 reproduz um desenho de Hercule Florence [2]. Na cena, há um acampamento de tropeiros onde é possível observar uma grande quantidade de mercadorias e animais [3].

Como indica Vilma Aparecida Silva, Cubatão era a última paragem antes do despacho internacional das mercadorias paulistas pelo Porto de Santos [4]. Por integrar o caminho construído em 1792 que conectava São Paulo ao litoral, chamado Calçada do Lorena [5], a cidade passou a abrigar um “pouso”, uma espécie de paragem para tropeiros [4]. Em vista disso, o acampamento é protagonizado na obra de Richter.


Descrição[editar | editar código-fonte]

A obra de Franta Richter, feita em óleo sobre tela em 1922, foi encomendada por Afonso Taunay, então diretor do Museu Paulista, e pertence ao Fundo Museu Paulista sob o número de inventário 1-01731-0000-0000. O quadro, que teve como base um desenho de Hercule Florence [2], possui as seguintes medidas: 111,5 centímetros de altura e 146,5 centímetros de largura. Nas várias referências à obra, aparecem também os títulos: Pouso de tropeiros no Caminho do Mar (1826); Rancho de tropeiros no Caminho do Mar, em 1826; Pouso de Cubatão; e Pouso de tropeiros no Caminho do Mar.

Análise[editar | editar código-fonte]

A obra consiste em uma reprodução dos costumes e da tradição tropeira, originalmente registrados por Hercule Florence, em 1826.

Como aponta Vilma Aparecida Silva, Cubatão integrava a rota de comércio internacional, mas passou a o fazer com maior intensidade a partir da conclusão da estrada Calçada do Lorena, em 1792 [4]. O projeto, que ligava os centros produtivos paulistas ao Porto de Santos, foi idealizado por Bernardo José Maria de Lorena, então governador da capitania de São Paulo [4]. No entanto, a construção só tornou-se possível em função da reestruturação do comércio açucareiro no mercado internacional, que assegurou o crescimento da produção brasileira [5] e, consequentemente, a melhora da logística do insumo.

Por conta da localização geográfica, Cubatão era o ponto final do percurso terrestre das tropas, o que garantiu a existência de um pouso na região [4]. Os tropeiros usavam o local para proteção, alimentação e descanso antes de rumarem para Santos [4].

No quadro, há um jogo de luzes entre os planos causado pelo contraste de cores. Enquanto  o primeiro plano é escuro, ao fundo estão tons mais claros.  Da mesma forma, estão presentes na cena do acampamento: uma série de mercadorias protegidas sob estrutura de madeira, tropeiros realizando diversas funções e muares pastando. Assim, a representação desse acampamento de tropeiros reforça a função de pouso atribuída à região de Cubatão [4].

Em reportagem ao Jornal do Commercio publicada em 28 de janeiro de 1945, edição do Rio de Janeiro, Taunay descreveu a cena a partir do desenho original de Florence.

"Mais interessante embora menos variado é o conspecto do rancho desenhado por Hercule Florence no alto da Serra de Cubatão, no Caminho do Mar e em 1826. É o rancho grande e tosco e também coberto de sapé mas por baixo do seu teto existe grande carga bem arrumada de sacos, jacás e cangalhas. No primeiro plano dois tropeiros concertam uma cangalha. Os tropeiros e camaradas estão todos pobremente vestidos. Avistam-se diversas mulas presas a piquete e outras pastando. No plano de fundo do quadro quatro ou cinco camaradas estão sentados no chão, em círculo. [...]" [3]

Contexto[editar | editar código-fonte]

A obra de Franta Richter foi encomendada por Afonso Taunay em função das comemorações do 1º Centenário da Independência. Como indica a publicação de 4 de setembro de 1922 do jornal Correio Paulistano, a obra foi exposta na sala A13 “Consagrada ao passado de Santos e ainda à antiga iconografia paulista” naquele mesmo ano [1].

Referências

  1. a b REABERTURA do Museu Paulista: inauguração do Museu Histórico - ampliação do Museu de História Natural. Correio Paulistano, São Paulo, n. 21.251, 04 set. 1922. p. 3 Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/090972_07/9585. Acesso em: 10 mar. 2020.
  2. a b TAUNAY, Afonso d’Escragnolle. Coisas nossas, ineditas ou pouco conhecidas: os tropeiros, no caminho do mar, em 1826. O Jornal, Rio de Janeiro, ano 5, n. 1.511, 09 dez. 1923. p. 3.  Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/110523_02/14756. Acesso em: 23 nov. 2019.
  3. a b TAUNAY, Afonso d’Escragnolle. Iconografia das tropas. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, ano 118, n. 100, 28 jan. 1945. p. 2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_13/24043. Acesso em: 17 set. 2020.
  4. a b c d e f g SILVA, Vilma Aparecida da. A campesinidade presente na construção do espaço geográfico da cidade de Cubatão. 2006. Dissertação (Mestrado em Geografia Humana) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. DOI: 10.11606/D.8.2006.tde-21062007-144525. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-21062007-144525/pt-br.php. Acesso em: 10 set. 2020.
  5. a b RODRIGUES, Gelze Serrat de Souza Campos; ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. A trajetória da cana-de-açúcar no Brasil: perspectivas geográfica, histórica e ambiental. [S.l.]: Edufu, 2020. Disponível em: https://repositorio.ufu.br/handle/123456789/29699. Acesso em: 07 out. 2020.