Preferência (economia)

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Na esfera econômica e nas ciências sociais mais amplas, o conceito de preferência desvenda a intrincada ordem pela qual os agentes avaliam alternativas, buscando uma "escolha ideal", seja esta uma realidade concreta ou uma construção teórica. O âmago das preferências reside em avaliações subjetivas, atreladas a valores que refletem o raciocínio prático do indivíduo. Estas preferências, inerentemente pessoais, derivam de gostos, necessidades e outros fatores, diferenciando-se das variáveis econômicas como preços, disponibilidade de bens ou rendimento pessoal, que são externalidades a esse processo de escolha.[1]

Em consonância com os princípios da economia clássica, presume-se que os agentes econômicos atuem racionalmente em busca de maximizar seu próprio interesse ao realizar escolhas. Contudo, a complexidade da psicologia humana desafia essa racionalidade, pois as preferências nem sempre seguem um padrão transitivo. A realidade dos seres humanos, sujeitos a emoções e influências diversas, pode resultar em escolhas não linearmente lógicas, e em certas circunstâncias, as preferências podem formar ciclos, obscurecendo a definição de uma escolha ótima. Exemplos concretos, como os dados de Efron (Dados intransitivos), ilustram essa dinâmica complexa e muitas vezes imprevisível.[2]

O conceito de preferência não é meramente uma abstração econômica; ele desempenha um papel crucial em diversas disciplinas, permeando áreas como filosofia moral e teoria da decisão. As propriedades lógicas inerentes às preferências reverberam na teoria da escolha racional, impactando profundamente todos os domínios da economia moderna.[3]

Ao adotar o método científico, os cientistas sociais buscam modelar o processo decisório humano, visando explicar os fundamentos causais do comportamento ou antecipar tendências futuras. Embora os economistas não se envolvam diretamente nas causas específicas das preferências individuais, a teoria da escolha se destaca por fornecer uma base robusta para a análise empírica da demanda, revelando padrões e tendências que fundamentam a compreensão do comportamento do consumidor.[4]

A estabilidade de preferência emerge como um pressuposto fundamental subjacente à maioria dos modelos econômicos. Gary Becker, ao destacar a interligação dos pressupostos de maximização do comportamento, equilíbrio de mercado e preferências estáveis, ressalta a sua centralidade na abordagem econômica. Entretanto, essa estabilidade é questionada por condições mais complexas de adaptação, como explorado por Carl Christian von Weizsäcker em seu provocativo artigo "The Welfare Economics of Adaptive Preferences" (2005). Ele desafia a tradicional suposição da economia neoclássica de preferências fixas, reconhecendo a dinâmica e a adaptabilidade inerentes às escolhas humanas. Essa contestação destaca a evolução constante das preferências, sublinhando a necessidade de abordagens mais flexíveis e adaptativas na compreensão dos comportamentos econômicos.[5][6]

Referências

  1. Broome, John (1993). "Can a Humean Be Moderate?". In Frey, R. G.; Morris, Christopher (eds.). Value, Welfare and Morality. Cambridge University Press.
  2. Blume, Lawrence (15 December 2016). Durlauf, Steven N; Blume, Lawrence E (eds.). The New Palgrave Dictionary of Economics. London: Palgrave Macmillan. doi:10.1007/978-1-349-58802-2. ISBN 978-1-349-95121-5.
  3. Hansson, Sven Ove; Grüne-Yanoff, Till (May 4, 2018). "Preferences". Stanford Encyclopedia of Economics.
  4. Arrow, Kenneth (1958). "Utilities, attitudes, choices: a review note". Econometrica. 26 (1): 1–23. doi:10.2307/1907381. JSTOR 1907381.
  5. Becker, Gary (1976). The Economic Approach to Human Behavior (PDF). University of Chicago Press. p. 5. ISBN 0226041123.
  6. von Weizsäcker, C. Christian (June 2005). "The Welfare Economics of Adaptive Preferences". SSRN 771904


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