Primavera Negra
A Primavera Negra (em berbere: Tafsut Taberkant) foi uma série de distúrbios violentos e protestos políticos de ativistas cabilas na região da Cabília na Argélia em 2001, que foram combatidos com o uso de medidas policiais repressivas e se tornaram um forte símbolo do descontentamento cabila com o governo nacional. Os protestos ocorreram contra um antigo cenário de marginalização cultural dos cabilas, um grupo linguístico berbere homogêneo na Argélia (os falantes das línguas berberes formam aproximadamente 25% a 30% do total da população, embora números exatos sejam disputados) apesar das medidas arabizantes mais rígidas patrocinadas pelo governo entre as décadas de 1960 e 1980 já haverem sido suspensas. O nome "Primavera Negra" faz alusão aos eventos conhecidos como Primavera Berbere da década de 1980, na qual basicamente ativistas sociais civis cabilas desafiaram o banimento da cultura berbere que então ocorria, demandando direitos culturais e democracia.
Eventos
[editar | editar código-fonte]Em 2001, um jovem estudante cabila,Guermah Massinissa, foi preso por gendarmes argelinos e mais tarde morreu dentro da gendarmaria. Isso provocou tumultos violentos de larga escala na região Cabila, que durou por vários meses.
O governo do presidente Abdelaziz Bouteflika afirmou que o nome real de Massinissa era Karim e que ele era um jovem criminoso desempregado de 26 anos de idade. Vários meses depois após essas declarações, o governo admitiu que o seu nome real era de fato Massinissa (o mesmo de um histórico rei berbere da Antiga Argélia), e que ele era um estudante de ensino médio inocente. O Ministro do Interior Yazid Zerhouni embora tenha dito que fora "mal informado", nenhum pedido de desculpas foi dado à família da vítima e os protestos não cessaram. O governo de Bouteflika sustentava que os cabilas estavam sendo "manipulados por uma mão estrangeira".
Uma marcha que levou várias dezenas de milhares de cabilas à capital, Argel, foi organizada pelo movimento Arouch, que juntamente com o Movimento pela Autonomia da Cabília surgiu do ativismo civil em torno dos distúrbios. O protesto foi seguido por confrontos entre a população local de argelinos e manifestantes cabilas. A polícia apoiou os "Algérois" e a televisão estatal agradeceu "les Algérois por terem defendido sua própria cidade dos invasores". Desde então passeatas públicas são proibidas em Argel.
Vítimas
[editar | editar código-fonte]Em abril de 2001 (poucos dias depois do início da Primavera Negra) foram mortos 43 jovens cabilas. Em julho de 2001, foram baleados 267 jovens, dos quais 50 morreram (18,7%). A comissão Issad nota que "isso só é comparável a perdas militares em duras batalhas em tempos de guerra. As forças de segurança, ao mesmo tempo e no mesmo lugar não apresentaram nenhum homem ferido por disparos de projetil, nem nenhum morto por disparos."
Em abril de 2002, a Liga Argelina de Direitos Humanos relatou 90 cabilas mortos, 5.000 feridos, dos quais 200 tornaram-se permanentemente inválidos e milhares de detenções, maus tratamentos, tortura e prisões arbitrárias.
Ao fim dos eventos da Primavera Negra, a imprensa argelina relatou que 126 cabilas foram mortos [1] e que milhares foram gravemente feridos nos protestos ou torturados pelos paramilitares da Gendarmaria.
Resultados
[editar | editar código-fonte]Ao final, Bouteflika concordou com algumas das demandas cabilas. Os Gendarmes foram retirados da Cabília e a língua Berbere (Tamazight), tornou-se uma "língua nacional" na Constituição Argelina (mas não uma "língua oficial", a par com o árabe).
Os partidos políticos tradicionais berberes, o liberal Reunião para a Cultura e Democracia (RCD) de Saïd Sadi e o socialista Frente de Forças Socialistas (FFS) de Hocine Aït Ahmed, foram parcialmente marginalizados pelo ativismo dos movimentos locais radicais e pelas formas violentas de protesto. Em seus lugares surgiram novos movimentos à frente da política cabila: o movimento Arush (Arouch) e o Movimento pela Autonomia da Cabília (MAC), cujas ambições regionalistas por autonomia marcaram uma nova evolução na política cabila.