Programa Nuclear Paralelo

O Programa Nuclear Paralelo, oficialmente Programa Autônomo de Tecnologia Nuclear (PATN), foi uma iniciativa brasileira para dominar a tecnologia do ciclo do combustível nuclear, desenvolvida à parte do programa nuclear "oficial" instituído pelo acordo nuclear Brasil-Alemanha, e portanto, "paralela".[1][2] Instituído em 1979, durante a ditadura militar, teve a participação da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e dos ministérios da Marinha, Exército e Aeronáutica, sob a coordenação de uma secretaria geral vinculada à Presidência da República. O PATN foi criado sob sigilo e era imune às salvaguardas e inspeções internacionais do programa "oficial".[3] Ele veio a público ao final da ditadura, em 1985, e foi desmantelado e unificado ao programa civil no governo Collor, simbolicamente com a cerimônia de fechamento do campo de testes de explosivos nucleares da Serra do Cachimbo, em setembro de 1990.[4]
Institutos de pesquisa civis e militares já desenvolviam atividades nucleares desde os anos 1950. O PATN coordenou-os para chegar a uma alternativa às frustrações brasileiras com o acordo com a Alemanha.[2] Oficialmente ele visava "desenvolver a competência nacional a fim de condicionar um amplo emprego de energia nuclear, permitindo a propulsão naval e a produção de explosivos nucleares para fins pacíficos".[3] Segundo publicações na imprensa em 1990, investigações do PATN pelo Congresso descobriram que o Instituto de Estudos Avançados havia projetado duas bombas atômicas. Algumas pesquisas sobre armas nucleares ocorreram sob o PATN e havia facções militares favoráveis à sua produção, mas esse não era o foco do programa. O pensamento predominante entre militares e diplomatas era que bastaria uma capacidade latente de militarizar o urânio enriquecido para dissuadir potenciais adversários — no caso, a Argentina — de obter uma bomba equivalente.[1]
Cada uma das três Forças Armadas seguiu uma linha diferente para o enriquecimento de urânio: a Marinha com o Projeto Ciclone, de ultracentrifugação, visando um submarino nuclear (Projeto Remo), o Exército com o Projeto Atlântico, de produção de grafita e plutônio, e a Aeronáutica com o Projeto Solimões, de enriquecimento por laser visando produzir explosivos nucleares de fins pacíficos e fornecer energia para satélites. O CNEN administrava os projetos Procon, Celeste e Metalurgia para a produção de compostos de urânio, reprocessamento de combustível para a produção de plutônio, preparação de urânio metálico e controle radiométrico e ambiental.[3] Dentre os programas militares, só o da Marinha teve sucesso e sobreviveu ao ocaso do PATN, envolvendo-se no setor nuclear civil e dando continuidade ao projeto do submarino nuclear. Segundo José Goldemberg, secretário da Ciência e Tecnologia do governo Collor, em 1990 o programa do Exército ainda vivia em estágios primitivos, e o da Aeronáutica, embora um pouco melhor, alcançou "não mais do que você poderia esperar de um estudante de mestrado nos Estados Unidos".[5]
Notas e referências
- ↑ a b Feldman, Yana. «Countries and issues of nuclear strategic concern: Brazil». Stockholm International Peace Research Institute. Arquivado do original em 3 de julho de 2010
- ↑ a b David, Eduardo Giacomin de (2024). Os átomos e os quartéis: a temática nuclear no pensamento militar brasileiro (1985-2000) (PDF) (Dissertação). Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. p. 69-73.
- ↑ a b c Leite, Alixandro Werneck; Assis, Jonathan de Araujo de; Côrrea, Fernanda das Graças (2016). «Propulsão nuclear» (PDF). Mapeamento da base industrial de defesa. Brasília: ABDI/Ipea. ISBN 978-85-6132-341-7. p. 264-266.
- ↑ Pratti, Carlo (org.) (2014). O programa nuclear brasileiro: uma história oral. Rio de Janeiro: Editora FGV. ISBN 978-85-60213-12-2. Apresentação.
- ↑ Sá, Andrea de (2015). «Brazil's nuclear submarine program: a historical perspective». The Nonproliferation Review. 22 (1). doi:10.1080/10736700.2015.1070044. p. 10-11.
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Brasil e as armas de destruição em massa
- Programa de Desenvolvimento de Submarinos
- Rex Nazaré Alves
- Comissão Nacional de Energia Nuclear
- Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares
- Instituto de Estudos Avançados
- Indústrias Nucleares do Brasil