Psicologia de Massas do Fascismo

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Die Massenpsychologie des Faschismus
Psicologia de Massas do Fascismo (BR)
Psicologia de Massas do Fascismo
Capa da edição em português (Editora Martins Fontes)
Autor(es) Wilhelm Reich
Idioma alemão
Assunto Fascismo
Editora Kiepenheuer & Witsch
Lançamento 1933
Páginas 352
Edição portuguesa
Editora Publicações Escorpião
Lançamento 1974
Edição brasileira
Tradução Maria da Graça M. Macedo
Editora Martins Fontes
Lançamento 1987
Páginas 408
ISBN 978-8533614185

Psicologia de Massas do Fascismo[1] (em alemão: Die Massenpsychologie des Faschismus)[2] é um livro de 1933 do psicanalista austríaco Wilhelm Reich, no qual explora como os fascistas chegam ao poder e explica a ascensão destes como ligada a um sintoma da repressão sexual.

Contexto[editar | editar código-fonte]

Reich – originário da Galícia durante o Império Austro-Húngaro e, posteriormente, psicanalista e psiquiatria em Viena – ingressou no Partido Social-Democrata da Áustria (SPÖ) em 1928. Ao mudar sua atividade como psicanalista para Berlim, ingressou no Partido Comunista da Alemanha (KPD) em 1930. No entanto, a Psicologia de Massas do Fascismo foi considerado tão crítico ao regime comunista na União Soviética que Reich foi expulso do KPD após a publicação do livro, em 1933.

Resumo[editar | editar código-fonte]

A questão central do livro de Reich era a seguinte: por que as massas se voltaram para o autoritarismo, ainda que claramente este agisse contra seus interesses?[3] Neste livro, Reich começou a analisar "a estrutura econômica e ideológica da sociedade alemã entre 1928 e 1933".[1] A alternativa proposta por Reich foi a criação de uma "Democracia dos Trabalhadores", na qual aqueles que realizam o trabalho real são os tomadores de decisão.

Reich argumentou que a razão pela qual o fascismo alemão (nazismo) foi escolhido em vez do comunismo foi o aumento da repressão sexual na Alemanha - em oposição à Rússia um tanto mais liberal (pós-revolucionária). Quando crianças, os membros do proletariado (alemão) aprenderam com seus pais a suprimir quase todo desejo sexual e - em vez disso - gastaram a energia reprimida no idealismo autoritário. Portanto, em adultos, quaisquer impulsos sexuais e rebeldes experimentados causariam ansiedade fundamental e, portanto, o controle social é usado para reduzir essa ansiedade. O medo da revolta, assim como o medo da sexualidade, estavam inseridos na "estrutura de caráter" das massas. Isso influenciou a irracionalidade do povo e permitiu o florescimento da ideologia populista (irracional).[3] De acordo com Reich:

A supressão da sexualidade natural da criança, particularmente de sua sexualidade genital, torna a criança apreensiva, tímida, obediente, com medo da autoridade, boa e ajustada no sentido autoritário; paralisa as forças rebeldes porque qualquer rebelião é carregada de ansiedade; produz, inibindo a curiosidade sexual e o pensamento sexual na criança, uma inibição geral do pensamento e das faculdades críticas. Em resumo, o objetivo da supressão sexual é o de produzir um indivíduo que se ajuste à ordem autoritária e que se submeta a ela, apesar de toda miséria e degradação. Inicialmente, a criança deve se submeter à estrutura do estado autoritário em miniatura, a família, processo que a torna capaz de posterior subordinação ao sistema autoritário geral. A formação da estrutura autoritária ocorre através da ancoragem da inibição sexual e da ansiedade.[3]

Reich observou que o simbolismo da suástica, evocando a fantasia da cena primitiva, mostrava de maneira espetacular como o nazismo manipulava sistematicamente o inconsciente coletivo. Uma família repressiva, uma religião obscena, um sistema educacional sádico, o terrorismo do partido, o medo de manipulação econômica, o medo de contaminação racial e a violência permitida contra minorias, todos operados através da psicologia inconsciente das emoções dos indivíduos (o coletivo), experiências traumáticas, fantasias, economias libidinais, e assim por diante, e a ideologia e prática política nazista exacerbaram e exploraram essas tendências.[1] Para Reich, combater o fascismo significava, antes de tudo, estudá-lo cientificamente, nesse caso, usando os métodos da psicanálise. Ele acreditava que somente a razão seria capaz de controlar as forças da irracionalidade e afrouxar o domínio do misticismo. A razão também seria capaz de desempenhar seu próprio papel no desenvolvimento de modos originais de ação política, construindo um profundo respeito pela vida e promovendo uma canalização harmoniosa de libido e potência orgástica. Reich propôs a "democracia do trabalho", uma forma de organização social autogerenciada que preservaria a liberdade, a independência, a autonomia do indivíduo e incentivaria a responsabilidade do indivíduo e da sociedade, baseando-se, portanto, nesses princípios:

Amor, trabalho e conhecimento são as fontes da nossa vida. Tais também devem governá-la.[1]

Proibição[editar | editar código-fonte]

Como resultado de suas opiniões bastante radicais (que levaram à redação e publicação deste livro em 1933 em Copenhague), Reich já havia sido expulso do Partido Comunista da Alemanha (KPD). Por isso, ele teve que fugir da Alemanha após a tomada do nacional-socialismo com o incêndio do Reichstag . O livro – junto com muitos outros banidos pelos nazistas quando chegaram ao poder – foram queimados publicamente na queimada de livros na Alemanha nazista. Reich percebeu que estava em perigo considerável e saiu às pressas da Alemanha; primeiro indo para a Áustria (para ver sua ex-esposa e filhos) e depois para o exílio na Dinamarca, Suécia e Noruega. Reich também foi expulso da Associação Psicanalítica Internacional em 1934 por sua militância política e seus pontos de vista sobre sexualidade.[a] Este livro - e todos os livros publicados de Reich - foram posteriormente ordenados a serem queimados, a pedido da Food and Drug Administration (FDA), por um juiz do Maine, Estados Unidos, em 1954.[6]

Família e autoritarismo[editar | editar código-fonte]

O Capítulo V contém a alegação célebre de Reich de que a família é a primeira célula da sociedade fascista:[7]

Do ponto de vista da evolução social, a família não pode ser encarada como a base do Estado autoritário, mas apenas como uma das mais importantes instituições que lhe servem de apoio. Mas temos de considerá-la como a principal célula germinativa da política reacionária, o centro mais importante de produção de homens e mulheres reacionários. Tendo surgido e evoluído em consequência de determinados processos sociais, a família torna-se a instituição principal para a manutenção do sistema autoritário que lhe dá forma [...] A mulher sexualmente consciente, que se afirma e é reconhecida como tal, significaria o colapso completo da ideologia autoritária.[8]

Gilles Deleuze e Félix Guattari abordam a teoria política de Wilhelm Reich no livro O anti-Édipo (1972), no qual discutem a formação do fascismo no nível molecular da sociedade.[9]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas

  1. De acordo com sua filha, Lore.[4] O psicanalista britânico Ernest Jones provavelmente foi o protagonista por trás da sua expulsão, e embora Anna Freud tenha permitido isso, ela se arrependeu posteriormente.[5]

Referências

  1. a b c d Reich, Wilhelm Reich (1987). Psicologia de Massas do Fascismo. São Paulo: Martins Fontes 
  2. http://www.bibliotecapleyades.net/archivos_pdf/masspsychology_fascism.pdf
  3. a b c Sharaf, Myron (1994). Fury on Earth: A Biography of Wilhelm Reich. Da Capo Press. [S.l.: s.n.] 163 páginas. ISBN 0-306-80575-8 
  4. Rubin, Lore Reich (janeiro de 2003). «Wilhelm Reich and Anna Freud: His expulsion from psychoanalysis». International Forum of Psychoanalysis (em inglês). pp. 109–117. doi:10.1080/08037060310007906. Consultado em 14 de dezembro de 2021 
  5. see also The Century of the Self no YouTube)
  6. Sharaf 1994, p. 458ff; "Decree of Injunction Order", 19 March 1954, USA v. Wilhelm Reich, 1954–1957.
  7. The Sex-Economic Presuppositions of the Authoritarian Family, Chapter V
  8. Reich 1933 [2001], p. 97-8.
  9. Anti-Oedipus, Continuum, 2004, pp. xiii, xviii