Dissolução da União Soviética
Dissolução da União Soviética | |
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Tanques na Praça Vermelha durante o Golpe de Agosto de 1991 | |
Participantes | Povo da União Soviética Governo federal Repúblicas da União Soviética Repúblicas autônomas |
Localização | ![]() |
Data | 26 de dezembro de 1991 |
Resultado | Dissolução da União Soviética em repúblicas independentes |
A União Soviética foi dissolvida em 26 de dezembro de 1991, como resultado da declaração nº. 142-Н do Soviete Supremo da União Soviética. A declaração reconheceu a independência das antigas repúblicas soviéticas e criou a Comunidade de Estados Independentes (CEI). No dia anterior, o presidente soviético Mikhail Gorbachev, o oitavo e último líder da União Soviética, renunciou, declarou seu cargo extinto e entregou seus poderes - incluindo o controle dos códigos do arsenal nuclear soviético - para o presidente russo, Boris Iéltsin. Naquela noite às 19h32, a bandeira soviética foi baixada do Kremlin de Moscou pela última vez e a substituída pela bandeira russa pré-revolucionária.[1]
Anteriormente, de agosto a dezembro, todas as repúblicas individualmente, incluindo a própria Rússia, se separaram da União. Na semana anterior da dissolução formal da URSS, 11 repúblicas - todas, exceto os Estados bálticos e a Geórgia - assinaram o Protocolo de Alma-Ata estabelecendo formalmente a CEI e declarando que a União Soviética tinha deixado de existir.[2][3] As revoluções de 1989 e a dissolução da URSS também assinalaram o fim da Guerra Fria.
Várias das ex-repúblicas soviéticas têm mantido laços estreitos com a Federação Russa e formaram organizações multilaterais, como a Comunidade Econômica Eurasiática, a União da Rússia e Bielorrússia, a União Aduaneira da Eurásia e a União Econômica Eurasiática para reforçar a cooperação econômica e militar. Algumas, no entanto, se distanciaram e se juntaram à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e União Europeia.
Índice
Histórico[editar | editar código-fonte]
Parte da série sobre a |
União Soviética |
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Antecedentes[editar | editar código-fonte]

A política de abertura econômica e política levada a cabo por Mikhail Gorbatchev, secretário-geral do Partido Comunista no final dos anos 1980, desencadeou mobilizações pela independência de povos minoritários no país. Sob pressão externa e atravessando uma crise econômica, o governo central concordou com a reorganização do país numa União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, conferindo maior poder às administrações locais. Em agosto de 1991, um golpe de estado depôs Gorbachev por três dias; a linha-dura do Partido Comunista tentou reassumir o controle da URSS e impedir o prosseguimento das reformas.
Liderada por Boris Ieltsin, a população revoltosa forçou a volta de Gorbachev ao governo. Em resposta ao golpe, o Partido Comunista soviético foi banido da Rússia pelo então presidente Ieltsin. Após sua restituição, Gorbachev não possuía mais que um poder esvaziado, e o controle da União fora enfraquecido. Em 25 de dezembro de 1991 Gorbachev renunciou à presidência da URSS e em 31 de dezembro todas as funções administrativas do país cessaram de existir.
Colapso[editar | editar código-fonte]

O golpe de agosto de 1991 praticamente abriu as comportas para o movimento de independência das repúblicas que compunham a União Soviética. As repúblicas do Báltico já tinham tentado separar-se em 1990, mas foram severamente reprimidas. Com o fracasso do golpe, o cenário mudou totalmente. As forças conservadoras estavam derrotadas e quem mandava realmente era Bóris Ieltsin – e não mais Gorbatchev, cujo poder estava completamente esvaziado.
Já no mês seguinte, setembro, as repúblicas da Letônia, Estônia e Lituânia, uma após a outra, reafirmaram, agora em caráter definitivo, suas declarações de independência. A própria Rússia foi um dos primeiros países a reconhecer a independência dessas repúblicas. Estava aberto o processo para as outras, que em sua grande maioria também se declararam independentes. Outra consequência importante do golpe foi a suspensão, determinada por Ieltsin em toda a Rússia, das atividades do Partido Comunista, que implicou até mesmo o confisco de seus bens. A KGB, o poderoso serviço secreto soviético, teve sua cúpula dissolvida.

Gorbatchev admitiu a implosão da União Soviética, mas ainda tentou manter o vínculo entre as repúblicas, propondo a assinatura do chamado Tratado da União. Mas suas palavras não tiveram eco, e o processo de separação se tornou irreversível. Em 4 de setembro de 1991, Gorbatchev, como presidente da União Soviética, Boris Iéltsin, na qualidade de presidente da Rússia, e mais os líderes de outras nove repúblicas, em sessão extraordinária do Congresso dos Deputados do Povo, apresentaram um plano de transição para criar um novo Parlamento, um Conselho de Estado e uma Comissão Econômica Inter-Republicana. Embora tentasse estabelecer os parâmetros para uma nova união entre as diversas repúblicas, esse plano, na verdade, significava o desmantelamento formal da estrutura tradicional do poder soviético. De qualquer forma, a proposta acabou sendo aprovada.
Percebendo a importância de Gorbatchev para a estabilidade da nação, naquele momento, Ieltsin prometeu o apoio da República russa ao novo plano. Enquanto isso, os líderes ocidentais também davam sinais de uma clara preferência pela permanência de Gorbatchev no poder, embora demorassem a assumir o compromisso de uma ajuda econômica mais efetiva à União Soviética. O agravamento da situação econômica era justamente o que tornava mais delicada a posição de Gorbatchev. Decididamente, o povo soviético tinha perdido a paciência com os problemas econômicos, que se manifestavam na vida diária de cada cidadão. A desorganização da economia era visível nas prateleiras vazias dos supermercados e nas filas intermináveis para comprar os produtos mais corriqueiros, como sabonete ou farinha de trigo.
Aprovado o plano de mudanças, faltava ainda conseguir a assinatura do Tratado da União com todas as repúblicas. Mas em 1º de dezembro de 1991 a situação se precipitou com a consolidação da independência da Ucrânia, aprovada em plebiscito por 90% da população. Uma semana depois, numa espécie de golpe branco contra Gorbatchev, os presidentes das repúblicas da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia, reunidos na cidade de Brest (Bielorrússia), criaram a Comunidade de Estados Independentes (CEI), decretando o fim da União Soviética. Diante disso, James Baker, secretário de Estado norte-americano, declarou: “O Tratado da União, sonhado pelo presidente Gorbatchev, nunca esteve tão distante. A União Soviética não existe mais”. De fato, em 17 de dezembro Gorbatchev foi comunicado de que a União Soviética desapareceria oficialmente na passagem de Ano Novo. No dia 21 de dezembro, os líderes de 11 das 15 repúblicas soviéticas reuniram-se em Alma-Ata, então capital do Casaquistão, para referendar a decisão da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia e oficializar a criação da Comunidade de Estados Independentes (CEI) e o fim da União Soviética.
Repúblicas[editar | editar código-fonte]
Constitucionalmente, a União Soviética era uma federação das Repúblicas Socialistas Soviéticas (RSSs) e da República Socialista Federativa Soviética da Rússia (RSFSR), embora a regra do altamente centralizado Partido Comunista soviético fez federalismo meramente nominal. O Tratado sobre a criação de a URSS foi assinado em dezembro de 1922 por quatro repúblicas da fundação, a RSS da Rússia, RSS da Transcaucásia, RSS ucraniano e RSS bielorrussa. Em 1924, durante a delimitação nacional na Ásia Central, as RSSs do Uzbequistão e o Turcomenistão foram formadas a partir de partes do Turquestão, das ASSR do RSFSR e duas dependências Soviética, a Corásmia e RSS Bucara. Em 1929, o Tadjiquistão foi dividido a partir da RSS do Uzbequistão.
Com a Constituição de 1936, os constituintes da República Socialista Federativa Soviética da Transcaucásia, ou seja, da RSSs da Geórgia, Arménia e Azerbaijão, foram elevada à repúblicas da União, enquanto o Cazaquistão e Quirguistão foram separados da RSFS da Rússia. Em agosto de 1940 a União Soviética formou o RSS da Moldávia a partir de partes da RSS da Ucrânia e partes da Bessarábia anexadas da Roménia, bem como anexou os Estados bálticos, a Estónia, Letónia e da Lituânia. A RSS Carélio-Finlandesa, foi dividido a partir do RSFSR março de 1940 e incorporada em 1956. Entre julho de 1956 e setembro de 1991, havia 15 repúblicas na União Soviética (ver mapa abaixo).
As Repúblicas da União Soviética (1956 — 1989) | ||||
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Bandeira | República | Capital | Mapa da União Soviética | |
1 | ![]() |
RSS da Armênia | Erevã | |
2 | ![]() |
RSS do Azerbaijão | Bacu | |
3 | ![]() |
RSS da Bielorrússia | Minsque | |
4 | ![]() |
RSS da Estônia | Taline | |
5 | ![]() |
RSS da Geórgia | Tbilisi | |
6 | ![]() |
RSS do Cazaquistão | Alma-Ata | |
7 | ![]() |
RSS do Quirguistão | Frunze | |
8 | ![]() |
RSS da Letônia | Riga | |
9 | ![]() |
RSS da Lituânia | Vilnius | |
10 | ![]() |
RSS da Moldávia | Quixineve | |
11 | ![]() |
RSFS da Rússia | Moscou | |
12 | ![]() |
RSS do Tadjiquistão | Duchambé | |
13 | ![]() |
RSS do Turcomenistão | Asgabate | |
14 | ![]() |
RSS da Ucrânia | Quieve | |
15 | ![]() |
RSS do Uzbequistão | Tasquente |
Ver também[editar | editar código-fonte]
- Colapso econômico da União Soviética
- Descomunização
- Descomunização na Rússia
- Dissolução da Iugoslávia
- Dissolução da Tchecoslováquia
- História da Federação Russa
- Lustração
- Pacto de Belaveja
- Reunificação da Alemanha
- Tratado da União dos Estados Soberanos
- História da Rússia
Referências
- ↑ «Gorbachev, Last Soviet Leader, Resigns; U.S. Recognizes Republics' Independence». New York Times. Consultado em 27 de abril de 2015
- ↑ «The End of the Soviet Union; Text of Declaration: 'Mutual Recognition' and 'an Equal Basis'». New York Times. 22 de dezembro de 1991. Consultado em 30 de março de 2013
- ↑ «Gorbachev, Last Soviet Leader, Resigns; U.S. Recognizes Republics' Independence». New York Times. Consultado em 30 de março de 2013
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
Conteúdo relacionado com Dissolução da União Soviética no Wikimedia Commons