Questão da Ilha Tiriri

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Questão da Ilha Tiriri
Questão da Ilha Tiriri
A ilha foi palco da primeira fábrica de cimento da América do Sul, construída em 1892.
Participantes Cimentos Portland versus Governo do Estado da Paraíba
Localização Ilha Tiriri, Santa Rita
 Paraíba
 Brasil
Data 1892 (132 anos)

A Questão da Ilha Tiriri foi uma contenda jurídica do fim do século XIX travada entre a Companhia de Cimento Portland, sediada no Rio de Janeiro e então proprietária da Fábrica de Cimento Tiriri, e o governo do estado da Paraíba.[1] Em tal disputa, a companhia cimenteira reivindicava indenização financeira refente ao acervo entregue ao estado com a desativação de sua fábrica na ilha, que durante apenas três meses em 1892 produziu toneladas de cimento utilizando uma estrutura arrojada para a época.[2]

As ruínas da fábrica Tiriri ainda se encontram na referida ilha, que é de propriedade particular e requer permissão para visitação. O acesso pode ser feito por barco a partir da Praia do Jacaré ou via BR-101 passando por Livramento, distrito do município de Santa Rita, litoral paraibano.

Histórico[editar | editar código-fonte]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Em 1890, o português Antônio Varandas de Carvalho andava por Tiriri acompanhado do inglês Jordan Stuart quando decidiram parar um pouco para descansar. Nesse momento, perceberam que a lama acumulada nos varapaus em que se apoiavam para vadear o manguezal secava com certa rapidez e apresentava consistência e qualidade de boa argamassa.

Foi a partir dessa observação que a ilha foi escolhida posteriormente como área ideal para a instalação de uma produção industrial de cimento, tendo sido, portanto, a primeira tentativa de implantar uma fábrica de cimento da América do Sul, cujo ano é 1892.[3][4][5][nota 1] A iniciativa deveu-se também ao fato de haver próximo a capital do estado outra grande reserva calcária e de esta ser também de ótima qualidade.[3]

Pedra calcária com algumas incrustações de conchas marinhas.

Falência e reivindicação posterior[editar | editar código-fonte]

Entretanto, tal produção durou apenas três meses, fracasso que alguns peritos atribuíram não à qualidade do produto mas à distância dos grandes centros consumidores, assim como à pequena escala de produção do empreendimento.[7][3][1] Outras fontes atribuem a provável causa do abandono da fábrica à impossibilidade de concorrer com o cimento importado, pelo alto custo de produção de Tiriri, que produzia em pequena escala para exportar para mercados muito distantes da zona de produção.[3] Outras possíveis razões seriam a falta de entrosamento entre financiadores e a administração do empreendimento ou ainda a flagrante campanha de desmoralização do produto nacional desencadeada pelos importadores de cimento da época.[3]

Sobre o pioneirismo e a fugacidade da fábrica de Tiriri, na Revista do serviço público, Volume 13 lê-se:

(...) no estado da Paraíba foi, em 1892, inaugurada na Ilha de Tiriri uma fábrica de cimento que suspendeu, porém, dentro de três meses o seu funcionamento.[8]

Após o fechamento da fábrica de Tiriri, a Companhia Industrial de Cimento Portland reivindicou a importância de 2.760 contos de réis do Estado da Paraíba, que seria o valor relativo ao acervo entregue ao estado com a desativação de sua fábrica da ilha, que compreendia cinco grandes edifícios e outras construções, maquinário adquirido da Europa (ferramentas e bens de produção), além de lucros cessantes e do domínio útil da ilha. Com o abandono das instalações, veio a depredação pelos moradores das cercanias, que levaram consigo caldeiras, telhas, tijolos, portas das construções, entre outros bens materiais pertentes à Portland.

Notas

  1. Em 1888, o comendador Antônio Proost Rodovalho instalou uma fábrica de cimento na fazenda Santo Antônio, sua propriedade no município de Sorocaba SP. Em 1897, Rodovalho começou oficialmente a produção, cujo cimento levava a marca Santo Antônio. O produto permaneceu no mercado até meados de 1904, voltando três anos depois e extinguindo-se finalmente em 1918, em virtude da baixa qualidade do produto.[6]

Referências

  1. a b MARIZ, Celso (1978). Evolução econômica da Paraíba. [S.l.]: A União. 155 páginas 
  2. SIQUEIRA, Élcio (2001). «Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus: contribuição para uma história da indústria pioneira do ramo no Brasil (1926–1987)» (PDF). Faculdade de Ciências e Letras da UNESP. Consultado em 31 de janeiro de 2015 [ligação inativa]
  3. a b c d e CHAVES, Marcelo A. (2005). «Perfil dos trabalhadores do primeiro complexo cimenteiro do Brasil» (PDF). Unicamp. Consultado em 27 de janeiro de 2014. Arquivado do original (PDF) em 21 de fevereiro de 2007 
  4. Confrades do IHGP (1946). Revista, Volumes 10-13. [S.l.]: Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP) 
  5. Adm. do Conselho Nacional de Geografia (1943). Boletim Geográfico, Edições 5-7. [S.l.: s.n.] 
  6. SILVA, Andreza Alves (2013). «Potencial de conservação de energia na indústria cimenteira no Brasil» (PDF). Universidade Federal do ABC. Consultado em 31 de janeiro de 2015 [ligação inativa]
  7. Adm. do site (2009). «breve história do cimento Portland». Associação Brasileira de Cimento Portland. Consultado em 27 de janeiro de 2014. Arquivado do original em 23 de setembro de 2010 
  8. Adm. do Conselho Federal do Serviço Público Civil (1941). Revista do serviço público, Volume 13. [S.l.]: Departamento Administrativo do Serviço Público 
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