Quinto Fábio Máximo Gurges

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Quinto Fábio Máximo Gurges
Cônsul da República Romana
Consulado 292 a.C.
276 a.C.
265 a.C.?

Quinto Fábio Máximo Gurges (em latim: Quintus Fabius Maximus Gurges) foi um político da gente Fábia nos primeiros anos da República Romana eleito cônsul por duas vezes, em 292 e 276 a.C., com Décimo Júnio Bruto Esceva e Caio Genúcio Clepsina respectivamente.[1] Era filho de Quinto Fábio Máximo Ruliano. É possível ainda que seja a mesma pessoa que Quinto Fábio Máximo Gurges, cônsul em 265 a.C.,[1][2][3] que pode também ser seu filho homônimo.

Seu agnome, "Gurges", significa "glutão".[4][5] Assim como o seu pai e o seu avô, Fábio Gurges foi príncipe do senado.[6]

Primeiros anos[editar | editar código-fonte]

Em 295 a.C., quando seu pai era cônsul, foi edil curul e multou várias mulheres da nobreza por terem uma vida dissoluta. Com o dinheiro obtido por essas multas construiu um templo dedicado a Vênus perto do Circo Máximo.[7]

Primeiro consulado (292 a.C.)[editar | editar código-fonte]

Mapa do centro da península Itálica na época da Terceira Guerra Samnita (298–290 a.C.).
Ver artigo principal: Terceira Guerra Samnita

Foi eleito em 292 a.C. com Décimo Júnio Bruto Esceva, um ano no qual Roma foi assolada por uma terrível epidemia.[8] Os romanos foram derrotados pelos samnitas. Segundo o relato tardio de Aurélio Vítor, Quinto Ogúlnio Galo liderou uma delegação romana enviada para pedir a ajuda dos deuses no santuário de Esculápio, em Epidauro, no Peloponeso. Segundo o relato, uma serpente teria saído da base da estátua do deus e se abrigado a bordo de um dos navios romanos. Quando a delegação retornou, a serpente abandonou o navio e nadou pelo Tibre até a Ilha Tiberina, onde foi edificado um Templo de Esculápio e a epidemia acabou.[9]

Procônsul (291 a.C.)[editar | editar código-fonte]

No ano seguinte, quando o Senado Romano deliberava chamar de volta Gurges, que ainda estava em Sâmnio, Fábio Máximo se ofereceu para servir sob seu filho, o que foi aceito. Ele permaneceu com poderes proconsulares e iniciou um cerco a Comínio. Segundo Dionísio de Halicarnasso,[10] o invejoso Megelo impediu que Gurges tomasse a fortaleza samnita de Comínio.[11] Aproximando-se da cidade, ele escreveu para Gurges ordenando-lhe que deixasse Sâmnio. Gurges declinou, declarando que seu comando lhe havia sido concedido pelo Senado, e escreveu para Roma pedindo que o Senado confirmasse a ordem. O Senado enviou uma delegação de senadores até Megelo ordenando que ele não desfizesse um decreto do Senado.[12] Megelo respondeu aos enviados que, como ele era o cônsul romano legitimamente eleito, ele é que comandava o Senado e não cabia ao Senado ditar como ele deveria realizar seus deveres.[13][14] Ele então marchou para Comínio e forçou Gurges a renunciar ao seu comando. Gurges não tinha outra escolha a não ser obedecer e Megelo, assumindo o comando dos dois exércitos, imediatamente enviou Gurges de volta para Roma.[14] Comínio rapidamente caiu e Megelo continuou sua campanha até o final da temporada.[15][16]

Retornando a Roma, Megelo exigiu um novo triunfo pelas suas vitórias, o que foi negado pelo Senado. Ele pediu então o apoio do povo, mas teve uma recepção morna.[13][14] Incansável, Megelo pediu a ajuda dos tribunos da plebe e, embora tenha conseguido o apoio de três, os outros sete vetaram o pedido. O Senado, por sua vez, votou um triunfo para o homem que ele expulsou, Quinto Fábio Máximo Gurges, permitindo que ele reivindicasse o crédito pela captura de Comínio.[a] Na celebração do triunfo, o velho Fábio cavalgou ao lado do carro do seu filho.[21][b][22][23][24] Pelo seu sucesso nesta campanha, Fábio Gurges dedicou um santuário a "Venus Obsequente", porque a deusa atendera as suas orações.[25]

Segundo consulado (276 a.C.)[editar | editar código-fonte]

Foi cônsul pela segunda vez em 276 a.C. com Caio Genúcio Clepsina. Durante seu mandato, recebeu um triunfo sobre samnitas e brútios.[17] Pouco depois foi enviado como legado romano à corte de Ptolemeu II do Egito. Todos os presentes que Fábio e o restante dos representantes romanos receberam do monarca egípcio foram depositados no tesouro público à sua volta a Roma, porém, um decreto do Senado Romano decidiu que os embaixadores deveriam ficar com eles.[26][27][28][29]

Terceiro consulado (265 a.C.)?[editar | editar código-fonte]

Ele ou seu filho[c] morreu em batalha, enquanto ocupava o consulado.[d] Os cônsules (ou apenas o cônsul Fábio) foram enviados para lutar contra os volsínios, na Etrúria, para assegurar a liberdade dos cidadãos. Os volsínios, o povo mais antigo dos etruscos, que haviam resistido aos romanos até serem conquistados, haviam se tornado indolentes, passando a ser governado por seus servos. Eles pediram ajuda aos romanos, que enviaram Fábio.[e] Ele derrotou as forças enviadas contra ele, cercou os rebeldes dentro da cidadela e a atacou, mas foi ferido e morreu. Os rebeldes tentaram contra-atacar, mas voltaram para a cidade, e, com fome, se renderam. Outro cônsul[f] executou os que haviam usurpado as honras da classe governante, destruiu completamente a cidade e realocou os cidadãos nativos e os servos que haviam se mantido fiéis a novos mestres em outro local[30]. Segundo Thomas Arnold, a conquista e destruição de Volsínios ocorreu no ano seguinte e foi obra de Décio Mus, cônsul em 475 A.U.C., e que estaria, em 489 A.U.C. (264 a.C.) ocupando ou o cargo de pretor ou de ditador.[31]

Descendência[editar | editar código-fonte]

Se não era a mesma pessoa, era pai de Quinto Fábio Máximo Gurges, cônsul em 265 a.C.. Foi o pai ou o avô paterno de Quinto Fábio Máximo Verrucoso, cônsul em 233, 228, 215 (sufecto), 214 e 209 a.C.[32][g]

Árvore genealógica[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Cônsul da República Romana
Precedido por:
Lúcio Papírio Cursor

com Espúrio Carvílio Máximo

Quinto Fábio Máximo Gurges
292 a.C.

com Décimo Júnio Bruto Esceva II

Sucedido por:
Lúcio Postúmio Megelo III

com Caio Júnio Bubulco Bruto

Precedido por:
Públio Cornélio Rufino II

com Caio Júnio Bubulco Bruto II

Quinto Fábio Máximo Gurges II
276 a.C.

com Caio Genúcio Clepsina

Sucedido por:
Mânio Cúrio Dentato II

com Lúcio Cornélio Lêntulo Caudino


Notas[editar | editar código-fonte]

  1. Há uma enorme confusão nos relatos tanto de Lívio quanto de Dionísio de Halicarnasso, com eventos muito similares (a demanda de Megelo por um triunfo, sua decisão de realizá-lo apesar da oposição senatorial, sua utilização dos tribunos da plebe para seus próprios fins) ocorrendo em 294 e 291 respectivamente. Os estudiosos se dividem sobre (i) se os eventos foram misturados, ocorrendo num único ano, provavelmente 294 a.C. (baseado no fato de os Fastos Triunfais[17] afirmarem que Gurges e não Megelo recebeu um triunfo em 291 a.C. e que Megelo triunfou em 294 a.C.) ou (ii) se os dois eventos similares foram misturados. Para tentar dar algum sentido às evidência, aparentemente Megelo de fato realizou um triunfo em 294 a.C., realizado apesar da oposição dos senadores. Ele então teria tentado utilizar a mesma tática novamente em 291 a.C., mas com a diferença que, desta vez, ele havia debandado suas tropas antes de chegar em Roma e que, agora, os tribunos da plebe interpuseram seus vetos para evitar o triunfo. Dado que a guerra estava virtualmente terminada no final de 291 a.C., e, portanto, a necessidade de manter os serviços militares disponíveis não era mais tão premente, não foram mais feitos esforços para acomodar o comportamento cada vez mais errático de Megelo. Para deixar o ponto ainda mais claro, o Senado concedeu o triunfo a Gurges, que Megelo havia expulsado.[18][19][20]
  2. Plutarco conta a história de Fábio Gurges e seu pai ao falar da relação de Quinto Fábio Máximo Verrucoso com seu filho. Verrucoso era neto de Gurges.
  3. O cônsul de 265 a.C. pode ser ele mesmo ou seu filho.
  4. Zonaras chama seu colega de Emílio e não Mamílio.
  5. O texto de Zonaras, neste ponto, só menciona Fábio, mas cita o outro cônsul depois da morte dele.
  6. O texto de Zonaras cita apenas "o cônsul".
  7. Plutarco, em Vidas Paralelas, Vida de Fábio Máximo, 1.2, diz que Fábio Máximo Verrucoso era a "quarta geração" depois de Quinto Fábio Máximo Ruliano, o que faria de Verrucoso o neto deste.

Referências

  1. a b Nicolas Lenglet Dufresnoy, Chronological Tables of Universal History (1762), Fasti Romani Consulares, p.196 [google books]
  2. Louis Moréri, Le grand Dictionaire historique, ou le mélange curieux de l'histoire sacrée et profane (1759), Suite chronologique des consuls romains, p.85 [google books]
  3. George Crabb, Universal Historical Dictionary: Or Explanation of the Names of Persons and Places in the Departments of Biblical, Political and Eccles. History, Mythology, Heraldry, Biography, Bibliography, Geography, and Numismatics, Volume 2 (1833), History of Rome, p.537 [google books]
  4. Pseudo-Plutarco, Parallela Minora, 3 [on line]
  5. Macróbio, Saturnalia, Liber III, 13.6 [on line]
  6. Plin. vii. H. N. 41.
  7. Lívio, Ab Urbe condita X, 42 [on line]
  8. Lívio, Ab Urbe condita X, 47.
  9. Aurélio Vítor, De Viris Illustribus, 22.
  10. Dionísio de Halicarnasso, Antiguidades Romanas, XVII, 4.5 [on line]
  11. Oakley, pg. 188
  12. Arnold, pg. 393
  13. a b Smith, pg. 1009
  14. a b c Arnold, pg. 394
  15. Salmon pg. 275
  16. Broughton, pg. 182
  17. a b Fasti Triumphales [on line]
  18. Salmon, pg, 275
  19. Arnold, pg, 394;
  20. Forsythe, pg. 327
  21. Plutarco, Vidas Paralelas, Fábio Máximo, 24.3 [on line]
  22. Dionísio de Halicarnasso, Biblioteca Histórica XVI 1,5
  23. Paulo Orósio III 22
  24. Eutrópio II, 9.
  25. Serv. ad. Aen. i. 720.
  26. Valério Máximo IV 3. § 10
  27. Dião Cássio Fr. 147
  28. Lívio, Ab Urbe condita Epit. XIV.
  29. Zonaras VIII 6.
  30. Zonaras, com base em Dião Cássio, História romana, Livro X, 42 [on line]
  31. Thomas Arnold, History of Rome, Volume 2 (1840) p.532 [google books]
  32. Fastos Capitolinos [on line]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Broughton, T. Robert S. (1951). «XV». The Magistrates of the Roman Republic. Volume I, 509 B.C. - 100 B.C. (em inglês). I. Nova Iorque: The American Philological Association. 578 páginas 
  • Forsythe, Gary (2005). A Critical History of Early Rome from Prehistory to the First Punic War (em inglês). [S.l.: s.n.] 
  • Oakley, S. P. (2007). A Commentary on Livy, livros 6-10 (em inglês). IV. [S.l.: s.n.] 
  • Salmon, E. T. (2010). Samnium and the Samnites (em inglês). [S.l.: s.n.] 
  • Arnold, Thomas (1840). History of Rome (em inglês). [S.l.: s.n.]