Reconhecimento internacional da independência da Abecásia e Ossétia do Sul

A declaração russa de reconhecimento das independências da Abecásia e da Ossétia do Sul se deu em 26 de agosto de 2008, quando o então presidente da Rússia, Dmitri Medvedev (hoje, primeiro-ministro do país), reconheceu oficialmente a independência das duas autoproclamadas repúblicas. Tanto a Abecásia (também chamada Abcásia, Abkházia; em inglês, Abkhazia) quanto a Ossétia do Sul são internacionalmente reconhecidas como partes da República da Geórgia, que não reconheceu nem aceita o movimento separatista dos abecásios e sul-ossetas. À época, a declaração agravou a crise entre Rússia e Geórgia, que no momento se encontravam em guerra.[1]
Embora outros países, como Cuba, Tajiquistão e Bielorrússia, também tenham afirmado, em 2008, apoiar o reconhecimento vindo de Moscou das duas regiões separatistas,[2] atualmente (em 2021), apenas 6 países-membros da ONU reconhecem a independência da Abecásia (Rússia, Nicarágua, Venezuela, Síria, Nauru e Vanuatu), enquanto são cinco os que reconhecem a Ossétia do Sul (todos os outros países que também reconhecem a Abecásia, com exceção de Vanuatu).
O Brasil, Portugal e os demais países lusófonos não reconhecem a Abecásia nem a Ossétia do Sul como países independentes, considerando-os, em vez disso, partes integrantes do território da Geórgia.
Reconhecimento por país[editar | editar código-fonte]

Países que reconheceram a independência dos dois territórios[editar | editar código-fonte]
Rússia: Foi o primeiro a reconhecer os territórios em agosto de 2008, causando forte desgaste diplomático, principalmente com o Ocidente.[3]
Nicarágua: Seguindo o polêmico exemplo da Rússia, a Nicarágua reconheceu a independência das regiões separatistas georgianas, e na noite de 2 de setembro, o presidente Daniel Ortega acusou Tbilisi de agir de forma "nazista" ao tentar reassumir o controle desses territórios com apoio dos EUA.[4]
Venezuela: Após dar apoio à atitude russa e acusar os EUA de promover a guerra do Cáucaso,[5] a Venezuela reconheceu a independência das regiões.[6]
Nauru - Em 16 de dezembro de 2009, Nauru reconheceu a independência da região.[7]
Síria - Em 29 de maio de 2018, o governo de Bashar al-Assad reconheceu as duas regiões,[8] depois de em 2008 ter apoiado a posição russa.
Países que manifestaram apoio ao reconhecimento russo, mas não chegaram a reconhecer de facto a Abecásia e a Ossétia do Sul[editar | editar código-fonte]
Bielorrússia: O país se declarou favorável a reconhecê-las, logo após o posicionamento da Rússia.[9]
Cuba: O governo de Raúl Castro afirmou que o reconhecimento cubano das duas regiões é legítimo desde a queda da União Soviética.[10]
Tajiquistão: O presidente tajique Emomali Rahmonov, disse que "Rússia e Tajiquistão são parceiros e devem se apoiar", porém ressaltou também que "O conflito deveria ser resolvido de maneira diplomática, e não como está sendo." [11]
Países que reconheceram a independência da Abecásia e/ou a Ossétia do Sul, mas voltaram atrás em sua decisão[editar | editar código-fonte]
Tuvalu: Tuvalu reconheceu a independência dos territórios em 18 de setembro de 2011.[12] Entretanto, voltou atrás com sua decisão, anulando o reconhecimento, em 31 de março de 2014. O motivo para tal reviravolta foi ocasionado porque Tuvalu e Geórgia assinaram um acordo sobre o estabelecimento de relações diplomáticas e consulares. O acordo estipulava que ambos os lados concordavam em desenvolver relações com base nos princípios da igualdade soberana, relações amigáveis e cooperação, integridade territorial, não violação de fronteiras e não interferência nos assuntos internos.[13][14]
Vanuatu: Em 23 de maio de 2011, Vanuatu reconheceu a independência da Abecásia por conta do estabelecimento de relações diplomáticas a ambos.[15][16][17] Tal parceria não se repetiu em relação a Ossétia do Sul, por tanto, não houve reconhecimento por parte de Vanuatu nesse caso. Em 2013, a Geórgia e Vanuatu assinaram um acordo sobre o estabelecimento de relações diplomáticas e consulares, que afirmava que "a República de Vanuatu reconhece a integridade territorial da Geórgia dentro de suas fronteiras internacionalmente reconhecidas, incluindo suas regiões - a República Autônoma da Abkhazia e a região de Tskhinvali/Ossétia do Sul."[18] Em março de 2019, o ministro das Relações Exteriores de Vanuatu, Ralph Regenvanu, reiterou em Tbilisi que o país reconhece a integridade territorial da Geórgia, incluindo os territórios da Ossétia do Sul e da Abkhazia. Regenvanu disse: "Vanuatu sempre reconheceu a integridade territorial da Geórgia. Em 2011 tivemos um ministro que expressou uma posição diferente. Na minha opinião, ele foi influenciado por certos indivíduos e reconheceu a independência da Ossétia do Sul e da Abkhazia. Sua decisão não foi uma posição oficial do Estado".[19][20]
Países neutros[editar | editar código-fonte]
Brasil: O ministro das relações exteriores, Celso Amorim, declarou a neutralidade brasileira e disse que o país está analisando tudo cuidadosamente.[21]
China: A China declarou grande preocupação com a situação. Analistas acreditam que o país vá apoiar a Rússia na independência.[22]
México: O governo mexicano expressou grande preocupação com a situação e pediu que ela seja resolvida de maneira pacífica, de acordo com as regras da ONU.[23]
Vietname: O país disse que o melhor modo para se resolver isso é "com uma política consistente para promover uma resolução pacífica de acordo com os princípios básicos da ONU." [24]
Países que se opuseram expressamente ao reconhecimento da Abecásia e da Ossétia do Sul[editar | editar código-fonte]
Alemanha: A chanceler alemã, Angela Merkel, considerou "absolutamente inaceitável" e "contrário ao direito internacional" o reconhecimento russo.[25]
Canadá: O ministro das relações exteriores, David Emerson, declarou que o Canadá demonstra preocupação em relação ao reconhecimento da independência das repúblicas, e que apoia a integridade territorial da Geórgia.[26]
Costa Rica: Numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas a respeito da situação na Geórgia, o embaixador costa-riquenho se referiu às ações russas como o desmembramento de um Estado-membro da ONU pela força.[27]
Dinamarca: O país declarou incondicional apoio à integridade territorial da Geórgia.[28]
Estados Unidos: A chefe da diplomacia norte-americana, Condoleezza Rice, por seu lado, considerou "extremamente infeliz" o reconhecimento, afirmou também que os Estados Unidos continuam a considerar a Abecásia e a Ossétia do Sul como "parte (integrante) das fronteiras da Geórgia internacionalmente reconhecidas" e que usarão o seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU para bloquear qualquer tentativa russa de alterar esse estatuto.[25]
Estónia: A Estónia condenou firmemente a Rússia, dizendo que o país atrapalhou "a estabilidade regional da Europa e que a Estónia, como toda a OTAN e a União Europeia apoiam firmemente a integridade territorial georgiana".[29]
França: A França, que ocupava no segundo semestre de 2008 a presidência da UE, havia classificado anteriormente de "decisão lamentável" o reconhecimento pela Rússia desta independência e lembrou seu "respeito à integridade territorial" da Geórgia.[30]
Israel: O país informou que "reconhece a integridade territorial da Geórgia." [31]
Geórgia: A Geórgia condenou a Rússia firmemente pelo feito e rompeu as relações diplomáticas com o país, fechando suas embaixadas e chamando os embaixadores de volta.[32]
Japão: O então primeiro-ministro do pais, Taro Aso, disse que o Japão está preocupado e afirmou que a Rússia deve se responsabilizar pelos ocorridos.[33]
Moldávia: Por conta de seus interesses na região da Transnístria o governo do país afirmou que não reconhecerá as regiões.[34]
Portugal: O país declarou o seu "total apoio à integridade territorial da Geórgia", rejeitando de forma alguma o reconhecimento das regiões.[35]
Espanha: A Espanha, que também tem problemas separatistas, rejeita firmemente o reconhecimento das regiões e dá "total apoio à integridade territorial da Geórgia." [36]
Reino Unido: O primeiro-ministro britânico disse: "Nós estamos pedindo um cessar-fogo imediato para o confronto na Ossétia do Sul e pedindo uma retomada direta do diálogo entre as partes." [37]
Chéquia: O país, que presidiu à UE no primeiro semestre de 2009, apoia a integridade territorial da Geórgia e a reconstrução de todo o país durante a reunião de cúpula comunitária extraordinária que será realizada.[38]
Sérvia: O presidente Boris Tadić disse: "A Sérvia não vai reconhecer os denominados novos países." [39]
Organizações internacionais[editar | editar código-fonte]
- OTAN: O secretário-geral da OTAN, Jaap de Hoop Scheffer, rejeitou o reconhecimento das regiões separatistas.[25]
Referências
- ↑ Rússia considera independência da Ossétia e Abecásia
- ↑ Bielorrússia se prepara para reconhecer a Abkházia e a Ossétia do Sul[ligação inativa]
- ↑ Rússia reconhece a independência da Ossétia do Sul e Abkhazia
- ↑ Nicarágua reconhece independência de Ossétia do Sul e Abkházia
- ↑ Venezuela acusa EUA de promover guerra do Cáucaso enaltecendo actuação da Rússia
- ↑ «Chávez anuncia reconhecimento da Abecásia e da Ossétia do Sul» (em português europeu). Euronews. 10 de setembro de 2009. Consultado em 12 de setembro de 2009
- ↑ Республика Науру признала независимость Южной Осетии (A República de Nauru reconheceram a independência da Ossétia do Sul)
- ↑ «Syria formally recognizes Abkhazia and South Ossetia | Eurasianet». eurasianet.org (em inglês). Consultado em 13 de novembro de 2018
- ↑ Líder bielo-russo justifica reconhecimento pela Rússia de regiões georgianas
- ↑ «Cuba diz que já reconhece regiões desde o fim da URSS». Consultado em 31 de agosto de 2008. Arquivado do original em 15 de setembro de 2008
- ↑ Tajikistan urges Russia, Georgia to solve conflict through political, diplomatic means
- ↑ «Tuvalu Retracts Abkhazia, S.Ossetia Recognition». Civil Georgia. 31 de março de 2014. Consultado em 5 de fevereiro de 2022
- ↑ «Tuvalu takes back recognition of independence of Abkhazia and so-called South Ossetia - News Agency InterpressNews». web.archive.org. 31 de março de 2014. Consultado em 8 de outubro de 2021
- ↑ Bullough, Oliver (2 de abril de 2014). «This Tiny Pacific Island Nation Just Gave Russia a Big Bruise». The New Republic. ISSN 0028-6583. Consultado em 8 de outubro de 2021
- ↑ International, Sputnik. «Vanuatu recognizes Abkhazia independence - Abkhaz ministry». Sputnik International (em inglês)
- ↑ «Министерство Иностранных дел Республики Абхазия». archive.ph. 9 de dezembro de 2012. Consultado em 8 de outubro de 2021
- ↑ «Visa-free regime is launched between the Republic of Vanuatu and the Republic of Abkhazia. | The Ministry of Foreign Affairs Republic of Abkhazia». web.archive.org. 9 de junho de 2011. Consultado em 8 de outubro de 2021
- ↑ «Georgia, Vanuatu Establish Diplomatic Ties». Civil Georgia (em inglês). 15 de julho de 2013. Consultado em 5 de fevereiro de 2022
- ↑ «Vanuatu Minister of Foreign Affairs, International Cooperation and Foreign Trade Visits Village Near Occupation Line». Ministry of Foreign Affairs Georgia (em georgiano). 15 de março de 2019. Consultado em 5 de fevereiro de 2022
- ↑ «Foreign Ministers of Georgia, Vanuatu Pledge to Deepen Ties». Civil Georgia (em inglês). 14 de março de 2019. Consultado em 5 de fevereiro de 2022
- ↑ Brasil vê com preocupação conflito na Ossétia
- ↑ China e Ocidente expressam preocupação[ligação inativa]
- ↑ «México demonstra preocupação com o ocorrido». Consultado em 5 de setembro de 2008. Arquivado do original em 1 de setembro de 2008
- ↑ «Vietnã defende solução pacífica para o conflito». Consultado em 1 de setembro de 2008. Arquivado do original em 7 de setembro de 2008
- ↑ a b c NATO rejeita reconhecimento da Ossétia e Abkházia
- ↑ «Declaração do ministro Emerson sobre a situação na Geórgia». Consultado em 30 de agosto de 2008. Arquivado do original em 17 de março de 2012
- ↑ Costa Rica condena firmemente a Rússia
- ↑ Líderes europeus condenam a Rússia
- ↑ «Reação da Estônia». Consultado em 1 de setembro de 2008. Arquivado do original em 31 de agosto de 2008
- ↑ França consulta UE para condenar reconhecimento russo de Abkházia e Ossétia
- ↑ Reação de Israel
- ↑ Geórgia rompe relações diplomáticas com a Rússia
- ↑ Japan voices "grave concern" over Russia's recognition of rebel regions
- ↑ Moldova rejects recognition of Georgian regions
- ↑ «Governo português acompanha "com preocupação" crise no Cáucaso». Consultado em 29 de agosto de 2008. Arquivado do original em 1 de setembro de 2008
- ↑ «Georgia.- España lamenta el reconocimiento de la independencia de Osetia y Abjazia y pide a Moscú cumplir el plan de paz». www.europapress.es. 26 de agosto de 2008. Consultado em 25 de junho de 2022
- ↑ Grã-Bretanha[ligação inativa]
- ↑ Praga apoiará integridade territorial e reconstrução da Geórgia
- ↑ Serbia Won’t Recognise Georgia Regions