Reduto da Salga

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Segundo forte (reduto) da Casa da Salga (Francisco Xavier Machado, 1712, ANTT).
Planta do Reduto da Salga (Almeida Jr.; Damião Pego, 1881-1882).

O Reduto da Salga localizava-se na baía da Salga, freguesia de Porto Judeu, concelho de Angra do Heroísmo, na costa sudeste da ilha Terceira, nos Açores.

Em posição dominante sobre este trecho do litoral, constituiu-se em uma fortificação destinada à defesa deste ancoradouro contra os ataques de piratas e corsários, outrora frequentes nesta região do oceano Atlântico. Cooperava com o Forte da Salga.

História[editar | editar código-fonte]

Foi uma das fortificações erguidas na Terceira no contexto da crise de sucessão de 1580 pelo então corregedor dos Açores, Ciprião de Figueiredo e Vasconcelos, conforme o plano de defesa da ilha elaborado por Tommaso Benedetto em 1567, após o ataque do corsário francês Pierre Bertrand de Montluc ao Funchal (outubro de 1566), intentado e repelido em Angra no mesmo ano (1566):

"Não havia naquele tempo [Crise de sucessão de 1580] em toda a costa da ilha Terceira alguma fortaleza, excepto aquela de S. Sebastião, posto que em todas as cortinas do sul se tivessem feito alguns redutos e estâncias, nos lugares mais susceptíveis de desembarque inimigo, conforme a indicação e plano do engenheiro Tomás Benedito, que nesta diligência andou desde o ano de 1567, depois que, no antecedente de 1566, os franceses, comandados pelo terrível pirata Caldeira, barbaramente haviam saqueado a ilha da Madeira, e intentado fazer o mesmo nesta ilha, donde parece que foram repelidos à força das nossas armas." [1]

A seu respeito, DRUMMOND registou: "(...) concluíram-se a boa fortaleza da Salga e o reduto que lhe fica fronteiro e encruza a baía, estendendo-se-lhe um bom lanço de muralha. (...)."[1]

Com a instalação da Capitania Geral dos Açores, o seu estado foi assim reportado em 1767:

"6º - Reducto da Salga. Tem 5 peças de ferro boas com os seus reparos capazes: preciza para se guarnecer cinco artilheiros e vinte auxiliares."[2]

Encontra-se referido como "Segundo forte (reducto) da Casa da Salga" no relatório "Revista dos fortes e redutos da ilha Terceira", de Francisco Xavier Machado (1772), ilustrado com cinco canhoneiras.

Encontra-se referido como "5. Reducto nomeado da caza da Salga" no relatório "Revista aos fortes que defendem a costa da ilha Terceira", do Ajudante de Ordens Manoel Correa Branco (1776), que lhe relata o estado:

"Tambem este se acha redificado de novo, careçe tirarselhe algú emtulho, e fazerselhe hú tilheiro p.ª recolher a Artelharia no Inverno, e hú quartel p.ª a guarda."[3]

Dele existem duas representações de alçado e planta ("Reduto da Salga") na "Colecção de Plantas e Alçados de 32 Fortalezas dos Açores, por Joze Rodrigo d'Almeida em 1806".[4][5]

A "Relação" do marechal de campo Barão de Bastos em 1862 informa que "As muralhas e alojamentos carecem de pequenos consertos."[6]

Quando do Tombo de 1881, encontrava-se fechado, sendo informado estar à conta de um veterano. Externamente não se encontrava em mau estado.[7]

De sua estrutura restam-nos apenas vestígios.

Características[editar | editar código-fonte]

Do tipo abaluartado, de pequenas dimensões, apresentava planta no formato triangular orgânico, adaptado ao terreno, erguido em aparelho de cantaria.

Em seus muros rasgavam-se primitivamente cinco canhoneiras; quando do Tombo de 1881, apresentava apenas duas, uma no ângulo saliente e outra na muralha voltada a oeste.

No seu interior erguia-se a Casa da Guarda e, junto a esta, mas exteriormente no muro da gola, outra, mais pequena, utilizada como cozinha.

O reduto ocupava uma área de 220 metros quadrados, a que se acrescia a área edificada das casas, de 39 metros quadrados.

Era acedido por um caminho em más condições e cujo início se localizava na estrada marginal, que dá acesso a outros fortes e a terras de particulares.

Referências

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Anónimo. "Colecção de todos os fortes da jurisdição da Villa da Praia e da jurisdição da cidade na Ilha Terceira, com a indicação da importância da despesa das obras necessárias em cada um deles (Arquivo Histórico Ultramarino)". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LI-LII, 1993-1994.
  • Anónimo. "Revista aos Fortes que Defendem a Costa da Ilha Terceira – 1776 (Arquivo Histórico Ultramarino)". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LVI, 1998.
  • BASTOS, Barão de. "Relação dos fortes, Castellos e outros pontos fortificados que devem ser conservados para defeza permanente." in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LV, 1997. p. 272-274.
  • DRUMMOND, Francisco Ferreira. Anais da Ilha Terceira (fac-simil. da ed. de 1859). Angra do Heroísmo (Açores): Secretaria Regional da Educação e Cultura, 1981.
  • FARIA, Manuel Augusto. "Ilha Terceira – Fortaleza do Atlântico: Reduto da Salga". in Diário Insular, 2-3 de agosto de 1997.
  • JÚDICE, João António. "Revista dos Fortes da Terceira". in Arquivo dos Açores, vol. V (ed. fac-similada de 1883). Ponta Delgada (Açores): Universidade dos Açores, 1981. p. 359-363.
  • MACHADO, Francisco Xavier. Revista dos fortes e redutos da Ilha Terceira - 1772. Angra do Heroísmo (Açores): Secretaria Regional da Educação e Assuntos Sociais; Gabinete da Zona Classificada de Angra do Heroísmo, 1983. il.
  • MARTINS, José Salgado, "Património Edificado da Ilha Terceira: o Passado e o Presente". Separata da revista Atlântida, vol. LII, 2007. p. 30.
  • NEVES, Carlos; CARVALHO, Filipe; MATOS, Arthur Teodoro de (coord.). "Documentação sobre as Fortificações dos Açores existentes nos Arquivos de Lisboa – Catálogo". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. L, 1992.
  • PEGO, Damião; ALMEIDA JR., António de. "Tombos dos Fortes da Ilha Terceira (Direcção dos Serviços de Engenharia do Exército)". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LIV, 1996.
  • VIEIRA, Alberto. "Da poliorcética à fortificação nos Açores: introdução ao estudo do sistema defensivo nos Açores nos séculos XVI-XIX". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XLV, tomo II, 1987.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]