Reino do Brasil

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Reino do Brasil
1815 – 1822
Hino nacional
Hino Patriótico (1815–1822)


Localização de Brasil
Localização de Brasil
Reino do Brasil
Continente América
Capital Rio de Janeiro
Língua oficial Português
Religião Catolicismo
Governo Monarquia absoluta
Monarcas
 • 1815–1816 D. Maria I
 • 1816–1822 D. João VI
Legislatura Cortes
História
 • 16 de dezembro de de 1815 Estabelecido
 • 6 de março de 1817 Revolta Pernambucana
 • 24 de agosto de 1820 Revolução Liberal
 • 25 de abril de 1821 Regresso da Família Real a Portugal
 • 7 de setembro de 1822 Independência do Brasil
Área
 • 1820 8 300 000 km2
População
 • 1820[1] est. 4 000 000 
Moeda Real
Brasão alusivo ao período na Bolsa do Café, em Santos-SP

O Reino do Brasil foi um dos reinos integrantes do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, tendo sido criado a partir da elevação do Estado do Brasil à condição de reino, em dezembro de 1815.[2][3]

Desde 1808, com a transferência da corte portuguesa para o Brasil, a capital do Reino de Portugal estava estabelecida na capital do Estado do Brasil, a Rio de Janeiro, registrando-se o que alguns historiadores denominam de "inversão metropolitana", ou seja, da colônia passou a ser exercida a soberania e o governo do império ultramarino português. Foi a primeira e única experiência de uma colônia tornar-se sede de uma corte europeia.[4]

O Reino do Brasil, cuja criação extinguiu oficialmente o status de colônia sobre o território, teve curta existência e possuiu apenas dois reis, Maria I e João VI, sendo sucedido pelo Império do Brasil.

Elevação da colônia à condição de reino[editar | editar código-fonte]

O Reino do Brasil foi uma entidade legalmente constituída em 16 de dezembro de 1815, por meio da elevação do território colonial denominado Estado do Brasil à condição reino[5]. Tal elevação ocorre pouco após o término do Congresso de Viena, onde Portugal foi representado por três Ministros Plenipotenciários: D. Pedro de Sousa Holstein, Conde de Palmela, António de Saldanha da Gama, diplomata destacado na Rússia, e D. Joaquim Lobo da Silveira, diplomata destacado em Estocolmo.[6]

A capital do Reino foi a cidade do Rio de Janeiro, que abrigava a corte desde 1808.[7].

Capa da Gazeta do Rio, de janeiro de 1816. Nela, há uma transcrição da lei, de dezembro de 1815, que elevou o Estado do Brasil a Reino do Brasil.

Eis uma transcrição, em português moderno, do trecho mais relevante do documento acima, que contém os incisos:

I. Que desde a publicação desta Carta de Lei o Estado do Brasil seja elevado à dignidade, preeminência e denominação de – Reino do Brasil –.

II. Que os meus Reinos de Portugal, Algarves e Brasil formem de agora em diante um só e único Reino debaixo do título – Reino Unido de Portugal e do Brasil e Algarves.

III. Que aos títulos inerentes à Coroa de Portugal, e de que até agora hei feito uso, se substitua em todos os diplomas, cartas de leis, alvarás, provisões e atos públicos o novo título de – Príncipe Regente do Reino Unido de Portugal e do Brasil e Algarves, de aquém e de além-mar, em África de guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia Pérsia, e da Índia. etc.
Carta de Lei de 16 de Dezembro de 1815 - grafia atualizada Olimpíada Nacional em História do Brasil

Crise[editar | editar código-fonte]

Pouco após a elevação do Estado do Brasil à condição de reino, movimentos de contestação se afloram no território do recém instituído reino unido, com destaque para a Revolução Pernambucana e a Revolução do Porto.

Revolução Pernambucana[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Revolução Pernambucana
Revolução Pernambucana de 1817: movimento é considerado o precursor da Independência do Brasil.[8]

A Revolução Pernambucana, também conhecida como "Revolução dos Padres", foi um movimento emancipacionista que eclodiu no dia 6 de março de 1817 em Pernambuco, no Brasil.[9][10] Dentre as suas causas, destacam-se a influência das ideias iluministas propagadas pelas sociedades maçônicas, o absolutismo monárquico português e os enormes gastos da Família Real e seu séquito recém-chegados ao Brasil — a capitania de Pernambuco, então a mais lucrativa da colônia, era obrigada a enviar para o Rio de Janeiro grandes somas de dinheiro para custear salários, comidas, roupas e festas da Corte, o que dificultava o enfrentamento de problemas locais (como a seca ocorrida em 1816) e ocasionava o atraso no pagamento dos soldados, gerando grande descontentamento no povo pernambucano.[10][11][12]

Único movimento separatista do período de dominação portuguesa que ultrapassou a fase conspiratória e atingiu o processo de tomada do poder, a Revolução Pernambucana provocou o adiamento da aclamação de João VI de Portugal como rei e o atraso da viagem de Maria Leopoldina de Áustria para o Rio de Janeiro, mobilizando forças políticas e suscitando posicionamentos e repressões em todo o Reino do Brasil.[11][13][14][15] O príncipe regente impôs uma repressão violenta: quatorze revoltosos foram executados pelo crime de lesa-majestade (a maioria enforcados e esquartejados, enquanto outros foram fuzilados), e centenas morreram em combate ou na prisão.[16][17] Ainda em retaliação, Dom João VI desmembrou a então comarca das Alagoas do território pernambucano (sete anos mais tarde, Dom Pedro I tiraria de Pernambuco as terras que correspondem ao atual Oeste da Bahia como punição pela Confederação do Equador).[18] Apenas na data de sua coroação, em 6 de fevereiro de 1818, Dom João ordenou o encerramento da devassa.[19]

A Revolução Pernambucana contou com relativo apoio internacional: os Estados Unidos, que dois anos antes tinham instalado no Recife o seu primeiro Consulado no Brasil e no Hemisfério Sul devido às relações comerciais com Pernambuco, se mostraram favoráveis ao movimento, bem como os ex-oficiais de Napoleão Bonaparte que pretendiam resgatar o seu líder do cativeiro em Santa Helena, levá-lo a Pernambuco e depois a Nova Orleans.[20][21]

Os revolucionários, oriundos de várias partes da colônia, tinham como objetivo principal a conquista da independência de parte do Brasil em relação a Portugal, com a implantação de uma república liberal. O movimento abalou a confiança na construção do império americano sonhado pelo rei João VI, e por este motivo é considerado o precursor da independência brasileira, ocorrida em 1822.[8]

Revolução do Porto[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Revolução liberal do Porto
Documento em que as Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa efetivam o fim da regência em 1821 devido ao retorno de João VI de Portugal.

A Revolução do Porto, também referida como Revolução Liberal do Porto, foi um movimento de cunho liberal que eclodiu a 24 de agosto de 1820 na cidade do Porto e teve repercussões tanto na História de Portugal quanto na História do Brasil. O movimento resultou no retorno (1821) da Corte Portuguesa, que se transferira para o Brasil durante a Guerra Peninsular, e no fim do absolutismo em Portugal e na instalação das Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa.

Os trabalhos das Cortes Constituintes culminaram com a aprovação da Constituição Portuguesa de 1822. A sessão de encerramento das cortes, presidida pelo rei D. João VI, ocorreu a 4 de novembro de 1822.[22]

Dissolução[editar | editar código-fonte]

O Reino do Brasil desmembrou-se do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, o qual formavam uma União Real, com a independência do Brasil, a 7 de setembro de 1822[23]. O Reino do Brasil, independente em 1822 e, por conseguinte, desmembrado do Império Ultramarino Português, torna-se Império do Brasil. Em 12 de outubro, o príncipe foi aclamado D. Pedro I, o primeiro imperador do recém-criado Império do Brasil, estabelecido como uma monarquia constitucional.[24][25]

A escolha do termo "Imperador" e não de "Rei" deu-se para representar a separação com a monarquia portuguesa, mostrando que o Imperador fora assim constituído por aclamação e não por direito sucessório português com título de Rei.[26] Em 25 de março de 1824, com a outorga da Constituição brasileira de 1824[27]

A declaração de independência foi combatida em todo o Brasil por unidades militares armadas leais ao governo português. A guerra de independência que se seguiu foi travada em todo o país, com batalhas nas regiões norte, nordeste e sul. Os últimos soldados portugueses renderam-se em março de 1824[28][29] e a independência foi reconhecida por Portugal em agosto de 1825.[30]

Reis do Reino do Brasil – Dinastia de Bragança[editar | editar código-fonte]

Imagem Nome Casa originária De Até Cônjuge de
D. Maria I Bragança 1815 1816
D. Pedro III de Portugal
(viúva)
D. João VI Bragança 1816 1822 D. Carlota Joaquina

Referências

  1. VAINFAS, Ronaldo, Dicionário do Brasil Imperial, Objetiva, 2002
  2. «Reino Unido a Portugal e Algarves: Por que o Brasil foi elevado a reino unido? - UOL Educação». Consultado em 28 de dezembro de 2022 
  3. «Elevação do Brasil a Reino Unido a Portugal e Algarves». Consultado em 28 de dezembro de 2022 
  4. «Parte do livro "Império à Deriva: A Corte Portuguesa no Rio de Janeiro, 1808-1821".» 
  5. «Reino Unido». www.camara.leg.br/. Consultado em 27 de dezembro de 2022 
  6. «Congresso de Viena, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Portugal». Consultado em 4 de julho de 2016. Arquivado do original em 16 de agosto de 2016 
  7. MATTOS, Ilmar Rohloff de; ALBUQUERQUE, Luis Affonso S. de; MATTOS, Selma Rinaldi de. Rio de janeiro, capital do reino. 12ª ed. Rio de Janeiro: Saraiva Didáticos, 2019.
  8. a b «Revolução Pernambucana - Considerada o berço da democracia brasileira, revolta completa 200 anos». UOL. Consultado em 3 de julho de 2019 
  9. «Pernambuco 1817 – A Revolução». Biblioteca Nacional. Consultado em 8 de julho de 2019 
  10. a b «Revolução pernambucana de 1817: a "Revolução dos Padres"». Fundação Joaquim Nabuco. Consultado em 16 de abril de 2017 
  11. a b Renato Cancian (31 de julho de 2005). «Revolução pernambucana: República em Pernambuco durou 75 dias». Consultado em 1 de março de 2015 
  12. «Revolução Pernambucana de 1817». InfoEscola. Consultado em 21 de junho de 2015 
  13. «República de 1817». Arquivo Nacional. Consultado em 20 de março de 2019 
  14. «Catálogo de Manuscritos — Autores — Leopoldina». Fundação Biblioteca Nacional. Consultado em 24 de março de 2019 
  15. «Biblioteca Nacional abre exposição sobre Revolução Pernambucana». O Globo. Consultado em 24 de março de 2019 
  16. «Instruções de Dom João VI para devassa e sentenças contra rebeldes em Pernambuco». UFF. Consultado em 8 de julho de 2019 
  17. «Dia Internacional da Mulher: Bárbara de Alencar, a sertaneja 'inimiga do rei' que se tornou a primeira presa política do Brasil». BBC. Consultado em 21 de julho de 2019 
  18. GOMES, Laurentino. 1808 - Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. São Paulo : Editora Planeta do Brasil, 2007, p.265-73.
  19. «Autoridades Reais». Biblioteca Nacional. Consultado em 8 de julho de 2019 
  20. «O resgate de Napoleão». História Viva. Consultado em 12 de maio de 2015 
  21. «Consulado Geral dos EUA em Recife». Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil. Consultado em 24 de junho de 2016 
  22. Diário das Cortes: Última sessão das Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa.
  23. Viana 1994, pp. 408–408.
  24. Viana 1994, pp. 417–418.
  25. Barman 1988, pp. 101–102.
  26. Rezzutti, Paulo,. D. Pedro, a história não contada: o homem revelado por cartas e documentos inéditos 1a edição ed. São Paulo, SP: [s.n.] ISBN 9788577345830. OCLC 924416648 
  27. BRASIL. Constituição (1824). Constituição Política do Império do Brazil, Rio de Janeiro, Município Neutro, 1824. Utilizava-se Brasil grafado com "z" naquele período.
  28. Viana 1994, pp. 420–422.
  29. Barman 1988, pp. 104–106.
  30. Barman 1988, p. 128.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Barman, Roderick J. (1988). Brazil: The Forging of a Nation, 1798–1852 (em inglês). Stanford: Stanford University Press. ISBN 978-0-8047-1437-2 
  • Viana, Hélio (1994). História do Brasil: período colonial, monarquia e república 15ª ed. São Paulo: Melhoramentos. ISBN 978-85-06-01999-3 

Ver também[editar | editar código-fonte]

Precedido por
Estado do Brasil
Reino do Brasil
18151822
Sucedido por
Império do Brasil