Saltar para o conteúdo

Richard Price (filósofo)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Richard Price
Richard Price (filósofo)
Portrait of Richard Price (1784), by Benjamin West.
Nascimento 23 de fevereiro de 1723
Llangeinor (Reino da Grã-Bretanha)
Morte 19 de abril de 1791 (68 anos)
Newington Green (Reino da Grã-Bretanha)
Sepultamento Bunhill Fields
Cidadania Reino da Grã-Bretanha, País de Gales
Progenitores
  • Rice Price
  • Catherine Richards
Cônjuge Sarah Blundell
Irmão(ã)(s) Sarah Price
Alma mater
  • Fund Academy
Ocupação filósofo, atuário, teólogo, escritor, matemático, clérigo
Distinções
Empregador(a) Streatfield family
Religião protestantismo
Assinatura
Assinatura de Richard Price (filósofo)

Richard Price (Glamorgan, 23 de fevereiro de 1723 – Londres, 19 de abril de 1791) foi um filósofo, ministro da igreja dissidente da Inglaterra e político republicano liberal apoiador da revolução americana.

Ele também foi um reformador político e panfletário, ativo em causas radicais, republicanas e liberais, como as Revoluções Francesa e Americana. Ele era bem relacionado e promoveu a comunicação entre muitas pessoas, incluindo Thomas Jefferson, John Adams, George Washington, Mirabeau e o Marquês de Condorcet. De acordo com o historiador John Davies, Price foi "o maior pensador galês de todos os tempos".[1]

Nascido em Llangeinor, perto de Bridgend, País de Gales, Price passou a maior parte de sua vida adulta como ministro da Igreja Unitária Newington Green, então nos arredores de Londres. Ele editou, publicou e desenvolveu o teorema de Bayes-Price e o campo da ciência atuarial. Ele também escreveu sobre questões de demografia e finanças e foi membro da Royal Society.[1]

Publicações

[editar | editar código-fonte]

Em 1744, Price publicou um volume de sermões. No entanto, foi como escritor sobre questões financeiras e políticas que Price se tornou amplamente conhecido. Price rejeitava as noções cristãs tradicionais de pecado original e punição moral, defendendo a perfectibilidade da natureza humana,[2] e também escreveu sobre questões teológicas. Além disso, produziu trabalhos sobre finanças, economia, probabilidade e seguro de vida.[3][4]

Price foi convidado a se tornar o executor literário de Thomas Bayes, o matemático.[5] Ele editou a obra principal de Bayes, An Essay Towards Solving a Problem in the Doctrine of Chances (1763),[6] publicada nos Philosophical Transactions, que contém o Teorema de Bayes, um dos resultados fundamentais da teoria das probabilidades.[7] Price escreveu a introdução ao artigo, fornecendo parte da base filosófica da estatística bayesiana. Em 1765, foi eleito membro da Royal Society em reconhecimento ao seu trabalho sobre o legado de Bayes.[5][8]

Observations on reversionary payments, 1772

Por volta de 1766, Price trabalhou com a Society for Equitable Assurances. Em 1769, em uma carta para Benjamin Franklin, fez algumas observações sobre expectativa de vida e a população de Londres, publicadas nos Philosophical Transactions daquele ano. Entre os pontos de vista de Price estava a crença de que grandes cidades eram prejudiciais e de que seria necessário impor certas restrições ao comércio e à movimentação populacional.[9]

Em particular, Price se interessou pelos números de Franklin e Ezra Stiles sobre a população colonial da América, que em alguns locais dobrava a cada 22 anos.[10] Um debate sobre a população britânica havia começado na década de 1750 (com William Brakenridge, Richard Forster, Robert Wallace, que apontavam a manufatura e a varíola como fatores de redução populacional,[11] e William Bell[12]), mas era inconclusivo diante da falta de números confiáveis. O tema interessava também aos escritores europeus de modo geral.[13] A forma quantitativa da teoria de Price sobre a despovoação na Inglaterra e no País de Gales equivalia a uma queda aproximada de 25% na população desde 1688. Esse dado foi contestado numericamente por Arthur Young em seu Political Arithmetic (1774), que também criticava os fisiocratas.[14][15]

Em maio de 1770, Price apresentou à Royal Society um artigo sobre o método apropriado de calcular os valores de reversões contingentes. Seu livro Observations on Reversionary Payments (1771) tornou-se um clássico, em uso por cerca de um século, e forneceu a base para cálculos financeiros de seguros e sociedades de benefícios, muitas das quais haviam sido fundadas recentemente.[5] A chamada “tábua de Northampton”, uma tábua de vida compilada por Price usando dados de Northampton, tornou-se padrão por cerca de cem anos no trabalho atuarial. Foi usada por companhias de seguro de vida como a Scottish Widows e a Clerical Medical.[16] Ela também superestimava a mortalidade,[17] algo vantajoso para as seguradoras, mas desfavorável a quem comprava anuidades.[18] O sobrinho de Price, William Morgan, foi atuário e tornou-se gerente da Equitable em 1775. Posteriormente, ele escreveu um memorial sobre a vida de Price.[3][19]

Price escreveu ainda Essay on the Population of England (2.ª edição, 1780), que influenciou Thomas Robert Malthus. A persistência de sua afirmação sobre a despovoação britânica foi contestada por John Howlett em 1781.[20] Nessa época, teve início a investigação sobre as causas reais de problemas de saúde, em um grupo de médicos radicais em torno de Priestley, que incluía Price, mas era centrado nas Midlands e no noroeste: John Aikin, Matthew Dobson, John Haygarth e Thomas Percival.[21] Desses, Haygarth e Percival forneceram números a Price, complementando dados que ele mesmo coletara em paróquias de Northampton.[22]

Finanças públicas

[editar | editar código-fonte]

Em 1771, Price publicou Appeal to the Public on the Subject of the National Debt (ed. 1772 e 1774). Esse panfleto gerou considerável controvérsia e, acredita-se, influenciou William Pitt the Younger na restauração do sinking fund para a extinção da dívida pública (national debt), criado por Robert Walpole em 1716 e abolido em 1733. Os meios propostos para a extinção da dívida são descritos por Lord Overstone como “uma espécie de maquinismo de hocus-pocus”, que supostamente funcionaria “sem prejuízo para ninguém”, e, portanto, insustentável. As ideias de Price foram atacadas por John Brand em 1776.[23] Quando Brand retornou ao tema das finanças e questões fiscais em Alteration of the Constitution of the House of Commons and the Inequality of the Land Tax (1793), recorreu ao trabalho de Price, entre outros.[24]

Filosofia moral

[editar | editar código-fonte]

A obra Review of the Principal Questions in Morals (1758, 3.ª ed. revisada em 1787) contém a teoria ética de Price. O livro pretende ser uma refutação de Francis Hutcheson. Price representava uma tradição diferente, a ética deontológica em vez da ética da virtude de Hutcheson, remontando a Samuel Clarke e John Balguy.[25] A obra é dividida em dez capítulos, dos quais o primeiro apresenta sua principal teoria ética, aliada à de Ralph Cudworth. Outros capítulos mostram sua relação com Joseph Butler e Immanuel Kant. Filosoficamente e politicamente, Price tinha algo em comum com Thomas Reid.[26] Hoje, como moralista, Price é considerado um precursor do intuicionismo racional do século XX. Ele recorreu, entre outras fontes, a Cícero e Paneceu, sendo caracterizado como um “platônico britânico”.[27]

J. G. A. Pocock comenta que Price era antes de tudo um moralista, colocando a moralidade muito à frente de compromissos democráticos. Price foi amplamente criticado por isso e pela falta de interesse na sociedade civil. Além de Burke, John Adams, Adam Ferguson e Josiah Tucker escreveram contra ele.[28] James Mackintosh escreveu que Price tentava reviver a obrigação moral.[29] Théodore Simon Jouffroy preferia Price a Cudworth, Reid e Dugald Stewart.[30] Consulte também History of Moral Philosophy in England de William Whewell; Mental and Moral Sciences de Alexander Bain; e o monográfico de Thomas Fowler sobre Shaftesbury e Hutcheson.[3][19]

Para Price, certo e errado pertencem às ações em si mesmas, e ele rejeita o consequencialismo. Esse valor ético é percebido pela razão ou entendimento, que reconhece intuitivamente a adequação ou congruência entre ações, agentes e circunstâncias totais. Ao argumentar que o julgamento ético é um ato de discriminação, ele se esforça para invalidar a teoria do senso moral. Reconhece que ações corretas devem ser “agradáveis” a nós; de fato, a aprovação moral inclui tanto um ato de entendimento quanto uma emoção do coração. Ainda assim, ele defende que somente a razão, em seu mais alto grau de desenvolvimento, seria um guia suficiente. Nesse ponto, aproxima-se de Kant; a razão é a árbitra e o correto é:[19]

  1. não uma questão de emoções;
  2. não relativo à natureza humana imperfeita.

A principal diferença de Price em relação a Cudworth é que, enquanto Cudworth considera o critério moral como um νόημα ou modificação da mente, existente de forma embrionária e desenvolvido pelas circunstâncias, Price o vê como adquirido a partir da contemplação das ações, mas adquirido necessariamente, de modo imediato e intuitivo. Em sua visão de ação desinteressada (cap. iii), segue Butler. Ele considera a felicidade o único fim, concebível por nós, da divina Providência, mas trata-se de uma felicidade totalmente dependente da retidão. A virtude sempre tende à felicidade e, no fim, deve produzi-la em sua forma perfeita.[3][19]

Price também escreveu os Fast-day Sermons, publicados em 1779 e 1781. Durante toda a Guerra Americana, ele pregou sermões nos dias de jejum e aproveitou para criticar as políticas coercitivas da Grã-Bretanha em relação às colônias.[31] Uma lista completa de suas obras foi fornecida como apêndice ao Funeral Sermon de Priestley.[3][19]

Referências

  1. a b History of Wales; Penguin; London; 1990; pp. 32–35
  2. Gordon, p. 50.
  3. a b c d e Graham, Jenny (2000). The Nation, the Law, and the King: Reform Politics in England, 1789–1799 (two volumes). University Press of America. ISBN 978-0761814849
  4. Holland, J. D. (janeiro de 1997). «An eighteenth-century pioneer Richard Price, D.D., F. R. S. (1723-1791)». Notes and Records of the Royal Society of London (1): 43–64. doi:10.1098/rsnr.1968.0009. Consultado em 23 de fevereiro de 2025 
  5. a b c Holland, pp. 46–47.
  6. Bayes, Thomas (1763). «An Essay Towards Solving a Problem in the Doctrine of Chances». Philosophical Transactions. 53: 370–418. doi:10.1098/rstl.1763.0053Acessível livremente 
  7. Allen, Richard (1999). David Hartley on Human Nature. [S.l.]: SUNY Press. pp. 243–244. ISBN 978-0791494516. Consultado em 16 de junho de 2013 
  8. Price, Richard (1991). Price: Political Writings. [S.l.]: Cambridge University Press. p. xxiii. ISBN 978-0521409698. Consultado em 16 de junho de 2013 
  9. Claeys, Gregory (1989). Citizens and Saints: Politics and Anti-Politics in Early British Socialism. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 32. ISBN 978-0521364904. Consultado em 17 de junho de 2013 
  10. Lemay, Joseph A. Leo (2008). The Life of Benjamin Franklin. [S.l.]: University of Pennsylvania Press. p. 606. ISBN 978-0812241211. Consultado em 17 de junho de 2013 
  11. Rusnock, Andrea A. (2009). Vital Accounts: Quantifying Health and Population in Eighteenth-Century England and France. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 181. ISBN 978-0521101233. Consultado em 18 de junho de 2013 
  12. Young, B. W. «Bell, William». Oxford Dictionary of National Biography online ed. Oxford University Press. doi:10.1093/ref:odnb/2033  (Requer Subscrição ou ser sócio da biblioteca pública do Reino Unido.)
  13. Malthus: Founder of Modern Demography. [S.l.]: Transaction Publishers. 1999. pp. 136–138. ISBN 978-1412827935. Consultado em 17 de junho de 2013 
  14. Rusnock, Andrea A. (2009). Vital Accounts: Quantifying Health and Population in Eighteenth-Century England and France. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 198. ISBN 978-0521101233. Consultado em 17 de junho de 2013 
  15. Koen Stapelbroek; Jani Marjanen (2012). The Rise of Economic Societies in the Eighteenth Century: Patriotic Reform in Europe and North America. [S.l.]: Palgrave Macmillan. p. 7. ISBN 978-1137265258. Consultado em 17 de junho de 2013 
  16. Wall text from Buying Security - Life Assurance, Museum on the Mound, Edinburgh.
  17. Hacking, Ian (1990). The Taming of Chance. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 49. ISBN 978-0521388849. Consultado em 17 de junho de 2013 
  18. Zelizer, Viviana A. Rotman (1979). Morals and markets. [S.l.]: Transaction Publishers. p. 13 note. ISBN 978-1412829090. Consultado em 17 de junho de 2013 
  19. a b c d e This article incorporates text from a publication now in the public domain: Mitchell, John Malcolm (1911). "Price, Richard". In Chisholm, Hugh (ed.). Encyclopædia Britannica. Vol. 22 (11th ed.). Cambridge University Press. pp. 314–315.
  20. Sheldon, R. D. «Howlett, John». Oxford Dictionary of National Biography online ed. Oxford University Press. doi:10.1093/ref:odnb/14002  (Requer Subscrição ou ser sócio da biblioteca pública do Reino Unido.)
  21. Lucas, Bryan Keith (1980). The Unreformed Local Government System. [S.l.]: Routledge. pp. 116–117. ISBN 978-0856648779. Consultado em 18 de junho de 2013 
  22. Rusnock, Andrea A. (2009). Vital Accounts: Quantifying Health and Population in Eighteenth-Century England and France. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 188. ISBN 978-0521101233. Consultado em 18 de junho de 2013 
  23.  Stephen, Leslie, ed. (1886). «Brand, John (d.1808)». Dictionary of National Biography. 6. Londres: Smith, Elder & Co 
  24. Sheldon, R. D. «Brand, John». Oxford Dictionary of National Biography online ed. Oxford University Press. doi:10.1093/ref:odnb/3255  (Requer Subscrição ou ser sócio da biblioteca pública do Reino Unido.)
  25. Terence Cuneo; René van Woudenberg, eds. (2004). The Cambridge Companion to Thomas Reid. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 247. ISBN 978-0521012089 
  26. Haakonssen, Knud (2006). Enlightenment and Religion: Rational Dissent in Eighteenth-Century Britain. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 8. ISBN 978-0521029872. Consultado em 17 de junho de 2013 
  27. Zebrowski, Martha K. (1994). «Richard Price: British Platonist of the Eighteenth Century». Journal of the History of Ideas. 55 (1): 17–35. JSTOR 2709951. doi:10.2307/2709951 
  28. J. G. A. Pocock; Gordon J. Schochet; Lois G. Schwoerer (1996). The Varieties of British Political Thought, 1500–1800. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 286. ISBN 978-0521574983. Consultado em 17 de junho de 2013 
  29. MacKintosh, James (2005). On the Progress of Ethical Philosophy. [S.l.]: Kessinger Publishing. p. 155. ISBN 978-1417972401. Consultado em 17 de junho de 2013 
  30. Elisabetta Arosio; Michel Malherbe (2007). Philosophie française et philosophie écossaise: 1750–1850. [S.l.]: Vrin. p. 144. ISBN 978-2711618958. Consultado em 17 de junho de 2013 
  31. Rémy Duthille, "Dissent against the American War : The Politics of Richard Price's Sermons", in War Sermons, Gilles Teulié and Laurence Lux-Sterritt, Newcastle upon Tyne: Cambridge Scholars Publishing, 2009, pp. 149–172.

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Richard Price (filósofo)
O Wikiquote tem citações relacionadas a Richard Price (filósofo).