Rita e Roberto

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Rita e Roberto
Rita e Roberto
Álbum de estúdio de Rita Lee e Roberto de Carvalho
Lançamento 1985
Gravação 1985
Gênero(s)
Idioma(s) Português
Formato(s) LP
Gravadora(s)
Produção Rita Lee, Roberto de Carvalho
Cronologia de Rita Lee e Roberto de Carvalho
Bombom
(1983)
Flerte Fatal
(1987)

Rita e Roberto é um álbum de estúdio lançado por Rita Lee e Roberto de Carvalho em 1985.[1]

O álbum é considerado dissonante da carreira do casal, pois deixa o Pop rock de lado para abraçar uma estética mais soturna, relacionada com a subcultura gótica (à época, no Brasil, chamada dark). Essa estética foi, todavia, um dos motivos pelos quais o álbum não conseguiu grande apelo popular[2][3], atingindo 500 mil cópias vendidas, vendagem considerada baixa para os números da cantora.[2]

Sobre[editar | editar código-fonte]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Nos anos 1980, a carreira de Rita Lee atingiu seu auge comercial, com álbuns como Lança Perfume e Flagra alcançando milhões de vendas. Em decorrência disto, Rita ganhou grande exposição na mídia nacional e, eventualmente, na internacional.[4] Não obstante a fama, a cantora continuou tendo problemas com drogas, tendo de ser internada em casas de recuperação algumas vezes.[5] Ao mesmo tempo, a censura de canções, considerada pela cantora uma "perseguição broxante", fez com que Rita realizasse uma pausa uma carreira. Isso intensificou os rumores (supostamente criados por Ezequiel Neves),[3][6] já há algum tempo veiculados, de que Rita estaria com leucemia.[7] Na sua volta aos palcos, no primeiro Rock in Rio, Rita planejou fazer uma volta marcante, de forma a espantar os boatos. Isto falhou devido ao fato de que, na assinatura do contrato do festival, além da sua "magreza extrema", Rita utilizou uma peruca. Segundo ela, esses fatos "contribuíram para a [sua] fama de 'doente terminal'".[6]

Lançando em 1983, o disco Bombom, apesar de boa vendagem, foi recebido negativamente pelos críticos, o que fez com que Lee desse um tempo dos holofotes e não divulgasse o álbum. Além dos rumores sobre leucemia, Rita era majoritariamente mal vista pelos críticos musicais da época. Segundo a cantora, isso resultava do machismo persistente na cena do rock. Roberto de Carvalho, que trabalhava com Rita desde os anos 1970, era visto, por muitos críticos, como um empecilho para a "volta triunfante" da cantora ao rock. [8] Segundo a cantora, essas dificuldades motivaram a gravação de um novo álbum que, para confrontar os críticos de Roberto, foi intitulado Rita e Roberto.[9]

Atmosfera do álbum[editar | editar código-fonte]

Em 1984, Rita passa por várias internações em clínicas de reabilitação para tratar do vício em drogas, levando a Som Livre a lançar a compilação de remixes Rita Hits para cumprir seu contrato[3].

Após o disco Bombom ter sido bombardeado pela crítica por beber do tecnopop (hoje conhecido como Synth-pop), é decidido adotar uma esfera mais soturna e "depressiva" no próximo trabalho. A depressão e a fase difícil que Rita e Roberto enfrentavam à época foram determinantes para que o álbum saísse com o resultado esperado.

Segundo Mauro Ferreira, crítico musical do Grupo Globo, escrevendo para o g1[3]:

Efeito de desgaste na vida pessoal da artista, então às voltas com internações para se livrar do vício em drogas (embaraços que levaram a gravadora Som Livre a improvisar em 1984 o disco de remixes Rita hits para a cantora ganhar tempo), o álbum Rita e Roberto encenou suicídio surrealista em Gloria F, faixa que perfilou a personagem-título em gravação que aglutinou no coro Paula Toller e Herbert Vianna (também na guitarra).
— Mauro Ferreira

É nítida a inspiração do álbum em pares com atmosferas soturnas, como a chamada "tríade gótica" do The Cure (Seventeen Seconds, Faith e Pornography). A capa, registrada em preto e branco e com o título em destaque minimalista, representa a atmosfera soturna na qual o casal embarcou para o trabalho. O sucesso da banda Depeche Mode certamente também influenciou a atmosfera do álbum.

Em sua autobiografia, Rita diz que este álbum contem um quê cinematográfico. "Vírus do Amor", como conta a cantora, tem uma "levada swingadona e potente, bem-arranjada e executada à perfeição." Gostando muito do resultado final de Vítima, onde diz a cantora que fez uma homenagem a Hitchcock, sendo baseada no filme Janela Indiscreta, a canção acabou virando tema de abertura da novela A Próxima Vítima, em 1995, 10 anos após seu lançamento.[10] Na versão incluída na novela, ela sofreu uma edição antes do refrão, que suprimiu o seguinte trecho: "Sou temperamental. Às vezes passo mal, no meio da festa. Detesto multidão. Conheço tanta gente sem atração."[11]

Informações das faixas[editar | editar código-fonte]

Vírus do amor é uma referência à epidemia de HIV[3], que no Brasil atingiria seu auge entre 1987 e 1989[12] e levaria figuras públicas como Cazuza, Lauro Corona, Henfil, Betinho e Renato Russo.

Yê Yê Yê foi uma crítica ao movimento pop da década de 1980.[3]

A canção Vítima, com sua referência ao filme Janela Indiscreta reforça a ideia de que houve um "flerte" de Rita e Roberto com o movimento gótico, ao referenciar um filme de Alfred Hitchcock, de raízes expressionistas, temática admirada pela subcultura gótica e explorada, por exemplo, pelo Bauhaus em Bela Lugosi's Dead. Na mesma canção, o trecho "o frio de São Paulo me faz transpirar" reforça a relação que Rita tem com a cidade de São Paulo em suas letras, pois é nascida e criada na capital paulista, seguindo a tendência das canções Orra Meu e Lá Vou Eu. Para Caetano Veloso, Rita Lee "é a mais completa tradução de São Paulo".[13]

Mulambo Souvenir serviu para alertar que o disco repetiria elementos conhecidos da música, mas com uma nova atmosfera depressiva, com seu trecho "Old bossa / new fossa".[3]

Gloria F descreve, de maneira surrealista e em primeira pessoa, um suicídio.[3] O eu-lírico da canção narra post mortem os fatos após ter tirado a própria vida, fórmula que seria repetida pelos Titãs em Flores, presente no álbum lançado em 1989 Õ Blésq Blom.

Nave Maria teve sua letra escrita por Caetano Veloso, que embutiu referências religiosas.[3]

Noviças do Vício criticou celebridades consideradas fúteis[3]. No mesmo ano, foi lançada a música A Dança, no álbum homônimo da Legião Urbana, que carrega a mesma crítica.

Embedada em synthpop[3], Choque Cultural possui um tom mais satírico-humorístico, focado em evidenciar a comicidade mostrar conflitos culturais.

Não titia é uma crítica ao rumor citado, onde Rita credita a Ezequiel Neves a origem do rumor de que estava com leucemia.[3]

Teve um especial na Rede Globo, tendo a direção de Jorge Fernando, que convidou outros diretores para dirigirem os videoclipes como Roberto Talma, Nelson Motta, Tisuka Yamasaki, Herbert Richers Jr. e o próprio Jorge.

Rita e Roberto foi o último álbum de Rita Lee e Roberto de Carvalho pela Somlivre. Após um hiato de um ano, eles assinaram com a EMI e, em 1987 lançaram "Flerte Fatal". Rita Lee voltaria à gravadora do Grupo Globo em 1991 para gravar o acústico "Bossa N' Roll". Em 1993 ela ainda gravou mais um álbum solo pela Somlivre. Em 1995 o álbum foi relançado em CD pela EMI.

Faixas[editar | editar código-fonte]

Todas as canções escritas por Rita Lee e Roberto de Carvalho, exceto onde notado.

Lado 1
N.º TítuloCompositor(es) Duração
1. "Vírus do Amor"    4:01
2. "Yê Yê Yê"    3:09
3. "Vítima"    5:05
4. "Molambo Souvenir"    3:44
5. "Gloria F"    3:45
Lado 2
N.º TítuloCompositor(es) Duração
6. "Nave Maria"    4:54
7. "Noviças do Vício"    4:24
8. "Choque Cultural"  Roberto de Carvalho, Caetano Veloso 4:28
9. "Não Titia"    2:53
Duração total:
36:23

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «Rita Lee & Roberto - Rita E Roberto». Discogs. Consultado em 1 de janeiro de 2017 
  2. a b Araujo, Guilherme (23 de novembro de 2020). «"Rita e Roberto": há 35 anos, casal lançava o álbum mais "dark-deprê" da carreira». PapelPop. Consultado em 20 de setembro de 2023 
  3. a b c d e f g h i j k l Ferreira, Mauro (30 de março de 2023). «Discos para descobrir em casa – 'Rita e Roberto', Rita Lee, 1985». g1. Grupo Globo. Consultado em 20 de setembro de 2023 
  4. Lee, Rita. Rita Lee: uma autobiografia. São Paulo: Globo Livros, 2016. pp. 191–194
  5. Lee, Rita. Rita Lee: uma autobiografia. São Paulo: Globo Livros, 2016. pp. 195–197
  6. a b Lee, Rita. Rita Lee: uma autobiografia. São Paulo: Globo Livros, 2016. p. 202
  7. Lee, Rita. Rita Lee: uma autobiografia. São Paulo: Globo Livros, 2016. p. 199
  8. Lee, Rita. Rita Lee: uma autobiografia. São Paulo: Globo Livros, 2016. pp. 204–205
  9. Lee, Rita. Rita Lee: uma autobiografia. São Paulo: Globo Livros, 2016. pp. 205–207
  10. Xavier, Nilson. «A Próxima Vítima». Teledramaturgia. Consultado em 16 de janeiro de 2022 
  11. A Próxima Vítima - Nacional - (1995), consultado em 16 de janeiro de 2022 
  12. «AIDS e infecção pelo HIV no Brasil: uma epidemia multifacetada». Abril de 2001. Consultado em 20 de setembro de 2023 
  13. Macedo, Vitória (9 de maio de 2023). «Rita Lee: conheça a São Paulo retratada pela cantora em suas músicas e autobiografia». Guia Folha. Folha de S. Paulo. Consultado em 20 de setembro de 2023