Rito Escocês Retificado

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Regime Escocês Retificado, Rito Escocês Retificado (RER), ou Rito de Willermoz é um rito e um regime maçônico tradicional e cavalheiresco templário cristão,[1] estruturado pelo Venerável Mestre de Lyon Jean Baptiste de Willermoz (Lyon,1730-1824),[2][3][4] estabelecido em 1782 no Convento de Wilhelmsbad e,[5] adotado oficialmente pela Maçonaria Brasileira.[6][7]

O objetivo principal deste rito é o retorno às origens templárias do escocismo e o ensinamento iniciático teórico pedagógico, fundamentado na doutrina cristã tradicional (Yeshua), conforme a Cabala Cristã da Idade Média,[6] e o Rito de Perfeição de Heredom,[1][3] o qual incentiva a reintegração da alma humana, imagem de Deus, ao sentido original, a reencontrar essa semelhança original com o Criador.

É considerado um rito de conteúdo esotérico e filosófico, ligado à "tradição templária" em termos de Herança Espiritual e semelhante ao gnosticismo judaico, cristão e helenístico, ou seja, uma classe mais operativa da maçonaria, divergindo em termos do atualmente praticado nas lojas, que apenas se fixa no simbolismo. Está ligado ao amor e tolerância dos escritos do Novo Testamento sem detrimento da justiça dos escritos do Antigo Testamento e herança espiritual da "Ordem do Templo", próximo da Gnose Cristã.[8][9] Semelhante a outros ramos maçônicos especulativos, mantém uma grande parte do tronco inicial, essencialmente dentro das Lojas Azuis ou dos três primeiros graus.[10]

O termo retificado do RER não significa que este tenha corrigido o Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA), mas tem origem na Estrita Observância Templária e nas Lojas Escocesas que foram retificadas em Dresden na Alemanha. Alguns historiadores afirmam que em 1742 foi fundada em Paris uma Loja que praticava o R.E.R., e tinha raízes na Estrita Observância.

O termo Regime tem a ver com a organização estrutural do sistema e a do Rito com a prática ritual propriamente dita. As duas expressões: Regime Escocês Retificado e Rito Escocês Retificado não possuem o mesmo significado, embora tenham a mesma sigla: R.E.R. A noção de regime nos remete à época em que não havia a separação dos três primeiros graus geridos por uma Potência Simbólica.

Ramo do Escocismo[editar | editar código-fonte]

O Escocismo ou Escocesismo é uma forma de Maçonaria antiga, que entrou na França antes da criação da Grande Loja da Inglaterra, que foi adaptado por uma série de ritos franceses a partir do ano 1649, conciliando princípios de várias doutrinas, querem filosóficas, morais, bíblico-judaicas, herméticas, rosacrucianas, templárias, políticas, religiosas e sociais, além dos modismos das épocas dos cavalheiros e das monarquias, tudo isto acontecendo num período transformador de costumes.[4]

Em 1725 foi criado o Grau de Mestre, e acrescentado oficialmente em 1738 aos dois primeiros Graus e incorporado definitivamente à Ordem.[4]

Em Loja Simbólica os obreiros, além de avental e luvas, usam, todos, uma espada e um chapéu triangular embora só a partir do grau de mestre se possam cobrir.

História[editar | editar código-fonte]

Temos como datas marcantes no RER a Convenção de Unwürde (1754), a Convenção de Altenberg (1764), de Kohlo ( 1772) Convenção de Brunswick (1775), a Convenção de Lyon (1778) também chamada Convent des Gaules que definiu sua forma atual e, finalmente, a Convenção de Wilhemsbad (1782) que confirmou o Convento de Lyon.[11]

O Regime Retificado é um rito literalmente cristão, surgido na segunda metade do século XVIII na França, com um ressurgimento aparente no século XIX e, também em 1960.[5] É provavelmente o rito mais próximo da Maçonaria Operativa Medieval, ou seja, da Maçonaria anterior a junho de 1717.[5] É um rito ecuménico, embora ainda considerado restritivo em relação a outras religiões. Admite como visitantes nas suas Oficinas praticantes de outros ritos (Cristãos, Judeus, Muçulmanos), embora somente os cristãos podem fazer parte como obreiros, pois todos os trabalhos e juramentos estão presentes no Evangelho segundo São João (incluindo nas Lojas de Santo André) pregando o amor e a tolerância do Novo Testamento sem perder a Justiça do Antigo Testamento.[5]

Diante de uma disparidade de Ritos e Sistemas maçónicos existentes e à preponderância que a Estrita Observância Templária (STO) alemã começava a ter no mundo maçónico, fascinado e posteriormente intrigado com o sistema maçónico dos "Eleitos Cohen" de Martinez de Pasqually, Willermoz parte para a criação de um Rito com as tendências:[5]

1) A Maçonaria existente em França na sua vertente mais significativa (Escocismo);

2) As doutrinas cabalísticas dos Elus Cohens[12] do Sistema de Martinez de Pasqually;

3) O Sistema da Estrita Observância Templária do Barão Von Hundt também apelidada de Maçonaria Retificada (Reforma de Dresde), sistema alemão em que a vertente cavalheiresca se sobrepunha à maçônica já que se reclamava de não só herdeira mas restauradora da Ordem do Templo extinta em 1312.[5]

Willermoz retira as pretensões Templárias da Estrita Observância Templária (STO), no sentido de restauração político material e temporal da Ordem do Templo, dedicando-se apenas na herança espiritual. Acalma assim as Monarquias existentes e a Igreja de Roma.[5] Mantém o conteúdo esotérico do sistema de Pasqually mas avança para um ecumenismo não impregnado da teosofia martinezista, onde por um lado trabalhando com as teses de Martinez de Pasqually sobre a origem primeira do Homem, a sua condição atual e destino final no Universo, mas sem entrar em choque com a mensagem inicial da Tradição Cristã divulgada com os primeiros Padres da Igreja.[5] Willermoz introduziu na Maçonaria a adaptação dos ensinamentos secretos recebidos de Pasqually e o aperfeiçoamento do sistema maçônico, com base na doutrina e no sistema oriundo da Ordem dos Ellus Cohen. Em dado momento Willermoz teve a ajuda de Saint-Martin, que em setembro de 1772 foi seu hóspede em Lyon.

Este não divorcia completamente da prática maçônica francesa, ou seja do Escocismo, e dos vários graus sintetizados em 1787. Resultado dos vários Conventos que se sucedem, o R.E.R. acaba por ser finalmente estabelecido em 1782, em Wilhelmsbad, embora Willermoz continuou trabalhando nos diversos rituais até 1802.[5]

Durante o século XIX na Alemanha e Países Escandinavos desenvolviam-se sistemas semelhantes que conduziram basicamente ao Rito Sueco e ao Rito de Zinnendorf.[5] Em 1913, Eduardo de Ribancourt e outros Graus 33 pretendem restaurar o Rito no seio do Grande Oriente de França. Face à posição por este então assumida dirigem-se a Genève onde são armados o grau C.B.C.S. e recebem a Carta Patente que lhes permite na volta erguer colunas da Loja Nº 1, "Le Centre des Amis" que está na origem da fundação da Grande Loja Nacional Independente para a França e Colônias, mais tarde Grande Loja Nacional Francesa, única potência maçônica reconhecida pela Inglaterra em França.[5]

Mais tarde, constitui-se o Grande Priorado das Gálias para administrar todo o Regime. Em 1958 este assina um protocolo com a G.L.N.F. passando esta a ser a autoridade administrativa suprema sobre os graus azuis.[5] Em Portugal o Regime também fez parte da origem da "Grande Loja Regular de Portugal" (Graus azuis) tendo as Lojas de Santo André e a Ordem Interior sido introduzidas pelo "Grande Priorado Independente da Helvécia", com a criação do Grande Priorado da Lusitânia.[5]

Muitos influíram na criação do RER, como Von Hundt, Charles de Hesse, Ferdinand de Brunswick, Jean de Turkheim, Saint-Martin, Mesmer, Martines de Pasqually[11]. Mas foi sem dúvida Jean Baptiste Willermoz[13] quem conduziu tudo até o final.[5] Ainda que tenha suas raízes fincadas em data anterior a 1767, ou mais exatamente em 1756 consoante alguns historiadores, o RER foi gestado nesta data, consolidou-se em 1778 no Convento de Lyon, e foi reafirmado no Convento de Wilhemsbad em 1782, permanecendo puro até o presente momento fora do maniqueísmo imposto pelas auto promulgadas grandes potencias, embora Willermoz continuasse a trabalhar nos diversos rituais até 1802.

Graus[editar | editar código-fonte]

O Rito Escocês Retificado (Maçonaria retificada moderna), é composta por 4 graus simbólicos, sendo o último separado dos demais. São eles:[14][5]

  • Maçonaria Azul (ou de São João ou Ordem Externa):
    • Aprendiz Franco-Maçom;
    • Companheiro Franco-Maçom;
    • Mestre Franco-Maçom;
  • Maçonaria Verde (ou de Santo André ou Ordem Intermediária):
    • Mestre Escocês de Santo André
  • Maçonaria Branca (ou Ordem Interior):
    • Escudeiro Noviço;
    • Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa

Enquanto em geral o RER tem 3 graus simbólicos e 3 graus filosóficos, outros Ritos têm um número muito maior de graus filosóficos, além dos três simbólicos, mas isso não significa menor volume de conhecimento ou menor instrução ou evolução a ser recebida ou percorrida através dos diferentes graus, valendo a observação de que vemos algumas semelhanças e ensinamentos de altos graus de outros Ritos ou Ordens, permeados nos ensinamentos Retificados.

O Regime divide-se entre quatro Graus da Maçonaria Simbólica e, uma Ordem Interior de Cavalaria Espiritual Cristã e Maçónica. Os graus simbólicos eram originalmente governados por um Diretório Escocês Nacional, cuja autoridade máxima era o Deputado Mestre Nacional (equivalente ao atual Grão Mestre), dependente estruturalmente do Grande Priorado da Ordem dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa (CBCS).

Existiam ainda mais dois Graus: o Professo e o Grande Professo, equivalentes a uma Classe Sacerdotal que desapareceram oficialmente. Atualmente, em termos de Maçonaria Regular, os Grandes Priorados entregaram o governo administrativo das Lojas azuis às respectivas Grandes Lojas, conservando a tutela ritual e simbólica através de Tratados de mútuo reconhecimento. Reservam para si a tutela das Lojas de Santo André e a Ordem Interior.

Referências

  1. a b «Os ritos». Maçonaria Brasil. Consultado em 7 de janeiro de 2019 
  2. Cohen, Otávio (17 de fevereiro de 2016). O Livro Secreto da Maçonaria. [S.l.]: Super Interessante. ISBN 9788568535325 
  3. a b «Rito Escocês Retificado». Madras Editora. 20 de junho de 2017. Consultado em 7 de janeiro de 2019 
  4. a b c MARQUES, Adílio Jorge; VIEIRA, Luiz. Opúsculos à Tradição: Introdução ao Martinismo e ao Rito Escocês Retificado. Rio de Janeiro: Clube de Autores, 2016.
  5. a b c d e f g h i j k l m n o Fernandes, Nuno Nazareth. «O Regime Escocês Retificado». Hermanubis. Consultado em 7 de janeiro de 2019 
  6. a b Uchôa, Ricardo (2018). Rito Escocês Retificado - Maçonaria Cristã 2 ed. [S.l.]: Clube de Autores. ISBN 978-85-920838-5-4. Consultado em 7 de janeiro de 2019 
  7. Uchôa, Ricardo. «Rito Escocês Retificado». Clube de Autores. Livraria Amazon. ISBN 978-8592083854. Consultado em 7 de janeiro de 2019 
  8. Uchôa, Ricardo (2018). Rito Escocês Retificado - Maçonaria Cristã 2 ed. [S.l.]: Clube de Autores. ISBN 978-85-920838-5-4. Consultado em 7 de janeiro de 2019 
  9. Uchôa, Ricardo. «Rito Escocês Retificado». Clube de Autores. Livraria Amazon. ISBN 978-8592083854. Consultado em 7 de janeiro de 2019 
  10. «Os graus do RER». Loja Yeshoua. Consultado em 7 de janeiro de 2019 
  11. a b «Martinez de Pasqually». Wikipedia (em inglês). 29 de dezembro de 2018 
  12. «Ordem Martinista dos Elus Cohens - Wiki». Projeto Mayhem. Enciclopédia do Ocultismo. Consultado em 7 de janeiro de 2019 
  13. «Jean Baptiste de Willermoz». Wikipédia, a enciclopédia livre. 10 de agosto de 2018 
  14. «Os graus do RER». Loja Yeshoua. Consultado em 7 de janeiro de 2019 

Ver também[editar | editar código-fonte]

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Ligações externas[editar | editar código-fonte]