Robert Gould Shaw

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Robert Shaw
Robert Gould Shaw
Robert em maio de 1863
Nome completo Robert Gould Shaw
Nascimento 10 de outubro de 1837
Boston, Massachusetts
Estados Unidos
Morte 18 de julho de 1863 (25 anos)
Ilha Morris, Carolina do Sul
Estados Unidos
Nacionalidade norte-americano
Cônjuge Anna Kneeland Haggerty
Serviço militar
País Estados Unidos
Serviço Exército da União
Anos de serviço 1861–1863
Patente Coronel
Unidades 7ª Milícia de Nova Iorque
2º Regimento de Infantaria de Voluntários de Massachusetts
Comando 54º Regimento de Infantaria de Massachusetts
Conflitos Guerra Civil Americana

Robert Gould Shaw (10 de outubro de 1837 – 18 de julho de 1863) foi um militar americano que serviu no Exército da União durante a Guerra de Secessão. Nascido em uma proeminente família abolicionista, ele aceitou o comando do primeiro regimento do Norte inteiramente formado por soldados negros (o 54º de Massachusetts) e ficou conhecido por defender os direitos dos seus homens, como o de receber pagamentos iguais aos dos brancos. Na Segunda Batalha do Fort Wagner, numa cabeça de praia próxima a Charleston, Carolina do Sul, Shaw foi morto enquanto liderava seus homens num ataque a uma posição fortificada Confederada. Apesar de suas forças terem sido repelidas, a liderança e valentia do coronel Shaw e dos seus soldados viraram lendas e inspiraram milhares de negros para se alistar no Exército dos Estados Unidos, contribuindo para a vitória unionista. A história de Robert Shaw foi dramatizada no filme Tempo de Glória, de 1989, estrelando Matthew Broderick no papel do coronel.[1]

Começo da vida[editar | editar código-fonte]

Shaw nasceu numa abastada família na cidade de Boston. Seus pais, Francis George e Sarah Blake (Sturgis) Shaw, eram notórios abolicionista e também unitaristas filantropos e intelectuais.[1] Shaw tinha quatro irmãs — Anna, Josephine (Effie), Susanna e Ellen (Nellie).[2]

A família Shaw era descendente de um rico mercador, também chamado Robert Gould (1775–1853), de origem escocesa.[3]

Quando Shaw tinha cinco anos, a família se mudou para uma enorme propriedade em West Roxbury, próximo a Fazenda Brook. Durante sua adolescência ele viajou para a Europa, onde estudou por alguns anos. Em 1847, a família se mudou para Staten Island, em Nova Iorque, se assentando entre a comunidade progressista anti-escravidão local, enquanto Robert estudava na escola St. John's College.[3] De 1856 até 1859 ele estudou na Universidade de Harvard.[4]

Guerra Civil Americana[editar | editar código-fonte]

Uma carta de Robert Gould Shaw para seu pai, de maio de 1861.

No começo da Guerra Civil Americana, Shaw se juntou a 7ª Milícia de Nova Iorque como soldado e em 19 de abril de 1861, foi enviado com seus companheiros para fortificar a defesa da capital, Washington, D.C.[5] Em 28 de maio do mesmo ano, Shaw foi comissionado como segundo-tenente na Companhia H do 2º Regimento de Infantaria de Voluntários de Massachusetts e lutou nas batalhas de Winchester, de Cedar Mountain e de Antietam.[6]

Shaw foi abordado por seu pai, em 1862, para assumir o comando de um novo regimento formado por soldados negros. De início ele recusou a oferta, mas após pensar melhor, aceitou a posição. Em suas cartas Shaw demonstrou dúvidas se uma unidade de negros livres poderia ser viável, mas a dedicação dos seus homens o impressionou muito e ele passou a respeita-los como bons soldados. Quando soube que seus homens receberiam salários menores que soldados brancos (embora estivessem desempenhando a mesma função), ele se juntou a sua unidade para iniciar um boicote até que esta medida fosse revertida. Os soldados do 54º Regimento de Infantaria de Massachusetts (e sua unidade irmã, o 55º Regimento) recusaram pagamento até que o Congresso reautorizasse pagamento igual para todos, o que aconteceu em agosto de 1863.[1]

Shaw foi promovido para major em 31 de março de 1863 e depois para coronel em 17 de abril.[7] Em 28 de maio, Shaw e seus homens desfilaram pelas ruas de Boston em uniforme completo. Em junho, o 54º Regimento foi transferido para a ilha de Port Royal, no Condado de Beaufort, na Carolina do Sul, sob comando do general David Hunter. Alguns dias mais tarde, Shaw e seus homens foram enviados para St. Simons, na Geórgia, onde começaram operações na região sul do estado.[8]

Em 11 de junho de 1863, o 54º Regimento chegou na região da cidade de Darien, ainda na Geórgia. Nas semanas seguintes, Shaw escreveu para sua família a respeito de crimes de guerra que soldados da União estavam perpetrando contra a população (em sua maioria mulheres e crianças), afirmando que civis estavam sendo atacados, forçados a abandonar suas casas, tinham seus pertences roubados e suas cidades parcialmente queimadas. Shaw escreveu em sua carta a respeito da brutalidade do seu oficial comandante, o coronel James Montgomery, que destruía plantações e edifícios no seu caminho, não se importando com civis. Shaw recebeu ordens de também cometer tais crimes, mas se recusou em grande parte. Shaw disse, em outra anotação, que a razão que Montgomery deu para ele destruir Darien foi que os "sulistas deveriam sentir o que era a guerra de verdade e deveriam também ser varridos pela mão de Deus, como os judeus de outrora". O coronel Shaw, afirmando seguir sua consciência, recusou repetidas ordens de brutalizar civis ou de saquear suas propriedades. Posteriormente, ele e seus homens foram enviados para a Carolina do Sul, combatendo rebeldes confederados em James Island.[9]

Morte em combate[editar | editar código-fonte]

O 54º Regimento foi enviado para a região de Charleston, na Carolina do Sul, para participar de operações contra os Confederados por lá. Em 18 de julho de 1863, junto com duas brigadas de soldados brancos, o 54º atacou o Forte Wagner, uma poderosa fortificação confederada. A batalha foi violenta e desfavorável para as tropas da União. Com seus homens hesitando frente a uma chuva de bombas e balas confederadas, Shaw tentou inspirar seus comandados à luta, levantando-se e berrando "Avante, 54º, avante!". Ao tentar passar por cima do parapeito, se expondo consideravelmente, encorajando seus homens a avançar, ele foi baleado três vezes, falecendo na hora. As tropas de apoio brancas enviadas para auxiliar o 54º regimento acabaram sendo igualmente repelidas.[1]

Pintura mostrando o momento que Robert é baleado durante o ataque ao Forte Wagner.

Os oficiais confederados enterraram o corpo do coronel Shaw em uma vala comum junto com seus homens, com o objetivo de fazer disso um insulto final.[10] Após a batalha, o comandante confederado, general Johnson Hagood, retornou o corpo de vários oficiais da União mortos em ação, mas se recusou a fazer o mesmo com Shaw, deixando seus restos mortais onde estavam. Hagood afirmou para um cirurgião da União capturado o seguinte: "Se ele estivesse comandando tropas brancas, eu teria lhe dado um enterro honrado; mas assim, eu irei enterrá-lo numa vala junto com os pretos que tombaram com ele."[11] Apesar do gesto ter como objetivo insultá-lo, a família e os amigos de Shaw viram honra nisso, com ele sendo enterrado ao lado dos seus soldados.[12]

Esforços foram feitos para recuperar os restos mortais de Shaw (seus pertences junto ao corpo foram roubados). Contudo, seu pai afirmou que o filho ficaria orgulhoso de ser enterrado junto com suas tropas, adequado ao seu papel como soldado e um cruzado pela emancipação dos escravos.[13] Em uma carta para o cirurgião do regimento, Lincoln Stone, Francis Shaw afirmou:

"Nós não removeremos o corpo dele de onde está, cercado por seus bravos e devotos soldados .... Nós não podemos imaginar um local mais puro do que este, junto com seus bravos seguidores, nem ele iria querer melhor companhia. – Que guarda-costas ele tem!"[14]

Depois da guerra, o Exército da União exumou e reenterrou os corpos dos mortos na Batalha de Forte Wagner, incluindo, provavelmente, os restos mortais do coronel Shaw. O novo local do enterro foi em Beaufort, Carolina do Sul, com seus túmulos marcados com "desconhecido" no lugar dos nomes.[1]

A espada de Shaw, junto com a maioria dos seus pertences atrelados ao seu corpo, foi roubada por soldados confederados. Porém, em 1865, sua espada de oficial foi recuperada e entregue aos seus pais, ficando na família e sendo passada de geração em geração até que desapareceu novamente. A espada de Shaw só foi recuperada em 2017 quando foi descoberta no sótão da casa de Mary Minturn Wood e seu irmão Robert Shaw Wood, descendentes de Susanna, uma das irmãs do coronel Shaw. Eles acabaram doando a espada para a Sociedade Histórica de Massachusetts.[15]

Vida pessoal[editar | editar código-fonte]

Memorial mostrando o coronel Robert Shaw com o 54º Regimento de Massachusetts, na Galeria Nacional de Arte.

Casamento[editar | editar código-fonte]

Em 2 de maio de 1863, Shaw se casou com Anna Kneeland "Annie" Haggerty (1835–1907) em Nova Iorque. Eles decidiram se casar antes da unidade dele partir de Boston. Os pais dele não apoiavam esta união. Eles passaram sua breve lua de mel na casa dos Haggerty, em Lenox, Massachusetts.[16]

Viúva aos 28 anos, Annie Shaw nunca se casaria novamente. Ela dividia seu tempo entre Nova Iorque e Massachusetts, frequentemente viajando para o exterior também. Ela morreu em 1907 e está enterrada em um cemitério em Lenox.[17]

Cartas[editar | editar código-fonte]

Shaw é conhecido por suas cartas, onde ele detalhava sua vida no serviço militar durante a guerra civil americana. No total, ele escreveu mais de 200 cartas para família e amigos durante o conflito.[18] Suas correspondências atualmente estão no acervo bibliotecário da Universidade de Harvard. Suas cartas também estão disponíveis online.[19]

O livro Blue-Eyed Child of Fortune inclui várias de suas cartas e uma pequena biografia dele. Peter Burchard também usou suas cartas para escrever seu livro One Gallant Rush.

Referências

  1. a b c d e "Robert Gould Shaw - Civil War Trust". Página acessada em 15 de abril de 2017.
  2. «Caroline Wells Healey Dall journal, 1862-1865, pages with entries for 6-8 August 1863». Massachusetts Historical Society. Massachusetts Historical Society. Consultado em 16 de janeiro de 2017 
  3. a b Boston City Council (1897). Exercises at the dedication of the monument to Colonel Robert Gould Shaw and the Fifty-fourth regiment of the Massachusetts infantry (May 31, 1897). Boston: Municipal Printing Office 
  4. Catalogue of the Porcellian Club of Harvard University. Boston: Harvard university. Porcellian club. 1877. p. 54. Consultado em 16 de janeiro de 2017 
  5. Burchard, Peter, "One Gallant Rush: Robert Gould Shaw and his Brave Black Regiment," St. Martin's Press, 1965. ISBN 0-312-04643-X pp. 29-31
  6. Hickman, Kennedy. «Civil War: Colonel Robert Gould Shaw». About Education. About, Inc. Consultado em 16 de janeiro de 2017 
  7. Miller, Connie (2008). Frederick Douglass American Hero: and International Icon of The Nineteenth Century. [S.l.]: Xlibris Corporation. p. 238. ISBN 9781441576491. Consultado em 14 de abril de 2017 
  8. Berlin, Ira (1992). Slaves No More: Three Essays on Emancipation and the Civil War. Cambridge, MA: Cambridge University Press. OCLC 748551423 
  9. Shaw, Robert Gould. «Written in Glory:Letters from the Soldiers and Officers of the 54th Massachusetts». Consultado em 29 de abril de 2013 
  10. Lodge, Henry Cabot. Hero Tales from American History. [S.l.: s.n.] p. 109 
  11. Foote 2003, p. 119
  12. Wise, Stephen R. Gate of Hell: Campaign for Charleston Harbor, 1863. Columbia: University of South Carolina Press, 1994. ISBN 0-87249-985-5.
  13. Buescher, John. "Robert Gould Shaw." Teachinghistory.org. Acessado em 12 de julho de 2011.
  14. Foote 2003, p. 120
  15. «Civil War Col. Robert Gould Shaw's long-lost sword found in attic». CBS News. 13 de julho de 2017. Consultado em 15 de fevereiro de 2018 
  16. Hawthorne's Lenox, Cornelia Brooke Gilder with Julia Conklin Peters, Hawthorne's Lenox. The History Press, 2008. ISBN 978-1-59629-406-6 pp.71–76
  17. Gilder, Cornelia Brooke; Olshansky, Joan R. (2002). «A History of Ventfort Hall». Lenox: Ventfort Hall Association. pp. 6–7 
  18. Duncan, Russell (1992). Blue-Eyed Child of Fortune The Civil War Letters of Colonel Robert Gould Shaw. Athens, Georgia: University of Georgia Press. ISBN 0820314595 
  19. "Shaw, Robert Gould, 1837-1863. Robert Gould Shaw letters to his family and other papers: Guide.". Página acessada em 14 de abril de 2017.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Placa homenageando Robert Gould Shaw na Harvard University's Memorial Hall.
  • (em inglês) Foote, Lorien (2003). Seeking the One Great Remedy: Francis George Shaw and Nineteenth-century Reform. Ohio University Press. ISBN 0-8214-1499-2.
  • (em inglês) Benson, Richard, Lay This Laurel : An album on the Saint-Gaudens memorial on Boston Common, honoring black and white men together, who served the Union cause with Robert Gould Shaw and died with him July 18, 1863, Eakins Press, 1973. (ISBN 0871300362)
  • (em inglês) Duncan, Russell, ed., Blue-Eyed Child of Fortune: The Civil War Letters of Colonel Robert Gould Shaw, University of Georgia Press, 1992. (ISBN 0820314595)
  • (em inglês) Duncan, Russell, Where Death and Glory Meet : Colonel Robert Gould Shaw and the 54th Massachusetts Infantry, University of Georgia Press, 1999. (ISBN 0820321354)
  • (em inglês) Robert Lowell, For the Union Dead, Collected Poems, Farrar, Strauss, Giroux, 2003, (ISBN 0374126178)
  • (em inglês) Burchard, Peter One Gallant Rush - Robert Gould Shaw & His Brave Black Regiment, St. Martin's Press, 1965. (ISBN 0312039034)
  • (em inglês) Emilio, Luis F., A Brave Black Regiment: The History of the 54th Massachusetts, 1863-1865, Da Capo Press, 1894. (ISBN 0306806231)
  • (em inglês) Duncan, Russell, ed., Blue-Eyed Child of Fortune: The Civil War Letters of Colonel Robert Gould Shaw, University of Georgia Press, 1992. (ISBN 0820314595)
    Source des lettres de Robert Shaw. La traduction des extraits de lettres présents dans l'article a été réalisée par les auteurs de l'article.
  • (em inglês) Kathy Dahle, « A Biography of Robert Gould Shaw », 1997
    Source utilisée pour établir la biographie du colonel.(§ 1.1 a 2.3 de l'article)
  • James M. McPherson, La Guerre de Sécession (1861-1865), Robert Laffont, Paris, 1991. (ISBN 2-221-06742-8) p. 754-755
    Source décrivant la bataille du Fort Wagner et ses conséquences sur la guerre (§ 2.4 a 3.3 de l'article). Prix Pulitzer 1989. Titre original : Battle Cry of Freedom

Filmografia[editar | editar código-fonte]