Roger Chartier
Roger Chartier/ Renato Silva Nacer/ Andréia de Oliveira - Oficina Recém Ingresso | |
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Chartier em palestra no 2º CIELLI (Maringá, PR) | |
Nascimento | 9 de dezembro de 1945 (75 anos) Lyon |
Nacionalidade | ![]() |
Ocupação | Historiador |
Principais trabalhos | Cardenio entre Cervantes e Shakespeare: História de uma peça perdida |
Roger Chartier (Lyon, 9 de dezembro de 1945) é um historiador francês vinculado à atual historiografia da Escola dos Annales. Ele trabalha sobre a história do livro, da edição e da leitura.
Biografia[editar | editar código-fonte]
Nasceu em 1945, em Lyon, filho de uma família operária. Formou-se professor e historiador simultaneamente pela Escola Normal Superior de Saint Cloud e na Universidade de Sorbonne.
Pesquisa Acadêmica[editar | editar código-fonte]
O francês estuda a história da cultura e dos livros, a trajetória da leitura e da escrita como práticas sociais.
Distinções Acadêmicas[editar | editar código-fonte]
- Vencedor do Prêmio Anual 1990 da Associação Americana Imprensa História .
- Grand Prix história (prêmio Gobert) da Académie Française para 1992.
- Correspondente bolsista da academia britânica.
- Doutorhonoris causa da Universidade Carlos III (Madrid).
Contribuição Teórica[editar | editar código-fonte]
Uma das contribuições decisivas de Roger Chartier para a História Cultural, tal como assinala José D'Assunção Barros, está relacionada à elaboração das noções complementares de “práticas” e “representações”. De acordo com este horizonte teórico, a Cultura (ou as diversas formações culturais) poderia ser examinada no âmbito produzido pela relação interativa entre estes dois pólos. Assim, "tanto os objetos culturais seriam produzidos 'entre práticas e representações', como os sujeitos produtores e receptores de cultura circulariam entre estes dois pólos, que de certo modo corresponderiam respectivamente aos ‘modos de fazer’ e aos ‘modos de ver’" (BARROS, 2005, p.125-141). Por fim, uma terceira noção importante desenvolvida por Roger Chartier de modo a trazer consistência a uma Nova História Cultural, foi o conceito de "apropriação".
O conceito de representação segundo Chartier[editar | editar código-fonte]
Conforme destacado no parágrafo acima, uma das contribuições de Roger Chartier para a compreensão da História é sua interpretação sobre o conceito de representação. Em seu célebre texto "O mundo como representação" o historiador ofereceu uma nova maneira de interpretar os processos históricos que ficou conhecida como "História Cultural do Social". Produzir uma história cultural dos fenômenos sociais significa, segundo Chartier, realizar uma investigação sobre as formas pelas quais os indivíduos e grupos constroem um sentido para os fatos históricos e, de uma maneira geral, para o mundo, a realidade.
Para Chartier, a representação é o instrumento pelo qual um indivíduo, ou um grupo de indivíduos, dá/constrói/produz/cria um significado para o mundo social. É um processo de significação intencional, carregado de interesses, que corresponde a uma determinada estratégia de um agente social ou de um grupo social. Construir representações é tanto uma prática cultural quanto sociopolítica. A representação, destaca Chartier, é um componente essencial dos discursos. Tais discursos, cabe ressaltar, nunca são neutros ou isentos: são práticas sociais dotadas de intencionalidade e correspondem a interesses específicos.
A relação entre a representação (a imagem/o significado construída/o) e o referente (a realidade, o mundo social) comporta uma equivalência admitida pelo indivíduo/grupo que efetua este processo de significação. Afinal, o objetivo de criar uma representação é fazer que algo/alguém seja conhecido tal como ele é ou foi. Ou seja, há nesta relação uma pretensão de atingir e de trazer à luz a verdade. É importa frisar que Chartier não considera a representação o retrato fiel da realidade - a pretensão do historiador francês é chamar a atenção para o processo social de construção das representações. Exemplo: você pode considerar que a representação que Caio Júlio César constrói dos povos gauleses nos "Comentários sobre a Guerra da Gália" não corresponde à realidade, porém, a partir de Chartier, você pode compreender que César tinha uma intenção específica ao retratar os povos gauleses da forma que ele os representou. Ou seja: César queria que os leitores de sua obra acreditassem que os gauleses se comportavam exatamente da forma que ele os representou nos "Comentários".
O exemplo acima levanta outra questão importante: a apropriação das representações no meio social pode gerar tensões entre indivíduos e grupos sociais distintos. A disputa pelo sentido de determinado fato ou personagem histórico pode ocasionar, segundo Chartier, lutas de representações. Estas lutas não apenas culturais, mas também políticas, giram em torno da busca pela legitimação de determinado significado. Um exemplo de luta de representações é a disputa social em torno do significado do fato histórico denominado Revolução Farroupilha no estado do Rio Grande do Sul. Enquanto determinados indivíduos e grupos exaltam os farrapos enquanto heróis idealistas em busca do bem comum, outros chamam a atenção para a motivação econômica da oligarquia sul-riograndense.
Publicações[editar | editar código-fonte]
- L’Éducation en France do XVI ao XVIII (avec Marie-Madeleine Compère et Dominique Julia), Société d’édition d’enseignement supérieur, Paris, 1976, 304 p. ISBN 2-7181-5201-X
- Histoire de l’édition française (direction avec Henri-Jean Martin), 4 volumes (1983–1986), 2e édition, Fayard et Cercle de la librairie, Paris, 1989–1991
- Lectures et lecteurs dans la France d’Ancien Régime, Éditions du Seuil, coll. « L’Univers historique » ISSN 0083-3673 nº 49, Paris, 1987, 369 p. ISBN 2-02-009444-4
- Les Origines culturelles de la Révolution française (1990), réédition avec une postface inédite de l’auteur, Éditions du Seuil, Paris, coll. « Points / Histoire » ISSN 0768-0457 nº 268, 2000, 304 p. ISBN 2-02-039817-6
- La Correspondance. Les usages de la lettre au XIXe siècle (direction), Fayard, coll. « Les Nouvelles Études historiques » ISSN 0292-4250, Paris, 1991, 462 p. ISBN 2-213-02454-5 [présentation en ligne]
- L’Ordre des livres. Lecteurs, auteurs, bibliothèques en Europe entre XIVe siècle et XVIIIe siècle, Alinea, coll. « De la pensée / Domaine historique », Aix-en-Provence, 1992, 126 p. ISBN 2-7401-0024-8
- Pratiques de la lecture (direction), Payot, coll. « Petite Bibliothèque Payot » nº 167, Paris, 1993, 309 p. ISBN 2-228-88723-4 [présentation en ligne]
- Le Livre en révolutions, entretiens avec Jean Lebrun, Textuel, Paris, 1997, 159 p. ISBN 2-909317-34-X [présentation en ligne]
- Histoire de la lecture dans le monde occidental (direction avec Guglielmo Cavallo, 1997), réédition, Éditions du Seuil, coll. « Points / Histoire » ISSN 0768-0457 nº H297, Paris, 2001, 587 p. ISBN 2-02-048700-4
- Au bord de la falaise. L’histoire entre certitudes et inquiétude, Albin Michel, coll. « Bibliothèque Albin Michel de l’histoire » ISSN 1158-6443, Paris, 1998, 292 p. ISBN 2-226-09547-0 [présentation en ligne]
- Les origines culturelles de la Révolution Française, réédition Éditions du Seuil, coll. « Points / Histoire », Paris, 1999, 304 p. ISBN 2-02-039817-6
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- BARROS, José D'Assunção. "A História Cultural e a Contribuição de Roger Chartier", in Revista Diálogos, UEM, v. 9. n.° 1, 2005.
- Pensadores: Roger Chartier. Revista Nova Escola. março de 2009, pp. 22-24.
- CHARTIER, Roger. O mundo como representação. Estudos Avançados, São Paulo, v.5, n.11, p. 173-191, 1991.
- CHARTIER, Roger. Defesa e ilustração da noção de representação. Fronteiras, Dourados/MS, v.13, n. 24, p. 15-29, Jul./Dez. 2011.
- CHARTIER, Roger. Introdução: por uma sociologia histórica das práticas culturais. In: CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. 2 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990.
- CARVALHO, Francismar Alex Lopes de. O conceito de representações coletivas segundo Roger Chartier. Diálogos, Maringá, v. 9, n. 1, p. 143-165, 2005.
- MACHADO, Franciele. Roger Chartier e a noção de representação: definições, diálogos e contexto historiográfico francês no século XX. In: Anais do 8º Seminário Brasileiro de História da Historiografia - Variedades do discurso histórico: possibilidades para além do texto. Ouro Preto: EDUFOP, 2014.
- SANTOS, Dominique Vieira Coelho dos. Acerca do conceito de representação. Revista de Teoria da História, Goiás, ano 3, n. 6, p. 27-53, Dez./2011.