Rouxinol-do-japão

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Como ler uma infocaixa de taxonomiaRouxinol-do-japão

Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Passeriformes
Família: Leiothrichidae
Género: Leiothrix
Espécie: L. lutea
Nome binomial
Leiothrix lutea
Scopoli, 1786

O rouxinol-do-japão (Leiothrix lutea) é uma espécie de ave da família dos leiotriquídeos, nativo do sul da China e do Himalaia. Os adultos têm bicos vermelhos e um anel perioftálmico amarelo opaco ao redor dos olhos. Suas costas são verde-oliva fosco, e possuem um papo amarelo-laranja brilhante com uma garganta amarela; as fêmeas são um pouco mais discretas que os machos, e os juvenis têm bicos pretos. Também foi introduzido em várias partes do mundo, com pequenas populações ferais existindo no Japão desde a década de 1980 e no Havaí desde o início do século XX.[2] Tornou-se um pássaro de gaiola comum e entre os avicultores acabou se popularizando como rouxinol-do-japão, mesmo não sendo nativo do Japão (embora tenha sido introduzido e naturalizado lá) e tampouco é um rouxinol.[1]

Taxonomia[editar | editar código-fonte]

O rouxinol-do-japão foi formalmente descrito em 1786 pelo naturalista austríaco Giovanni Antonio Scopoli sob o nome binomial Sylvia lutea.[3] A espécie é agora colocada justamente ao rouxinol-de-faces-prateadas (L. argentauris) no gênero Leiothrix, que foi introduzido em 1832 pelo naturalista inglês William John Swainson.[4][5] O nome genérico combina o grego antigo leios que significa "liso" e thrix que significa "cabelo". O epíteto específico lutea vem do latim luteus que significa "amarelo açafrão".[6] Scopoli especificou a localização-tipo como China, mas isso foi posteriormente restrito às regiões montanhosas da província chinesa de Anhui.[3][7]

Cinco subespécies são reconhecidas:[5]

  • L.l. kumaiensis (Whistler, 1943) – noroeste do Himalaia.
  • L.l. calipyga (Hodgson, 1837) – Himalaia central ao noroeste de Mianmar.
  • L.l. yunnanensis (Rothschild, 1921) – nordeste de Mianmar e sul da China.
  • L.l. kwangtungensis (Stresemann, 1923) – sudeste da China e norte do Vietnã.
  • L.l. lutea (Scopoli, 1786) – centro-sul, leste da China.

Descrição[editar | editar código-fonte]

Indivíduo em Maui, Havaí
Casal no Zoológico de Chester na Inglaterra
Macho no Zoológico de Chester na Inglaterra

Mede cerca de 15 centímetros de comprimento, geralmente verde-oliva, e tem uma garganta amarela com sombreamento laranja no peito. Também tem um anel amarelado opaco ao redor do olho que se estende até o bico.[2] As penas das asas são amarelas, laranjas e vermelhas com a cauda bifurcada sendo marrom-oliva e enegrecida na ponta. As orelhas e a lateral do pescoço são de uma cor cinza azulada.[8] A fêmea é muito mais pálida que o macho e não tem a mancha vermelha nas asas.[2] Este pássaro é muito ativo e um excelente cantor, mas muito discreto e difícil de ser observado. Não voa com frequência, exceto em habitats abertos.[9]

Distribuição e habitat[editar | editar código-fonte]

O rouxinol-do-japão é encontrado naturalmente na Índia, Butão, Nepal, Birmânia e partes do Tibete.[10] Esta espécie é uma ave das florestas montanhosas, encontrada em todos os tipos de florestas, embora prefira florestas de pinheiros com arbustos. Também foi encontrado em elevações que variam desde o nível do mar até cerca de 2.280 metros de altitude.[11] No Japão prefere florestas de Abies e Tsuga com um denso sub-bosque de bambu.

Espécie invasora[editar | editar código-fonte]

Em 2022, estudos demonstram que sua expansão, que tem passado quase despercebida, está a acontecer em 10 países europeus, incluindo Portugal, onde deverão existir entre 500 a 700 casais só na região Centro, revela um artigo científico publicado a 1 de Novembro de 2021 na revista Biological Invasions.[12]

No final do século XIX o rouxinol-do-japão foi levado para várias regiões do mundo, sendo para exposições zoológicas ou para ser mantido como animal de estimação. Mais tarde, no final do século XX, deu-se outro grande período de introdução desta espécie exótica especialmente na Europa.[12]

Em ilhas[editar | editar código-fonte]

A espécie foi introduzida nas ilhas havaianas em 1918 e se espalhou para todas as outras ilhas, exceto Lanai. Sua população em Oahu caiu na década de 1960 e desapareceu de Kauai, mas agora é comum e está aumentando em Oahu.[13] Foi introduzido na Austrália Ocidental, mas não conseguiu se estabelecer. Também está estabelecido nas ilhas Mascarenhas da Reunião.[14][15] No Japão, as populações naturalizadas do que é provavelmente a subespécie nominal desta espécie foram registradas desde a década de 1980 e se estabeleceram no centro e no sudoeste do país, onde a espécie acabou sendo naturalizada.

Na Europa[editar | editar código-fonte]

Esta espécie foi introduzida na Grã-Bretanha, mas o estabelecimento permanente foi considerado mal sucedido, embora um conjunto de avistamentos entre 2020-2022 no sul da Inglaterra sugira que algumas colônias podem ter sido estabelecidas.[16][17] Em Portugal houve solturas no início da década de 2000, e possui populações ferais conhecidas em Coimbra, Lisboa e Setúbal, onde a espécie já colonizou o Parque Natural de Sintra-Cascais.[18] Foi introduzido na França, onde agora está estabelecido em várias áreas, e na Espanha, onde está aumentando e se espalhando a partir do Parque Collserola, em Barcelona.[19] A espécie também foi introduzida na Itália, onde três populações principais podem ser identificadas nas regiões de Toscana, Ligúria, Lácio e Colinas Eugâneas. Além de existirem várias outras áreas com alto risco de invasão.[20]

Comportamento e ecologia[editar | editar código-fonte]

A espécie é, comportamentalmente, dominante sobre outros passeriformes menores. Por um lado, é maior do que os seus competidores mais diretos – como o pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula) e a toutinegra-de-barrete (Sylvia atricapilla). Por outro, tem maior robustez de bico e patas, vencendo as aves nativas nos confrontos por alimento. A nível mundial, esta espécie é considerada uma das aves invasoras mais perigosas porque, além de competir com as espécies nativas, dispersa plantas exóticas e alberga a resistência à malária aviária.[8]

Alimentação[editar | editar código-fonte]

Possui alimentação onívora. Alimenta-se de frutas como morangosmamãogoiabas e também várias espécies de DipteraMolluscaLepidoptera e Hymenoptera. Geralmente apanha sua comida em folhagens e árvores mortas nos estratos mais baixos da vegetação.[9]

Reprodução[editar | editar código-fonte]

Ovo de Leiothrix lutea calipyga MHNT

O rouxinol-do-japão pode ser encontrado em grupos de dez a trinta indivíduos durante a estação não-reprodutiva; no entanto, durante a época de reprodução, as aves se separam em pares e tornam-se territoriais.[2] Estas aves têm um canto que consiste em notas curtas que se repetem continuamente ao longo do ano, porém é mais constante durante a época de reprodução.[9] Este período geralmente dura do início de abril até setembro. Os machos vocalizam cantos longos e complexos para tentar atrair a fêmea.[9]

Os ninhos do rouxinol-do-japão são compostos de folhas secas, musgo e líquen.[21] Vários ninhos são encontrados entre abril e junho e são colocados a três metros do solo. Os ninhos são muito bem escondidos na folhagem. A vegetação densa e fechada protege as aves de predadores.[21]

As ninhadas podem conter de dois a quatro ovos com uma média de três.[8] Os ovos possuem uma cor creme pálida com manchas marrons. As aves recém-nascidas têm a pele vermelha e uma grande boca alaranjada.[8]

Referências

  1. a b BirdLife International (2017). Leiothrix lutea (em inglês). IUCN 2017. Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN. 2017​: e.T22716522A111107050. doi:10.2305/IUCN.UK.2017-1.RLTS.T22716522A111107050.en Página visitada em 28-10-2021.
  2. a b c d Long, John L. Introduced Birds Of The World. 1981
  3. a b Scopoli, Giovanni Antonio (1786). Deliciae florae faunae insubricae, seu Novae, aut minus cognitae species plantarum et animalium quas in Insubica austriaca tam spontaneas, quam exoticas vidit (em Latin). 2. Ticini [Pavia]: Typographia Reg. & Imp. Monasterii S. Salvatoris. p. 96 
  4. Swainson, William John; Richardson, J. (1831). Fauna Boreali-Americana, or, The Zoology of the Northern Parts of British America. 2: The Birds. London: J. Murray. pp. 233, 490  The title page bears the year 1831 but the volume was not published until 1832.
  5. a b Donsker, David; Rasmussen, Pamela (Janeiro de 2022). «Laughingthrushes and allies». IOC World Bird List Version 12.1. International Ornithologists' Union. Consultado em 6 de junho de 2022 
  6. Jobling, James A. (2010). The Helm Dictionary of Scientific Bird Names. London: Christopher Helm. pp. 221, 233. ISBN 978-1-4081-2501-4 
  7. Mayr, Ernst; Paynter, Raymond A. Jr, eds. (1964). Check-List of Birds of the World. 10. Cambridge, Massachusetts : Museum of Comparative Zoology . pp. 383–384 
  8. a b c d Whistler, Hugh . Popular Handbook Of Indian Birds. 4th ed. 1963.
  9. a b c d Male, T.D., Fancy, S.G, and Ralph, C.J. "Red- Billed Leiothrix." The birds of North America (1998)
  10. Hvass, Hans. Birds of the World In Color. 1964.
  11. Berger, Andrew. Hawaiian Birdlife. 1972.
  12. a b «Rouxinol-do-Japão, a ave exótica invasora que poucos sabiam que tínhamos» 
  13. Hawaii's Birds . Honolulu : Hawaii Audubon Society . 2005. pp. 104 . ISBN 1-889708-00-3 
  14. Christopher Lever (2005). Naturalised Birds of the World. [S.l.]: T & A D Poyser. pp. 174–176. ISBN 0713670061 
  15. IUCN Invasive Species Specialist Group (14 de março de 2008). «Global Invasive Species Database: Leiothrix lutea» 
  16. Broughton, R.K.; Ramellini, S.; Maziarz, M.; Pereira, P.F. (6 de junho de 2022). «The Red-billed Leiothrix (Leiothrix lutea): a new invasive species for Britain?». Ibis. ISSN 0019-1019. doi:10.1111/ibi.13090Acessível livremente 
  17. Weston, Phoebe (6 de junho de 2022). «'The next parakeet': Britain's dawn chorus at risk from Asian songbird». The Guardian. Consultado em 24 de junho de 2022 
  18. Pereira, P.F.; Barbosa, A.M.; Godinho, C.; Salgueiro, P.A.; Silva, R.R.; Lourenço, R. (2020). «The spread of the red-billed leiothrix (Leiothrix lutea) in Europe: The conquest by an overlooked invader?». Biological Invasions. 22 (2): 709–722. doi:10.1007/s10530-019-02123-5 
  19. Herrando, S.; Llimona, F.; Brotons, L.; Quesada, J. (2010). «A new exotic bird in Europe: recent spread and potential range of Red‐billed Leiothrix Leiothrix lutea in Catalonia (northeast Iberian Peninsula)». Bird Study. 57 (2): 226–235. doi:10.1080/00063651003610551Acessível livremente 
  20. Ramellini, S.; Simoncini, A.; Ficetola, G.F.; Falaschi, M. (2019). «Modelling the potential spread of the Red-billed Leiothrix Leiothrix lutea in Italy». Bird Study. 66 (4): 550–560. doi:10.1080/00063657.2020.1732864. hdl:2434/732844 
  21. a b Amano, Hitoha E.; Eguchi, Kazuhiro (2002). «Nest-site selection of the Red-billed Leiothrix and Japanese Bush Warbler in Japan». Ornithological Science. 1 (1): 101–110. doi:10.2326/osj.1.101Acessível livremente 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Rouxinol-do-japão
Wikispecies
Wikispecies
O Wikispecies tem informações sobre: Rouxinol-do-japão