Espaço partilhado

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Esquema de espaço partilhado em New Road, Brighton, Reino Unido.

Espaço partilhado (português europeu) ou espaço compartilhado (português brasileiro) (shared space em inglês) é um conceito de planejamento urbano que visa a utilização integrada de espaços públicos. Ele incentiva os engenheiros de tráfego, urbanistas e especialistas de outras áreas a consultarem os utilizadores do espaço público quando planejarem ruas e praças de ambientes construídos ou não. O conceito tem algumas características semelhantes com as living streets, ruas partilhadas (português europeu) ou ruas compartilhadas (português brasileiro) (em terminologia análoga ao presente artigo), ou ruas de lazer,[carece de fontes?] também interpretadas como "ruas para serem vividas".[1]

Os espaços partilhados removem a tradicional segregação entre os veículos automóveis, pedestres e outros usuários das vias. Sistemas convencionais de gestão de ruas como cortes, faixas, linhas, sinais e símbolos são substituídos por uma abordagem integrada, orientada para a compreensão do espaço público pelas pessoas. Com isto, caminhadas, ciclismo, compras e atividades como andar de carro se tornam ações integradas.

O termo shared spaces foi cunhado por Ben Hamilton-Baillie enquanto preparava um projeto de cooperação europeu em 2003.[2] A ideia foi lançada e promovida por Hans Monderman,[3] baseado na observação de que comportamentos individuais no trânsito são mais positivamente afetados pelo ambiente construído do espaço público do que pelos dispositivos de controles de tráfego convencionais e regulações do trânsito.[2] O objetivo do espaço partilhado é uma melhoria da segurança rodoviária, promovendo a negociação de áreas comuns em velocidades adequadas e com a devida consideração para os outros usuários, usando regras simples como ceder a passagem pela direita.

Este projeto europeu de espaço partilhado (parte do programa Interreg IIIB-North Sea) entre 2004 e 2008 desenvolveu novas políticas e métodos para o conceito de espaços públicos com ruas. Hans Moderman era o chefe da equipe do projeto antes de sua morte em 2008.[4]

Filosofia[editar | editar código-fonte]

Segurança, congestionamento, vitalidade econômica e rutura da comunidade podem ser abordados eficazmente nas ruas e em outros espaços públicos, se estes forem projetados e gerenciados para permitir ao tráfego ser totalmente integrado com outras atividades humanas, e não separado delas. A principal característica de uma rua projetada com essa filosofia é a ausência de marcas rodoviárias tradicionais, placas, sinais de trânsito e a distinção entre a "via" e a "calçada". O comportamento do usuário torna-se influenciado e controlado por interações humanas naturais ao invés de regulação artificial.[4]

Um dos princípios por de trás do esquema, que é mencionado em um artigo sobre o crescente interesse nesses regimes na Europa, a partir da revista alemã Der Spiegel, é que regras retiram do motorista a habilidade de ser atencioso. Monderman é citado dizendo: "Estamos perdendo a nossa capacidade de um comportamento socialmente responsável, ...Quanto maior o número de prescrições, mais o senso de responsabilidade pessoal definha." [5] Outra fonte atribui o seguinte a Monderman: "Quando você não sabe exatamente quem tem o direito de passagem, você tende a buscar contato visual com outros usuários da via... Você automaticamente reduz a sua velocidade, você tem contato com outras pessoas e toma maior cuidado."[6] No mesmo relatório, o prefeito de Bohmte, uma cidade aplicando tal regime, é citado dizendo: "Nós não queremos que os carros sozinhos tenham primazia, queremos experimentar e tornar a área agradável para todos."

A filosofia do espaço partilhado distingue entre a rede de malha-fina lenta e a rede de malha-grossa rápida. A rede lenta, que é o assunto do tratamento do espaço partilhado, é caracterizada como a rede de ruas que fazem o espaço público vital e acessível. Na rede lenta, automóveis são bem vindos como convidados, mas devem adaptar-se a certas normas de comportamento. O desenho da via deve deixar isto claro. A rede rápida, que permite o tráfego para chegar a destinos de forma rápida, e que é desenvolvido usando as metodologias de engenharia de tráfego tradicionais é essencial se as redes lentas estão funcionando apropriadamente.[7]

A razão para o aparente paradoxo em que a redução da regulamentação conduz a caminhos mais seguros pode ser encontrada pelo estudo de efeito de compensação de risco. Shared Space descreve o efeito:[7]

Shared Space é um sucesso porque a perceção de risco pode ser um meio ou até mesmo um pré-requisito para aumentar a segurança objetiva. Porque quando numa situação as pessoas se sentem inseguras estão mais alertas e há menos acidentes.

Em resposta a uma pergunta direta sobre o papel da legislação local, um membro do Shared Space Expert Team respondeu: "Para entender como funciona o espaço partilhado, é importante afastar-se da dependência de 'direitos' e 'leis', e reconhecer o potencial de convenções e protocolos ... Tais protocolos e convenções evoluem rapidamente e são muito eficazes se o Estado não intervir, através de regulamentação."[8]

Regras de trânsito, particularmente aquelas que dizem respeito com prioridades nos cruzamentos sem sinais variam em diferentes jurisdições e podem apoiar ou dificultar as propostas do espaço partilhado.

Proponentes[editar | editar código-fonte]

Por país[editar | editar código-fonte]

Diversas vilas e cidades ao redor do mundo têm implementado esquemas com elementos baseados nos princípios do espaço partilhado. A maioria das ruas de Tokyo é partilhada na prática, mas não por uma questão de regime ou princípio.

Austrália[editar | editar código-fonte]

Bendigo, Victoria, planeja (em Outubro de 2007) implantar o espaço partilhado no centro da cidade.[9]

Projeto de Espaço Partilhado Europeu[editar | editar código-fonte]

O projeto Shared Space é patrocinado pela Comissão Europeia para desenvolver métodos e políticas para abordar a segurança rodoviária, ruptura da comunidade e questões de congestionamento, e para reforçar a vitalidade econômica nas ruas e espaços públicos[4]

Ben Hamilton-Baillie é, assim com foi Hans Monderman antes de sua morte, envolvido no projeto comom um especialista em espaço partilhado.

No momento, sete autoridades locais europeias, de cinco nações, estão partilhando conhecimento sobre espaço partilhado:

Alemanha[editar | editar código-fonte]

Ettenheim, Endingen, Haslach, e Wolfach em Baden (fotos).

Bohmte introduziu um sistema de espaços partilhados em setembro de 2007. Um dos objetivos do projeto foi garantir segurança viária na cidade[10]

Países Baixos[editar | editar código-fonte]

Existe uma placa de trânsito na entrada de Makkinga na qual se lê "Verkeersbordvrij", que significa "livre de sinalizações de trânsito". A cidade não tem marcas nas ruas e não tem placas dando ordem ou indicando direções nas ruas. Parquímetros e restrições de parada também estão ausentes.[5] Drachten é uma das cidades pioneiras desses esquemas. O número de acidentes em um cruzamento onde semáforos foram retirados caíram de trinta e seis, nos quatro anos antes da introdução do regime, para dois nos dois anos seguintes.[11] Apenas três dos quinze conjuntos de semáforos originais permanecem. Engarrafamentos são agora quase desconhecidos no cruzamento principal da cidade, no qual passam cerca de 22 mil carros por dia.[12] Ver também Woonerf

Nova Zelândia[editar | editar código-fonte]

Os planos estão bem avançado para transformar várias ruas da cidade de Auckland em espaços partilhados.[13]

Suécia[editar | editar código-fonte]

Desde que as faixas de segurança e os sinais de trânsito foram trocados por uma espaçosa fonte, bancos e outros mobiliários de rua, a praça Skvallertorget em Norrköping não teve mais acidentes, a média de velocidade caiu de 21 para 16 km/h e qualidade de vida aumentou.[14]

Hong Kong[editar | editar código-fonte]

Espaços partilhados foram inseridos em áreas como Causeway Bay em Hong Kong Island e Mongkok em Kowloon, juntamente com zonas de restrição para pedestres.

Estados Unidos[editar | editar código-fonte]

Em West Palm Beach, Florida foram removidos sinais de trânsito e marcas nas vias e por trazerem os pedestres mais próximos dos carros. O resultado tem sido um trânsito mais lento, menos acidentes e menor tempo de viagem.[15]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. http://repositorio.ipl.pt/bitstream/10400.21/539/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o.pdf
  2. a b Ben Hamilton-Baillie. «What is Shared Space?» (PDF). Consultado em 16 de outubro de 2008. Arquivado do original (PDF) em 29 de setembro de 2012 
  3. Damian Arnold (15 de novembro de 2007). «UK traffic engineers lack skills for shared-space». New Civil Engineer. Consultado em 1 de fevereiro de 2008 
  4. a b c «Shared Space». Shared Space Institute. Consultado em 21 de abril de 2013. Arquivado do original em 31 de janeiro de 2010. Livretos publicados pela parceria entre a UE. 
  5. a b Matthias Schulz (16 de novembro de 2006). «European Cities Do Away with Traffic Signs». Spiegel Online. Consultado em 17 de janeiro de 2007 
  6. «European Towns Remove Traffic Signs to Make Streets Safer». Deutsche Welle. 27 de agosto de 2006. Consultado em 17 de janeiro de 2007 
  7. a b «Shared Space: Room for everyone: A new vision for public spaces» (PDF). Shared Space (A European co-operation project). 2005. Consultado em 21 de abril de 2013. Arquivado do original (PDF) em 28 de setembro de 2007 
  8. Ben Hamilton-Baillie (2 de março de 2007). «Road priority conventions - reply». Forum. Shared Space. Consultado em 19 de setembro de 2007. Arquivado do original em 19 de julho de 2011 
  9. «Walkers first on naked streets». The Sydney Morning Herald. 18 de outubro de 2007 
  10. Catherine Bosley (11 de setembro de 2007). «Town ditches traffic lights to cut accidents». Reuters. Consultado em 14 de setembro de 2007 
  11. Ben Webster (22 de janeiro de 2007). «'Naked' streets are safer, say Tories: Traffic lights and signs could vanish Accidents will fall, study claims». Londres: The Times 
  12. David Millward eewaa (4 de novembro de 2006). «Is this the end of the road for traffic lights?». Londres: The Daily Telegraph 
  13. «Auckland City Council». Consultado em 21 de abril de 2013. Arquivado do original em 20 de novembro de 2009 
  14. «No accidents after road conversion in Norrköpping» (PDF). Shared Space. 2007 
  15. *McNichol, Tom (2004). «Roads Gone Wild». Wired (12.12). Consultado em 26 de abril de 2006 

Referências[editar | editar código-fonte]