To the Lighthouse

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To the Lighthouse
Rumo ao Farol (PT)
Ao Farol (BR)
To the Lighthouse
Capa da primeira edição, por Vanessa Bell
Autor(es) Virginia Woolf
Idioma inglês
País Reino Unido
Gênero Romance
Linha temporal Entre 1910 e 1920
Localização espacial Costa das Ilhas Hébridas
Arte de capa Vanessa Bell
Editora Hogarth Press
Lançamento 5 de maio de 1927
Edição portuguesa
Tradução Mário Cláudio
Editora Afrontamento
Lançamento 1985
Edição brasileira
Tradução Luiza Lobo
Editora Gráfica Record
Lançamento 1968
Cronologia
Mrs. Dalloway
(1925)
Orlando
(1928)

To the Lighthouse (Brasil: O Farol [1] / Portugal: Rumo ao Farol) é um romance de Virginia Woolf publicado em 5 de maio de 1927. Um marco do modernismo, o romance foca nos Ramsays e nas suas visitas à ilha de Skye, na Escócia, entre 1910 e 1920.

Seguindo e ampliando a tradição dos romancistas modernistas como Marcel Proust e James Joyce, o enredo de To the Lighthouse é secundário à sua introspecção filosófica. O romance contém pouco diálogo e quase nenhuma ação; grande parte dele foi escrita como pensamentos e observações. O romance remete a emoções da infância e a relações entre adultos. Entre os diversos temas do livro estão a perda, a subjetividade e a questão da percepção.

Em 1998, a Modern Library colocou To the Lighthouse no 15.º lugar da sua lista de 100 melhores romances escritos em inglês do século XX.[2] Em 2005, o romance foi escolhido pela TIME Magazine como um dos cem melhores livros em inglês escritos desde 1923.[3]

Resumo do enredo[editar | editar código-fonte]

Ilha de Skye, onde passa-se o enredo do romance.

Parte I: A Janela[editar | editar código-fonte]

O romance é ambientado na casa de verão dos Ramsay em Hebrides, na Ilha de Skye. A seção começa com a Sra. Ramsay afirmando para seu filho James que eles poderão visitar o farol no próximo dia. Esta previsão é renegada pelo Sr. Ramsay, que dá voz à sua certeza que o clima não estará ameno o suficiente, uma opinião que cria certa tensão entre o Sr. e a Sra. Ramsay, e também entre o Sr. Ramsay e James. Este incidente em particular é referido em diversas ocasiões da seção, especialmente quando se aborda a relação do Sr. e da Sra. Ramsay.

Os Ramsay e os seus oito filhos hospedam em sua casa um número de amigos e colegas. Uma deles, Lily Briscoe, aparece pela primeira vez no romance como uma pintora jovem e duvidosa que tenta fazer um retrato da Sra. Ramsay e James. Briscoe descobre-se atormentada por dúvidas ao longo do romance que são alimentadas por Charles Tansley, outro convidado, que afirma que as mulheres não podem nem pintar nem escrever. Tansley é um admirador do Sr. Ramsay, um professor de filosofia, e dos seus tratados acadêmicos.

A seção termina com um grande jantar. Quando Augustus Carmichael, um poeta visitante, repete a sopa, o Sr. Ramsay quase o repreende. A Sra. Ramsay também está à beira de um ataque de nervos graças ao atraso de Paul Rayles e Minta Doyle, dois conhecidos a quem ela tenta unir, em chegar ao jantar, o que é consequência da perda de Minta do broche da sua avó na praia.

Parte II: O Tempo Passa[editar | editar código-fonte]

A segunda seção mostra o sentimento da passagem do tempo, da ausência e da morte. Dez anos se passam, durante os quais os quatro anos da Primeira Guerra Mundial começam e terminam. A Sra. Ramsay falece, assim como dois dos seus filhos – Prue morre em decorrência de complicações no parto e Andrew é morto na guerra. O Sr. Ramsay é deixado à deriva sem a sua esposa para elogiá-lo e lhe confortar durante as suas crises de medo e agonia relacionadas à longevidade da sua obra filosófica.

Parte III: O Farol[editar | editar código-fonte]

Na seção final, O farol, alguns dos Ramsays sobreviventes e outros convidados retornam à casa de verão dez anos após os eventos da primeira parte. O Sr. Ramsay finalmente dá continuidade ao abandonado plano de viajar ao farol, com sua filha Cam(illa) e o seu filho James (os outros Ramsays sobreviventes mal são mencionados nesta seção final). A viagem quase fracassa, pois os filhos não estão prontos – mas acaba por acontecer. Enquanto viajam, os filhos permanecem em silêncio como forma de protesto contra o pai tê-los forçado a acompanhá-lo. De qualquer forma, James mantém a vela do barco calma e, ao invés de receber as palavras duras que esperava do seu pai, escuta elogios, o que fornece um raro momento de empatia entre pai e filho; a atitude de Cam frente às mudanças de seu pai também passam de ressentimento a eventual admiração.

Eles são acompanhados pelo marinheiro Macalister e o seu filho, que pesca durante a viagem. O filho corta um pedaço da carne de um peixe que pescou para usá-la como fisca, jogando o peixe ferido de volta ao mar.

Enquanto eles guiam a vela para o farol, Lily tenta finalmente completar a pintura que segura na sua mente desde o início do romance. Ela relembra a imagem que tem do Sr. e da Sra. Ramsay, revivendo múltiplas impressões de dez anos atrás em uma tentativa de alcançar uma verdade objetiva sobre a Sra. Ramsay e a vida. Após completar a pintura (pouco depois do grupo navegador alcançar o farol) e ver que ela satisfaz-lhe, ela percebe que a execução do que vê é mais importante para ela do que a ideia de deixar algum tipo de legado da sua obra.

Temas principais[editar | editar código-fonte]

Complexidade da experiência[editar | editar código-fonte]

Grande parte do romance de Woolf não está ligado com os objetos colocados em vista, mas sim com a investigação dos significados da percepção, em uma tentativa de entender as pessoas no simples ato do olhar.[4] Para poder entender o pensamento, os diários de Woolf revelam que a escritora passava um tempo considerável ouvindo a si mesma pensando, observando como e que palavras e emoções surgiam na sua própria mente em resposta ao que ela via.[4]

Complexidade das relações humanas[editar | editar código-fonte]

Este exame da percepção não é, no entanto, limitado a diálogos internos isolados, mas também à análise contextual das relações humanas e dos tumultuosos espaços emocionais cruzados, para realmente poder alcançar o ser humano. Duas seções do livro mostram-se como excelentes exemplos dessa tímida tentativa de cruzamento: a mudança silenciosa entre o Sr. e a Sra. Ramsey que ocorre quando eles passam um tempo junto no final da primeira parte, e a luta de Lily Briscoe para corresponder ao desejo do Sr. Ramsay por simpatia (e atenção) quando o livro termina.[5]

Narração e perspectiva[editar | editar código-fonte]

O romance carece de um narrador onipresente (com exceção da segunda parte, O Tempo Passa); ao invés disso, o enredo vai revelando-se através de perspectivas do fluxo de consciência de cada personagem. Mudanças podem ocorrer até mesmo no meio de uma frase, e de certo modo remetem à própria rotação do farol. Diferente de James Joyce, todavia, Woolf não tende a usar fragmentos abruptos para representar o processo de pensamento dos personagens; o seu método é mais voltado à paráfrase lírica. Da ausência de um narrador onipresente decorre o fato de que, durante o romance, não há a existência de um guia para o leitor e que somente através do desenvolvimento dos personagens pode-se formar opiniões e visões, já que grande parte do que está ali é moralmente ambíguo.

Enquanto na primeira parte o romance se concentra em ilustrar a relação entre as experiências dos personagens e as verdadeiras experiências dos ambientes, a segunda parte, O Tempo Passa, não tendo nenhum personagem com o qual se ligar, apresenta os eventos de forma diferente. Woolf escreveu a seção da perspectiva de um narrador deslocado, sem ligação a ninguém, em uma tentativa de ligar os eventos ao tempo. Por essa razão a voz narrador não tem foco e é distorcida, dando um exemplo do que Woolf chamava de “a vida como ela é quando nela não somos nada”.[6][7]

Referências autobiográficas e localidades reais[editar | editar código-fonte]

Farol de Godvrevy, que supostamente seria a inspiração para o farol mostrado no livro.

Woolf começou a escrever Ao Farol em parte como meio para entender e lidar com problemas não resolvidos relacionados a ambos de seus pais[8] – na verdade, há muitas semelhanças entre o enredo e a sua própria vida. Suas visitas com os seus pais e família a St. Ives, Cornwall, onde seu pai alugava uma casa, foram talvez os momentos mais felizes da vida de Woolf, mas quando ela tinha treze anos a sua mãe morreu e, como o Sr. Ramsay, o seu pai Leslie Stephen mergulhou na melancolia e na autocomiseração. A irmã de Woolf, Vanessa Bell, escreveu que ler as seções do romance que descreviam a Sra. Ramsay era como ver a mãe surgir da morte.[9] O seu irmão Adrian teve uma visita ao farol da ilha de Godvrevy negada, assim como no romance James deseja visitar o farol e é desapontado quando a viagem é cancelada.[10][11] Os pensamentos de Lily Briscoe sobre a pintura são um modo que Woolf encontrou para explorar o seu próprio processo criativo (e também o da sua irmã pintora), já que o pensamento de Woolf sobre a escrita era o mesmo que o de Lily sobre a pintura.[8]

O pai de Woolf começou a alugar a Talland House em St. Ives, em 1882, logo após o nascimento da escritora. A casa viria a ser usada pela família como um retiro familiar pelo verão dos próximos dez anos. A localidade da história principal de Ao Farol, a casa perto da ilha de Hebridean, foi criada por Woolf em imitação à Talland House. Muitas características reais da Costa de St. Ives foram levados para a história, incluindo os jardins que levam ao mar, o próprio mar e o farol.[4]

Apesar de no romance os Ramsays poderem voltar à casa em Skye após a guerra, os Stephens nessa época abandonaram a casa. Após a guerra, Virginia Woolf visitou Talland House sob novo proprietário com a sua irmã Vanessa, e Woolf repetiu a jornada mais tarde, muito depois dos seus pais morrerem.[4]

História de publicação[editar | editar código-fonte]

Após completar o rascunho deste romance, o seu mais autobiográfico, Woolf o descreveu como “facilmente o melhor dos meus livros” e o seu marido Leonard considerou-o uma “obra-prima... um completo poema fisiológico”.[6] Publicaram-no juntos na Hogarth Press , em Londres, em 1927. A primeira impressão tinha 3 000 cópias de 320 páginas medindo 19,5 cm por 12 cm, protegidas por uma jaqueta azul. O livro superou as vendas de todos os romances anteriores de Woolf, e os lucros permitiram que o casal comprasse um carro.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Virginia Woolf, To the Lighthouse, (Londres: Hogarth Press, 1927) Primeira edição; 3 000 cópias iniciais, com uma segunda impressão em junho.
Virginia Woolf, To the Lighthouse, (Nova York: Harcourt Brace, 1927) Primeira edição norte-americana; 4 000 cópias iniciais, com ao menos cinco reimpressões no mesmo ano.

Adaptações[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Curriculum Vitae». Blog da Luiza Lobo. blogluizalobo.wordpress.com. 2016. Consultado em 17 de dezembro de 2021. Arquivado do original em 19 de outubro de 2016 
  2. «100 Best Novels». Random House. 1999. Consultado em 11 de agosto de 2014 
  3. «All Time 100 Novels». Random House. 16 de outubro de 2005. Consultado em 11 de agosto de 2014. Cópia arquivada em 13 de setembro de 2008 
  4. a b c d Davies, Stevie (1989). Virginia Woolf To the Lighthouse. Great Britain: Penguin Books. ISBN 0-14-077177-8 
  5. Welty, Eudora (1981). Forward to To the Lighthouse by Virginia Woolf. New York: Harvest. pp. vii–xii 
  6. a b Woolf, Virginia (1980). Bell, Anne Olivier; McNeillie, Andrew, eds. The Diary of Virginia Woolf, Volume III: 1925–1930. London: Hogarth. ISBN 0-7012-0466-4 
  7. Raitt, Suzanne (1966). «The Cinema». Collected Essays II. Londres: Hogarth. pp. 267–272 
  8. a b Panken, Shirley (1987). Virginia Woolf and the Lust of Creation. A Psychoanalytic Exploration (em inglês). [S.l.]: SUNY Press. 336 páginas 
  9. Daphne Merkin (12 de setembro de 2004). «To The Lighthouse And Beyond». The New York Times. Consultado em 7 de setembro de 2014 
  10. O parágrafo anterior foi baseado em Virginia Woolf, de Nigel Nicolson, capítulo um, que está reimpresso aqui.
  11. Woolf, Virginia (1957). The Voyage Out (em inglês). [S.l.]: Hogarth Press 
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