Ruth Sonntag Nussenzweig
Ruth Sonntag Nussenzweig Ruth Sonntag | |
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Conhecido(a) por | trabalho pioneiro em vacinas para combater a malária |
Nascimento | 20 de junho de 1928 Viena, Primeira República Austríaca |
Morte | 1 de abril de 2018 (89 anos) Nova Iorque, Estados Unidos |
Cônjuge | Victor Nussenzweig |
Alma mater | Universidade de São Paulo |
Prêmios | |
Campo(s) | Medicina e imunologia |
Ruth Sonntag Nussenzweig (Viena, 20 de junho de 1928 – Nova Iorque, 1 de abril de 2018) foi uma médica e pesquisadora na área de parasitologia e imunologia,[1] conhecida em especial por sua pesquisa sobre vacinas para malária.
Recebeu a Ordem Nacional do Mérito Científico em 1998 pela sua contribuição à ciência.[2]
Biografia[editar | editar código-fonte]
Ruth nasceu em Viena, em 1928.[3] De origem judaica, era filha de Eugenia e Baruch Sonntag, ambos médicos. Junto da família, aos 11 anos de idade, emigrou para o Brasil em 1939 depois de anexação da Áustria pela Alemanha Nazista e a família se estabeleceu em São Paulo.[2]
Em 1948, ingressou na Escola de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Lá conheceu seu futuro marido, o também estudante de medicina, Victor Nussenzweig, com quem teve três filhos, Michel, André e Sonia, todos médicos. Ainda durante a graduação, ela trabalhou com o professor de parasitologia, Samuel Pessoa, e em colaboração com seu futuro marido, começou a pesquisar sobre a transmissão da doença de Chagas por transfusão de sangue.[2][3]
Em 1952, Ruth e Victor se casaram no civil na biblioteca da Faculdade de Medicina da USP, formando-se no ano seguinte e se tornando professores associados da universidade, ao mesmo tempo em que desenvolviam seus doutorados.[4]
Carreira[editar | editar código-fonte]
Pesquisando a transmissão da doença de Chagas, a intenção original do grupo era de encontrar uma cura para o câncer através do uso do Trypanosoma cruzi, agente da doença de Chagas, técnica reportada com sucesso anteriormente por dois cientistas russos.[5] Entretanto, eles falharam em reproduzir os resultados do artigo, mas descobriram que a adição de violeta de genciana ao sangue contaminado por T. cruzi previne a transmissão da doença.[2]
Ruth ingressou como professora assistente de parasitologia na USP em 1954.[6] Por dois anos, eles estudaram na França, onde ela fez seu pós-doutorado em bioquímica pelo Collège de France, retornando ao Brasil em 1960 para trabalhar na Escola Paulista de Medicina no Departamento de Microbiologia com o Professor Otto Bier. Logo perceberam que o país não lhes fornecia as condições para trabalho e pesquisa. Tentaram ingressar nos Estados Unidos, mas as inclinações esquerdistas de Victor, que foram militante do Partido Comunista foram uma barreira.[7]
Ruth e Victor finalmente conseguiram uma bolsa para trabalhar numa instituição americana, a Universidade de Nova York (NYU ), que lhes parecia oferecer melhores oportunidades de pesquisa.[7] Lá começaram a trabalhar com os professores Baruj Benacerraf e Zoltan Overy. Em 1964, Ruth tentou voltar para São Paulo e para a USP, mas com o clima político no Brasil do Golpe Militar, ela e seu marido voltaram para a Universidade de Nova York, onde foi nomeada professora auxiliar em 1965.[3][7]
Em 1968, tornaria-se professora associada e em 1972, professora doutora da UNY. em 1976, tornou-se professora titular e chefe da divisão de Parasitologia do Departamento de Microbiologia, e, em 1984, Professora Titular do Departamento de Parasitologia Médica e Molecular. Em 1976, ela se tornou chefe de Parasitologia da Faculdade de Microbiologia e é CV Professor Starr de Molecular e Parasitologia Médica. Em 1983, foi professora visitante na Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard.[3][7]
Pesquisa[editar | editar código-fonte]
Ruth trabalhava desde a década de 1960 com pesquisa para o desenvolvimento de vacinas contra a malária. Na época, acreditava-se que buscar uma vacina contra a doença era uma causa perdida, porém ela encontrou um artigo de um cientista inglês feito na década de 20 que mencionava a variante aviária da malária. Eles observaram que a exposição de esporozoítos à radiação ultravioleta eliminou sua toxicidade em patos.[2][4]
Ruth repetiu as experiências com sucesso em ratos, usando esporozoítos irradiados com raios-X, e posteriormente testou o modelo em macacos. Os experimentos evoluíram para voluntários humanos (prisioneiros) usando mosquitos infectados com Plasmodium falciparum, e foram bem-sucedidos. A vacina, no entanto, só foi eficaz contra os parasitas da malária na fase esporozoítos.[3][4][7]
A vacina desenvolvida com base nessa pesquisa foi testada em ensaios de campo na África (2011), alcançando o grau de proteção de 30 a 50%, mas são necessárias duas doses de vacinação e imunização protege contra reinfecção por apenas 18 meses, o que inviabiliza o uso em regiões endêmicas. Junto do marido também trabalhou no desenvolvimento de vacinas contra Plasmodium vivax , que é prevalente na Amazônia, na América Central e na Ásia.[3][7]
Morte[editar | editar código-fonte]
Ruth sofrera uma queda que levou a uma fratura alguns anos antes, o que a deixou com a saúde debilitada. Ela estava internada em Nova Iorque e morreu no dia 1 de abril de 2018, aos 89 anos, devido a uma embolia pulmonar.[3][7][8]
Prêmios e associações[editar | editar código-fonte]
- Prêmio Wadsworth do Departamento de Saúde do Estado de Nova York, 1980.
- Cientista Feminina de Destaque, AWIS - Metropolitan New York Chapter, 1983.
- Membro honorária da Royal Society of Tropical Medicine desde 1984.
- Prêmio Paul Ehrlich e Ludwig Darmstaedter, 1985.[9]
- Prêmio Carlos J. Finlay da UNESCO junto de seu marido Victor Nussenzweig, 1985.
- Prêmio Abraham Horwitz da Organização Pan-Americana de Saúde, 1985.
- Medalha de bronze - Women's Zionist Organization, 1985.
- Prêmio Denis Thienpont da Academia Real de Medicina da Bélgica, 1988.
- Medalha Joseph Augustin Le Prince - Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene, 1997.
- Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, 1998.
- Membro da Academia Brasileira de Ciências desde 1998.[6]
Referências
- ↑ «Ruth Sonntag Nussenzweig – Exemplo de Mulher na Medicina». ABC da Medicina. Consultado em 12 de março de 2016
- ↑ a b c d e «Ruth Sonntag». Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Consultado em 12 de março de 2016
- ↑ a b c d e f g Ricardo Zorzetto (ed.). «PMorre Ruth Nussenzweig, pioneira no estudo de vacinas contra a malária». Revista Pesquisa FAPESP. Consultado em 6 de novembro de 2019
- ↑ a b c Giovana Maria Breda Veronezi (ed.). «Celebrando Ruth Nussenzweig – a mulher que abriu caminhos para uma vacina contra a Malária». Ciência pelos olhos dela - Blog da UNICAMP. Consultado em 6 de novembro de 2019
- ↑ «Breakthroughs towards a malaria vaccine». SciELO. Consultado em 12 de março de 2016
- ↑ a b «Ruth Sonntag Nussenzweig». Academia Brasileira de Ciências. Consultado em 12 de março de 2016
- ↑ a b c d e f g Reinaldo José Lopes (ed.). «Ruth Nussenzweig, precursora no estudo da vacina contra a malária, morre aos 89». Folha de S.Paulo. Consultado em 6 de novembro de 2019
- ↑ Robert A. Seder & Fidel Zavala (ed.). «Ruth S. Nussenzweig (1928–2018)». Nature. Consultado em 6 de novembro de 2019
- ↑ «Preisträger seit 1952» [Agraciados desde 1952] (em alemão). Universidade de Frankfurt. Consultado em 27 de abril de 2017
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
Precedido por Piet Borst e George Alan Martin Cross |
Prêmio Paul Ehrlich e Ludwig Darmstaedter 1985 com Ernest Bueding, Louis Howard Miller |
Sucedido por Abner Louis Notkins |
- Nascidos em 1928
- Mortos em 2018
- Prêmio Paul Ehrlich e Ludwig Darmstaedter
- Mulheres cientistas do Brasil
- Naturais de Viena
- Parasitologistas
- Médicos do século XXI
- Austríacos expatriados no Brasil
- Judeus asquenazes
- Judeus da Áustria
- Membros da Academia Brasileira de Ciências
- Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico