Santa Dica de Goiás

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Santa Dica de Goiás
Nascimento 1903
Pirenópolis
Morte 9 de novembro de 1970
Cidadania Brasil
Ocupação líder religioso

Benedicta Cypriano Gomes (Lagolândia, Pirenópolis, Goiás) foi a líder de um movimento social religioso iniciado na década de 1920 no distrito de Lagolândia, município de Pirenópolis, no estado de Goiás.

Santa Dica é assim chamada porque ainda na adolescência se tornou curandeira e logo depois profetisa. Para a população local, as curas e profecias de Dica eram acreditados como verdadeiros milagres.


História[editar | editar código-fonte]

Praça de Lagolândia
Praça de Lagolândia

Benedita Cipriano Gomes nasceu em 1903 na Fazenda Mozondó, a 40 km de Pirenópolis.[1][2] Por volta de 7 anos de idade, Benedita, ou melhor, Dica, como era chamada, caiu enferma culminando com a perda total de seus sinais vitais. Durante o banho do defunto, notaram os familiares que Dica suava frio e muito. Com receio de enterrá-la, mantiveram o velório e após três dias, Dica ressurgiu viva da morte iminente.

Tal Fato espalhou-se pela região como um milagre. Romarias de fervorosos e crédulos roceiros migravam para pedir-lhe a bênção e conseguir graças. Em poucos anos, já mocinha, Dica comandava legiões de adoradores que seguiam suas ordens com fiel devoção e em torno de sua casa formou-se um povoado. Dica instituiu sistema de uso comum de solo e aboliu o uso genérico de dinheiro, fazia curas milagrosas, rezava missas e dava conselhos. Pregava a igualdade, abolição de impostos, a distribuição de terras. Para Dica a terra era de propriedade do Criador e foi feita para todos. Em sua fazenda não existiam cercas e todos os recursos, oferendas e colheitas eram revertidos para a comunidade. Para suas curas milagrosas recebia Dica os espíritos do Dr. Fritz, da Princesa Silveira e de um Comandante. Esperava a vinda do Messias para a libertação das doenças e pobrezas.

Com tal política chegou a reunir em torno de si 15.000 almas, 1.500 homens capacitados para o uso das armas e cerca de 4.000 eleitores. Seu poder incomodava os coronéis da região, que viam na Dica uma certa reprodução do episódio de Canudos, com perdas de trabalhadores e poder sobre a população.

Porém a fama de Dica espalhou-se pelos sertãos atraindo mais e mais fiéis. Jornais goianos e mineiros denunciavam como um embuste a romaria fervorosa e pediam providências ao governo contra os fanáticos diqueiros, desertores de suas escravagistas fazendas. Até o clero suplicou, em vão.

Procissão
Procissão

O que era Rio do Peixe foi redenominado Rio Jordão e Dica reforçou sua força popular e política editando um jornal manuscrito: "A Estrela do Jordão Órgão dos Anjos, da Côrte de Santa Dica".

Os adoradores da Santa Dica, armados, juravam protegê-la contra qualquer tentativa de prisão. As autoridades de Pirenópolis com a polícia municipal se declaram impotentes contra os diqueiros. Restou ao Governo Estadual, em março de 1925, mandar um destacamento, sitiar o local e prender Dona Dica. Um mínimo seria o suficiente para o massacre. Quando um tio de Dica atirou contra os policiais choveram projéteis de metralhadoras sobre as palhoças e o sítio de Dica. Pela "boca do povo" diziam que as balas iam de encontro à Dica, enrolavam em seus cabelos, ou batiam em seu corpo, e caiam pelo chão. Tanto que houve apenas três mortes. Dica ordenou a todos que atravessassem o rio Jordão, que passa por trás de sua casa, para fugir do massacre. Dica foi resgatada por um de seus fiéis, puxada do rio pelos cabelos e acabou sendo presa. Dizem na tradição oral que Santa Dica neste episódio amarrou uma sucuri no poção ao fundo de sua casa para que os soldados não pudessem atravessar o rio. Até hoje a população de Lagolândia acredita e não nada naquele local com medo da sucuri da Santa Dica.

A Prisão de Dica durou 6 meses. Pressionados pela população e sem provas criminatórias o governo acabou cedendo e liberou-a. A partir daí Dica ingressou na política, seus seguidores votavam em quem ela mandasse. Formou exército e foi patenteada com a insígnia de cabo do exército brasileiro. Comandava tropa de 400 homens, que ficaram sendo conhecidos como "pés com palha e pés sem palha", pelo motivo de que sendo a tropa integrada por analfabetos, confundiam esquerda com direita. Dica então usou o estratagema de amarrar um pedaço de palha em um dos pés para poder ensinar-lhes a marchar.

Bandeira da Procissão

Em 1928 casou com o jornalista carioca Mário Mendes, eleito prefeito de Pirenópolis em 1934, e tiveram cinco filhos e adotaram mais dois. O exército dos "pés com palha e pés sem palha" participou da Revolução Constitucionalista de 1932 indo guerrear, com 150 homens, em São Paulo de onde voltou sem nenhuma baixa, resultado atribuído aos milagres da santa. Episódio famoso foi quando seu exército precisava passar pela ponte de Jaraguá, em São Paulo. A ponte estava minada e Dica mandou que um de seu soldados a atravessasse de olhos vendados, fato concluído sem detonar nenhuma bomba. E assim foi com a tropa toda que vendados um a um transpuseram a ponte, que veio a ruir após passar o último soldado. Também teve Dica enfrentado a Coluna Prestes. Com uma tropa de 400 homens impediu que a Coluna ingressasse no Triângulo Mineiro.

Muito milagres foram realizados por ela. Histórias populares contam que ela andava sobre as águas do Rio Jordão, fazia muitas curas milagrosas e sua tropa era protegida milagrosamente, tanto que quando as balas atingiam seus soldados elas caíam no chão como caroços de milho.

Morreu Dica aos 9 de novembro de 1970 em Goiânia e foi sepultada, conforme seu desejo, debaixo de uma gameleira em frente à sua casa em Lagolândia. Legiões de seguidores cortejaram e velaram durante três dias o corpo da Santa, demonstrando amor e devoção, cativados pela linda moça da Fazenda Mozondó, guerreira e santa.

Túmulo de Santa Dica
Túmulo de Santa Dica

Lagolândia, hoje, é um povoado do município de Pirenópolis, com algumas centenas de habitantes e muitas casas, que rodeiam uma bela praça onde o busto de Santa Dica lidera o espaço dividido entre bancos, flores, imagens de Nossa Senhora e o sepulcro sombreado da Santa. Em sua antiga casa descendentes mantêm um visitado altar dedicado à Santa e todo o povoado vive à sua memória.

Livros[editar | editar código-fonte]

  • GUIMARÃES, A. Santa Dica: sua vida e seus milagres. São Paulo
  • VASCONCELLOS, Lauro de. Santa Dica: encantamento do mundo ou coisa do povo. Goiânia. Cegraf/UFG. 1991

Referências

  1. Borges, Rogério (28 de março de 2018). «Santa Dica». O Popular. Consultado em 20 de setembro de 2020 
  2. Gomes Filho, Robson (7 de outubro de 2014). «Santa Dica de Goiás: o germinar de um movimento messiânico». ACADEMIA. Consultado em 25 de junho de 2021