Sambala

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Sambala, Shambala, Shamballa ou Shambhala é um local místico citado amiúde em textos sagrados e presente em diversas tradições do Oriente. Depois da divulgação do termo no ocidente tornou-se conhecida em círculos esotéricos e penetrou até a cultura popular.

A tradição oriental[editar | editar código-fonte]

No budismo tibetano, Shambhala é um reino mítico oculto algures na cordilheira do Himalaia ou na Ásia central, próximo da Sibéria. É mencionado no Kalachakra Tantra [1] e nos textos da cultura Zhang Zhung, que antecedeu o Budismo no Tibete ocidental. A religião Bön o chama de Olmolungring.[2]

Shambhala significa em sânscrito "um lugar de paz, felicidade, tranquilidade", e acredita-se que seus habitantes sejam todos iluminados. A linha Tantra afirma que um dos reis de Shambhala, Suchandra, recebeu de Buda o Kalachakra Tantra, e que este ensinamento é lá preservado. Segundo esta tradição, quando o Bem tiver desaparecido de sobre a Terra, o 25º rei de Shambhala aparecerá para combater o Mal e introduzir o mundo em uma nova Idade de Ouro. Na Índia, essa doutrina desapareceu a partir do advento do Islã, porém no Tibete continua viva.

Shambhala também é associada ao império histórico Sriwijaya, onde o mestre Atisha estudou sob Dharmakirti e recebeu a iniciação Kalachakra. Também é considerada a capital do Reino de Agartha, constituído, segundo as cosmologias do taoismo, hinduísmo e budismo, por oito cidades etéricas.

Inspiração para a criação literária do inglês James Hilton Lost Horizon (1925), passa a ser também conhecida e referida como Shangri-La[3]

Entre os hinduístas o nome é mencionado nos Puranas como sendo o lugar de onde surgirá o avatar Kalki, que libertará a Terra das forças disruptivas e restabelecerá a Lei Divina [4]

Como outros conceitos religiosos, Shambhala possui um significado oculto e um manifesto. A forma manifesta tem Shambhala como um local físico, embora só podendo ser penetrado por indivíduos cujo bom karma o permite. Estaria em algum ponto do Himalaia ou deserto de Gobi, ladeada pela China a leste, Sibéria ao norte, Tibete e Índia ao sul, Khotan a oeste.[5] A interpretação oculta diz que não é um lugar terreno, mas sim interior, comparável à Terra Pura do Budismo, de caráter mental e moral, ou a um estado de iluminação a que toda pessoa pode aspirar e alcançar.[6]

Segundo os ensinamentos escritos e orais do Kalachakra, transmitidos ao explorador Andrew Tomas por Khamtul Jhamyang Thondup, do Conselho de Assuntos Religiosos e Culturais do Dalai Lama (em exílio na Índia desde a ocupação chinesa comunista de 1950 no Tibete), a aparência de Shambhala variaria segundo a natureza espiritual do observador: "por exemplo, certa ribeira, pura e simplesmente a mesma, pode ser vista pelos deuses como um rio de néctar, como um rio de água pelos homens, como uma mistura de pus e sangue pelos fantasmas esfomeados, e por outras criaturas como um elemento no qual se vive".[7]

Divulgação no ocidente[editar | editar código-fonte]

A ideia de uma terra de iluminados exerceu atração no ocidente desde sua difusão inicial no século XVII a partir de fragmentos do Budismo tibetano que conseguiram, através de exploradores e missionários, ultrapassar as usualmente fechadas fronteiras tibetanas, e da Teosofia, propagada pioneiramente por Helena Petrovna Blavatsky no século XIX.

As primeiras informações sobre este lugar chegaram ao ocidente pelos missionários católicos João Cabral e Estêvão Cacella, que ouviram referências sobre Shambhala - transcrita como Xembala - e imaginaram que se tratasse de um nome alternativo de Catai, a China. Dirigindo-se ao Tibete em 1627, descobriram o equívoco e retornaram à Índia de onde haviam saído.[8]

Em 1833 apareceu o primeiro relato geográfico sobre a região, escrito pelo erudito húngaro Alexander Csoma de Köros, que mencionou "um país fabuloso no norte, situado entre 45º e 50º de latitude norte".

No final do século Shambhala foi mencionada por Helena Petrovna Blavatsky em seus livros, e desde então se tornou um nome familiar no ocidente, disseminando-se entre os cultos esotéricos e estimulando expedições em tentativas de localização - Nicholas Roerich (1926), Yakov Blumkin (1928), Heinrich Himmler e Rudolf Hess (1930, 1934-35, 1938-39).[9][10]

Shambhala foi mencionada diversas vezes por Blavatsky, que alegava estar em contato com alguns de seus habitantes, todos pertencentes à Grande Fraternidade Branca. Segundo a Teosofia, Shambhala é tanto um lugar físico como um espiritual. Teria sido antigamente uma ilha quando a Ásia central ainda era um mar, há milhões de anos, a chamada Ilha Branca, ou Ilha Sagrada, e teria sido ali que os Senhores da Chama, os progenitores espirituais da raça humana, liderados por Sanat Kumara, teriam chegado e se estabelecido, vindos de Vênus.[11] Atualmente a ilha seria um oásis no Deserto de Gobi, protegida de intrusos por meios espirituais.[12] Escolas derivadas da Teosofia fazem menções ainda mais frequentes ao lugar, enfatizando sua natureza espiritual e localizando-a invisivelmente no plano etérico ou plano astral.

Shambhala também foi objeto de interesse escuso de ocultistas ligados ao Nazismo, que a viam como fonte de poder. A maciça maioria de referências literárias e testemunhos a descrevem como um lugar abençoado, que tem sido fonte de inspiração para abundante literatura, bem como associações com a cultura popular, como cenário ou tema de filmes, romances, músicas, documentários, histórias em quadrinhos e jogos.

Referências

  1. Fic, Victor M. The Tantra. Abhinav Publications, 2003, p.49.
  2. Kavǣrne, Per. The Bon Religion of Tibet. Shambhala, 1996
  3. 'Tomas, Andrew Shambhala. A misteriosa civilização tibetana. Lisboa, Bertrand, 1979, p52;213
  4. Blavatsky, Helena P. Glossário Teosófico. São Paulo: Ground, s/d.
  5. Tomas, Andrew., idem, p218
  6. Trungpa, Chögyam. Shambhala, The Sacred Path of the Warrior. Shambhala, 1988
  7. Tomas, Andrew., ibidem, pp217/218
  8. Bernbaum, Edwin. The Way to Shambhala. Los Angeles: Jeremy P. Tarcher, Inc. 1980-1989. pp. 18-19. ISBN 0-87477-518-3.
  9. Archer, Kenneth. Roerich East & West. Parkstone Press 1999, p.94
  10. Hale, Christopher. Himmler's Crusade. John Wiley & Sons, Inc. 2003
  11. Leadbeater, Charles. W. The Masters and the Path. Adyar: The Theosophical Publishing House, 1925-1927 [1] Arquivado em 23 de julho de 2011, no Wayback Machine.
  12. Besant, Annie. The Inner Government of the World. Adyar: The Theosophical Publishing House, 1920-1940 [2]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Berzin, Alexander. StudyBuddhism.com - Mitos Errôneos sobre Shambhala. (2003). [3].
  • Martin, Dean. Ol-mo-lung-ring, the Original Holy Place. In: Toni Huber (ed.). Sacred Spaces and Powerful Places In Tibetan Culture: A Collection of Essays. Dharamsala: The Library of Tibetan Works and Archives, 1999. pp. 125–153. ISBN 81-86470-22-0.
  • Bernbaum, Edwin. The Way to Shambhala: A Search for the Mythical Kingdom Beyond the Himalayas. Nova Iorque: St. Martin's Press, 1980-1989. ISBN 0-87477-518-3.
  • Jeffrey, Jason. Mystery of Shambhala. In New Dawn, No. 72 (maio-junho 2002).[4]
  • Trungpa, Chogyam. Shambhala: The Sacred Path of the Warrior. Shambhala Publications. ISBN 0-87773-264-7
  • Le Page, Victoria. Shambhala: The Fascinating Truth behind the Myth of Shangri-La. ISBN 0-8356-0750-X [5]
  • Allen, Charles. The Search for Shangri-La: A Journey into Tibetan History. Little, Brown & Co. Reimpresso por Abacus, Londres. 1999-2000. ISBN 0-349-111421.
  • Symmes, Patrick. The Kingdom of the Lotus. In Outside, Edição especial de 30 anos, pp. 148–187. Red Oak: Mariah Media, Inc. 2007.
  • Tomas, Andrew Shambhala. A misteriosa civilização tibetana. Lisboa, Bertrand, 1979.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]