Sistema Interligado Nacional
| Sistema Interligado Nacional | |
|---|---|
| Atividade | Energia elétrica |
O Sistema Interligado Nacional (SIN) é o sistema brasileiro de coordenação e controle da produção e transmissão de energia elétrica, formado pelas empresas das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte da região Norte. Trata-se de um sistema hidrotérmico de grande porte, com predominância de usinas hidrelétricas e múltiplos proprietários, tanto estatais quanto privados.[1] Foi criado em 1998, por meio da Resolução nº 351/1998 do Ministério de Minas e Energia, em conformidade com a Lei nº 9.648/1998 e o Decreto nº 2.655/1998. O SIN é operado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que tem como funções garantir o equilíbrio entre oferta e demanda, otimizar o uso dos recursos energéticos e assegurar a confiabilidade do suprimento. [2][3]
Apenas cerca de 1,7% da capacidade de geração elétrica do Brasil está fora do SIN, em pequenos sistemas isolados, localizados principalmente na região amazônica.[4]
Matriz elétrica e malha de produção
[editar | editar código]O Brasil conta com uma matriz elétrica diversificada, composta principalmente por:[5][6]
- Hidrelétricas: responsáveis pela maior parte da geração, aproveitando o potencial hídrico do país.
- Eólicas: concentradas no Nordeste e Sul, aproveitando regimes de ventos constantes.
- Solares: distribuídas por várias regiões, com destaque para o Nordeste e Centro-Oeste.
- Termelétricas: movidas a gás natural, óleo combustível, carvão mineral ou biomassa, usadas principalmente como complemento.
Essa diversidade garante complementaridade entre fontes:[7][8]
- Em períodos de seca, quando a geração hídrica é reduzida, térmicas, eólicas e solares podem suprir a demanda.[9]
- Quando há pouco vento ou durante a noite, a geração hídrica e térmica assume maior peso.[10]
- Em épocas de ventos fortes e cheias, a produção renovável pode reduzir o uso de térmicas, economizando combustível e diminuindo custos.[11]
O ONS coordena o despacho de energia de forma a aproveitar ao máximo essas complementaridades, o que ajuda a evitar apagões e manter o fornecimento estável. Em crises severas, o sistema pode acionar termelétricas e importar energia de países vizinhos, como Argentina e Uruguai. [12][13]
Estrutura e interligação
[editar | editar código]O SIN é formado por quatro grandes subsistemas interligados, mais sistemas isolados:[14]
- Sudeste/Centro-Oeste (SE/CO) – cobre as regiões Sudeste e Centro-Oeste, além de Rondônia e Acre.
- Sul (S) – abrange toda a região Sul.
- Nordeste (NE) – cobre o Nordeste, exceto o Maranhão.
- Norte (N) – inclui Amapá, Amazonas, Maranhão, Pará e Tocantins.
- Sistemas isolados – pequenas redes autônomas, principalmente na região Norte.
A interligação entre os subsistemas é feita por linhas de transmissão de alta tensão, permitindo trocas de energia para equilibrar a oferta entre diferentes regiões e épocas do ano, aproveitando a sazonalidade dos rios e transferindo excedentes de energia elétrica durante o período das cheias em cada região.[15]
Caso do Amazonas e de Boa Vista
[editar | editar código]O estado do Amazonas esteve historicamente fora do SIN, mas desde 2013 a capital Manaus e parte da região metropolitana estão conectadas ao sistema por uma única linha de transmissão principal, no âmbito do projeto Interligação Tucuruí–Macapá–Manaus. Essa linha, em alta tensão e corrente contínua (HVDC), parte da hidrelétrica de Tucuruí (PA)[16], passa pelo Amapá e chega ao Amazonas, permitindo que Manaus receba energia gerada principalmente por hidrelétricas da região Norte. Antes dessa interligação, Manaus dependia quase exclusivamente de usinas termelétricas a óleo diesel e gás natural.[17]
Apesar da ligação, a capital amazonense permanece vulnerável:[18] a dependência de uma única interligação significa que eventuais falhas podem isolar temporariamente a cidade, exigindo o acionamento de geração térmica local. [19][20] No interior do estado, a maioria dos municípios ainda opera com geração própria, sem ligação ao sistema interligado.[21][22][23]
Boa Vista, capital de Roraima, era a única capital brasileira que ainda não estava conectada ao SIN. A cidade dependia de geração térmica local e, até 2019, complementava o suprimento com energia importada da Venezuela. Seu abastecimento era garantido principalmente por usinas termelétricas movidas a óleo diesel e gás natural, o que encarece e torna mais poluente a matriz energética local.[24][25][26]
O Linhão de Tucuruí foi licitado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em 2011. A obra, no entanto, foi alvo de um impasse judicial com os indígenas que vivem na reserva Waimiri Atroari, por onde irão passar 122 km de torres. Em setembro de 2022, a Justiça Federal homologou um acordo entre a Transnorte Energia, órgãos federais e o povo indígena Waimiri Atroari estabelecendo um plano de compensações socioambientais por causa dos impactos irreversíveis que terão na floresta. O novo prazo de conclusão das obras era até dezembro de 2025.[27][28]
A entrada em operação definitiva do trecho ocorreu em 18 de setembro de 2025. A linha é operada pela Transnorte Energia, um consórcio formado pela Eletrobras (64,6%) e Alupar (35,4%)[29][30]
O trecho recebeu investimentos de R$ 3,3 bilhões e conta com 725 km de extensão, em u/m circuito duplo de 500 quilovolts (kV). A conexão vai da Subestação Engenheiro Lechuga, em Manaus (AM), até a Subestação Boa Vista, na capital de Roraima, com um ponto intermediário em Rorainópolis (RR)[31]
Existem cerca de 212 localidades que não estão ligadas ao SIN, desde pequenas comunidades indígenas até cidades de médio porte. A maioria fica na Amazônia, mas há sistemas isolados também no Mato Grosso e em Fernando de Noronha (PE).[32][33]
Ver também
[editar | editar código]- Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)
- Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)
- Lista de usinas hidrelétricas do Brasil
- Energia Solar no Brasil
- Eletrobras
- Eletrobras CGTEE
- Eletrobras Chesf
- Eletrobras Eletronorte
- Eletronuclear
- Eletrobras Eletrosul
- Eletrobras Furnas
- Eletrobras Cepel
- Linhão de Tucuruí
- Linhão Norte-Sul
- Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP)
- Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG)
- Ministério de Minas e Energia
- Política energética do Brasil
Referências
- ↑ «O que é o Sistema Interligado Nacional (SIN)?». novaenergia.com.br. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ Águas, Agência Nacional de. «Sistema Interligado Nacional». Sistema de Acompanhamento de Reservatórios. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ «ONS - Operador Nacional do Sistema Elétrico». ONS - Operador Nacional do Sistema Elétrico. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ Tecnogera (25 de agosto de 2015). «O que é SIN (sistema interligado nacional)?». Tecnogera. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ Digital, Base. «Matriz Energética Brasileira: o que é e do que é composta». www.raizen.com.br. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ «MATRIZ ENERGÉTICA». www.epe.gov.br. Consultado em 11 de agosto de 2025. Cópia arquivada em 3 de julho de 2025
- ↑ «Brasil é referência no campo da energia limpa e renovável». Serviços e Informações do Brasil. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ «Fontes de energia renováveis representam 83% da matriz elétrica brasileira». Serviços e Informações do Brasil. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ «Seca já afeta produção de hidrelétricas brasileiras e pode forçar mudança em modelo». O Globo. 30 de setembro de 2024. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ Conteudista (20 de outubro de 2020). «Entenda Intermitência e Complementariedade Energética». ENERGÊS. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ Layke, Jennifer; Hutchinson, Norma (6 de outubro de 2020). «3 razões para investir em energia renovável agora». Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ «ONS começa a importar energia do Uruguai para fornecer ao Rio Grande do Sul». G1. 3 de maio de 2024. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ Tecnogera (26 de maio de 2015). «Como funciona a importação de energia da argentina?». Tecnogera. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ Papoca, Redacao (22 de junho de 2021). «Sistema Interligado Nacional: saiba o que é e como funciona». Esfera Energia. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ «Você sabe o que é o Sistema Interligado Nacional?». Eneva. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ «Obras do Linhão de Tucuruí passam de 70% e devem ser concluídas até setembro de 2025». G1. 21 de março de 2025. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ OnLine, Valor (9 de julho de 2013). «Manaus é integrada ao Sistema Interligado Nacional de energia». Economia. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ Kafruni', 'Simone (29 de março de 2019). «Abastecimento de energia em Manaus depende de usinas que serão desativadas». Acervo. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ «Manaus sofre novo apagão após desarme de subestação». CanalEnergia. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ Borges, André (16 de setembro de 2024). «Seca coloca em alerta geração de eletricidade na Amazônia». Reset. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ Santana, por Fred (20 de agosto de 2024). «Um milhão de pessoas não têm acesso à eletricidade na Amazônia». Vocativo. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ «Linha de transmissão de Tucuruí é foco de conflitos, impactos e problemas que chegam a três estados». Mapa de Conflitos Envolvendo Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ Jr, Geraldo Campos (14 de abril de 2024). «Manaus tem apagão após desligamento de linha de transmissão». Poder360. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ «Fora do sistema nacional, Roraima tem ao menos 24% da energia produzida por biocombustível». G1. 13 de maio de 2024. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ Reuters (13 de janeiro de 2025). «Brasil inicia testes em linha para importação de energia da Venezuela». InfoMoney. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ Santiago, Lorenzo (19 de fevereiro de 2025). «Após 6 anos, Brasil volta a comprar energia elétrica da Venezuela para abastecer Roraima». Brasil de Fato. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ Gonzaga, Bernardo (23 de setembro de 2022). «Justiça homologa acordo para construção de linhão de Tucuruí». Poder360. Consultado em 20 de novembro de 2022
- ↑ «Chico Rodrigues celebra proximidade da conclusão do Linhão de Tucuruí». Senado Federal. Consultado em 5 de junho de 2025
- ↑ Waltenberg, Guilherme (19 de setembro de 2025). «Governador de RR anuncia ligação definitiva do linhão de Tucuruí». Poder360. Consultado em 21 de setembro de 2025
- ↑ Conteúdo, Estadão (22 de setembro de 2025). «Eletrobras (ELET3; ELET6) inaugura linha de transmissão Manaus-Boa Vista». InfoMoney. Consultado em 25 de setembro de 2025
- ↑ Acompanhe o Planalto (10 de setembro de 2025). «"Roraima está ligado ao restante do Brasil, não existe mais diferença", diz Lula sobre inclusão do estado ao Sistema Interligado Nacional». Gov.br. Consultado em 25 de setembro de 2025
- ↑ «Fernando de Noronha deverá reduzir a dependência de diesel, mostra estudo da EPE». CanalEnergia. Consultado em 11 de agosto de 2025
- ↑ «ONS - Operador Nacional do Sistema Elétrico». ONS - Operador Nacional do Sistema Elétrico. Consultado em 11 de agosto de 2025