Mariana Alcoforado

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Mariana Alcoforado
Mariana Alcoforado
representação imaginária na capa de "Cartas de amor ao cavaleiro de Chamilly"
Nascimento Mariana Mendes da Costa Alcoforado
22 de abril de 1640
Beja
Morte 28 de julho de 1723 (83 anos)
Beja
Cidadania Reino de Portugal
Ocupação freira, escritora
Obras destacadas As Cartas Portuguesas
Religião catolicismo

Mariana Mendes da Costa Alcoforado ou Mariana Vaz Alcoforado O.S.C. (Beja, Santa Maria da Feira, 22 de abril de 1640Beja, 28 de julho de 1723) foi uma freira portuguesa do Convento de Nossa Senhora da Conceição em Beja.

É considerada a autora das cinco Lettres Portugaises (As Cartas Portuguesas) dirigidas ao Marquês Noel Bouton de Chamilly, Conde de Saint-Léger e oficial francês, que lutou em solo português sob as ordens de Frederico de Schomberg, durante a Guerra da Restauração. A sua obra Cartas Portuguesas tornou-se um famoso clássico da literatura mundial.

Biografia[editar | editar código-fonte]

O Convento de Nossa Senhora da Conceição, em Beja, onde viveu e morreu Sóror Mariana Alcoforado.

Mariana Alcoforado nasceu em Beja em 1640, filha de Francisco da Costa Alcoforado e Leonor Mendes[1]. Com onze anos, é obrigada a entrar para um convento, a fim de ficar a salvo do brutal conflito provocado pela guerra com Espanha e para honrar o testamento materno que a nomeava freira do Convento da Conceição. Sem ter nenhuma inclinação religiosa, ela foi assim destinada a uma vida enclausurada na Ordem de Santa Clara, partilhando da sorte de muitas raparigas da sua época, que eram encerradas em conventos por decisão paternal.

Impotente face à irrevogável decisão do pai, Mariana submete-se à clausura, mas anseia pelo dia em que poderá regressar ao seio da família e à liberdade da vida real. Um dia (não se sabe a data precisa) chega à cidade de Beja um regimento francês, comandado por Frederico de Schomberg, que ali se encontrava para apoiar o país contra Espanha na Guerra da Restauração (1640-1668). Quis o destino que o seu olhar se cruzasse com o do jovem oficial francês Noel Bouton. Mariana estaria na janela de Mértola do convento, e dessa troca de olhares nasceria um amor imediato e profundo. Tendo então a idade de vinte anos, o instinto físico falou mais alto e deixou-se dominar por uma incontrolada paixão que a fez introduzir Bouton secretamente na sua cela durante várias noites seguidas.

Descobertos, a notícia dessa relação difundiu-se rapidamente causando escândalo. Sóror Mariana pertencia à poderosa família dos Alcoforados, e temeroso das consequências, Bouton saiu de Portugal, com o pretexto da enfermidade de um irmão e prometeu mandar buscá-la. Duma janela do segundo piso do Convento, esperaria Mariana por notícias do seu amado, vivendo a sua paixão impossível e desesperada, na sua condição de mulher destinada a Deus.

Réplica da janela por onde Sóror Mariana Alcoforado falou com o nobre oficial francês Marquês de Chamilly.

Na sua espera, em vão, escreveu as referidas cartas, que contam uma história sempre igual: esperança no início, seguida de incerteza e, por fim, a convicção do abandono. A sua correspondência destinada a Bouton, um conjunto de cinco cartas escritas em francês, foram publicadas em Paris por Claude Barbin, e foram avaliadas entre as mais comovedoras do género. Esses relatos emocionados fizeram vibrar a nobreza de França, habituada ao convencionalismo. Além disso, levaram, para a frívola sociedade, o gosto acre do pecado e da dor, pois traziam a lume as intimidades de uma freira. “As Cartas” anteciparam o movimento literário romântico e serviram de inspiração a La Bruyère, Saint-Simon, Saint-Beuve e muitos outros autores românticos. Rousseau, por achar as cartas demasiado belas para serem escritas por uma mulher, negava-lhes a autenticidade. Os escritores portugueses Alexandre Herculano e Camilo Castelo Branco também negavam a autenticidade.

De facto, desconhece-se como e porque razão tais cartas foram parar às mãos do editor Claude Barbin, e, assim, presume-se que possam na verdade consistir em obra de ficção apresentada como não-ficcional para fins publicitários. Mas no seguimento especulativo, há também a considerar porque é que “As Cartas”, escritas em francês, possuem acentuados vestígios de sintaxe portuguesa. Especula-se por isso que estas provêm de uma tradução literal de cartas escritas em português — e perdidas —, ou então compostas por alguém que, conhecendo o idioma francês, não o dominava a ponto de redigi-lo com absoluta perfeição. Na biblioteca dos Alcoforados acharam-se também inúmeros livros em francês, indício provável de que era uma família que se servia frequentemente da língua francesa, pelo menos para leitura. Às “As Cartas” seguiram-se “As Resposta” assinadas por Bouton, e outras demais obras com as mesmas personagens, mas todas essas publicações são efetivamente apócrifas (*) e não têm a mesma qualidade ou tiveram a mesma receção critica do público

Especulou-se que as cartas fossem uma obra de Gabriel de Guilleragues, um diplomata e jornalista francês, secretário do príncipe de Conti, mas a sua autoria portuguesa tem vindo a ser reafirmada. Sejam “As Cartas” verídicas ou não, Mariana Alcoforado, existiu realmente, e o escândalo que houve em torno da sua pessoa também foi verdadeiro.

A sua vida, tornada famosa pelas cartas, foi motivo de inspiração a diversas obras teatrais. Mariana, pela sua vez, com o tempo reabilitou-se da sua tristeza. Pelas boas obras que prestou enquanto freira adquiriu o título de “Soror”(*) e chegou à posição de abadessa do Convento. Morreu já idosa, aos oitenta e três anos de idade em 1723 no Convento da Conceição em Beja.

Referências[editar | editar código-fonte]

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  • Este artigo incorpora texto (em inglês) da Encyclopædia Britannica (11.ª edição), publicação em domínio público. (Esta fonte advoga a autenticidade das cartas.)
  • Sóror Mariana Alcoforado; "Cartas Portuguesas". Europa-América, 1974. 124 págs.
  • Mariana Alcoforado; "Cartas Portuguesas". L&PM Editores, Porto Alegre 1997. 68 págs.
  • Sóror Mariana Alcoforado; "Cartas de Amor". Editora Ausência, 2002. 80 págs.
  • Sóror Mariana Alcoforado (trad. Eugénio de Andrade); "Cartas de uma Freira Portuguesa". Edição bilíngue, RTP, Março de 1980, 80 págs.
  • Lefcourt Charles R. (setembro 1976). «Did Guilleragues Write "The Portuguese Letters"?». Hispania. 59 (3): 493–497. doi:10.2307/340526 
  • Mariana Alcoforado (2020) Cartas portuguesas traduzidas em francês, edição definitiva, fac-símile da edição original com a retroversão de Vitor Amaral de Oliveira, coord. de Filipe Delfim Santos, Canto Redondo, 198 pp.
  • Hilary Owen (1997). «The Love Letters of Mariana Alcoforado». Cultura. 16 (14) 
  • Myriam Cyr - "Letters of a Portuguese Nun: Uncovering the Mystery Behind a Seventeenth-Century Forbidden Love"; Hyperion Books; January 2006; ISBN 07-868-6911-9)
  • Anna Klobucka; "The Portuguese Nun: Formation of a National Myth"; Lewisburg: Bucknell University Press, 2000; ISBN 9780838754658)
  • Museu Regional de Beja — Biografia de Sóror Mariana Alcoforado

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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