Tapete de Arraiolos

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Tapete de Arraiolos

Os tapetes de Arraiolos são tapetes bordados com lã sobre tela de juta ou algodão, tradicionais da vila de Arraiolos, em Portugal. As referências mais antigas à técnica de fabrico de tapetes de Arraiolos datam de finais do século XV.

O Ponto de Arraiolos[editar | editar código-fonte]

O chamado ponto de Arraiolos é um ponto cruzado oblíquo composto por duas meias cruzes, uma das quais tem o dobro do comprimento da outra. Essas duas meias cruzes, que formam um ponto de Arraiolos completo, fazem-se ambas dentro da mesma altura do tecido. Essa altura abrange, geralmente, 2 fios do tecido,no sentido da altura deste. Portanto, a meia cruz mais comprida e a meia cruz menor abrangem, ambas, 2 fios de altura do tecido mas, relativamente ao comprimento do ponto, a meia cruz menor abrange 2 fios e a meia cruz comprida abrange o dobro do comprimento, ou seja, 4 fios. O resultado do cruzamento das duas meias cruzes é a obtenção de um ponto cruzado oblíquo, ou seja, alongado no sentido do seu comprimento, alongamento esse que é feito pela meia cruz comprida[1].

O Bordado de Arraiolos executa-se, geralmente, em três fases que são:

  • 1. Bordar a armação

A armação do bordado é o conjunto dos contornos dos motivos que estão indicados no desenho do tapete. Portanto, principia-se a decoração de um tapete começando por bordar sobre a linhagem os pontos que no desenho indicam os contornos e apenas os contornos dos motivos que constituem a decoração. Quando todos os referidos contornos estão bordados, diz-se que está pronta a armação do tapete.

  • 2. Fazer a matização

A 2ª fase do trabalho é a matização dos motivos. Com lãs de cores diferentes da que foi empregada para bordar a armação, preenchem-se os motivos ou desenhos que já foram contornados. Quando todos os motivos e desenhos estiverem bordados com todas as suas cores, está completa a matização.

  • 3. Preencher os fundos

A terceira fase de trabalho é o preenchimento dos fundos que estão em volta dos motivos e desenhos. Para este trabalho emprega-se a lã da cor ou cores que, previamente, foram escolhidas para os fundos.

História[editar | editar código-fonte]

Século XVII: 1.º período[editar | editar código-fonte]

A confeção dos tapetes de Arraiolos ter-se-á iniciado provavelmente no começo deste período, sendo fruto da curiosidade de artesãs isoladas, ou do trabalho conventual alentejano. Trata-se, porém, de uma hipótese não confirmada até ao presente. Possuíam cores muito bonitas, bem combinadas e em grande número. Os contornos eram bordados a ponto de pé de flor sobre serapilheira. Eram cheios a ponto de Arraiolos mais ou menos perfeito. A barra era feita sem cantos, pois estes eram feitos num quadrado. A franja era feita com agulhas de croché. Nesta época executavam-se tapetes «eruditos» com desenhos preconcebidos muito perfeitos e outros «populares», que eram feitos de forma livre.

A Tapeçaria portuguesa bordada à mão, com o nome de Bordado de Arraiolos, só data oficialmente do princípio do século XVII, mas é permitido supor que já se praticasse muito anteriormente, visto que o ponto cruzado oblíquo (actualmente conhecido em todo o mundo por ponto de Arraiolos) também já se praticava na Península Ibérica desde o século XII.[1].

Exemplo de tapete com contorno bordado a ponto de pé de flor:

Tapete do século XVIII

Caucasiano (sec. XVII 1ª Ep.): Secxvii 1aEpoca.jpg

Século XVII: 2.º período[editar | editar código-fonte]

Os tapetes desta época baseiam-se em tapetes asiáticos (persas, caucasianos, turcos)ou inspirados nos motivos do manuelino. As cores são magníficas, alegres e muito bem combinadas. Os de inspiração persa caracterizam-se por motivos de animais, arabescos muito elegantes presos uns aos outros com sarnentos, medalhões repetitivos, motivos manuelinos com rosetas nós estilizados e cordas. As franjas passaram a ser feitas em pequenos teares. Os contornos começam a deixar de ser em ponto de pé de flor, passando a ser em ponto de arraiolos.

Persa (sec. XVII 2ª Ep.): Secxvii 2aEpoca.jpg

Século XVIII: 1.º período[editar | editar código-fonte]

Neste período os tapetes de Arraiolos, embora fossem de carácter erudito e continuassem a ser executados com motivos orientais como anteriormente, deixam de ser feitos em cores alegres passando a cores mortas, inexplicavelmente, pois não se identificam motivos para isso. Os cantos são a direito.

Secxviii 1aEpoca.jpg

Século XVIII: 2.º período[editar | editar código-fonte]

A indústria caseira dos tapetes de Arraiolos tornou-se florescente dado o elevado número de peças que então foram feitas. Os motivos orientais desapareceram quase por completo cedendo lugar aos motivos florais, vasos com asas, bonecas com penteados altos (como se usavam nesse tempo) e laços à Luís XVI.

Secviii 2aEpoca.jpg  Boneca
 Secxviii 2aEpoca.jpg Regional (Marchas de St. António de Lisboa)

Século XVIII: 3.º período[editar | editar código-fonte]

Após o incremento verificado anteriormente começou a decadência desta indústria artesanal.

Desapareceram totalmente os motivos orientais e as composições pitorescas baseadas na fauna e na flora regional e festas folclóricas, para darem lugar a desenhos simples e repetidos, sobre fundos muito pobres e de cores mortas.

Século XIX[editar | editar código-fonte]

Neste século a indústria dos tapetes de Arraiolos desapareceu quase completamente, embora se tenha executado um restrito número de tapetes feitos por artesãs amadoras isoladas, copiados, em geral, de exemplares feitos nos séculos anteriores. Esta quase extinção deveu-se ao surgimento da era industrial, pois devem ter começado a aparecer tapetes com motivos mais modernos e mais baratos. No entanto os que se manufacturaram eram originais e não menos belos. Tinham poucos desenhos e muito fundo, mas nem por isso deixaram de ser atraentes.

Secxix.jpg

Século XX[editar | editar código-fonte]

Durante os primeiros três quartos deste século a manufactura dos tapetes de Arraiolos como que renasceu num novo impulso. Diversas artesãs, sobretudo donas de casa mais ilustradas, espalhadas pelo país, executaram cópias de tapetes dos séculos XVII, XVIII e XIX. Estas senhoras iam aos museus tirar os riscos. Por esta razão ficou a ideia de que estes eram elaborados com cores esbatidas uma vez que os tapetes antigos estavam já desbotados pelo direito devido à antiguidade. Pelo avesso ainda tinham as cores originais (ver séc XVII). No último quartel deste século os tapetes tomaram novas expressões menos ortodoxas.

Cópia de tapete antigo com alteração de cores
Secxxa.jpg

Modernos:

Secxx Fins.jpg  Secxxc.jpg

Século XXI[editar | editar código-fonte]

Em 2021, a sua confecção entrou para o Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial português. [2][3]

Expansão[editar | editar código-fonte]

Levada para o Brasil pelos portugueses, onde é muito praticada, esta arte é também conhecida em muitos países da Europa, e em algumas partes do Extremo Oriente.

Importância[editar | editar código-fonte]

No Museu Vitória e Alberto de Londres existe um dos mais belos tapetes de Arraiolos do século XVII, que foi comprado por este museu a um fidalgo português no ano de 1895. O referido tapete tem 315 cm de comprimento e 148 cm de largura[4].

Referências

  1. a b Baptista de Oliveira, Fernando (1992). "Tapeçarias Decorativas de Arraiolos", página 15.
  2. Informação, Sul (15 de setembro de 2021). «Confeção do Tapete de Arraiolos já está no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial». Sul Informação. Consultado em 15 de setembro de 2021 
  3. «Matriz PCI - Processo de Confeção do Tapete de Arraiolos». www.matrizpci.dgpc.pt. Consultado em 15 de setembro de 2021 
  4. Baptista de Oliveira, Fernando (1992). "Tapeçarias Decorativas de Arraiolos", página 50.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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