Theodore Dalrymple

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Se procura o ator que interpretou C-3PO nos filmes Star Wars, veja Anthony Daniels (ator).
Anthony Daniels
Theodore Dalrymple
Anthony Daniels (2007)
Pseudônimo(s) Theodore Dalrymple ou Edward Theberton
Nascimento 11 de outubro de 1949 (74 anos)
Londres,
Prémios Freedom Prize [1]
Género literário Ensaio, artigo e romance
Movimento literário Conservadorismo
Magnum opus Nossa cultura... Ou o que restou dela
Religião nenhuma (ateísmo)[2]

Anthony Daniels (Londres, 11 de outubro de 1949) é um médico psiquiatra e escritor britânico, também conhecido pelos pseudônimos Theodore Dalrymple e Edward Theberton, entre outros. Aproveitando a experiência de anos de trabalho em países como o Zimbábue e a Tanzânia, bem como na cidade de Birmingham, na Inglaterra, onde trabalhou como médico em uma prisão, Daniels tem escrito profusamente sobre cultura, arte, política, educação e medicina. Além de seu trabalho em medicina nos países já citados, Anthony Daniels já viajou extensivamente pela África, Leste Europeu, América Latina e outras regiões, descrevendo suas viagens a países comunistas no livro Viagens aos Confins do Comunismo. Dalrymple colabora com veículos como The Times, The Daily Telegraph, The Observer e The Spectator.[3]

Em seus escritos, Daniels argumenta frequentemente que as visões socialmente liberais e progressistas prevalecentes nos círculos intelectuais ocidentais minimizam a responsabilidade dos indivíduos por suas próprias ações e minam os costumes tradicionais, contribuindo para a formação nos países prósperos de uma subclasse afetada por violência endêmica, criminalidade, doenças sexualmente transmissíveis, dependência de bem-estar e abuso de drogas. Grande parte da escrita de Dalrymple é baseada em sua experiência de trabalhar com criminosos e doentes mentais.

Em 2011, Dalrymple recebeu o Prêmio da Liberdade.[1]

Biografia[editar | editar código-fonte]

O pai de Daniels foi um empresário comunista com ascendência russa, e sua mãe uma alemã de origem judaica refugiada na Inglaterra durante o regime nazista.[4]

Trabalhando como psiquiatra, Daniels morou no Zimbabwe, na Tanzânia, na África do sul e no Kiribati, retornando ao Reino Unido em 1990.[5]

No final dos anos 1980, as viagens de Daniels foram direcionadas a países sob regimes comunistas, tendo ido a Albânia, Coreia do Norte, Romênia, Vietnã e Cuba. Seus relatos se culminaram no livro Viagens aos Confins do Comunismo. Essas viagens exerceram influência significativa em sua futura produção literária, oferecendo perspectivas concretas sobre o impacto dos regimes comunistas na saúde mental da população. Suas críticas ao comunismo se acentuaram desde então.

Em 1991 ele fez uma aparição na televisão na série de TV After Dark, sob o pseudônimo de Theodore Dalrymple, onde conviveu com diversos criminosos da Grã-Bretanha.[6] Quanto à escolha do seu novo nome, Dalrymple sarcasticamente disse que “escolheu o nome que soou adequadamente dispéptico e que retrata um homem de idade avançada, olhando desgostoso da janela o estado de degeneração do mundo contemporâneo”.[7]

Principais ideias[editar | editar código-fonte]

Civilização[editar | editar código-fonte]

A civilização, para Dalrymple, não significa necessariamente uma sociedade urbanizada, burocrática. Mas sim um arranjo social que promove excelência intelectual e moral do homem. O contrário de civilização é o barbarismo, abrangendo a tirania, o genocídio, a banalização do mal e o fundamentalismo ideológico-religioso.[8][9]

Theodore acredita que a civilização abrange um largo espectro de atividades: do homem que varre as ruas até o artista. Esse grande conjunto de atividades cooperativas permite ao homem alcançar uma vida material e mental muito superior àquela de que é natural e individualmente dotado. O autor enxerga a atual desconfiança pelo termo "civilização" como um sinal de decadência cultural.[10][11]

O estado natural da condição humana é a pobreza, a ignorância e a anarquia. Apenas com muito esforço e pelo auxílio civilizatório (o que compreende uma série de conhecimentos e tradições herdadas), pode o homem alcançar a riqueza, a inteligência e a tranquilidade. Dalrymple também entende que as conquistas civilizatórias não são imutáveis, podendo ser perdidas com o tempo. Além disso, a repressão de certos instintos e apetites em prol da moderação na conduta humana é condição necessária para a vida em coletividade.[11][12]

Dessa forma, Theodore Dalrymple critica a ideia marxista de evolução histórica, de que o futuro inevitavelmente levará a uma sociedade melhor. Para isso, o autor utiliza o argumento de que as taxas de crimes na Inglaterra subiram em uma proporção muito maior que a população desse país nos séculos XX e XXI. Apesar dos enormes avanços econômicos e de qualidade de vida, mais crimes são cometidos.[13]

Falibilidade Humana[editar | editar código-fonte]

Dalrymple entende que o ser humano é um ser falível, em constante esforço para não cair no vício, no egoísmo e na imoralidade. A concepção religiosa de que o homem é uma criatura permeada de pecados e vícios é muito mais precisa do que a concepção utópica de que seja possível tornar o homem perfeito pela técnica ou pelo simples desenrolar da História.[14][15]

Podres e Mimados[editar | editar código-fonte]

A partir de sua experiência como médico e de sua clara inclinação conservadora, o médico responsabiliza a noção do “Estado de bem-estar social” pela falta de amadurecimento, cada vez mais generalizada em sua opinião.

De acordo com Dalrymple, a sociedade contemporânea embarcou numa concepção preguiçosa de mundo, em uma dimensão onde as fraquezas individuais são estimuladas e onde a ordem política passou a tratar indivíduo como uma criança. Segundo o autor, há vantagens em ser tratado como criança – como a de não ser responsável pela própria experiência, e achar que a “vida ganha” é um direito.[16]

Segundo seu livro Podres e Mimados, na contemporaneidade há uma dissociação da ideia do direito da ideia do dever, e um culto tóxico do sentimentalismo que traz uma degeneração do ser humano. O culto tóxico do sentimentalismo torna o homem cada vez mais violento e a mulher cada vez mais objetificada, em uma espécie de parceria doentia. Dalrymple exemplifica suas ideias com casos clínicos particulares documentados ao longo de sua vida exercendo a psiquiatria.

Para o britânico, a cultura moderna se alimenta de nossos medos, frustrações e riscos. Riscos estes que nos tornam adultos.[17]

Obras publicadas[editar | editar código-fonte]

No Brasil[editar | editar código-fonte]

Vários livros do autor já foram traduzidos para o português:

Em português também há um comentário à sua obra:

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Coups and Cocaine: Two Journeys in South America (1986)
  • Fool or Physician: The Memoirs of a Sceptical Doctor (1987)
  • Zanzibar to Timbuktu (1988)
  • Filosofa's Republic (1989) (published under the pen name Thursday Msigwa)
  • Sweet Waist of America: Journeys around Guatemala (1990)
  • The Wilder Shores of Marx: Journeys in a Vanishing World (published in the U.S. as Utopias Elsewhere) (1991)
  • Monrovia Mon Amour: A Visit to Liberia (1992)
  • If Symptoms Persist: Anecdotes from a Doctor (1994)
  • So Little Done: The Testament of a Serial Killer (1996)
  • If Symptoms Still Persist (1996)
  • Mass Listeria: The Meaning of Health Scares (1998)
  • An Intelligent Person's Guide to Medicine (2001)
  • Life at the Bottom: The Worldview That Makes the Underclass (2001) ISBN 1-56663-382-6
  • Violence, Disorder and Incivility in British Hospitals: The Case For Zero Tolerance (book published by the Social Affairs Unit, 2002) ISBN 0-907631-97-5
  • Our Culture, What's Left of It: The Mandarins and the Masses (2005) ISBN 1-56663-643-4
  • Romancing Opiates: Pharmacological Lies And The Addiction Bureaucracy (2006) ISBN 1-59403-087-1 (published in the U.K. as Junk Medicine: Doctors, Lies and the Addiction Bureaucracy ISBN 1-905641-59-1)
  • Making Bad Decisions. About the Way we Think of Social Problems (2006) (Dr. J. Tans Lecture 2006; published by Studium Generale Maastricht, The Netherlands. Lecture read on Wednesday 15 November 2006. ISBN 978-90-78769-01-9)
  • In Praise of Prejudice: The Necessity of Preconceived Ideas (2007) ISBN 1-59403-202-5
  • Not With a Bang But a Whimper: The Politics and Culture of Decline (US edition) (2008) ISBN 1-56663-795-3
  • Second Opinion. A Doctor's Notes from the Inner City (2009) ISBN 978-1-906308-12-4
  • Not With a Bang But a Whimper: The Politics and Culture of Decline (UK edition; contains three essays that are not in the US edition) (2009) ISBN 978-1-906308-10-0
  • The Examined Life (2010a) ISBN 978-1906308162
  • The New Vichy Syndrome. Why European Intellectuals Surrender to Barbarism (2010b) ISBN 978-1-59403-372-8
  • Vrijheid en oprechtheid (Freedom and integrity), Pelckmans (2011), together with Bart De Wever
  • Mr Clarke's Modest Proposal: Supportive Evidence from Yeovil (2011). Social Affairs Unit. ISBN 978-1904863601
  • Anything Goes (2011). New English Review Press. ISBN 978-0578084893
  • Litter: How Other People's Rubbish Shapes Our Life (2011). Gibson Square Books. ISBN 978-1906142865
  • Farewell Fear (2012). New English Review Press. ISBN 978-0985439477
  • The Pleasure of Thinking: A Journey through the Sideways Leaps of Ideas (2012). Gibson Square Books. ISBN 978-1908096081
  • Threats of Pain and Ruin (2014). New English Review Press. ISBN 978-0991652112
  • Admirable Evasions: How Psychology Undermines Morality (2015). Encounter Books. ISBN 978-1594037870
  • Out into the Beautiful World (2015). New English Review Press. ISBN 978-1943003020
  • Migration, Multiculturalism and its Metaphors: Selected Essays (2016). Connor Court. ISBN 978-1-925501-10-0
  • The Proper Procedure and Other Stories (2017). New English Review Press. ISBN 978-1943003105
  • The Knife Went In: Real-Life Murderers and Our Culture (2018). Gibson Square. ISBN 978-1783341184
  • The Terror of Existence: From Ecclesiastes to Theatre of the Absurd (2018). New English Review Press. ISBN 978-1943003228

Referências

  1. a b Daniel Hannan. «In praise of Flanders, Right-wing intellectuals and Theodore Dalrymple». The Daily Telegraph (em inglês). Consultado em 21 de maio de 2017 
  2. Dalrymple, Theodore. «What the New Atheists Don't See». City Journal. Consultado em 5 de janeiro de 2009 
  3. [1]
  4. Theodore Dalrymple (2005). «Our Culture, What's Left of It». Ivan R. Dee. p. 158 
  5. A bit of a myth, A.M. Daniels, The Spectator, 26 August 1983
  6. «PRISONS - WHICH WAY OUT?». BFI. Consultado em 22 de agosto de 2016. Arquivado do original em 3 de agosto de 2013 
  7. Dalrymple, Theodore. «Where nobody knows your name.». Globe and Mail. Consultado em 22 de agosto de 2016 
  8. dela, Nossa (2015). Nossa Cultura...Ou o que restou dela. São Paulo: É Realizações 
  9. Righi, Maurício G. Theodore Dalrymple, a ruína mental dos novos bárbaros. 1ª edição. Editora É Realizações, p. 47
  10. Dalrymple, Theodore. Nossa Cultura...Ou o que restou dela. 1ª edição. Editora É Realizações. 2015, p.p. 195 e 196.
  11. a b «What We Have to Lose». City Journal. 23 de dezembro de 2015 
  12. Dalrymple, Theodore. Nossa Cultura...Ou o que restou dela. 1ª edição. Editora É Realizações. 2015, p. 201.
  13. «Uma aula de "decliniologia", com Theodore Dalrymple | VEJA.com». VEJA.com. 16 de novembro de 2016 
  14. Dalrymple, Theodore. Nossa Cultura...Ou o que restou dela. 1ª edição. Editora É Realizações. 2015, p.80
  15. «What's Wrong with Twinkling Buttocks?». City Journal. 23 de dezembro de 2015 
  16. 'The Uses of Metaphysical Skepticism', in: In Praise of Prejudice. The Necessity of Preconceived Ideas, p. 6 (capítulo 2).
  17. 'The Law of Conservation of Righteous Indignation, and its Connection to the Expansion of Human Rights', in: In Praise of Prejudice. The Necessity of Preconceived Ideas, p. 68 (capítulo 17).

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Wikiquote
Wikiquote
O Wikiquote possui citações de ou sobre: Theodore Dalrymple