Thomas Ashe

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Thomas Ashe
Nascimento 15 de julho de 1770
Glanesvin
Morte 17 de dezembro de 1835 (65 anos)
Bath
Cidadania Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda
Ocupação escritor

Thomas Ashe (Glanesvin, Irlanda, 15 de julho de 1770Bath, 17 de dezembro de 1835), foi um escritor de viagens e de novelas, de origem irlandesa,[1] que se destacou pelas suas análises do interesse geoestratégico das regiões que visitou. A sua obra sobre os Açores deu origem a uma polémica que se prolongou por boa parte do século XIX.[2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Thomas Ashe nasceu em Glanesvin, um subúrbio de Dublin, o terceiro filho de um oficial na reserva do Exército Britânico (um half-pay officer), descendente de um ramo colateral de uma família cujos ancestrais tinham vindo para a Inglaterra na companhia de Guilherme, o Conquistador. O ascendente direto do pai tinha servido sob as ordens de Guilherme de Orange, na Irlanda, e obtido em prémio uma das propriedades confiscadas a irlandeses.

Com a intenção de seguir a mesma carreia que seu pai, Thomas Ashe alistou-se no exército, tendo sido comissionado como oficial do 83.º Regimento de Infantaria (o 83rd (County of Dublin) Regiment of Foot), um regimento ao tempo aquartelado em Dublin. Tendo passado à reserva pouco depois no posto de capitão, encontrou emprego como representante de interesses financeiros britânicos numa câmara de compensação comercial (counting-house) em Bordéus. Mais tarde passaria a auto-intitular-se como «capitão de Dragões Ligeiros» (captain Light Dragoons), aprentemente uma referência a uma unidade de cavalaria a que jamais pertencera.

Em Bordéus envolveu-se num duelo com o irmão de uma mulher que alegadamente teria sido por ele seduzida, sendo por isso preso durante um curto período. Como os ferimentos sofridos pelo adversário não foram fatais, a acusação foi arquivada, mas, ainda assim, foi obrigado a regressar a Dublin.

Em Dublin conseguiu emprego como secretário da Comissão das Escolas Diocesana e Dotadas (Diocesan and Endowed Schools Commission), mas, endividado, renunciou ao cargo e retirou-se para a Suíça. Passou então vários anos em viagens, vivendo, de acordo com seu próprio relato,[3] de forma livre e sem restrições, e experimentando uma fortuna um tanto duvidosa, marcada por frequentes acusações de fraude e de fuga ao pagamento de dívidas. Essas viagens levaram-no à Madeira, ao Brasil, aos Açores[4] e à então fronteira oeste dos Estados Unidos. No seu regresso a Londres vindo de Pernambuco com paragem na ilha de São Miguel, nos Açores, esteve preso acusado de falsificar letras de câmbio e de fraude, crimes que teria cometido no Brasil e nos Açores.[5]

Foi publicando relatos das suas viagens, incluindo nalguns casos aprofundadas análises geopolíticas dos locais visitados e da sua relação com os interesses do Império Britânico. Deixou umas interessantes memórias, nas quais relata as suas impressões sobre os países visitados. Entre as mais interessantes descrições que publicou contam-se um esboço comercial e geográfico do Brasil e da Madeira,[6] e uma descrição do arquipélago dos Açores.[7] Também se dedicou à escrita de novelas, algumas das quais tiveram considerável sucesso. Merece destaque a obra Spirit of the Book, que teve quatro edições sucessivas.

A sua obra sobre os Açores, que assinou apenas como «T. A. - captain Light Dragoons», foi uma obra polémica no seu tempo,[8][9] tendo em conta que advogava a integração dos Açores na esfera do Império Britânico sob a forma de um protetorado.[10] A obra é composta por um conjunto de 43 «cartas» contendo uma detalhada descrição das ilhas e um conjunto de argumentos visando demonstrar as vantagens da integração do arquipélago no Império Britânico, bem como apresentando sugestões para o seu governo. As cartas são precedidas por um prefácio assinado pelo polémico jornalista e lexicógrafo Joseph Timothy Haydn, que poderá ter sido pelo menos parcialmente seu autor fantasma, e foram publicadas como dedicadas ao político anglo-irlandês Francis Rawdon-Hastings, conde de Moira, então recém-nomeado governador da Índia Britânica. Algumas das considerações de natureza geoestratégica, nomeadamente a utilização da ilha Terceira como ponto de suporte logístico para operações militares, viriam a ter plena concretização no século XX com a instalação da Base das Lajes. A obra foi também inspiração para os movimentos independentistas açorianos do século XIX e inícios do século XX.[11][12]

Nos seus últimos anos Thomas Ashe viveu em circunstâncias financeiras difíceis. Faleceu em Bath, a 17 de dezembro de 1835.

Obras[editar | editar código-fonte]

Para além de registar nas suas Memoirs as impressões de viagem recolhidas nas países que visitou, Thomas Ashe publicou as seguintes monografias:

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «Ashe, Thomas» no Dictionary of National Biography, Volume 2, p. 169.
  2. José Guilherme Reis Leite, «Os Açores e os interesses ingleses no Atlântico durante a Guerra Peninsular» in Arquipélago. História, Número Especial (1988), pp. 101-122.
  3. Thomas Ashe, Memoirs and Confessions, 3 vols. 1815.
  4. Louis-Pierre Bélec, In Search of the Azores: Travels to the Azores in the 19th Century and Early 20th Century. University of Waterloo, 2017.
  5. Carta de William Harding Read, cônsul britânico nos Açores in O Investigador Portuguez em Inglaterra ou jornal literario politico, vol VIII (novembro de 1813), pp. 188-191.
  6. A Commercial and Geographical Sketch of Brazil and Madeira, 1812.
  7. History of the Azores or Western Islands, 1813.
  8. O Correio Braziliense, ou Armazém Literário (1813), VIII, 57 (Fevereiro), pp. 157-165.
  9. João Emanuel Cabral Leite, Estrangeiros nos Açores no século XIX (Antologia), pp. 16-17. Signo, Ponta Delgada, 1991.
  10. History of the Azores, or western Islands; containing an account of the government, laws and religion, the manners, cerimonies, and character of the inhabitants; demonstranting the importance of these valuable islands to the British Empire; illustrated by maps and other engravings. London : printed for Sherwood, Neely and Jones, Paternoster Row, 1813. - vii, v, 310 p. : il, grav., mapas ; 4º (26 cm).
  11. «Ashe, Thomas» na Enciclopédia Açoriana.
  12. José Guilherme Reis Leite, «Uma polémica sobre política atlântica no século XIX : os Açores e o Império Britânico», In I Simpósio Interdisciplinar de Estudos Portugueses (Actas), vol. I, pp. 289-317. Lisboa, Universidade Nova, 1985.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]