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Thylamys velutinus

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Como ler uma infocaixa de taxonomiaThylamys velutinus[1]

Estado de conservação
Quase ameaçada
Quase ameaçada (IUCN 3.1) [2]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Infraclasse: Marsupialia
Ordem: Didelphimorphia
Família: Didelphidae
Subfamília: Didelphinae
Gênero: Thylamys
Espécie: T. velutinus
Nome binomial
Thylamys velutinus
Wagner, 1842
Distribuição geográfica

Thylamys velutinus (nome popular: Gambá-rato-anão-de-cauda-gorda ou Catita) é uma espécie de cuíca endêmica do Brasil. Apresenta hábito exclusivamente noturno e ocorre em áreas abertas do Cerrado e na transição entre esse bioma e a Mata Atlântica[3].Thylamys é um gênero de marsupial da família dos didelfídeos (Didelphidae), o termo “velutinus” vem do latim “velutinae” que significa aveludado[4].Portanto, o nome desse marsupial é dado em referência a textura de sua pelagem. Sugere-se que seja um animal semi-arborícola ou exclusivamente terrestre. A espécie é considerada insetívora-onívora, ou seja, alimenta-se de artrópodes, frutas e pequenos vertebrados[3].  

É um marsupial de pequeno porte e se diferencia dos outros subtipos justamente por seu tamanho mais reduzido. Tem comprimento total variando entre 79 e 110mm, cauda mais curta que o comprimento da cabeça e do corpo (entre 65 e 91mm) e pode pesar de 13 a 36g [5]. Com pelagem marrom-avermelhada no dorso e creme-esbranquiçada no ventre, o Thylamys velutinus apresenta uma faixa de pelos escura ao redor dos olhos e uma cauda avolumada que serve como reservatório de gordura. Junto com Thylamys karimii, distingue-se pela cauda curta, ausência de ponta preênsil, pés pequenos e garras longas [5]. As alterações climáticas (secas e úmidas) das savanas no período Pleistoceno podem ter desencadeado o isolamento e a especiação de T. velutinus nas áreas de Cerrado brasileiras [6].

T. velutinus está inserida, desde 2021, na lista vermelha de espécies em extinção da IUCN na categoria “quase ameaçado” (Near-Threatened), significando que pode ser vulnerável à extinção em um futuro próximo[2]. Ademais, foi citada na lista do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) em 2014 como “vulnerável” (VU), mas em 2023 foi publicada como “menos preocupante” (LC)[7]. A principal ameaça à espécie é a conversão de áreas nativas para a produção agrícola, principalmente de soja, e pecuária, além de incêndios de origem antrópica. E, embora a perda e degradação de habitat seja alarmante, não há evidências de declínio populacional que justifiquem sua classificação como espécie ameaçada.

Distribuição Geográfica e Habitat

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De modo geral, o gênero Thylamys possui ambientes xéricos, sazonais, áreas semiáridas e montanhas como habitats preferenciais. Esses mamíferos apresentam cauda com maior acúmulo de gordura, característica semelhante a de espécies de regiões mais desérticas e sazonais[8] [9]. Devido a morfologia, sugerem que o gênero Thylamys, com cauda curta e garras desenvolvidas, ocupe estratos arbóreos e arbustivos de forma mais limitada, quando comparado com outros pequenos didelfídeos, classificando-se como uma espécie semi-arborícola[3]. Pelas observações pessoais de E. M. Vieira, a espécie parece não utilizar o estrato arbóreo como refúgio em seguida soltura pós-captura. Indivíduos dessa espécie fogem paro o solo, mesmo quando soltos diretamente no tronco de árvores no Cerrado[3].

Definiu-se em 2005 a espécie como sendo exclusiva do sudeste do Brasil[10]. Porém, há registros da presença desse marsupial, a partir de estudos ecológicos, no Brasil Central. A presença do T. velutinus no bioma Mata Atlântica ainda é questionada. Os registros anteriormente conhecidos (Ipanema - SP e Lagoa Santa - MG) são de áreas de transição entre Mata Atlântica e Cerrado que possuem mosaicos de vegetação aberta e florestal. Em coletas realizadas no bioma Mata Atlântica, mais especificamente de 40 locais amostrados[11], não foi obtido nenhum registro. Tendo em vista a presença da espécie no Cerrado, espera-se que T. velutinus tenha sido encontrado em áreas abertas na faixa de transição, portanto em áreas similares a desse bioma.

Essa espécie parece ter distribuição restrita nas áreas sul e central do bioma Cerrado, tendo em vista os registros feitos em São Paulo e Minas Gerais[12], Distrito Federal[13] e no Estado de Goiás [14] [15]. Há registros de T. velutinus em fitofisionomias do Cerrado sensu stricto[13] e campo sujo[5]. O acúmulo de gordura na cauda, considerado uma adaptação a ambientes relativamente xéricos e sazonais[8]. T. velutinus estaria adaptado as condições climáticas sazonais do Cerrado, com período de estiagem bem definido. A abundância da espécie em áreas em estágios iniciais de sucessão pós-fogo é maior, visto que se caracterizam por áreas com condições ainda menos favoráveis pela ausência de vegetação arbustiva e graminóide desenvolvida[3].

Taxonomia e Evolução

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 A espécie foi descrita em 1842, por Johann Andreas Wagner, como Marmosa velutinus. Anteriormente, acreditava-se que o gênero Thylamys era incluso no grupo elegans dentro do gênero Marmosa, junto com outros quatro grupos: microtarsus, noctivaga, murina e cinerea[3]. Após comprovação científica, esses grupos foram elevados à categoria de gênero sendo um deles o Thylamys que se diferencia dos espécimes de Marmosa pela presença de garras longas e de caudas que acumulam gordura e são menos compridas que o corpo. Os dois gêneros são caracterizados por marsupiais que possuem máscaras escuras ao redor dos olhos. Em 1933, no trabalho de George Henry Hamilton Tate, a espécie foi renomeada como Thylamys velutinus, sendo incluída no novo gênero descrito[16].

Comportamento e Ecologia

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Thylamys velutinus é considerado como uma espécie exclusivamente noturna com pico de atividade logo após o crepúsculo e com declínio na atividade ao longo da noite, de acordo com características de espécies de pequenos mamíferos insetívoros[17]. Por serem mamíferos de pequeno porte, T. velutinus podem facilmente ser predados por outras espécies maiores, com registros confirmados, como corujas (Coruja-buraqueira, Coruja-das-torres e Corujão-orelhudo)[18][19].

É tido como uma espécie insetivo-onívora, assim como as espécies do mesmo gênero T. macrurus e T. karimii. Possuem dietas compostas por outros animais (74,4%– composta principalmente por artrópodes) e vegetais (26,6%)[3]. Frutas, insetos e filhotes de camundongos compõem a dieta desses animais[13]. As estimativas do território para os indivíduos de velutinus são poucas. Porém, no Cerrado, T. velutinus possui o território com variação de 1,70 ha a 2,28 ha[13].

Reprodução e Ciclo de vida

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Segundo Carmignotto e Monfort (2006)[5], não foi possível avaliar o dimorfismo sexual da espécie. Espera-se que as características de machos e fêmeas para a espécie T. kamimii se apliquem para T. velutinus. Fêmeas de Thylamys karimii apresentam garganta e barriga amareladas; machos possuem ventres esbranquiçados. O dimorfismo é mais perceptível na estação chuvosa, quando, provavelmente, é a época reprodutiva da espécie. O gênero Thylamys é marcado por reprodução fortemente sazonal, o que é esperado diante dos habitats que vivem.  

Referências Bibliográficas

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  1. Gardner, A.L. (2005). «Order Didelphimorphia». In: Wilson, D.E.; Reeder, D.M. Mammal Species of the World 3º ed. Baltimore: Johns Hopkins University Press. ISBN 978-0-8018-8221-0. OCLC 62265494 
  2. a b Carmignotto, A.P.; Astúa, D. (2021). Thylamys assessment) (em inglês). IUCN 2021. Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN. 2021. Página visitada em 05 de fevereiro de 2025..
  3. a b c d e f g Palma e Vieira, Alexandre R. T. e Emerson M. (2012). «O gênero Thylamys: Avanços e lacunas no conhecimento» (PDF). Reserch gate. O gênero Thylamys: Avanços e lacunas no conhecimento. Consultado em 5 de fevereiro de 2025 
  4. Hannibal, Wellington; Zortéa, Marlon; Calaça, Analice M.; Carmignotto, Ana Paula; Bezerra, Alexandra M. R.; Carvalho, Henrique G.; Bonvicino, Cibele R.; Martins, Ana C. M.; Aguiar, Ludmilla M. S. (2021). «Checklist of mammals from Goiás, central Brazil». Biota Neotropica (3). doi:10.1590/1676-0611-BN-2020-1173. Consultado em 5 de fevereiro de 2025 
  5. a b c d Carmignotto, Ana Paula; Monfort, Talitha (1 de janeiro de 2006). «Taxonomy and distribution of the Brazilian species of Thylamys (Didelphimorphia: Didelphidae) / La taxonomie et la distribution des espèces brésiliennes du genre Thylamys (Didelphimorphia: Didelphidae)». Mammalia (1-2). ISSN 0025-1461. doi:10.1515/MAMM.2006.013/html. Consultado em 5 de fevereiro de 2025 
  6. Palma, R.E. (1995). «Range expansion of two South American mouse opossums (Thylamys, Didelphidae) and their biogeographic implications.». Revista Chilena de Historia Natural (68): 515-522. Consultado em 5 de fevereiro de 2025 
  7. Ministério do Meio Ambiente (16 de junho de 2023). «Lista de Espécies Ameaçadas». Consultado em 5 de fevereiro de 2025 
  8. a b Creighton, G. K. «Phylogenetic inference, biogeographic interpretations, and the pattern of speciation in Marmosa (Marsupialia: Didelphidae)». Acta Zool. Fennica. v. 170: p. 121-124, 1885 
  9. Harris, J. H. (1987). «Variation in the Caudal Fat Deposit of Microdipodops megacephalus». Journal of Mammalogy (1): 58–63. ISSN 1545-1542. doi:10.2307/1381045. Consultado em 5 de fevereiro de 2025 
  10. Gardner, A. L. (2005). Order Didelphimorphia. in: Mammal species of the world– a taxonomic and geographic reference. [S.l.: s.n.] p. 3-18 
  11. Monteiro Vieira, Emerson (1999). «Estudo comparativo de comunidades de pequenos mamíferos em duas áreas de mata atlantica situadas a diferentes altitudes no sudeste do Brasil». Consultado em 5 de fevereiro de 2025 
  12. Tate, G. H. H (1933). «A systematic revision of the marsupial genus Marmosa : with a discussion of the adaptive radiation of the murine opossums (Marmosa)». American Museum of Natural History. v. 66, article 1. Consultado em 5 de fevereiro de 2025 
  13. a b c d Vieira, E. M.; Palma, A. R. T. (1996). «Natural history of Thylamys velutinas (Marsupiali, Didelphidae) in Central Brazil». Mammalia (3). ISSN 1864-1547. doi:10.1515/mamm-1996-0313. Consultado em 5 de fevereiro de 2025 
  14. Rodrigues, Flávio H.G.; Silveira, Leandro; Jácomo, Anah T.A.; Carmignotto, Ana Paula; Bezerra, Alexandra M.R.; Coelho, Daniela Cunha; Garbogini, Hamilton; Pagnozzi, Juliana; Hass, Adriani (2002). «Composição e caracterização da fauna de mamíferos do Parque Nacional das Emas, Goiás, Brasil». Revista Brasileira de Zoologia (2): 589–600. ISSN 0101-8175. doi:10.1590/s0101-81752002000200015. Consultado em 5 de fevereiro de 2025 
  15. BONVICINO, C. R.; LINDBERGH, S. M.; MAROJA, L. S. (2002). «Small non-flying mammals from conserved and altered areas of Atlantic Forest and Cerrado: comments on their potencial use for monitoring environment». Brazilian Journal of Biology (4b): 765–774. ISSN 1519-6984. doi:10.1590/s1519-69842002000500005. Consultado em 5 de fevereiro de 2025 
  16. Tate, G.H.H. (1933). Systematic revision of genus Marmosa. New York: Bulletin of The American Museum of Natural History. pp. 1–250 
  17. Vieira, Emerson Monteiro; Baumgarten, Leandro Cláudio (1995). «Daily activity patterns of small mammals in a cerrado area from central Brazil». Journal of Tropical Ecology (2): 255–262. ISSN 0266-4674. doi:10.1017/s0266467400008725. Consultado em 5 de fevereiro de 2025 
  18. Jaksié, F. M.; Jiménez, J. E.; Castro, S. A.; Feinsinger, P. (1992). «Numerical and functional response of predators to a long-term decline in mammalian prey at a semi-arid Neotropical site». Oecologia (1): 90–101. ISSN 0029-8549. doi:10.1007/bf00319020. Consultado em 5 de fevereiro de 2025 
  19. Abreu, M. F. G. (2000). «Presença de duas espécies simpátricas de Thylamys (Didelphidae, Marsupialia) no sudoeste da Bahia». XXIII Congresso Brasileiro de Zoologia, Cuiabá. Anais: p. 601