Tito Chingunji

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Pedro Ngueve Jonatão "Tito" Chingunji (Catabola, 28 de maio de 1955 — Jamba-Cueio, 1991) foi um administrador, militar e diplomata angolano. Serviu no departamento de Negócios Estrangeiros da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) de 1979 a 1991, sendo o mais importante nome do partido diante do ocidente durante a década de 1980 e o início da de 1990.

Liderou a famosa ala do Planalto (ou do Huambo) nas estruturas da UNITA, que fazia oposição à Jonas Savimbi.[1][2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Tito Chingunji era filho de Eduardo Jonatão Chingunji, um professor e educador das escolas da Missão da Chissamba, que foi importante líder anticolonial.[3] Sua mãe chamava-se Violete Jamba Costa Chitundo.[4] Seus irmãos eram David Chingunji e Kafundanga Chingunji, também lideranças anticoloniais.[3] Tito, seu pai e seus irmãos são chamados "os patriarcas da família Chingunji". Fundaram uma dinastia política influente utilizando como base territorial o Planalto Central de Angola.[5] Sua irmã gêmea, Helena Jamba Chingunji dos Santos, era casada com outra liderança da UNITA, Wilson dos Santos.[3]

Recebeu sua educação primária na Missão Evangélica de Chissamba, na província do Bié.[4] Fez seus estudos secundários na cidade de Luena.[4] Foi preso pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) em Luena por causa das atividades políticas de seu pai, Eduardo Chingunji, e de seu irmão mais velho, Kafundanga Chingunji.[4] Foi internado nas cadeias de Moçâmedes pela PIDE.[4]

Liberto da prisão, matricula-se na Escola Comercial e Industrial de Moçâmedes e forma-se em administração e comércio.[4] Trabalha por um curto período nesta cidade.[4]

Em agosto de 1974 filia-se à UNITA na vila de Sacalemba, no Moxico, sendo integrado primeiramente na ala armada Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA).[4] Entre 1976 e 1978 passa por seguidos treinamentos militares nas bases do partido e é selecionado para a servir como guarda-costas de Savimbi, o líder da UNITA.[4]

Em 1979 é nomeado como representante do partido para o norte da África,[4] e em 1980 secretário-assistente de negócios estrangeiros da UNITA em Paris[4] e em Londres.[4] Neste período torna-se fluente em inglês e francês.[3]

Em 1982 torna-se vice-secretário dos negócios estrangeiros da UNITA[4] e dois anos depois secretário permanente dos negócios estrangeiros.[4] Em 1986, no 6º Congresso da UNITA, torna-se chefe dos negócios estrangeiros da UNITA[4] e representante-geral da UNITA em Washington, D.C..[4] O mesmo congresso atribuiu-lhe a patente de brigadeiro das FALA.[4]

Morte[editar | editar código-fonte]

Estava trabalhando nas estruturas do partido nos Estados Unidos quando foi convocado por Savimbi para comparecer na localidade de Jamba-Cueio.[3] Ali foi acusado de ter tido um caso com Ana Paulino Savimbi (justamente era sua antiga noiva), uma das esposas de Jonas Savimbi, e de liderar uma intentona contra este.[3] O jornalista britânico Fred Bridgland, biógrafo do líder da UNITA Jonas Savimbi, afirmou que temendo um concorrente pelo controle da UNITA, tramou uma emboscada e ordenou o assassinato de Tito[6] ao saber que os estadunidenses haviam o indicado como líder sucessor na liderança da UNITA.[3] Foi assassinado às catanadas pelas tropas do guarda-costas savimbista Kamy Pena.[3] Também foram mortos no episódio sua irmã Helena Jamba Chingunji dos Santos, sua ex-noiva Ana Paulino Savimbi, seu cunhado Wilson dos Santos, a esposa de Tito (Raquel "Romy" Matos) e os três filhos de Tito com Romy.[3] Antes de sua morte, Romy inclusive foi obrigada a manter relacionamento com Savimbi, mesmo ainda casada com Tito.[7]

Além de Fred Bridgland, na década de 1990, o Ministro das Relações Exteriores da UNITA, Tony da Costa Fernandes, e o Ministro do Interior da UNITA, general Miguel N'Zau Puna, descobriram e tornaram público o facto de Jonas Savimbi ter ordenado os assassinatos de Santos e Tito Chingunji.[8][9] As mortes de Wilson dos Santos e Tito e as deserções de Fernandes e Puna enfraqueceram as relações da UNITA com os Estados Unidos[8] e prejudicaram a reputação internacional de Savimbi.[8] Savimbi negou as acusações.[10]

Referências

  1. Brittain, Victoria (1998). Death of Dignity: Angola's Civil War. pp. 17–19.
  2. Tomás Diel Melícias (2017). O Feitiço do Moderno: Jonas Savimbi e seus projetos de nação angolana (1966-1988) (PDF). Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 
  3. a b c d e f g h i A saga dos Chingunji. Nação Ovimbundo. 7 de julho de 2009.
  4. a b c d e f g h i j k l m n o p q UNITA (1990). The UNITA Leadership. Jamba: União Nacional para a Independência Total de Angola. p. 17-18 
  5. Brittain, Victoria (1998). Death of Dignity: Angola's Civil War. [S.l.: s.n.] 17 páginas 
  6. «UN prepares to withdraw MONUA». OCHA/UN. Angola Peace Monitor Issue. 5 (5). 22 de janeiro de 1999 
  7. As mulheres como o calcanhar de aquiles de Jonas Savimbi. Nação Ovimbundo. 7 de setembro de 2009.
  8. a b c Marcelo Bittencourt Ivair Pinto (julho de 2016). «As eleições angolanas de 1992». Irati. Revista TEL. 7 (2): 170-192. ISSN 2177-6644 
  9. «Savimbi accepts responsibility for death of two UNITA officials». UPI (em inglês). Consultado em 28 de novembro de 2019 
  10. Meredith, Martin (2005). The Fate of Africa: From the Hopes of Freedom to the Heart of Despair: A History of 50 Years of Independence. [S.l.: s.n.]