Apuim-de-costas-pretas

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Exemplar fotografado em Ubatuba, em São Paulo
Exemplar fotografado em Ubatuba, em São Paulo
Espécime estampado em um selo postal do Brasil de 1980
Espécime estampado em um selo postal do Brasil de 1980
Estado de conservação
Espécie vulnerável
Vulnerável (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Psittaciformes
Família: Psittacidae
Género: Touit
Espécie: T. melanonotus
Nome binomial
Touit melanonotus
(Wied, 1939)
Distribuição geográfica
Distribuição do apuim-de-costas-pretas
Distribuição do apuim-de-costas-pretas

O Apuim-de-costas-pretas[2] ou tiê-bicudo (nome científico: Touit melanonotus)[3] é uma ave da família dos psitacídeos (Psittacidae), endêmica Brasil.

Etimologia[editar | editar código-fonte]

Tiê (ou tié), que compõe parte de um de seus nomes populares, deriva do tupi ti'ye que em sentido definido designa pássaros da família dos traupídeos (Thraupidae).[4] Foi registrado a primeira vez em 1594 como tie.[5]

Distribuição[editar | editar código-fonte]

Segundo a estimativa mais recente, de 2014, é assumido que o apuim-de-costas-pretas deva englobar menos de 10 mil espécimes maduros, com menos de mil subdivididos em cada subpopulação. Por consequência, é tido que sua população está em declínio. Está confinado na Bahia, na região sudeste (Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo) e Paraná. É errante no Rio de Janeiro e em São Paulo houve registro em seis locais ao sul da ilha do Cardoso.[6] Especialmente na Bahia, não havia registros da espécie desde o século XIX. Os primeiros registros no Pará foram feitos em 1997 e atualmente estão presentes em sete localidades, entre as quais a Reserva Natural Salto Maroto e a Reserva Bicudinho-do-brejo. Atualmente se sabe que o primeiro registro no Paraná, na verdade, era de outra espécie, ou seja, o cuiú-cuiú (Pionopsitta pileata). Seu avistamento desde o século XIX sempre foi considerado bastante raro devido às baixas densidades e sua natureza discreta, o que contribuiu à escassez dos registros. O ressurgimento dos avistamentos a partir de meados da década de 1980, e sua descoberta no Espírito Santo, deveu-se ao conhecimento de seus chamados.[1][7]

Ecologia[editar | editar código-fonte]

O apuim-de-costas-pretas é mais conhecido da floresta perene de baixa altitude a 500-1 200 metros (1 600-3 900 pés), mas também até 1 400 metros (4 600 pés) no Parque Nacional do Itatiaia. Além disso, é encontrado próximo ao nível do mar na Bahia e em São Paulo.[6][8] Suspeita-se de migração ou dispersão sazonal, embora isso possa representar pouco mais do que pequenos movimentos altitudinais. Os itens alimentares são pouco estudados, mas incluem grandes sementes de leguminosas, frutos de copororoca (Myrsine umbellata), Clusia sp. e erva-de-passarinho.[7] Foi observado alimentando-se de Clusia criuva onde supostos adultos arrancam o fruto da árvore cortando o talo com o bico e carregam o fruto para um local mais seguro em um galho mais firme, onde abrem o fruto com o bico encaixando-o no galho, retirando as sementes com sua língua; não usam os pés em nenhum momento no processo de alimentação, como alguns outros psitacídeos fazem. Alguns indivíduos que se presume serem pássaros jovens foram vistos comendo os frutos in situ e não os arrancaram. Suspeita-se que a reprodução ocorra de setembro a outubro. Aves jovens bem crescidas foram observadas sendo alimentadas por adultos em Ubatuba, no estado de São Paulo, em janeiro de 2010. Aves jovens podem ser diferenciadas por seu anel orbital mais pálido e sua cera sendo da cor da carne em oposição ao cinza escuro nos adultos.[1][8]

Conservação[editar | editar código-fonte]

Conversão agrícola e desmatamento para mineração e plantações ameaçaram historicamente seus habitats. As principais ameaças atuais são a urbanização, a expansão agrícola, a colonização e a construção de estradas associadas. Foi colocado no Apêndice II da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES).[1] Em 2005, foi registrado como em perigo na Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo;[9] em 2011, como criticamente em perigo Lista das Espécies da Fauna Ameaçada de Extinção em Santa Catarina;[10] em 2014, como em perigo no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção no Estado de São Paulo[11] e vulnerável na Portaria MMA N.º 444 de 17 de dezembro de 2014;[12] em 2017, como criticamente em perigo na Lista Oficial das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção do Estado da Bahia;[13] e em 2018, como vulnerável Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção 2014 do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).[3][14] É protegido pela legislação brasileira e ocorre em várias áreas de preservação: Parques Estaduais do Desengano e Pedra Branca, Parques Nacionais de Itatiaia, Serra dos Órgãos e Tijuca (Rio de Janeiro); Estação Experimental de Ubatuba, Área de Proteção Ambiental de Iguape, Parques Estaduais da Serra do Mar, Ilha do Cardoso e Intervales (São Paulo); Reserva Natural Salto Morato e Reserva Bicudinho-do-brejo (Paraná).[1]

Referências

  1. a b c d e BirdLife International (2016). «Touit melanonotus». Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. 2016: e.T22686037A93097352. doi:10.2305/IUCN.UK.2016-3.RLTS.T22686037A93097352.enAcessível livremente. Consultado em 15 de abril de 2022 
  2. Paixão, Paulo (Verão de 2021). «Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo» (PDF) 2.ª ed. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. p. 182. ISSN 1830-7809. Consultado em 13 de janeiro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 23 de abril de 2022 
  3. a b «Touit melanonotus (Wied, 1939)». Sistema de Informação Sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Consultado em 15 de abril de 2022. Cópia arquivada em 9 de julho de 2022 
  4. Grande Dicionário Houaiss, verbete tiê
  5. Grande Dicionário Houaiss, verbete tié
  6. a b Wege, David C.; Long, Adrian J. (1995). Key Areas for Threatened Birds in the Neotropics. Col: BirdLife Conservation Series. 05. Cambrígia: BirdLife International. ISBN 978-0-946888-31-3  Verifique o valor de |name-list-format=amp (ajuda)
  7. a b Willis, E. O.; Oniki, Y. (1993). «New and reconfirmed birds from the state of São Paulo, Brazil, with notes on disappearing species» (PDF). Bulletin of the British Ornithologists' Club. 113: 23–34  Verifique o valor de |name-list-format=amp (ajuda)
  8. a b Simpson, R.; Simpson, E. (2012). «Behavioural notes on Brown-backed Parrotlet Touit melenonotus in Ubatuba, Sao Paulo, Brazil». Cotinga. 34: 19–23  Verifique o valor de |name-list-format=amp (ajuda)
  9. «Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo». Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA), Governo do Estado do Espírito Santo. Consultado em 7 de julho de 2022. Cópia arquivada em 24 de junho de 2022 
  10. Lista das Espécies da Fauna Ameaçada de Extinção em Santa Catarina - Relatório Técnico Final. Florianópolis: Governo do Estado de Santa Catarina, Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável, Fundação do Meio Ambiente (FATMA). 2010 
  11. Bressan, Paulo Magalhães; Kierulff, Maria Cecília Martins; Sugleda, Angélica Midori (2009). Fauna Ameaçada de Extinção no Estado de São Paulo - Vertebrados (PDF). São Paulo: Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SIMA - SP), Fundação Parque Zoológico de São Paulo. Consultado em 2 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 25 de janeiro de 2022 
  12. «PORTARIA N.º 444, de 17 de dezembro de 2014» (PDF). Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), Ministério do Meio Ambiente (MMA). Consultado em 24 de julho de 2021. Cópia arquivada (PDF) em 12 de julho de 2022 
  13. «Lista Oficial das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção do Estado da Bahia.» (PDF). Secretaria do Meio Ambiente. Agosto de 2017. Consultado em 1 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 2 de abril de 2022 
  14. «Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção» (PDF). Brasília: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério do Meio Ambiente. 2018. Consultado em 3 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 3 de maio de 2018