Transferência reversa de calor

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Uma barra de metal incandescente transfere calor ao ambiente, principalmente por radiação térmica e também, em menor quantidade, por convecção.

Em física, transferência, transmissão ou propagação de calor, algumas vezes citada como propagação ou transferência térmica, é a transição de energia térmica de uma massa (corpo) mais quente para uma massa mais fria. Noutras palavras, é a troca de energia calorífica entre dois sistemas de temperaturas diferentes.

O Problema Direto[editar | editar código-fonte]

Consideremos a transferência de calor transiente em uma parede plana de espessura L. A distribuição de temperatura inicial é dada por F(x). Para um determinado instante t > 0, o fluxo de calor transiente f(t) é aplicado na fronteira em x = 0, enquanto que em x = L é mantida a uma temperatura TL constante. A formulação matemática para esse problema é dado por:

→ em 0<x<L → para t>0 → (1.1)
→ em x = L → para t>0 → (1.2)
→ em t = 0 → para t > 0 → (1.3)
→ em t = 0 → para 0 < x < L → (1.4)

Para esse caso as condições de contorno F(t) e TL, a condição inicial F(x), e as propriedades termofísicas , e k são todas especificadas, a solução da Eq. (1.1) com as condições de contorno dadas pelas Eqs. (1.2) a (1.4) fornece a distribuição de temperatura T(x,t) no interior da região sólida da parede, em função da posição e do tempo. Essa formulação é denominada de Problema Direto.

O Problema Reverso[editar | editar código-fonte]

Vamos considerar agora uma situação similar a anterior, mas agora a condição de contorno para x = 0, F(t) é desconhecida, enquanto que as demais quantidades que aparecem na Eq. (1.1), tais como , F(x), k, e são conhecidas. O objetivo é determinar a função F(t). Para compensar a falta de informação referente a condição de contorno em x = 0, medimos a temperatura para um determinado tempo no interior da parede em diferentes tempo (i = 1, 2, ...., I), no intervalo , onde é o tempo final. Este é um problema inverso, pois está preocupado com a estimativa da função F(t) desconhecida na superfície. Aqui, a estimativa é a terminologia usada no lugar de determinação. A razão é que os dados de temperatura medidos utilizados na análise inversa contêm erros de medição. Como resultado, a quantidade determinada pela análise inversa não é exata, mas é apenas uma apenas uma estimativa dentro dos erros de medição. A formulação matemática para o Probeme Inverso é dada por:[1]

→ em 0<x<L → para t>0 → (1.5)
desconhecida → em x = L → para t>0 → (1.6)
→ em t = 0 → para t > 0 → (1.7)
→ em t = 0 → para 0 < x < L → (1.8)

A temperatura medida no interior do corpo, localizada em xm para diferentes tempos é dada por:

→ em → para → (1.9)

O objetivo principal do problema direto é determinar o perfil de temperatura T(x,t) no sólido, quando todas as variáveis são conhecidas, tais como: condições de contorno e seus parâmetros, condições iniciais, propriedades termofísicas, entre outras. Enquanto que no problema inverso, o objetivo é estimar uma ou mais variável desconhecida, através do conhecimento da temperatura em alguma seção no meio do corpo sólido. No problema direto as causas são dadas e o efeito é determinado, enquanto que no problema inverso o efeito é conhecido e a causa estimada.

Parâmetros de Forma[editar | editar código-fonte]

Problemas inversos podem ser resolvidos com a estimativa de um parâmetro na forma de uma função. Se alguma informação sobre a forma funcional dessa função esta disponível, o problema é reduzido a estimativa de alguns parâmetros. Vamos considerar o problema inverso e as condições de contorno especificadas pelas Eqs. (1.5) a (1.8) e assumir que a função desconhecida F(t) pode ser representada por um polinômio em função do tempo dado por:

→ (1.10)

onde , são constantes desconhecidas e é uma função de estudo. Uma vez que, o objetivo do problema inverso é estimar a função F(t), o problema resume-se a estimar um número finito do parâmetro , onde o número N de parâmetros é previamente definido.

Dificuldades na Solução de Problemas de Transferência de Calor Reversa[editar | editar código-fonte]

Para ilustrar as dificuldades presentes na solução de problemas de transferência de calor reversa, vamos considerar um sólido semi-infinito (0 < x < ∞) inicialmente a uma temperatura de zero gruas Celsius. Para um t > 0, a superfície em x = 0 esta sujeita a um fluxo de calor representado pela equação:

→ (2.1)

onde e ω representam a amplitude e a frequência de oscilação do fluxo de calor, respectivamente, e t é a variável tempo. Após o término da fase transiente, a distribuição de temperatura no sólido é dado por: [2], [3]

→ (2.2)

onde é a difusividade térmica e k a condutibilidade térmica do sólido. A Eq. (2.2) mostra que a resposta da temperatura é defasada em relação à excitação do fluxo de calor na superfície do corpo, ficando mais pronunciada para pontos localizados mais no interior do corpo. O registro a temperatura indica a necessidade de medidas tomadas depois do momento em que o fluxo de calor é aplicado, se for para ser estimado.

A amplitude para oscilação da temperatura em alguma localização, |∆T(x)|, é obtido fazendo o termo

→ (2.3)

A Eq. (2.3) mostra que |∆T(x)| diminui exponencialmente com o aumento da profundidade abaixo da superfície e com o aumento da frequência ω. A amplitude do fluxo de calor,, pode ser estimado usando diretamente a temperatura medida em um ponto no interior do corpo sólido, algum erro na medida de |∆T(x)| será aumentado exponencialmente com a profundidade x e a frequência ω, como mostra a equação.

→ (2.4)

É fácil perceber que, a fim de ser capaz de estimar o fluxo de calor de fronteira, um sensor deve estar localizado dentro de uma profundidade abaixo da superfície onde a amplitude da oscilação da temperatura é muito maior do que a medição dos erros. Caso contrário, é impossível distinguir se a oscilação da temperatura medida é devido a mudanças no fluxo de calor na fronteira ou devido aos erros de medição, resultando dessa maneira na não solução do problema inverso. A discussão acime revela que, dependendo da localização do sensor e da frequência das oscilações, a solução do problema inverso pode tornar-se muito sensível a erros de medição nos dados de entrada. Uma vez que a precisão da solução obtida pelo problema inverso é afetada por erros envolvido na medição da temperatura, apresentamos a seguir oito hipóteses padrão proposta por Beck [4], [5],[6], em relação a descrição estatística dos erros.

1. Erros aditivos

onde é a temperatura medida, , é a temperatura atual e o erro aleatório.

2. O erro da temperatura tem uma média zero, isto é , onde E é o valor esperado do operador. O erro pode ser dito estabilizado.

3. A variância do erro é dada por no qual a média da variância de é independente das medições.

4. Os erros associados a medições diferentes não são correlacionados. Dois erros de medição e , onde i≠j, estão correlacionados, se a covariância de e for zero.

para i≠j.

5. Os erros medidos tem uma distribuição normal (Gaussiana), a distribuição de probabilidade é dada por:

6. O parâmetro estatístico , bem como , são desconhecidos.

7. As únicas variáveis que contém erros aleatórios são as temperaturas medidas. Os tempos de medição, posições de medição, as dimensões do corpo e todas os demais parâmetros que aparecem na formulação do problema inverso são todos conhecidos com precisão.

8. Não há nenhuma informação prévia sobre as quantidades a serem estimadas, que podem ser parâmetros ou funções. Se a informação existe, ela pode ser utilizada para obter estimativas melhoradas.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. 0zisik, M.N, Orlande, H.R.B. Inverse Heat Transfer Fundamentals and Applications, Taylor & Francis, New York, USA, 2000, 341pp.
  2. Özisik, M. N. (1989). Boundary Value Problems of Heat Conduction. New York: Dover.
  3. Özisk, M. N. (1994). Heat Conduction. Wiley.
  4. Beck, J. V. (1979). Criteria for Comparasion of Methods of Solution of the Inverse Heat Conduction Problems. Nuc. Eng. Design, 53, 11-22
  5. Beck, J. V., & Arnold, K. J. (1977). Paramenter Estimation in Engineering and Science. New York: Wiley Unterscience
  6. Beck, J. V., Blackwell, B., & St. Clair, C. R. (1985). Inverse Heat Conduction: III- Posed Problems. New York: Wiley Interscience