Uirapuru (Villa-Lobos)

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"Uirapuru"
Composição Heitor Villa-Lobos
Época de composição 1917  – 1934 : Rio de Janeiro
Estreia 25 de maio de 1935, Teatro Colón, Buenos Aires
Dedicatória Serge Lifar
Catalogação W133
Duração 20 min.

Uirapuru (do tupi, “O Passarinho Encantado”) é um poema sinfônico ou ballet do compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos, iniciada como revisão de uma obra anterior em 1917 e concluída em 1934. Uma gravação conduzida pelo compositor dura 20 minutos e 33 segundos.

Histórico[editar | editar código-fonte]

Uirapuru originou-se como um poema sinfônico de quinze minutos intitulado Tédio de alvorada, composto no Rio de Janeiro em 1916 e apresentado pela primeira vez lá em um concerto patrocinado pelo Associação Brasileira de Imprensa em benefício de jornalistas aposentados, no Theatro Municipal em 15 de maio de 1918 por uma orquestra composta por 85 professores de música, dirigida por Soriano Robert. Villa-Lobos reelaborou e expandiu extensivamente esta composição para a partitura intitulada "Uirapuru", começando em 1917. No entanto, não foi até que Serge Lifar e seu conjunto dançaram os balés "Jurupari" (ao som da música de Choros N.º 10) e Amazonas em 1934 que Villa-Lobos completou Uirapuru e dedicou a partitura a Lifar. No final, porém, Lifar não participou da estreia do balé. A partitura recém-terminada foi apresentada pela primeira vez no Día de la Revolución de Mayo da Argentina, 25 de maio de 1935, como um balé coreografado por Ricardo Nemanoff e com cenografia de Héctor Balsadúa, no Teatro Colón em Buenos Aires. A ocasião foi uma gala em homenagem ao presidente brasileiro Getúlio Vargas durante visita à Argentina para a V Conferência Comercial Pan-Americana, que teve início no dia seguinte. O balé foi dançado nesta ocasião por Michel Borovsky e Dora del Grande, com a orquestra e corpo de balé do Teatro Colón, dirigido pelo compositor. A primeira apresentação de concerto como poema sinfônico ocorreu alguns meses depois, em 6 de novembro de 1935 no Theatro Municipal no Rio de Janeiro, pela Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal, sob a regência do compositor. Uirapuru também foi incluído na programação do último concerto dirigido por Villa-Lobos, em 12 de julho de 1959, no Empire State Music Festival, em Nova York.[1]

Uma gala de 1935 no Teatro Colón, possivelmente aquela em que "Uirapuru" foi estreado

A página de rosto do manuscrito autógrafo diz “Uirapuru / (O passaro encantado)/ Bailado brasileiro"// "H. Villa-Lobos/ Rio, 1917"// "A Serge Lifar"// "(Le petit oiseau enchanté)",[2] mas traz em sua última página a inscrição "Fim, Rio 1917, reformado em 1934".[3] A data de conclusão de 1917, também indicada no catálogo oficial de obras, é improvável em vista de dois fatos: a posterior estreia em 1918 de ' 'Tédio de alvorada, e o facto de a nova partitura só ter sido executada 18 anos depois, em 1935. Sugere-se que o compositor tenha dado a data anterior para não ser pensado por influência de Igor Stravinsky, cuja música ele conheceu em primeira mão apenas durante sua primeira visita à Europa em 1923.[4] Por outro lado, uma página de esboço para a composição anterior quase certamente datada de 1916 inclui rascunhos de material apenas incorporado mais tarde em Uirapuru, em particular o octatônica "bonito tema indiano", que sugere que tal escala já era familiar a Villa-Lobos antes de seu primeiro contato com a música de Stravinsky.[5]

Instrumentos[editar | editar código-fonte]

Violinofone

Uirapuru é pontuado para uma orquestra composta por: flautim, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarinete baixo, 2 fagotes, contrafagote, saxofone soprano, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão (tam-tam, sinos tubulares, reco-reco, coco, surdo, tamborim, címbalos, bumbo, xilofone, celesta, glockenspiel), 2 harpas, piano, violinofone, e cordas.

Análise[editar | editar código-fonte]

O Uirapuru

"Uirapuru" é um nome, derivado do língua Tupi, aplicado a vários membros da família das aves Pipridae encontradas no Brasil. O pássaro cujo canto Villa-Lobos usou como tema de composição é Cyphorhinus arada, o uirapuru-verdadeiro ou carriça músico, também conhecido como carriça de órgão ou carriça variedade de padrões de música. Villa-Lobos provavelmente baseou seu tema uirapuru em uma transcrição feita durante uma expedição em 1849-1850 pelo botânico britânico Richard Spruce, e publicada em 1908.[6] A obra se divide em duas grandes partes (b. 1-134 e 134-382), sugerindo uma forma binária (especialmente com a repetição de toda a seção A), mas a forma é criada cumulativamente a partir de uma sucessão de quinze seções menores temáticas ( quatro na primeira parte e onze na segunda) em um contexto harmônico não funcional.[7]

Referências[editar | editar código-fonte]

  • Anon. 1935. "Buenos Aires Gay for Vargas's Visit". The New York Times (22 May): 10.
  • Béhague, Gerard. 1994. Villa-Lobos: The Search for Brazil's Musical Soul. Austin: Institute of Latin American Studies, University of Texas at Austin, 1994. ISBN 0-292-70823-8.
  • DeVoto, Mark. 1995. "The Strategic Half-diminished Seventh Chord and The Emblematic Tristan Chord: A Survey from Beethoven to Berg". International Journal of Musicology 4 (A Birthday Offering for George Perle): 139–53.
  • Doolittle, Emily, and Henrik Brumm. 2012. "O Canto do Uirapuru: Consonant Intervals and Patterns in the Song of the Musician Wren". Journal of Interdisciplinary Music Studies 6, no. 1 (Spring): 55–85.
  • Lago, Manoel Aranha Corrêa do. 2015. "Villa-Lobos nos anos 1930 e 1940: Transcrições e 'work in progress'". Revista brasileira de música 28, no. 1 (January–June): 87–106.
  • Peppercorn, Lisa M. 1991. Villa-Lobos: The Music: An Analysis of His Style, translated by Stefan de Haan. London: Kahn & Averill; White Plains, NY: Pro/Am Music Resources Inc. ISBN 1-871082-15-3 (Kahn & Averill); ISBN 0-912483-36-9.
  • Salles, Paulo de Tarso. 2005. "Tédio de alvorada e Uirapuru: um estudo comparativo de duas partituras de Heitor Villa-Lobos". Brasiliana, no. 20 (May): 2–9.
  • Salles, Paulo de Tarso. 2009. Villa-Lobos: processos composicionais. Campinas, SP: Editora da Unicamp. ISBN 978-85-268-0853-9.
  • Santos, Daniel Zanella dos. 2014. "A voz do passarinho encantado: considerações sobre o uso de leitmotiv em Uirapurú (1917) de Heitor Villa-Lobos". Art Music Review, no. 27 (December). Predefinição:Issn.
  • Santos, Daniel Zanella dos. 2015. "Narratividade e tópicas em Uirapuru (1917) de Heitor Villa-Lobos". M.M. diss. Florianópolis: Universidade do Estado de Santa Catarina.
  • Spruce, Richard. 1908. Notes of a Botanist on the Amazon and Andes: Being Records of Travel on the Amazon and Its Tributaries, the Trombetas, Rio Negro, Uaupés, Casiquiari, Pacimoni, Huallaga, and Pastasa; as also to the Cataracts of the Orinoco, along the Eastern Side of the Andes of Peru and Ecuador, and the Shores of the Pacific, During the Years 1849–1864, edited and condensed by Alfred Russel Wallace. 2 vols. London: MacMillan and Co., Limited.
  • Tarasti, Eero. 1995. Heitor Villa-Lobos: The Life and Works. Jefferson, North Carolina: McFarland & Company.
  • Villa-Lobos, Heitor. 1972. "Uirapuru". In Villa-Lobos, sua obra, second edition, 245. Rio de Janeiro: MEC/DAC/Museu Villa-Lobos.
  • Villa-Lobos, sua obra. 2009. Version 1.0. MinC / IBRAM, and the Museu Villa-Lobos. Based on the third edition, 1989.
  • Volpe, Maria Alice. 2001. '"Indianismo and Landscape in the Brazilian Age of Progress: Art Music from Carlos Gomes to Villa-Lobos, 1870s–1930s'". PhD diss. Austin: University of Texas at Austin.
  • Volpe, Maria Alice. 2009. "Villa-Lobos e o imaginário edênico de Uirapuru". Brasiliana: Revista quadrimestral da Academia Brasileira de Música, No. 29 (August): 31–36.
  • Volpe, Maria Alice. 2011. "O Manuscrito P38.1.1 e a 'tabela prática' de Villa-Lobos". Revista brasileira de música 24, no. 2 (July–December): 299–309.

Notas de rodapé[editar | editar código-fonte]

  1. Peppercorn 1991, p. 85; Villa-Lobos, sua obra 2009, pp. 38–9.
  2. Volpe 2001, p. 129.
  3. Lago 2015, p. 91n16.
  4. Salles 2005, pp. 2–3.
  5. Volpe 2011, pp. 300–1.
  6. Volpe 2001, pp. 305–6.
  7. Volpe 2001, pp. 316–8.