Universidade Amílcar Cabral
Universidade Amílcar Cabral | |
---|---|
UAC | |
Lema | Educar, Desenvolver e Promover |
Fundação | 6 de dezembro de 1999 (21 anos) |
Tipo de instituição | Pública |
Mantenedora | ![]() |
Localização | Bissau, Guiné-Bissau |
Reitor(a) | Timóteo Saba M'bunde[1] |
Campus | Complexo Escolar 14 de Novembro |
Afiliações | Associação das Universidades de Língua Portuguesa |
Página oficial | uac.gw |
A Universidade Amílcar Cabral (UAC) é uma instituição de ensino superior pública da Guiné-Bissau. É a única universidade pública do país.
Fundada em 1999 com a missão de federar as diversas instituições superiores da nação, foi fechada abruptamente em 2008; a partir de 2010 passou por uma profunda reestruturação, que culminou com a sua retomada de atividades em 2013, com a nomeação do seu novo corpo administrativo.
Em 2020 o sistema federativo da UAC era composto pelas faculdades de direito, humanidades e medicina, e pelas escolas superiores de administração e educação.
Com reitoria instalada na cidade de Bissau, a universidade foi nomeada em homenagem a Amílcar Cabral, considerado o "pai" da independência do país.
Histórico[editar | editar código-fonte]
As instituições membros do sistema da Universidade Amílcar Cabral surgiram gradualmente, sendo que a mais antiga das componentes é a "Escola de Habilitação de Professores do Posto de Bolama General Arnaldo Sachutz", instituída pelo decreto-lei 45908, de 10 de setembro de 1964, com funcionamento pleno a partir de 13 de fevereiro de 1967; em 1975 tornou-se a Escola Nacional Amílcar Cabral. Em 1972 já havia surgido a Escola de Magistério Primário de Bissau, que se tornaria, em 1975, a Escola Nacional 17 de Fevereiro.[2][3][4]
O ano de 1979 viria trazer uma explosão da oferta de ensino com a abertura da Escola de Direito (atual Faculdade de Direito de Bissau), a Escola Normal Superior Tchico Té (primeira a verdadeiramente ofertar ensino superior, em 1983-84) e a Escola Nacional de Educação Física e dos Desportos. O Centro de Formação Administrativa (atual Escola Nacional de Administração) foi inaugurado em 1982 e a Faculdade de Medicina só surgiria em 1986.[2][3][4]
Criação da UAC[editar | editar código-fonte]
A maioria das instituições componentes do sistema federativo UAC já estavam formadas quando uma relevante discussão da importância de uma universidade pública iniciou-se em 1984, porém não achava-se vontade política e recurso orçamentário para dar conta do projeto. Pensou-se inclusive na cooperação soviética e cubana para levar adiante uma universidade que reunisse os cursos isolados. A discussão porém foi interrompida na iminência do colapso do sistema socialista e da abertura política nacional, empurrando-a para a década de 1990.[5]
A UAC foi criada pelo decreto n.° 6/99 de 6 de dezembro de 1999, como uma universidade pública com gestão privada/autónoma, gerida por uma fundação privada, a Fundação para Promoção do Ensino e da Cultura (FUNPEC). A FUNPEC era composta pela parceria do governo da Guiné-Bissau com uma universidade privada portuguesa, a Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.[5]
O início das suas operações deu-se a 13 de novembro de 2003, por decreto do então presidente interino guineense, Henrique Rosa.[6] Para seu início foram criadas as faculdades de Ciências, Economia, Letras e Ciências da Comunicação, Tecnologias, Ciências Agrárias e Veterinárias bem como uma Escola Superior de Educação Física e Desportiva.[7] Ademais, a universidade deveria, gradualmente, federar as outras instituições de ensino superior públicas do país, iniciando pela Faculdade de Direito.
A partir de 2006, a Escola Nacional de Saúde (ENS), juntamente com a sua principal instituição, a Faculdade de Medicina Raúl Diaz Arguelles, passaram a congregar também a UAC.[8]
Em 3 novembro de 2008, o governo alegou falta de condições para financiar a instituição, declarando em seguida cedência da Universidade ao seu parceiro – Universidade Lusófona de Portugal.[9] O então reitor da UAC, Alberto Sanhá, considerou, numa entrevista ao canal Portuguese News Network, o acordo como "um negócio sujo". No mesmo dia a Associação dos Professores da UAC questionou a legitimidade do executivo para alterar o estatuto jurídico do estabelecimento, afirmando estar surpreendido pela forma como o assunto foi tratado, apelando também à intervenção do Ministério Público para que viesse proceder a auditoria da gestão financeira da universidade[10].
Com a passagem total da instituição ao capital privado, algumas faculdades, tal como a de medicina e a de direito (até então integradas na UAC), se desfiliaram e passaram a autonomia novamente.[11]
Reestruturação[editar | editar código-fonte]
Desde 2010 o governo guineense vem tentando reestruturar a instituição, com a criação de um convénio de cooperação com o governo brasileiro através da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), para estruturação administrativa e formação de docentes.[12][13]
Em 2013, após cinco anos desativada, a UAC retomou as suas atividades, com a nomeação de uma novo corpo administrativo - reitor e vice-reitores. Em setembro de 2014 a universidade ganhou uma nova reitora, a então ministra Zaida Maria Lopes Pereira Correia (cessante em 2018).[14]
Em 2014 iniciou-se a negociação para integração da estrutura da Faculdade de Direito de Bissau, como unidade orgânica da UAC.[15][16]
Em 2015 a UAC fez vários eventos de caráter académico enquanto não reabria oficialmente as suas atividades para o ano letivo de 2015/2016. Sua reabertura foi possível através de um outro convénio, desta vez com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) para aquisição dos materiais para os cursos de licenciatura em tecnologias.[17]
A 23 de junho de 2016 conseguiu os materiais para a primeira biblioteca universitária do país, a "Biblioteca Central da UAC", com a doação dos livros da biblioteca particular do professor americano Russell Hamilton, um dos entusiastas da UAC, morto em fevereiro de 2016. A biblioteca funcionou em estruturas provisórias até 2019, quando ganhou local apropriado.[18]
Cursos, instituições orgânicas e instituições parceiras[editar | editar código-fonte]
Com um sistema federativo, desde 2020 a UAC é composta por três faculdades e duas escolas superiores.[19][20] Com exceção da Faculdade de Humanidades (FH), todas as demais componentes do sistema estão sob regime de co-tutela, possuindo grande grau de autonomia.
Faculdade de Humanidades[editar | editar código-fonte]
A universidade oferta os seguintes cursos superiores na única faculdade sob sua tutela plena:[21]
- Licenciatura em Tecnologias de Informação;
- Licenciatura em Agronomia, Proteção Vegetal e Veterinária;[22]
- Licenciatura em Línguas, Literaturas e Culturas;
- Licenciatura em Sociologia;
- Licenciatura em Antropologia;
- Licenciatura em História;
- Licenciatura em Ciências Políticas.
Faculdade de Direito de Bissau[editar | editar código-fonte]

Integrada em regime de co-tutela em 2016, a Faculdade de Direito de Bissau (FDB) oferta uma graduação:
- Direito;
E duas pós-graduações:
- Mestrado em Direito da Energia e dos Recursos Naturais;
- Mestrado em Direito das Telecomunicações.[23]
Faculdade de Medicina Raúl Diaz Arguelles[editar | editar código-fonte]

A UAC, o Ministério da Educação Nacional, a Escola Nacional de Saúde e a Embaixada Cubana em Bissau tutelam conjuntamente, desde 2020,[24] a Faculdade de Medicina Raúl Diaz Arguelles (FMRDA).[25] No seio da FMRDA são ofertados os seguintes cursos:
Escola Nacional de Administração[editar | editar código-fonte]

Em 2018, a ENA-Bissau passou a integrar a estrutura da instituição em regime de co-tutela; oferta os seguintes cursos:
- Licenciatura em Contabilidade e Gestão;
- Licenciatura em Administração.
Oferta ainda duas pós-graduações:
- Administração Pública;
- Administração Judiciária.
Escola Superior de Educação da Guiné-Bissau[editar | editar código-fonte]
Desde 2018 a UAC passou a abrigar uma parceria e co-tutela, com vistas à futura integração plena,[27] com a Escola Superior de Educação da Guiné-Bissau (ESEGB), que congrega em seu quadro as seguintes unidades: Escola Normal Superior Tchico Té (ENSTT), Escola Nacional de Educação Física e Desporto (ENEFD), a Escola Nacional 17 de Fevereiro (EN-17F) e a Escola Nacional Amílcar Cabral (ENAC).[28] A ESEGB e a UAC ainda mantém uma parceria conjunta com a Universidade Virtual Africana (UVA) para cursos de educação à distância.[29] Além de Bissau e Bolama, a ESEGB, por intermédio de suas instituições, mantém polos em Buba, Catió, Cacheu, Quinhamel, Mansoa, Ingoré, Bubaque e Cacine.
Pela ENSTT oferta-se:
- Licenciatura em Língua Portuguesa;
- Bacharelato em Língua Portuguesa;
- Bacharelato em Física;
- Bacharelato em Matemática;
- Bacharelato em Biologia;
- Bacharelato em Química;
- Bacharelato em Artes e Desenho.
Pela ENEFD oferta-se:
- Licenciatura em Educação Física e Desporto.
Pela EN-17F e ENAC oferta-se:
- Licenciatura em Ensino/Formação para o primeiro e segundo ciclo.
Reitores[editar | editar código-fonte]
Nome | Mandato | Afiliação | Forma de eleição |
---|---|---|---|
Tcherno Djaló[30] | 13 de novembro de 2003 - 9 de dezembro de 2005 | Faculdade de Economia | Indicação presidencial |
Augusto Idrissa Embaló[31] | 9 de dezembro de 2005 - Novembro de 2007 | Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias | Indicação parlamentar |
Alberto Sanhá[10] | Novembro de 2007 - 3 de novembro de 2008 | Faculdade de Direito de Bissau | Indicação parlamentar |
Interregno | – | – | – |
Maria Odete da Costa Soares Semedo[32] | 8 de janeiro de 2013 - 20 de setembro de 2014 | Escola Superior de Educação da Guiné-Bissau | Indicação ministerial |
Zaida Maria Lopes Pereira Correia[14] | 20 de setembro de 2014 - 10 de janeiro de 2018 | Escola Superior de Educação da Guiné-Bissau | Indicação ministerial |
Joel Aló Fernandes[33] | 10 de janeiro de 2018 - 14 de setembro de 2018 | Faculdade de Direito de Bissau | Indicação ministerial |
Fodé Abulai Mané[34] | 14 de setembro de 2018 - Abril de 2020 | Faculdade de Direito de Bissau | Indicação ministerial |
Timóteo Saba M'bunde[1] | Abril de 2020 - presente | Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa | Indicação ministerial |
Pessoas notáveis[editar | editar código-fonte]
- Carlos Vaz (ex-professor universitário) - comunicador, político e escritor;
- Vital Incopté (ex-professor universitário) - administrador e político;[35]
- Alexandre Furtado (ex-professor universitário) - educador, acadêmico e político;[36]
- Kumba Yalá (alumnus) - político, filósofo e advogado.[37]
Referências
- ↑ a b Saqui, Rozimélia (22 de setembro de 2020). «Reitor da Universidade Amílcar Cabral apresentado em Bissau». Capital News Bissau
- ↑ a b Indalá, Samuel. Sistema Educativo e Formação de Professores na Guiné-Bissau. In: IV Congresso Nacional de Formação de Professores e XIV Congresso Estadual Paulista sobre a Formação de Educadores, 2018, Águas de Lindóia, Anais...São Paulo: Água de Lindóia, 2018, p. 101.. 2018.
- ↑ a b Augel, Moema Parente. Desafios do ensino superior na África e no Brasil: a situação do ensino universitário na Guiné-Bissau e a construção da guineidade. Estudos de Sociologia. Rev, do Progr. de Pós-Graduação em Sociologia da UFPE. v. 15. n. 2, p. 137-159.
- ↑ a b Furtado, Alexandre Brito Ribeiro. Administração e Gestão da Educação na GuinéBissau: Incoerências e Descontinuidades. Aveiro: Universidade de Aveiro/Departamento de Ciências da Educação, 2005.
- ↑ a b Sanhá, Alberto (2010). «Educação Superior em Guiné-Bissau» (PDF). Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
- ↑ «Aberta oficialmente Universidade Amílcar cabral». Agência Pan-Africana de Notícias. 15 de novembro de 2003
- ↑ AFP (Janeiro de 2004). «Guiné-Bissau - Inaugurada a primeira universidade pública» (PDF). A Página da Educação (130)
- ↑ «Guiné-bissau: Faculdade de Medicina reabre em Bissau». ANGOP. 28 de janeiro de 2006
- ↑ Correia, Heldomiro Henrique (2013). «O Projeto Africanidade e o Contexto Educacional da Guiné-Bissau» (PDF). João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba
- ↑ a b Sami, Onis (3 de novembro de 2008). «Extinção da Universidade Amílcar Cabral: Grupo Lusófono cria universidade na Guiné-Bissau». Jornal Digital. Portuguese News Network
- ↑ «Mais 16 médicos formados na Faculdade Raúl Diaz Arguelles». Portal GBissau. 29 de outubro de 2014
- ↑ «Projetos na área educacional». Embaixada do Brasil em Bissau. Ministério das Relações Exteriores. Consultado em 26 de janeiro de 2017
- ↑ «Ministro da educação nacional promete que Universidade Amílcar Cabral vai em breve ser realidade». Portal GBissau. 1 de agosto de 2012
- ↑ a b «Conselho de Ministros nomeia novos Directores-gerais». Portal GBissau. 22 de setembro de 2014. Consultado em 26 de janeiro de 2017
- ↑ Seide, Tiago (23 de outubro de 2014). «Guiné-Bissau: Responsáveis pelo Ensino Superior particular acusados de «mercantilismo»». Jornal Digital. Portuguese News Network
- ↑ «Responsáveis pelo Ensino Superior particular acusados de "mercantilismo"». Portal GBissau. 24 de outubro de 2014
- ↑ «Unesco disponibiliza 500 mil dólares à Universidade Amílcar Cabral, na Guiné-Bissau». Voz da América. 12 de maio de 2015
- ↑ Santos, Elisangila Raisa Silva dos (23 de junho de 2016). «Universidade Amílcar Cabral já dispõe de biblioteca geral». Rádio Sol Mansi
- ↑ «Research4Life Academic Institutions» (PDF). Research4Life. 7 de junho de 2018
- ↑ Araújo, Sofia Melvill de (21 de janeiro de 2017). «Visita à Universidade Amílcar Cabral – Guiné-Bissau». Plataforma Sharing Knowledge Agrifood Networks
- ↑ «Reitor da UAC: "Cabral para nós é mais que um agrônomo! É um cientista social, estadista e estratega militar"». O Democrata. 17 de janeiro de 2019
- ↑ Fundo de Pequenos Projetos da Guiné-Bissau financia Curso de TIC aplicado à Agricultura. Instituto Camões. 30 outubro 2019.
- ↑ «Guiné-Bissau». Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Universidade de Lisboa. Consultado em 26 de janeiro de 2017. Arquivado do original em 2 de fevereiro de 2017
- ↑ a b «Guiné-Bissau: Crise política crónica hipoteca futuro dos jovens». Deutsche Welle. 11 de março de 2020
- ↑ «Grande Reportagem: Universidades privadas e estudantes apreensivos com o futuro dos seus cursos». O Democrata. 10 de maio de 2015. Consultado em 15 de maio de 2015. Arquivado do original em 18 de outubro de 2016
- ↑ Guerreiro C. S.; et al. (31 de dezembro de 2018). «Formação de Recursos Humanos em Saúde na República da Guiné-Bissau: Evolução das Estruturas e Processos num Estado Frágil» 12 ed. Revista Científica da Ordem dos Médicos: 749
- ↑ Candé, Amatinjane (19 de maio de 2015). «Equipamento novo e desafios adicionais para Universidade Amílcar Cabral». Rádio das Nações Unidas
- ↑ Alves, Sofia; Rebelo, Margarida. (17 de maio de 2012). «2. O setor da educação: principais problemas e boas práticas» (PDF). Bissau: IPAD. Revista Guineense de Educação e Cultura
- ↑ «Instituições do ensino guineense divergem em relação a instalação do centro virtual». Conosaba. 8 de março de 2018
- ↑ «Tcherno Djaló». Projeto Guiné-Bissau. Consultado em 26 de janeiro de 2017
- ↑ Fiúza, Montenegro (11 de dezembro de 2005). «Novo Reitor da Universidade Amílcar Cabral». Fórum de Debate Político
- ↑ Lopes, Avito Ferreira (8 de janeiro de 2013). «O governo de transição nomeou Odete Semedo como a reitora da Universidade Amilcar Cabral UAC». Guiné Visão Futuro
- ↑ «Joel Aló Fernandes, nomeado novo reitor da UAC». Rádio Jovem Bissau. 12 de janeiro de 2018
- ↑ «Fodé Mané nomeado novo reitor da UAC». Rádio Jovem Bissau. 14 de setembro de 2018
- ↑ «A Minha Vontade Esmorece». Catarse. 9 de agosto de 2009
- ↑ «Reitoria». Universidade Católica da Guiné-Bissau. 2018
- ↑ «Kumba Ialá, o homem do "barrete vermelho", tenta regressar à presidência». Diário de Notícias. 2009. Consultado em 3 de fevereiro de 2017