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Maria Anna Junius[editar | editar código-fonte]

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Saltar para a navegaçãoSaltar para a pesquisa Maria Anna Junius OP (Bamberg, ?? de ??? de 19?? — ????, ?? ??? de 19??)[1], foi uma freira alemã que ficou mais conhecida por sua atuação durante a Guerra dos 30 anos, quando em seu diário pessoal, relatava os acontecimentos ao redor do Convento do Santo Sepulcro (Dominikanerinnenkloster Heilig Grab) em Bamberg, na Baviera.

Crônicas e relatos da Guerra dos 30 anos[editar | editar código-fonte]

Mapa da Europa após o tratado de Vestfália, 1648.
Localização de Bamberg nos limites da atual Alemanha

Maria Anna Junius, se junta a alguns personagens ainda pouco conhecidos da história que com suas crônicas, escreveram a respeito do conflito que atingiu a Europa no século XVII. Estes cronistas do cotidiano escreveram para documentar perdas e danos em seu ambiente, mas sobretudo para relatar a experiência pessoal e poder gravá-la em sua própria memória e na de seus parentes. [2]De fato, os escritos da freira dominicana de Bamberg, segundo ela mesma, seriam para uso das freiras que a sucedessem no Convento do Santo Sepulcro de Bamberg, sendo portanto, relatos a serem utilizados dentro da atividade monástica[3]. Junius é específica sobre sua intenção de fornecer uma descrição dos sofrimentos do convento durante a guerra para obter informações e benefícios de futuras gerações de freiras, explicando isso em sua introdução. A falta de relatos oficiais a respeito dos conflitos da Guerra dos 30 Anos se dá pelo fato de que em termos de população total, não havia muitas pessoas que anotavam observações sobre a guerra e suas experiências cotidianas por escrito. Somente uma minoria, talvez dez a quinze por cento da população, sabia ler e escrever. Contudo, hoje são conhecidos de cerca de 250 testemunhas da Guerra dos Trinta Anos,[2] que na forma de testemunhos particulares, nos dão a conhecer um pouco melhor sobre o conflito e seus desdobramentos, sob um ponto de vista muito mais pessoal e dotado de notória simplicidade e honestidade.

Atuação como cronista[editar | editar código-fonte]

Vista da cidade velha de Bamberg, 2006

Junius se identifica claramente como escritora, embora se apresente apenas no papel de freira, e já indica que os relatos não têm caráter particular, mas devem ser classificadas como um documento de escrita monástica, como já dito anteriormente.[3] O assunto tratados pela freira dominicana de Bamberg são os eventos da chamada Guerra Sueca em Bamberg e suas consequências para o mosteiro ao Santo Sepulcro desde o início da década de 1630. [3] Junius narra em detalhes e de forma impressionante a mudança de sentimento bélico das partes inimigas, a angústia da população e, acima de tudo, a situação nas muralhas desprotegidas da cidade. Bem como relata a situação interna ao mosteiro e o comportamento das freiras nestes tempos tristes e difíceis. [3]

A freira relata o dia exato em que começou a fazer seus registros: "Dises Buchlein hab ich angfeng zu schreibe im Jar 1633 den 23 aprilis."[3], o que traduzido do alemão, significaria algo muito próximo a: "comecei a escrever este livrinho em 23 de abril de 1633." Contudo, ela deixa a entender que em seus escritos, faz também relatos desde o ano que entrou no convento, em 1622: "(...) um breve registro do que aconteceu e ocorreu desde o ano de 1622, quando eu, irmã Maria Anna Junius, entrei no convento do Santo Sepulcro, que estabeleci o mais breve possível." (J.10,7)[4] Com base nessa indicação de tempo, pode-se concluir pelo processo de escrita que ela presumivelmente registrou os anos de 1622 a abril de 1633 em retrospecto e o período subsequente até setembro de 1634. Com relação à estrutura temporal dos registros, Junius relata não apenas ano a ano, mas frequentemente dia a dia, de modo que, por longos períodos, a análise pode ser feita como sendo de uma estrutura diarística. A própria freira costumava utilizar o termo "diário" para se referir aos seus excertos.

A relação com as tropas suecas e tensões com o conselho de Bamberg[editar | editar código-fonte]

O Convento do Santo Sepulcro em Bamberg, 2009

Por se tratar de uma guerra de religião, em muitos casos, as freiras, que viviam em recintos rigorosos após as reformas espirituais da Contrarreforma, foram forçadas a deixar seus conventos e viajar em más condições para viver na pobreza e no exílio.  A propriedade dos convento fora ameaçada por diversas vezes; as propriedades e o gado pilhados pelos exércitos inimigos, assim como os tesouros das abadia. As freiras de Bamberg tinham importantes conexões com a elite dominante da cidade, assim, a abadessa do Santo Sepulcro usou repetidamente sua rede de contatos importantes, para negociar termos pacíficos com o alto comando sueco. O convento recebeu um guarda sueco para impedir que fosse pilhado e os oficiais inimigos eram geralmente respeitosos com as freiras.[5] A relação com as tropas suecas e o convento do Santo Sepulcro baseada na negociação e bons tratos de ambas as partes resultou numa primeira invasão sueca a Bamberg que terminou sem que o convento sofresse qualquer dano.

O antigo prédio da Prefeitura de Bamberg, 2017

Em fevereiro de 1633, quando Bamberg estava sob ameaça de uma segunda ocupação sueca, a comunidade de Junius possuía experiência suficiente no domínio militar protestante para ter mais certeza de que o convento sobreviveria uma segunda vez.  Isso levou as freiras dominicanas a entrarem em conflito com as autoridades de Bamberg, cujas tentativas de controlá-las não tiveram êxito devido à forte resistência das freiras. [5]Quando o burgomestre Keim, um membro do conselho, apareceu no convento para avisar as freiras do ataque e convidou-as a sair, a filha do ex-burgomestre Junius e sua comunidade se recusaram. Mais tarde, o conselho da cidade tentou pela segunda vez fazê-las partir, enviando seu confessor com ordens para removê-las violentamente. Junius relata:

"Não pudemos ser persuadidas a sair; embora as pessoas tivessem nos acusado de muita má conduta, prestamos pouca atenção a essa calúnia por parte de pessoas iníquas;  Deus Todo-Poderoso sabe que nossas intenções em ficar aqui não eram nem más nem ilegais."[5]

Parte interna da capela do Convento do Santo Sepulcro, 2008

Assim, na tentativa de obter controle sobre o convento, o conselho atacou a reputação das freiras.  A acusação era de que o relacionamento da comunidade das dominicanas com os ocupantes suecos de Bamberg fora além dos limites da decência. Junius usa seu relato, no entanto, para destacar a natureza casta de suas relações com os comandantes suecos:

"(...)embora as pessoas tenham nos acusado com muita má conduta, posso testemunhar diante de Deus que nada aconteceu por uma única irmã do nosso convento que, ao menos prejudicou seu estado virginal: mesmo que os suecos entrassem e saíssem de nossa casa diariamente, eles sempre se comportaram conosco com decência e respeito." [5] Junius protesta sua inocência usando intensificação frequente, testemunhando diante de Deus que nenhuma irmã recebeu o menor dano à sua virgindade. Não é de surpreender, contudo, que o fato de os suecos entrarem e saírem diariamente do convento tenha deixado as freiras abertas a fortes críticas. As tensões com o conselho da cidade ficaram ainda mais tensas pelo fato de o convento frequentemente receber presentes financeiros ou materiais dos comandantes suecos. Em 20 de fevereiro de 1633, o coronel von Ross enviou a elas meia dúzia de moedas de ouro para itens não especificados produzidos pelas freiras, que elas haviam dado a ele e sua esposa quando visitaram o convento.[5]

As percepções da guerra por Maria Anna Junius[editar | editar código-fonte]

Ela descreve seu medo mortal, dizendo que a morte estava constantemente em suas mentes: "Nós nos rendemos ao desejo de Deus e confiamos completamente na ajuda e misericórdia de nosso amado noivo, Jesus permanecendo forte, corajoso e resoluto." [5]Junius também escreve sobre o segundo ataque: "(...) no entanto, continuamos resolutos em nosso pequeno Santo Sepulcro." [5] Além disso, no final do relato, ela interpreta a preservação deles como recompensa de Deus por sua constância e os descreve "(...) como tendo sido provado por Deus, Ele era seu conforto e sua ajuda."[5]

Caça às bruxas[editar | editar código-fonte]

Vista exterior da Drudenhaus, local em que os acusados de bruxaria foram presos, interrogados e torturados. Gravura em cobre, 1627

Junius era filha de um dos principais cidadãos de Bamberg, Johannes Junius, membro do conselho por 20 anos e, de tempos em tempos assumia o cargo de prefeito antes de ser acusado de bruxaria e executado em 1628[4], no auge da caça às bruxas, promovida pela Igreja Católica em toda a Europa. Maria Anna Junius também possui relatos a respeito das ações da igreja, citando diversas mortes, e sua visão a respeito da perseguição que se deu de forma muito contundente no século XVII.

Um número incontável de mulheres e também até 25% homens foram entregues ao fogo por causa de magia e bruxaria durante a atuação do príncipe-bispo Johann Georg II em Bamberg, entre 1626 e 1631.[6] A queima começou sob o mandato do bispo auxiliar Friedrich Förner (1625 - 1630). Ficou conhecida em Bamberg, a Drudenhaus, uma prisão onde eram encarcerados e torturados todos aqueles acusados de feitiçaria; são relatados mais de 900 casos de réus, que sofreram grande tortura dentro desta prisão.[6]

Ela faz um breve relato da caça às bruxas em Bamberg a partir de 1627[4], observando que "várias centenas de pessoas foram julgadas e queimadas, entre elas muitos atraentes e prósperos rapazes e moças"[4].  Ela comenta que "se tudo foi feito corretamente é conhecido apenas por Deus"[4], acrescentando que "essas queimaduras continuaram até o ano de 1631"[4].

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Não foram encontradas as datas de nascimento e morte de Maria Anna Junius, bem como os locais em que esses eventos ocorreram.
  2. a b ADRIANS, Frauke (20 de julho de 2018). «"Das sich einem Stein solt erbarmet haben". Der Dreißigjährige Krieg im Erleben der Zivilbevölkerung». Bundeszentrale für politische Bildung. Consultado em 23 de outubro de 2019 
  3. a b c d e NOLTING, Uta (2009). Sprachgebrauch süddeutscher Klosterfrauen des 17. Jahrhunderts. [S.l.]: Waxmann. pp. p. 94 a 96 
  4. a b c d e f MORTIMER, Geoff (2002). Eyewitness Accounts of the Thirty Years War 1618-1648. [S.l.]: Springer. pp. p. 97 a 99 
  5. a b c d e f g h VAN WYHE, Cordula (2008). Female Monasticism in Early Modern Europe (An Interdisciplinary View). [S.l.]: Ashgate Publishing, Ltd. pp. p. 245, 246, 249, 251, 253, 255, 259 
  6. a b GRIEßHAMMER, Brike (2013). «Fürstbistum Bamberg: Stadt Bamberg». Hexen-Franke. Consultado em 22 de outubro de 2019 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • MORTIMER, Geoff. Eyewitness Accounts of the Thirty Years War 1618-1648. Springer, 2002.
  • NOLTING,Uta. Sprachgebrauch süddeutscher Klosterfrauen des 17. Jahrhunderts. Waxmann, 2009.
  • SPONGBERG, Mar; CURTHOYS, Ann; CAINE, Barbara. Companion to Women’s Historical Writing. Palgrave Macmillan UK, 2005
  • WOODFORD, Charlotte. Writing the Thirty Years’ War: Convent Histories by Maria Anna Junius and Elizabeth Herold. In: VAN WYNE, Cordula (Org). Monasticism in Early Modern Europe: An Interdisciplinary View. Ashgate Publishing, Ltd., 2008

Ligações Externas[editar | editar código-fonte]