Usuário(a) Discussão:Rafaela Morozetti/Testes

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Moussia Pinto Alves
Rafaela Morozetti/Testes
Nascimento 8 de julho de 1901
Sebastopol
Morte 1986
Cidadania Brasil
Ocupação pintora

Moussia von Riesenkampf Pinto Alves (Sebastopol, 8 de julho de 1901 - São Paulo, 3 de janeiro de 1986) foi uma pintora, escultora, designer de joias e gravadora.[1]

Após a morte de seus pais na Revolução Russa de 1971, uma série de eventos políticos na Rússia que resultou no estabelecimento do poder soviético sob o controle do partido bolchevique, Moussia se juntou aos milhares de russos que procuraram refúgio no Brasil após a derrota pelo Exército Vermelho de Vladimir Lênin.[2] Contudo, antes de pisar em terras brasileiras, a pintora saiu do país pela Turquia, com destino a Paris, onde permaneceu por algum tempo. Pouco tempo depois, no ano de 1923, seguiu para Hamburgo, onde conheceu o jovem intelectual Carlos Pinto Alves (1899-1966), com quem se casou ainda naquele mesmo ano em Lisboa.[3]

Após o casório, o casal seguiu viagem para São Paulo, onde Moussia começou a carreira como artista, sendo que dispunha de uma extensa bagagem cosmopolita na área artística e, desde cedo, se interessava por pinturas, em especial as feitas com aquarela.[3]

Filha de Anatoli von Riesenkampf e de Natalia Voronine von Riesenkampf,[3] Moussia nasceu em São Petersburgo, porém viveu desde criança até 1918 em Sebastopol, importante porto no sul da Rússia, pois seu pai era almirante da esquadra imperial, ali sediada. Ainda em Sebastopol, a russa iniciou os estudos artísticos com Ivan Schveleff e Catarina Sernoff.[4]

Pertencente à aristocracia da região da Criméia, Moussia e sua família foram diretamente afetadas pelos conflitos da Revolução Russa de 1917. A revolução se deu por um período de conflitos que derrubou a autocracia russa e levou ao poder o Partido Bolchevique de Vladimir Lênin. Nesse momento, a Rússia estava no governo absolutista do czar Nicolau II e tinha uma grande massa de operários e camponeses em situação de trabalho árduo sem ganhar o suficiente. Assim sendo, a situação política do país desagradava o povo que queria uma liderança menos opressiva e mais democrática. O clima de tensão social levou a manifestações populares que fizeram o monarca renunciar, dando origem à União Soviética, o primeiro país socialista do mundo, que durou até 1991. Em 1881, o czar Alexandre II foi assassinado por um dos grupos de oposição política.[5]

No final do ano de 1918, o pai de Moussia, um almirante do czar, também foi assassinado. Sua mãe acabou falecendo logo depois. E assim começou a fuga de Moussia por outras regiões, como Turquia, Paris, Hamburgo e Lisboa, até encontrar e casar com o empresário paulista Carlos Pinto Alves. Após se casar, o casal mudou-se para São Paulo e a russa foi batizada na igreja católica com o nome "Maria", mas continuou a usar Moussia como seu nome artístico. Assim, Moussia von Riesenkampf passou a ser conhecida como Moussia von Riesenkampf Pinto Alves - ou, mais resumidamente, apenas por Moussia Pinto Alves. Desde a conversão ao catolicismo, Moussia nunca se desvinculou da religião, tendo em vista que sua crença foi, com freqüência, tema de suas obras, mesmo naquelas com imagens e representações mais abstratas. [6]

Na capital paulista, Moussia e Carlos Pinto Alves moravam em uma casa badalada na rua Barão de Piracicaba que se tornou um ponto de encontro de constantes reuniões, não apenas de artistas e modernistas brasileiros, mas também de estrangeiros que estavam de passagem no Brasil. Entre os amigos do casal e visitantes contínuos da residência, estavam Alexander Calder, Henry Moore, Jean-Louis Barrault, Nelson Rockefeller, Mário de Andrade, Anita Malfatti, Noemia Mourão, Felícia Leiner, Bella Prado, Di Cavalcanti, Cicero Dias, Quirino da Silva, Djanira, Gomide, Brennand, Ungaretti, Murilo Mendes, Vieira da Silva e Arpad Szenes, Baby e Guilherme de Almeida, apenas para citar alguns. Ainda, a irmã de Moussia, Nina, era casada com o irmão de Guilherme de Almeida e também poeta Tácito. Em suma, o casal Pinto Alves estava inserido no meio de um círculo da elite paulistana que contava com diversas figuras importantes, desde pensadores e poetas até aqueles que buscavam forjar uma distinção para além do ponto financeiro, cultivando o então exótico gosto pelo moderno.[3]

Em 1930, com quase 30 anos, Moussia realizou a primeira apresentação de suas pinturas ("Imagem" e "Retrato da Srta. Alves de Lima") ao lado da pintora e decoradora Regina Graz. No ano seguinte, a artista participou da 38º Exposição Geral de Belas Artes, o polêmico Salão Revolucionário, organizada pelo arquiteto Lúcio Costa no Rio de Janeiro. A época foi marcada por mudanças na estrutura burocrática e nos quadros de funcionários públicos, fatores que conduziriam as instituições do país nos rumos dos projetos modernos, inclusive no campo da cultura e arte. Nos anos 30, Lúcio Costa foi nomeado para a direção da Escola Nacional de Belas Artes e, encarregado de reformar o ensino das artes, nomeou novos professores e instituiu uma comissão organizadora do Salão Nacional de 1931. Além de Lúcio Costa, faziam parte da comissão Anita Malfatti, Manuel Bandeira, Celso Antônio e Cândido Portinari. Esse grupo decidiu, então, cancelar o júri de seleção, que costumava funcionar como uma barreira para a entrada da arte moderna no reduto tradicional. Isto posto, muitos estudantes da Escola recusaram-se a participar da exposição por entenderem que o Salão funcionaria apenas em prol do movimento moderno. De fato, a montagem do evento revelou em destaque as obras de tendências do modernismo. Assim sendo, por sua participação, Moussia ficou conhecida no movimento artístico.[7]

A maioria das pinturas de Moussia mostravam uma forte entonação expressionista. Por outro lado, seus famosos retratos foram em outra direção, destacando a grande singeleza de suas obras. Talvez por sua formação na Rússia ortodoxa, quase todos os retratos são frontais com fisionomias plácidas, podendo ser referenciados aos antigos ícones bizantinos. De qualquer modo, a qualidade de suas pinturas, sobretudo os retratos, eram muito elogiadas por grandes figuras da época, como Mário de Andrade que, em uma carta a Manuel Bandeira, aludiu, em tom elogioso, à composição centralizada natural e ao fundo destituído dos ornamentos da pintora.[3]

Durante a década de 1930, devido ao seu contato direto com modernistas da primeira geração, sobretudo por meio de sua participação na Sociedade Pró-Arte Moderna, Moussia se dedica a tratar de temas locais, como a favela, as festas e os tipos populares. Posteriormente, se interessa pela abstração, distanciando-se das questões centrais do grupo modernista. A obra "Sem Título", pertencente à coleção da Pinacoteca do Estado de São Paulo (Pesp), representa essa fase da artista, sendo que mostra uma abstração de tendência geométrica, ainda que bastante livre.[1]

Sendo uma das primeiras defensoras da arte abstrata no Brasil, Moussia proferiu uma palestra na Faculdade de Direito de Recife em 1948, na ocasião da exposição de Cícero Dias no local. A artista produzia trabalhos extremamente antenados com seu tempo, uma época de abstracionismos, em justa oposição a boa parte de seus companheiros modernistas, que levantavam a bandeira da figuração. Com suas esculturas, a artista começou a ser devidamente notada nas primeiras Bienais de São Paulo. Logo após a 2ª Bienal, foi convidada a configurar o livro "Plastik der Gegenwart" (A Arte do Presente), publicação alemã que pretendia reunir os escultores mais significativos do século.[8]

No começo dos anos 40, Moussia, influenciada pelo pintor, escultor e desenhista Ernesto de Fiori, começou a a se interessar pela arte da escultura e, assim como na pintura, obteve resultados surpreendentes. Evoluiu para uma abstração com um viés de entonação lírica, em que formas se expandem e retraem por meio de volumes entremeados de vazios ocupados por matizes de luzes e sombras. Similar às obras do escultor e desenhista britânico Henry Moore, de quem mais tarde se tornaria amiga, as figuras de suas esculturas pareciam estar em um movimento de dissolvimento. A artista nunca chegou a abandonar a pintura. Passou, assim, a estudar o campo da abstração tanto na pintura quanto na escultura. A partir dos novos caminhos que a arte abstrata lhe abria, começou a desenvolver uma obra de vanguarda, tarefa que cumpriu com muito talento, diversidade e variedade, desencadeando um espectro grande de abordagens, muitas vezes ultrapassando práticas tradicionais. Em muitas das suas obras abstratas, é possível perceber a organização espacial dinâmica, tensionada em movimentos relativos de cor e luz de coordenadas centrípetas pulsantes, determinadas talvez por um provável interesse de Moussia pelas diversas correntes artísticas das vanguardas russas.[3]

Considerando o design de jóias como obras plásticas derivadas da escultura, Moussia se interessou pelo ofício e se aventurou mais uma vez em um campo desconhecido. O fascínio de Moussia pelas jóias pode ter tido grande influência do pintor e escultor Alexander Calder, que presenteou a artista com um elegante broche feito de uma tira de prata que delineia um entorno de mão estirada. De fato, a influência de Calder é evidente nas suas primeiras peças produzidas na década de 1950. Porém, depois de um tempo, a artista encontrou o seu próprio estilo, recorrendo a uma condensação rimada de fios metálicos que se aglutinam e se entrelaçam em movimentos ordenados, por vezes abraçando num modelado orgânico uma ou até muitas pedras.[3]

Sempre interessada em experimentar diversos especialidades da arte, Moussia também se aventurou no cinema, sendo que atuou em dois pequenos papéis em "Brasil Ano 2000", de Walter Lima Júnior, e "Um Asilo Muito Louco", de Nelson Pereira dos Santos, ambos rodados em Paraty.[8]

Ao contrário do que muitos pensam, sobretudo pela maior fama de suas pinturas, o historiador José Roberto Teixeira Leite e o crítico Quirino Campofiorito destacam as esculturas de Moussia como suas obras mais significativas. Suas produções dispõem de importantes referências à produção da década de 1950 do escultor inglês Henry Moore, como em O Homem e a Fera (1960), exposto no Panorama de Arte Atual Brasileira de 1972, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP).[1]

Muitos anos após o auge de sua vida como artista, Moussia continuou sendo prestigiada e reconhecida como uma das artistas mais atuantes nos movimentos culturais do século passado. Um exemplo disso é a a exposição de obras da pintora na Pinacoteca do Estado de São Paulo ocorrida entre os dias 7 de dezembro de 2013 e 23 de fevereiro de 2014. O acervo da exposição foi composto por mais de 70 obras, realizadas desde os anos 1930 até a época de seu falecimento, formando uma mostra panorâmica onde os destaques da exibição são uma série de retratos e outras pinturas, principalmente as abstratas, além de suas esculturas e algumas joias.[9]


Participações em salões[editar código-fonte]

  • 1932/1934 – São Paulo SP – Participa da Sociedade Pró-Arte Moderna de São Paulo – SPAM
  • 1958 – São Paulo SP – Participa do júri do 7º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia
  • 1968 – São Paulo SP – Participa do júri do 17º Salão Paulista de Arte Moderna

Exposições Individuais[editar código-fonte]

  • 1946 – São Paulo SP – Individual, no IAB/SP
  • 1948 – Nova York (Estados Unidos) – Individual, na Gallery Passedolgt

Exposições Coletivas[editar código-fonte]

  • 1931 – Rio de Janeiro RJ – Salão Revolucionário, na Enba
  • 1937 – São Paulo SP – 1º Salão de Maio, no Esplanada Hotel de São Paulo
  • 1938 – São Paulo SP – 2º Salão de Maio
  • 1944 – São Paulo SP – 9º Salão do Sindicato dos Artistas Plásticos, na Galeria Prestes Maia
  • 1951 – São Paulo SP – 1ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão do Trianon
  • 1952 – Rio de Janeiro RJ – 1ª Salão Nacional de Arte Moderna
  • 1953 – São Paulo SP – 2ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão dos Estados
  • 1954 – São Paulo SP – 3º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia
  • 1955 – São Paulo SP – 3ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão das Nações
  • 1955 – São Paulo SP – 4º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia – medalha de bronze
  • 1957 – Rio de Janeiro RJ – 4º Salão Nacional de Arte Moderna
  • 1957 – São Paulo SP – 4ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
  • 1957 – São Paulo SP – 6º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia
  • 1957 – São Paulo SP – 12 Artistas de São Paulo, na Galeria de Arte das Folhas
  • 1958 – São Paulo SP – 47 Artistas do Prêmio Leirner de Arte Contemporânea, na Galeria de Arte das Folhas
  • 1961 – São Paulo SP – 6ª Bienal Internacional de São Paulo, no Pavilhão Ciccilo Matarazzo Sobrinho
  • 1963 – São Paulo SP – 7ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
  • 1965 – São Paulo SP – 8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
  • 1970 – São Paulo SP – Pré-Bienal de São Paulo, na Fundação Bienal
  • 1972 – São Paulo SP – 4º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
  • 1975 – São Paulo SP – SPAM e CAM, no Museu Lasar Segall
  • 1976 – São Paulo SP – Os Salões: da Família Artística Paulista, de Maio e do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo, no Museu Lasar Segall
  • 1978 – Rio de Janeiro RJ – Escultura Brasileira no Espaço Urbano: 50 anos, na Praça Nossa Senhora da Paz
  • 1978 – São Paulo SP – 10º Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP
  • 1982 – São Paulo SP – Um Século de Escultura no Brasil, no Masp
  • 1984 – Fortaleza CE – 7º Salão Nacional de Artes Plásticas
  • 1984 – Rio de Janeiro RJ – Salão de 31, na Funarte
  • 1984 – São Paulo SP – Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
  • 1985 – São Paulo SP – 18ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal

Exposições Póstumas[editar código-fonte]

  • 2014 – São Paulo SP – "Moussia" na Pinacoteca.[10][11]

Referências

  1. a b c MOUSSIA . In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa24210/moussia>. Acesso em: 25 de Nov. 2018. Verbete da Enciclopédia.
  2. https://www.bbc.com/portuguese/internacional-41867022 BBC News 07/11/2017
  3. a b c d e f g https://www.moussia.com.br/bio Site Oficial Moussia
  4. MOUSSIA . In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa24210/moussia>. Acesso em: 25 de Nov. 2018. Verbete da Enciclopédia.
  5. https://www1.curso-objetivo.br/vestibular/roteiro_estudos/revolucao_russa.aspx. Curso Objetivo
  6. http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo2/modernidade/eixo/spam/moussia/index.html Museu da Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP)
  7. http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo2/modernidade/eixo/salaorev/index.html Museu da Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP).
  8. a b http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo2/modernidade/eixo/spam/moussia/index.html Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo
  9. http://pinacoteca.org.br/programacao/moussia/ Pinacoteca ORG
  10. http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo2/modernidade/eixo/spam/moussia/index.html Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo
  11. MOUSSIA . In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa24210/moussia>. Acesso em: 25 de Nov. 2018. Verbete da Enciclopédia.