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Weber, criador do Tipo ideal

Tipo ideal (do alemão Idealtyp) ou tipo puro é um termo comumente associado ao sociólogo Max Weber (1864-1920). Na concepção de Weber é um instrumento de análise sociológica para o apreendimento da sociedade por parte do cientista social com o objetivo de criar tipologias puras, destituídas de tom avaliativo,[1] de forma a oferecer um recurso analítico baseado em conceitos, como o que é religião, burocracia, economia, capitalismo, educação, dentre outros.

Uma das principais características do tipo ideal é o fato de que não corresponde à realidade, mas pode ajudar em sua compreensão,[2] estabelecido de forma racional, porém com base nas escolhas pessoais anteriores daquele que analisa. É então um conceito teórico abstrato criado com base na realidade-indução, servindo como um "guia" na variedade de fenômenos que ocorrem na realidade; por se basear na indução, dá "ênfase na caracterização sistemática dos padrões individuais concretos (característica das ciências humanas) opõe a conceituação típico-ideal à conceituação generalizadora, tal como esta é conhecida nas ciências naturais",[3] fazendo oposição ao método comparativo dos positivistas como Émile Durkheim.[4]

Contexto histórico e método compreensivo[editar | editar código-fonte]

Spencer, símbolo do do evolucionismo, conceito negado nos tipos ideais
A realidade para Weber é como uma esfera: com infinitos pontos incogniscíveis

Weber, sistematiza sua metodologia sociológica partindo da perspectiva de que o caráter particular e específico de cada formação social e histórica deve ser respeitado. Suas formulações podem ser vistas como produtos de seu contexto, visto que somente ao início do século XIX a Alemanha passava pelo seu processo de industrialização — tardiamente quando comparado à expansão urbana e formação da burguesia industrial na Inglaterra e na França ainda no século XVIII; onde floresceram o Positivismo, e o Evolucionismo, resultando em uma metodologia sociológica voltada aos anseios da sociedade industrial, e à ela adaptada.

Pode-se dizer que enquanto Comte se valia de dos preceitos das chamadas ciências "naturais", como a Biologia, Física e Matemática, em outras palavras como exemplo: darwinismo, mecanicismo e racionalismo; na Alemanha a Sociologia ali surginte estaria sob influências de outras correntes, que visavam anseios menos expansionistas, e lançando mão das ciências humanas, tal como a Antropologia.[4]

Uma dessas correntes filosóficas é o Historicismo,[5] que após Hegel foi bastante influente na Alemanha, especialmente dentro de seu Idealismo, e mais tarde presente também em Marx e seu Materialismo histórico-dialético. Portanto, o Historicismo como outras escolas filosóficas germânicas, propunham um contexto ao que Weber, para elaborar o tipo ideal como instrumento de seu método, preconizava a preocupação com o estudo das evidências particulares e compreensão das mesmas, em oposição à generalização e comparação presentes em Comte e Durkheim, próprias da sociologia positivista.[6]

Para Weber portanto, o historiador, ou o sociólogo, jamais trabalha com a totalidade dos fatos históricos, baseando-se na coleta de dados e no esforço interpretativo das fontes, lida portanto com dados esparsos e fragmentários. Propondo para essa análise o método compreensivo, isto é, um esforço interpretativo do passado e de sua repercussão nas características peculiares das sociedades contemporâneas.[7]

Neste âmbito, o tipo ideal surge como forma de compreender a realidade, mas sem de fato corresponder à ela, já que a realidade não seria possível de ser alcançada em sua totalidade.[1] Igualmente não seria alcançada a neutralidade total e objetiva do cientista, pois este é guiado pelos seus sentimentos, por suas escolhas subjetivas e seus valores.

Tarefa do cientista[editar | editar código-fonte]

Durkheim, figura contemporânea de Weber que faz oposição à metodologia weberiana

Apesar de seguirem por construções tipológicas e ideologias distintas, tanto Weber quanto Durkheim estavam preocupados em estabelecer as bases sólidas para tornar a Sociologia uma ciência; estavam portanto preocupados com a objetividade e rigor científico com que o cientista social estudaria determinado aspecto da sociedade. Durkheim enxerga a sociedade como algo muito mais complexo do que a simples soma dos indivíduos que a compõem,[8][9] ele vê a sociedade como algo exterior ao homem enquanto estudioso, devendo ser analisado sob ótica rigorosa livre de pré-noções e preconceitos.<ref>{{citar web|url=http://paginas.terra.com.br/educacao/gentefina/durkheim.htm|titulo=Durkheim: Uma Breve Visão|acessodata=3 de março de 2008|autor =Magda Regina Ribeiro Braga, Luciane Selegar|lingua = Português}}</ref>

Weber tenta resolver tal questão de uma maneira menos dedutiva, dando maior importância ao processo empírico - tomando cada fato signficativo em sua especificidade, fato este escolhido de acordo com os valores do cientista; eis aqui mais um ponto de influência do historicismo, o qual afirma que

Contudo, captar uma realidade cultural infinita, que "considerasse todas as circustâncias ou variáveis envolvidas num determinado acontecimento, torna-se uma pretensão inatingível".[11] Exatamente por isso, o cientista deve escolher de acordo com sua significância subjetiva, isolando da “imensidade absoluta, um fragmento ínfimo”.[12] “É a paixão que um valor desperta no cientista que guiará seu interesse entre o infinito material empírico da realidade”.[13]

Uma vez que a paixão serviu de "guia" para a escolha do fenômeno a ser estudado, o cientista deve preocupar-se em alcançar a objetividade do conhecimento científico que está disposto a buscar. Ao fazê-lo, não deve julgar ser capaz de livrar-se de todos os seus preceitos e crenças pessoais, já que isso seria para Weber impossível; ao contrário o cientista deve valer-se da chamada "neutralidade axiológica" (em alemão: Wertfreiheit). Este termo designa 'liberdade de valor',[14] retoma assim o conceito de axioma. Por conseguinte, Weber quer propor termos neutros, destituídos de valores ideológicos; servindo como consenso inicial necessário para a sua construção típico-ideal. Ou seja, mesmo que o cientista seja movido por valores, ele deve entender que a investigação deve ser científica, deve render-se à evidencia dos dados, nunca distorcê-los.[15]

O tipo ideal portanto, possibilita a criação de uma ponte que permite unir o componente subjetivo e o conhecimento empírico. Servindo como instrumento de análise inicial pelo qual passariam praticamente todos os estudos metodológicos posteriores e que orientariam os pesquisadores sociais na "construção de hipóteses".[15]

Características[editar | editar código-fonte]

Resumindo-se todas as características inerentes aos tipos ideais, podemos resumí-las em três. São elas:

  • Caráter utópico: Pois o tipo ideal não corresponde à realidade, somente objetiva compreendê-la.
  • Indução:
  • Unilateralidade (ou subjetividade): A escolha do fenômeno social parte unicamente da subjetividade do pesquisador
Deve-se tomar muito cuidado com o termo caráter utópico, e mesmo com o próprio significado de "tipo ideal
— Eu


Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas e referências

  1. a b Edilaine Custodio Ferreira (3 de dezembro de 2004). «Raízes do Brasil: uma interlocução entre Simmel, Weber e Sérgio Buarque de Holanda». Revista Urutágua - revista acadêmica multidisciplinar. Consultado em 1 de fevereiro de 2008 
  2. «Dicionário de Sociologia: Tipo Ideal». Escola Secundária Gama Barros. Consultado em 1 de fevereiro de 2008 
  3. «Max Weber – Vida e Obra». Cultura Brasileira. Consultado em 1 de fevereiro de 2008 
  4. a b MASSELLA, Alexandre Braga (2005). «Epistemologia das ciências humanas: (Tomo I: Positivismo e hermenêutica: Durkheim e Weber)». Revista brasileira de Ciências Sociais [online], São Paulo, v. 20, n. 57. doi:10.1590/S0102-69092005000100013. Consultado em 8 de janeiro de 2008 
  5. José Adelino Maltez. «Historicismo». Consultado em 8 de janeiro de 2008 
  6. Teixeira, Rodrigo Alves (28 de fevereiro de 2003). «Positivismo, historicismo e dialética na metodologia da economia». [ www.usp.br/ USP]. Consultado em 8 de janeiro de 2008 
  7. COSTA, Maria Cristina Castilho (2005). Sociologia. Introdução à ciência da sociedade 3 ed. [S.l.]: Moderna. ISBN 8516048101  Parâmetro desconhecido |Páginas= ignorado (|páginas=) sugerido (ajuda)
  8. Cláudia Ajaj (27 de novembro de 2006). «Sociologia Jurídica sob a ótica de Durkheim». [ www.direitonet.com.br/ DireitoNet]. Consultado em 3 de março de 2008 
  9. Roberto Andersen. «Émile Durkheim — Notas sobre o pensador». Consultado em 3 de março de 2008 
  10. Trecho retirado do n° 87 da encíclica "Fides et Ratio" (Fé e razão), do então Papa João Paulo II aos bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão — Sumo Pontífice João Paulo II (1998). «Carta Encíclica - FIDES ET RATIO». consciencia.org. Consultado em 3 de março de 2008 
  11. QUINTANEIRO, Tania, Maria Ligia de Oliveira Barbosa, Márcia Gardênia Monteiro de Oliveira (1995). Um Toque de Clássicos. Marx, Durkheim e Weber 2ª ed. [S.l.]: UFMG. ISBN 85-7041-317-3  Parâmetro desconhecido |Páginas= ignorado (|páginas=) sugerido (ajuda)
  12. Weber, Max in: COHN, Gabriel (Org.) Max Weber. Ensaios de Sociologia. Tradução de Amélia Cohn e Gabriel Cohn (1982). A objetividade do conhecimento nas Ciências Sociais 2ª ed. [S.l.]: Ática  Parâmetro desconhecido |Páginas= ignorado (|páginas=) sugerido (ajuda)
  13. SAINT-PIERRE, Héctor L (1995). Max Weber. entre a paixão e a razão 3ª ed. [S.l.]: Unicamp  Parâmetro desconhecido |Páginas= ignorado (|páginas=) sugerido (ajuda)
  14. Louden, Robert B. «"A Segunda Parte da Moral:" A Antropologia moral de Kant e sua relaçao com a Metafísica dos Costumes» (pdf). University of Southern Maine. Consultado em 20 de março de 2008 
  15. a b Alves, Venceslau. «Entre a razão, o sentido e a paixão – o outsider em Weber». Neamp (Núcleo de estudos em arte, mídia e política) PUC-SP. Consultado em 20 de março de 2008