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Fase Pré-Nicena e Concílio de Niceia[editar | editar código-fonte]

Ícone do Pentecostes

Até ao século XI, os católicos romanos e os católicos ortodoxos têm uma história comum, que começa com a instituição da Igreja por Jesus de Nazaré e sua difusão por seus discípulos, que, como o relatado no livro bíblico dos Atos dos Apóstolos,[1] espalharam-se a partir da cidade de Jerusalém, fundando a primeira comunidade denominada cristã em Antioquia e depois se espalhando, ainda pelos mesmos, pela Europa Ocidental, Oriente Médio, Ásia e Norte da África. Por volta do século IV, a Cristandade já chegara às mais diversas regiões, apesar das perseguições movidas por poderes tradicionalmente pagãos, e diversas escolas exegéticas haviam se desenvolvido, como a Escola de Antioquia e a Escola Catequética de Alexandria. A ortodoxia cristã, no entanto, era ameaçada por diversas doutrinas consideradas heréticas, como o arianismo, o novacianismo e o adocionismo, além das muitas seitas gnósticas. Em 313, no entanto, o Édito de Milão finalmente instituiu a liberdade religiosa no Império Romano, o que foi seguido por uma progressiva cristianização do Império de Roma a partir da conversão do imperador Constantino no ano de 324. Foi então convocado o Primeiro Concílio de Niceia, que buscou a unificação da Cristandade, a solidificação dos preceitos da fé cristã, o anátema das principais heresias da época e a composição de um credo comum ortodoxo, o Credo Niceno. [2]

Neste Concílio, estabeleceu-se que em cada província civil do Império Romano o corpo dos bispos deveria ser encabeçado pelo bispo da capital provincial (o bispo metropolita), mas reconheceu a autoridade super-metropolitana já exercida pelos bispos de Roma, Alexandria e Antioquia. Além disso, decretou que o bispo de Jerusalém tivesse direito a honra especial, embora não a autoridade sobre outros bispos.[3][4] Quando a residência do imperador romano e o senado foram transferidos para Constantinopla, em 330, o Bispo de Roma perdeu influência nas igrejas orientais, em benefício do Bispo de Constantinopla. Ainda assim, Roma continuou a ter uma autoridade ecumênica especial devido à sua ligação tradicional com o apóstolo Pedro e seu passado como capital do Império Romano.[5]

No ano de 381, foi realizado na parte oriental do império o Primeiro Concílio de Constantinopla, que decretou a divindade do Espírito Santo, lançando anátema sobre os macedonianos e tendo suas decisões acatadas pelas igrejas ocidentais.[6] Em 431, o Primeiro Concílio de Éfeso proclamou, a despeito dos nestorianos, que a Virgem Maria era a Teótoco ("Mãe de Deus"), o que gerou a Igreja do Oriente, até hoje separada das grandes comunhões cristãs. A grande maioria dos fiéis habitavam na Índia e na Síria, após uma retração substancial da antes forte presença nestoriana na China e na Ásia Central. Na Índia, a maioria dos sucessores deste cisma passaram depois ao catolicismo oriental ou ao miafisismo.[7] Na Síria também muitos passaram ao catolicismo oriental e formaram a Igreja Católica Caldeia.[8] Em 451, o Concílio de Calcedônia condenou o monofisismo. Isto gerou um cisma na Igreja de Alexandria liderado por Dióscoro, que, apesar de não professar a doutrina monofisita de Êutiques, rejeitava a resolução de Calcedônia, gerando a formação da Igreja Copta.[9][10] Progressivamente, grupos no Levante e na Armênia rejeitariam o Concílio e se uniriam aos coptas, dando origem às chamadas igrejas ortodoxas orientais, que ainda se expandiriam pela África e Índia.

Distanciamento entre Ocidente e Oriente[editar | editar código-fonte]

Uma série de dificuldades estimulou um progressivo distanciamento entre Roma e os demais patriarcados. Primeiramente, a quebra da unidade política. Com a divisão do Império Romano em 395 e a queda do Império Romano do Ocidente em 476, Oriente e Ocidente deixaram de estar sob o mesmo governo. No século VI, o imperador Justiniano I empreendeu uma série de campanhas militares na parte ocidental ocupada pelos germânicos e que resultou na conquista da península itálica, mas que foi posteriormente perdida no século VIII com a progressiva penetração dos lombardos. Mais tarde, com a ascensão do Islamismo, as trocas econômicas e os contatos por via marítima entre o Império Bizantino, de língua grega, e o Ocidente, de língua latina, se tornaram mais difíceis, e a unidade cultural entre os dois mundos deixou paulatinamente de existir. No século VIII, Roma colocou-se sob a proteção do Império Carolíngio, o que criou uma situação em que as Igrejas em Roma e em Constantinopla estavam no seio de dois impérios distintos, fortes e autossuficientes, cada qual com sua própria tradição e cultura.

O primeiro grande cisma entre o Ocidente e o Oriente seria o Cisma Acaciano, a partir de 484, quando a tentativa por parte da Igreja de Constantinopla de reconciliar-se com os não-calcedônios gerou desaprovação por parte do Papa Félix III, ultimamente levando Acácio de Constantinopla a riscar o nome de Félix de seus dípticos. As tentativas de reconciliação só seriam vitoriosas na Páscoa de 519. No ano de 553, foi convocado o Segundo Concílio de Constantinopla, que aprofundou as decisões do concílio ecumênico anterior. Tentativas posteriores de reconciliação com os não-calcedônios levariam ao monotelismo e ao monoenergismo, condenados no Terceiro Concílio de Constantinopla em 681. Em 787, dado o surto iconoclasta em Constantinopla, Irene de Atenas convocou o Segundo Concílio de Niceia, para ratificar a ortodoxia da veneração de imagens, especialmente pelo trabalho de São João de Damasco. Este episódio é frequentemente referido como "Triunfo da Ortodoxia".[11]

Além do anteriormente citado, a situação de afastamento ensejou uma escalada de divergências doutrinárias entre Oriente e Ocidente (em particular, a inclusão no sexto século, pela Igreja Latina, da cláusula Filioque (significa "e do filho" e indicava que o Espírito Santo procedia tanto do pai como do Filho), no Credo niceno-constantinopolitano, considerada herética pelos ortodoxos) e a adoção gradativa de rituais diferentes entre si. Ao mesmo tempo, acentuou-se a pretensão, por parte de Roma, de exercer uma autoridade incontestada sobre todo o mundo cristão, enquanto que Constantinopla aceitava somente que Roma tivesse uma posição de honra. O atrito entre Cristandade latina e grega se intensificou com a cristianização do Império Búlgaro, quando missionários da Frância Oriental, da Alemanha e do Império Bizantino chocaram-se na região, deflagrando disputas, por exemplo, quanto à linguagem dos ofícios e ao uso do Filioque, que mesmo ainda não utilizado em totalidade pela Igreja Latina, já fora introduzido pelos francos e alemães.[2][12]

Tais disputas chegariam a seu ápice no Cisma de Fócio, quando, após o Imperador Miguel III, o Ébrio depor o Patriarca Inácio I de Constantinopla em benefício de São Fócio em 858, o Papa Nicolau I condenou a Sé de Constantinopla em 863, que fatalmente excomungou o Papa em 867. Durante o Cisma, em 865, o príncipe Bóris I da Bulgária, temendo um invasão bizantina, aceitou o batismo das mãos não do clero alemão, mas do bizantino.[2] O cisma apenas seria resolvido em 867, com a morte de Miguel III, mas, em 879, Basílio I, o Macedônio convocou o Quarto Concílio de Constantinopla, reabilitando São Fócio, que condenava em seus escritos o Filioque como blasfemo, além de dar autocefalia à Igreja da Bulgária.[13][14] Alguns autores ortodoxos chegam a considerar este o Oitavo Concílio Ecumênico.

O mesmo Patriarca Fócio foi conhecido por ter tomado esforços massivos para a cristianização dos eslavos enviando os jovens missionários Cirilo e Metódio para a Grande Morávia no ano de 862, a pedido de seu próprio soberano, o Duque Rastislau. Para isto, os irmãos codificaram a língua eslava eclesiástica com base no dialeto que aprenderam dos eslavos de Salônica, compondo para tal o alfabeto glagolítico (baseado em seu conhecimento anterior de múltiplos sistemas de escrita) e traduziram a Bíblia e livros litúrgicos do rito bizantino para o idioma. Após a morte de Cirilo, Metódio e Rastislau, no entanto (os três hoje venerados como santos tanto na Igreja Ortodoxa quanto na Igreja Católica Romana), Zuentibaldo I, provavelmente por pressão do clero franco, perseguiu seus discípulos (chamados cirilo-metodistas), que foram presos, escravizados ou exilados para a Bulgária, onde seguiram sua missão evangélica sob a liderança de Santos Clemente de Ocrida e Naum de Preslava, em que compensaram a expulsão do clero grego fornecendo ofícios em eslavônico.[15][16][2] Os cirilo-metodistas ainda se expandiriam rapidamente para a Sérvia (que já era considerada um país cristão por volta de 870, com a conversão de Mutímero e outros nobres)[17] e à Rússia de Quieve.

Esta parte do clero franco que expulsara os missionários cirilo-metodistas de língua eslavônica da Morávia aderia à chamada heresia trilíngue, ou heresia pilaciana, que dizia só ser possível adorar a Deus em hebraico, grego ou latim, o que exemplifica em parte as pretensões latinas a esta altura.[16][18]

Todas as supracitadas tensões acumuladas fatalmente levaram à ruptura entre as igrejas, em 1054, com a excomunhão mútua entre autoridades da Igreja Católica Ocidental e da Igreja Ortodoxa Oriental (Grécia, Rússia e outras terras eslavas, além de Anatólia, Cáucaso, Síria, Egito, etc., incluindo áreas onde muitos dos cristãos já pertenciam a Igrejas Ortodoxas Orientais). A essa divisão a historiografia ocidental chama Cisma do Oriente ou Cisma do Oriente e do Ocidente, ou simplesmente Grande Cisma.

Ortodoxia grega nos séculos posteriores ao Cisma[editar | editar código-fonte]

A relação entre a Igreja Ocidental e a Oriental fica ainda pior em decorrência da Quarta Cruzada, que sela a divisão entre as igrejas. O saque da Basílica de Santa Sofia e o estabelecimento do Império Latino são até hoje motivos de tensão, ainda que primeiro tenha sido repudiado pelo Papa Inocêncio II à época, só sendo todavia emitidas desculpas oficiais por João Paulo II em 2004, aceitas por Bartolomeu I de Constantinopla. Tentou-se restabelecer união no Segundo Concílio de Lyon (em 1274) e o Concílio de Florença (em 1439). Foram feitas pressões para um restabelecimento da comunhão neste segundo, ainda que canonicamente contestáveis e recebidas com oposição por personalidades como São Marcos de Éfeso, mas a união acabou se desfazendo com a Queda de Constantinopla. Algumas comunidades ortodoxas fatalmente entrariam em comunhão em períodos diferentes, juntas formando parte da Igreja Católica Oriental.

Entre 1341 e 1351, foi congregada uma série de concílios coletivamente conhecidos como Quinto Concílio de Constantinopla, afirmando a ortodoxia da teologia hesicasta de São Gregório Palamas, condenando o racionalismo do filósofo Barlaão da Calábria. Alguns ortodoxos conhecem este como Nono Concílio Ecumênico.[19]

Em 1453, Constantinopla cai para o Império Otomano, que fatalmente toma quase todos os Bálcãs. O Egito era tomado pelo islamismo desde o século VIII, mas a Ortodoxia ainda era forte na Rússia, que passaria a ser referida como Terceira Roma.[20] O Patriarca de Constantinopla tem autoridade administrativa sobre os rumes do Império Otomano, que permite certa liberdade de culto no Império. No Império Russo, a Igreja Ortodoxa Russa era uma instituição desconectada do Estado até 1666, com a deposição do Patriarca Nikon (conhecido pelas reformas que levaram ao cisma dos velhos crentes), influenciada por Aleixo I.

Sob o jugo otomano, os cristãos ortodoxos, organizados sob o millet romano, experienciaram um congelamento da antes florescente atividade missionária, além de eventuais mártires e uma hierarquia crescentemente corrompida em decorrência das pesadas taxações impostas pelos otomanos.[2] O berat, a aprovação do sultão para o ocupante do posto de Patriarca Ecumênico, por exemplo, era frequentemente vendido àquele que oferecesse mais dinheiro, e muitos patriarcas foram depostos e restituídos por questões financeiras: dos 159 patriarcas que ocuparam o trono durante o período otomano, apenas 21 tiveram mortes naturais enquanto exerciam o pontificado, enquanto 105 foram retirados pelos turcos, 27 abdicaram (frequentemente por coação externa) e 6 sofreram mortes violentas.[21] Por outro lado, o poder do Patriarca de Constantinopla teve sua máxima extensão histórica com a subjugação de outros povos ortodoxos sob domínio turco, com o restante da Tetrarquia, ainda que canonicamente autocéfala, tendo extrema influência turca, e as igrejas da Bulgária e Sérvia gradualmente passando para domínio direto de Constantinopla. Adicionalmente, a estrutura de imperium in imperio dos milletler permitiu que as identidades locais ortodoxas fossem preservadas através dos séculos, de forma que a partir do início do século XIX algumas culturas fossem restauradas como estados-nações independentes.[2]

Ortodoxia eslava[editar | editar código-fonte]

Idade Contemporânea[editar | editar código-fonte]

No século XVIII, a Igreja Ortodoxa volta a estar presente no Hemisfério Ocidental, com a chegada de missionários russos ao Alasca em 1867, então parte do Império Russo. Mesmo no atual estado norte-americano de Alasca, 12,5% da população se declara ortodoxa.[22] Em 1721, Pedro I abole o Patriarcado e transforma a Igreja em uma instituição estatal, o que só é interrompido com a Revolução de Outubro. O ressurgimento da posição, no entanto, não duraria muito, com o Patriarcado sendo extinto pelo governo comunista após a morte do Patriarca Tikhon. Em 1943, no entanto, o Patriarcado foi reinstituído por Joseph Stalin. Ainda haveria perseguições sob Khrushchev, que chegou a fechar 12 mil igrejas. Menos de 7 mil permaneciam ativas à altura de 1982. [23] Hoje, de acordo com dados de 2016, a Igreja Ortodoxa Russa dispõe de cerca de 35 mil paróquias pelo mundo.[24]

Com o ateísmo de Estado dos regimes comunistas que se implantaram em nações com presença ortodoxa como na Europa Oriental, regiões asiáticas da União Soviética e China, a Igreja Ortodoxa sofreu fortemente com perseguição e censura, o caso mais drástico provavelmente sendo o da Albânia de Hoxha, declarada oficialmente ateísta e tendo sua igreja nacional fechada entre 1967 e 1992.[25] Em outros países, no entanto, como na Romênia, a Igreja teve relativa liberdade, apesar do forte controle por parte da polícia e de experiências como as tentativas de lavagem cerebral de crentes na prisão de Piteşti, o que por fim seria rigorosamente punido pelo Estado.

Com a queda das ditaduras comunistas da Europa Oriental, começando pela Albânia em 1976 e depois por uma queda abrupta de todas as restantes entre 1989 e 1992, as jurisdições da Igreja Ortodoxa oprimidas por estes regimes começaram a tomar mais liberdade. Em 2007, a Igreja Ortodoxa Russa no Exterior, que se separara do Patriarcado de Moscou após o Patriarca Sérgio de Moscou, na prisão, jurar aliança ao Estado comunista, restaurou a comunhão.[26] Em 2016, em Creta, foi congregado um Concílio Pan-Ortodoxo, como planejado desde os anos 60.

  1. Atos dos Apóstolos 11:19-26
  2. a b c d e f WARE, Kallistos. The Orthodox Church
  3. Decisões do Concílio de Niceia em italiano
  4. Decisões do Concílio de Niceia em inglês
  5. Radeck, Francisco; Dominic Radecki (2004). Tumultuous Times - Twenty General Councils Of The Catholic Church & Vatican II And Its Aftermath.] St. Joseph's Media, p. 79. ISBN 978-0-9715061-0-7.
  6. NPNF2-14. The Seven Ecumenical Councils | Christian Classics Ethereal Library
  7. Malankara Mar Thoma Syrian Church: Heritage
  8. CNEWA: The Chaldean Catholic Church
  9. Greek Orthodox Archdiocese of America: Fourth Ecumenical Council
  10. Got Questions? "What is Coptic Christianity, and what do Coptic Christians believe?"
  11. Greek Orthodox Archdiocese of America: Seventh Ecumenical Council
  12. История на Първото българско Царство. II. От славянизацията на държавата до падането на Първото царство (852—1018), por Vasil Zlatarski. (em macedônio)
  13. Philip Schaff, Conflict of the Eastern and Western Churches
  14. PHOTIOS, St. The Mystagogy of the Holy Spirit
  15. Wells, Colin (2006). Sailing from Byzantium: How a Lost Empire Shaped the World. New York: Bantam Dell. ISBN 9780553382730 
  16. a b Audiência Geral do Papa Bento XVI, 17 de junho de 2009. Visitado em: 17 de janeiro de 2017.
  17. Vlasto, A. P. (1970). The Entry of the Slavs into Christendom: An Introduction to the Medieval History of the Slavs. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-07459-9 
  18. Touchstone The Thessalonian Brothers, por Mark Eliot Nuckols. Visitado em: 17 de janeiro de 2017.
  19. Orthodox Wiki: Nineth Ecumenical Council
  20. Parry, Ken; David Melling (editors) (1999). The Blackwell Dictionary of Eastern Christianity. Malden, MA.: Blackwell Publishing. p. 490. ISBN 0-631-23203-6 
  21. KIDD, B. J. The Churches of Eastern Christendom, p. 304.
  22. Pew Research Center, "Religious composition of adults in Alaska"
  23. Ostling, Richard. "Cross meets Kremlin", TIME Magazine, 24 June 2001. Retrieved 7 April 2008. Arquivado julho 22, 2007 no WebCite
  24. Доклад Святейшего Патриарха Кирилла на Архиерейском Соборе Русской Православной Церкви (2 февраля 2016 года) / Официальные документы / Патриархия.ru
  25. Van Christo. Albania and the Albanians. no Wayback Machine (arquivado em 8 de dezembro de 2007)
  26. David Holley (18 de maio de 2007). «Russian Orthodox split is mended». Los Angeles Times  (em inglês)