Usuário:Parzeus/Romance Histórico1

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Nacionalismo (Publicado)[editar | editar código-fonte]

O romance histórico está ligado, desde suas origens, à ascensão do nacionalismo a partir da segunda metade do século XVIII.[1] O autor Franco Moretti aponta que a segunda metade do século XVIII marca a consolidação da ideia de Estado-nação na Europa, através dos cercamentos rurais, do aumento da industrialização, a ampliação dos sistemas de comunicação e a consolidação dos mercados nacionais.[2] Esse processo leva a maioria da população a se enxergar para além da esfera local, passando a se compreender como parte de uma dimensão nacional - e mesmo internacional. O romance histórico tem um papel importante na formação dessa nova ideia de indivíduo.[2]

Nesse sentido, no modelo de romance histórico de Walter Scott, apesar de ser estruturado de forma que a narrativa seja baseada a partir da experiência individual do protagonista, há também, num âmbito mais geral, a exploração da sociedade e do ambiente em que os personagens estão inseridos. Neste sentido, o romance, e sobretudo o romance histórico, tem como uma das principais características a exploração da relação de um indivíduo dentro de sua sociedade, e, especificamente, sua nação.[3] Em certo sentido, o romance histórico narra, no primeiro plano, a experiência individual do personagem principal e seu desenvolvimento ao longo do tempo, mas, em segundo plano, narra também o desenvolvimento histórico da sociedade, ou da nação, a partir dos eventos históricos que ocorrem ao longo da narrativa.[4][5]

Em razão destes aspectos, muitos dos romances históricos escritos a partir do século XIX, em diferentes contextos, estão atrelados à questões da formação de uma identidade nacional. Durante todo o século XIX, a questão da identidade nacional é central em romances históricos no contexto dos Estados-nação europeus, mas também nas independências do continente americano, no nacionalismo do período Meiji no Japão, no movimento cultural da Al-Nahda no Egito e em diversas partes do Império Otomano, além de diversos outros contextos.[2][6][7][8] Além disso, no século XX, com os processos de independência e descolonização na África, diversos autores de países do continente africano escrevem romances históricos de caráter pós-colonial, visando a construção de identidades nacionais próprias, e em alguns casos, a propagação do pan-africanismo.[9][10]

Temporalidade (REVISAR)[editar | editar código-fonte]

"Old Time Machine", fotografia de 2009.

O romance também é caracterizado, principalmente no século XVIII, pela compreensão de que o tempo e o contexto histórico de seus personagens, determinam em grande medida as suas experiências de vida, e a sociedade em que vivem.[11] Neste sentido, a temporalidade passa a ser um fator importante na narrativa, havendo interesse em demonstrar como os personagens se desenvolvem e mudam com o passar do tempo.[11] O romance, portanto, está ligado às discussões presentes na querela dos antigos e modernos sobre as diferenças entre passado e presente, e no desenvolvimento da experiência do tempo moderna.[12]

Um importante aspecto de todo o romance histórico são as múltiplas temporalidades envolvidas nas narrativas. O romance histórico lida com, ao menos, dois períodos históricos diferentes: o contexto histórico em que o romance se situa, e o contexto histórico do próprio autor.[13] Ainda assim, mais temporalidades podem estar envolvidas em uma obra, como por exemplo a temporalidade dos leitores, uma vez que uma obra pode ser reinterpretada de formas diferentes ao longo dos séculos.[13]

O autor Mikhail Bakhtin considerava que uma das principais características do romance histórico, e uma de suas principais virtudes, é a forma como o passado e o presente interagem nas obras.[14] O autor considerava que dentre todos os gêneros literários, o romance foi, na era contemporânea, aquele que foi mais capaz de representar o passado, e a possibilitar a experiência do tempo moderna de que o tempo é composto por uma sequência de eventos, e de que o passado consiste apenas em outros presentes.[14] Nesse sentido, a noção de tempo que é utilizada nos romances históricos costuma ter a função de contextualizar o passado representado, mostrar para o leitor como seria a experiência de viver naquele determinado período, naquele determinado espaço.[15]

Há ainda romances históricos em que dentro da narrativa os personagens experienciam diferentes contextos históricos, normalmente através de viagem no tempo, como na série de livros Outlander, em que uma enfermeira do século XX é transportada para o século XVIII.[16] No entanto, essa estratégia narrativa remonta ao século XIX, através de obras como A Dream of John Ball (1888) de William Morris, ou A Connecticut Yankee in King Arthur's Court (1889), de Mark Twain.[17]

Século XVII (Publicado)[editar | editar código-fonte]

Catarina de Médici observa os corpos de protestantes após o Massacre da noite de São Bartolomeu. Pintura francesa de 1880.

O autor Richard Maxwell aponta como no século XVII na França, havia uma dificuldade em distinguir narrativas históricas de narrativas ficcionais sobre o passado.[18] Apesar de não serem uma forma literária muito popular, os livros sobre História neste período eram escritos por autores que não poderiam ser considerados nem historiadores, nem romancistas, mas algo entre as duas funções.[18] No final do século, alguns intelectuais franceses, como Pierre Bayle, passaram a buscar diferenciar as duas formas de escrita, buscando valorizar narrativas comprovadamente verdadeiras do que narrativas literárias ou com aspectos ficcionais.[19] Ou seja, definiam que, enquanto a história tratava do estudo rigoroso do passado e o que de fato aconteceu, a ficção histórica deveria ser tratada como entretenimento, mais preocupada com a narrativa em si do que com a veracidade da ambientação histórica. Desta forma, estes autores passam a defender a valorização da História (escrita a partir de uma pesquisa documental) como um gênero literário mais nobre do que a ficção histórica, por mesclar eventos históricos com personagens fictícios, o que, para eles, era uma tentativa de enganação mal-intencionada do público.[18]

É neste contexto que Madame de La Fayette publica, em 1662, sua obra "A Princesa de Montpensier", um conto histórico (no francês, nouvelle historique) em prosa ambientado no século XVI, durante o reinado de Carlos IX.[20] Para Richard Maxwell, esta obra marca o início daquilo que viria a se tornar o romance histórico em sua forma predominantemente difundida.[20] Enquanto muitos dos livros produzidos na época se ambientavam na Antiguidade, La Fayette escreve seu livro em um passado recente, do século anterior ao que escrevia, algo que vinha sendo uma preocupação da historiografia do período, em razão das guerras externas e internas que ocorriam na França do século XVII.[21] Em especial, Maxwell aponta como a obra fazia referência, em ordem cronológica, a diversos eventos históricos que ocorreram no século anterior, se utilizando de cartas, documentos e livros sobre o período na obra ficcional. Para ele, a obra de La Fayette responde às críticas da época ao criar escrever um conto de ficção histórica que se utiliza de documentação e de pesquisa bibliográfica para descrever a ambientação histórica. [22]

Maxwell também destaca como a escrita de Lafayette se relaciona com a chamada história secreta e a história particular, duas correntes de escrita históricas muito populares na França do período.[23] No clímax da narrativa em "A Princesa de Montpensier" que acontece durante o Massacre da noite de São Bartolomeu, demonstra como Lafayette utiliza-se tanto de aspectos de história secreta (utilizando-se de cartas e especulações sobre membros da corte de Carlos IX) quanto de história particular (as ações individuais e biográficas de um personagem afetando o desenrolar de grandes eventos históricos), para mesclar as linhas entre história e ficção, algo que teria grande influência nas ficções históricas escritas nas décadas seguintes.[23] Ao colocar uma personagem fictícia, com personalidade, história e ações imaginadas pela autora, a participar ativamente de um evento histórico bem-documentado e importante para a história da França no período, La Fayette cria um tipo de ficção histórica que se diferencia daquelas que a precederam.[24]

Dezesseis anos depois, em 1678, a autora publica "A Princesa de Clèves", sua obra mais conhecida. Seguindo a mesma estrutura da obra anterior, o livro segue a história de uma nobre francesa do século XVI que se casa e entra para a corte de Henrique II, experienciando a série de eventos que antecedem e se seguem à morte do rei francês.[25] Richard Maxwell destaca como é em "A Princesa de Clèves" que La Fayette consegue balancear perfeitamente a ligação entre história particular - a narrativa biográfica da Princesa de Clèves - e história secreta - a narrativa mais ampla da série de eventos e conspirações que levam à morte de Henrique II.[26]

O gênero da nouvelle historique se origina na obra de La Fayette mas se expande através de autores como César Vichard de Saint-Réal e sua obra Don Carlos (1671).[27] Maxwell aponta como, apesar do gênero ter perdido popularidade no final do século XVII, ele tem uma grande importância para o desenvolvimento do gênero de ficção histórica em prosa, que levaria a criação do romance histórico durante a segunda metade do século XVIII.[28]

Século XVIII (Publicado)[editar | editar código-fonte]

Ilustração de Joseph de Longueil e Charles-Dominique-Joseph Eisen para um compilado de romances históricos em francês, de 1774.

A expansão do mercado literário europeu do XVIII, marcado pela criação das bibliotecas circulantes e a expansão no número de periódicos e romances impressos, em especial a partir da metade do século, levou à criação de diversos sub-gêneros e formatos de ficção em prosa, como o romance sentimental, o romance gótico, e também o romance histórico.[29][30] Nesse sentido, pela metade do século, a ficção histórica em prosa já era uma forma de escrita familiar aos círculos literários da Europa. É neste período que muitos autores, em diferentes contextos nacionais, passam a colocar no subtítulo de suas obras termos que definiam claramente um sub-gênero específico de romance, no encontro entre história e ficção.[31][32] Nesse sentido, a autora Anne Stevens aponta Longsword (1762), de Thomas Leland, como sendo o primeiro livro em língua inglesa com o subtítulo “a historical romance”, e aponta que ao longo das quatro décadas seguintes, 88 romances publicados em língua inglesa compartilhavam do mesmo subtítulo ou se utilizando de sinônimos.[33] Ao mesmo tempo, o termo “roman historique” aparece na língua francesa no subtítulo de La princesse de Gonsague (1756) de Joseph Durey, assim como “romanzo storico” e “novela historica” aparecem utilizados em traduções nas línguas italiana e espanhola na década de 1770. [32][34]

Apesar de haverem já algumas produções de romances históricos em diversos países da Europa, o romance histórico em sua forma popular no século XVIII se desenvolve a partir do contato entre os dois lados do Canal da Mancha: França e Reino Unido.[35] Enquanto autores como Richard Maxwell e James R. Foster dão uma importância grande para a influência francesa sobre a ficção histórica britânica, autores como Mark Salber Phillips, Anne Stevens e Fiona Price destacam a relação entre a ficção histórica produzida no século XVIII com outras formas diversas de escrita histórica do período, e em especial a relação com os autores do Iluminismo Escocês.[36][37][38]

Na França do final do século XVIII, a ficção histórica perde muito de seu prestígio, após uma série de debates e polêmicas sobre o papel - e a indistinção - entre ficção e história nas obras dos autores desse período, como Stéphanie Félicité, François d'Arnaud e Sophie Cottin.[39] Durante este período, o romance histórico francês sofreu grande influência da "libelle", um tipo de escrita satírica popular do período, caracterizada por tratar da biografia de grandes figuras políticas e históricas da França, tais como Maria Antonieta e Madame du Barry, que especulava sobre as práticas sexuais escabrosas, com a intenção de afetar a imagem pública sobre essas figuras.[40] Neste sentido, muitos dos romances históricos desse período foram criticados por não diferenciar fato e invenção nas suas narrativas, manipulando o público para acreditar em coisas inventadas sobre determinados personagens históricos, principalmente daqueles pertencentes à realeza francesa. Isso levou a queda na popularidade do gênero no país, sobretudo entre os leitores que faziam parte de setores conservadores e anti-jacobinos.[39] Mesmo assim, Richard Maxwell destaca como a recepção da literatura francesa influenciou muitas obras da geração que antecedeu Walter Scott. Autoras como Sophia Lee se inspiravam diretamente em "Cleveland”, de Antoine François Prévost, que também era lido avidamente por William Godwin, famoso intelectual inglês do período.[41]

Já os romances históricos britânicos do período também estavam ligados diretamente às produções da historiografia britânica, marcada pelas obras de autores como David Hume, William Robertson e Edward Gibbon.[42] [43] Apesar de ambos serem gêneros literários que tratavam da História, o romance histórico era considerado menos prestigioso, e também com menos produções: no século XVIII, foram produzidos cerca de 10 mil trabalhos historiográficos contra 3 mil romances históricos.[42] Desta forma, o romance histórico britânico sobretudo de 1780 até Scott buscava se aproximar, em busca de popularidade, dos trabalhos de historiadores e antiquários, experimentando com novas técnicas de escrita e incluindo em seus livros formas e conteúdos da escrita da história.[42][44] Este processo se dava através da utilização de notas de rodapé, prefácios com o contexto do período da ambientação e epígrafos para cada capítulo.[45] A autora Fiona Price destaca como os romances de autores como Thomas Leland, James White, Anna Maria Mackenzie, Clara Reeve, Sophia Lee e diversos outros do período buscam, através de suas narrativas em prosa, interrogar o papel, a metodologia, a recepção e o propósito da História, e que portanto se enquadram no conceito de “romance histórico”.[46]

Ilustração de Dora, personagem da obra "Ormond", escrita por Maria Edgeworth.

O romance Desmond (1792), escrito pela autora inglesa Charlotte Turner Smith, ambientado durante a Revolução Francesa de 1789, passou a ser estudado a partir da década de 1970 por pesquisadoras e pesquisadores da história das mulheres como um dos romances históricos mais influentes do século XVIII, por sua influência nas obras não apenas de Walter Scott, mas também de autoras como Mary Wollstonecraft e Emily Brontë.[47] Na obra, Smith demonstra apoio à causa dos revolucionários franceses e fala sobre a necessidade de reformas econômicas e democráticas na Inglaterra, incluindo críticas a diversos aspectos da organização patriarcal da sociedade europeia do período.[47][48][49] Nesse sentido, apesar de se tratar de um romance ambientado em um passado próximo do período em que foi publicado, Smith dedica boa parte da obra a examinar o passado da aristocracia inglesa e francesa, numa defesa do radicalismo do final do século XVIII e uma crítica às tradições e costumes históricos de França e Reino Unido.[50]

Já a obra Castle Rackrent (1800), escrita pela irlandesa Maria Edgeworth, é considerada pela autora Katie Trumpener como uma das principais inspirações para o modelo de romance histórico de Walter Scott.[51] Edgeworth teve como principal preocupação de suas obras a compreensão da união entre Inglaterra e Irlanda ao longo do século XVIII, que levou por fim ao Ato de União de 1800, e inaugurou o gênero do "conto nacional" irlandês, explorando a identidade das comunidades nacionais e as relações entre as diferentes nações.[52] Esta questão da identidade nacional é um aspecto que passa a figurar como peça fundamental para o desenvolvimento do romance histórico no século XIX.[52]

Fora do contexto europeu, no final do século XVIII no Japão, durante o final da Era Tokugawa, um gênero de ficção em prosa chamado yomihon (読本 lit. "livro de leitura"?) surge, sendo classificado por alguns autores como uma forma de romance histórico, em razão de seu caráter nacionalista e sua utilização de documentos históricos.[53][54] O yomihon, apesar de não tão popular quanto outras formas de literatura do Japão do século XVIII, surge no período da transição do centro cultural japonês de Osaka e Kyoto para Edo.[53] O gênero, sobretudo no início de seu desenvolvimento, entre 1750 e 1800, se inspirava em adaptações da literatura de ficção chinesa, com ambientações históricas, normalmente com narrativas budistas, muitas vezes com caráter sobrenatural.[55] Também havia inspiração em algumas obras anteriores, como o Heiji monogatari (平治物語 lit. "Os contos de Heiji"?), épico do século XIX.[54]

Séc XIX[editar | editar código-fonte]

Romantismo (REVISAR)[editar | editar código-fonte]

Como aponta Richard Maxwell, os romances históricos que se seguiram à popularização das obras de Walter Scott passaram a se encontrar dentro de um movimento literário mais amplo, o Romantismo.[56] Apesar de sua rápida expansão para fora da Europa, o romance histórico scottiano teve um impacto quase imediato na França, na Inglaterra e na Escócia.[56]

INGLATERRA:


ESCÓCIA: (Jane Porter, David Carey, George Robert Gleig, Alexander Sutherland, Alexander Balfour and Andrew Picken)

Na Escócia, o romance histórico teve um grande impacto na literatura após as primeiras publicações das obras de Scott. Apesar de existirem obras escocesas anteriores à Waverley que são identificadas como romances históricos - como The Scottish Chiefs, da autora Jane Porter, sobre a história de William Wallace, (...) [57]

[Tem 5 parágrafos sobre França. Acho que tá demais, não tem como enxugar? Acho que dois ou três ficaria em harmonia com as seções sobre Itália e Rússia- Flávia]

"A jovem Cosette varrendo", ilustração feita por Émile Bayard para a edição de 1862 de "Les Miserables", de Victor Hugo.

Na França, o romance histórico se desenvolveu, na primeira metade do século XIX, a partir de um modelo próprio, diferente daquele utilizado por Walter Scott.[58] Este modelo de romance histórico desenvolvido na França é, na Europa, o mais caracteristicamente alinhado ao Romantismo [por quê? - Flávia].[58] Este período, após a queda de Napoleão, é marcado pela Restauração da monarquia Bourbon ao trono francês, após sua deposição 25 anos antes, com a Revolução Francesa.[58] Neste sentido, o romance histórico do período é marcado pela tentativa de explorar os períodos tumultuosos da Revolução Francesa e do regime napoleônico, tanto por parte dos apoiadores da monarquia, quanto aos autores simpáticos aos ideais dos republicanos e liberais.[59] Um outro aspecto do romance histórico do Romantismo francês é a crítica à industrialização e ao aumento desenfreado das populações urbanas.[60]

Dentre aqueles favoráveis à Restauração Bourbon [e os contra? - Flávia], estavam Alfred de Vigny, autor do romance histórico "Cinq Mars", de 1826.[60] O autor considerava que a Revolução de 1789 havia ocorrido como uma consequência de uma série de erros do desenvolvimento da monarquia francesa no século XVIII, como a diminuição da autonomia da nobreza e o aumento da influência da burguesia (e com ela, o pensamento revolucionário).[59] No prefácio de sua obra, Vigny escreveu um ensaio intitulado "Reflexões sobre a verdade na arte" (em francês: Réflextions sur la vérité dans l'art), em que descreve o papel da arte francesa em analisar o passado em busca dos erros históricos cometidos, traçando uma ideia de "amadurecimento histórico" após um período traumático de revoluções.[58] Vigny também criticava o "modelo entrangeiro" de Walter Scott de colocar os grandes personagens da história em segundo plano, e colocava como protagonistas de suas histórias nobres, pensadores e reis franceses.[61]

Victor Hugo fazia críticas similares ao modelo scottiano, apesar de, ao contrário de Vigny, ser um crítico da monarquia francesa, adepto dos movimentos da oposição liberal francesa.[62] Hugo considerava que, apesar de terem grande valor literário, as prosas de Walter Scott não tinham a grandeza necessária: sua ideia era aproximar o romance histórico do drama e do épico, de forma a representar a história numa escala grandiosa e bela.[62] Nesse sentido, o romance histórico de Hugo é marcado por uma representação romântica dos eventos históricos, com um caráter moralizante, buscando, através da história, ensinar lições de moral úteis para o presente.[62]

Alexandre Dumas também era adepto da ideia de que os personagens históricos reais deveriam ser os protagonistas dos romances históricos franceses.[63] Dumas inaugurou, a partir de "Os Três Mosqueteiros", de 1845, uma nova tendência no romance histórico, que teria uma grande influência na segunda metade do século: a ideia de serialização, romances com continuações e personagens recorrentes, geralmente publicados em partes em periódicos e jornais.[64] As crônicas de D'Artagnan e dos mosqueteiros continuaram nas obras "Vinte anos Depois", de 1845, e "O Visconde de Bragelonne", de 1850, além de um quarto romance, "A Esfinge Vermelha", continuação direta de "Os Três Mosqueteiros", deixada incompleta por Dumas, publicada postumamente em 1946.[64] Os romances de Dumas são caracterizados por terem não um, mas quatro protagonistas, ao longo de múltiplos anos, em uma série de romances que, ao contrário dos romances de Balzac e Hugo, focam mais nas aventuras de seus personagens do que na preocupação com os modos e virtudes do período.[64]

Dentro dessa geração de autores, Honoré de Balzac é aquele que se aproximou mais diretamente do modelo de romance histórico de Walter Scott.[65] Em sua obra "A Comédia Humana", o autor busca retratar diversos aspectos da história francesa entre 1789 e 1848, e é marcada por uma concepção histórica de relações entre presente e passado, e uma busca de uma representação realística dos diversos personagens que compõem o cenário político francês, dos camponeses à elite aristocrática.[66] Balzac é considerado o autor que marca a transição na literatura francesa do romantismo para o realismo, passando a uma preocupação com problemas sociais contemporâneos.[66]

"I profughi di Parga", por Francesco Hayez, 1831.

Na Itália, o romance histórico, através das obras de Walter Scott, foi recebido positivamente, sobretudo na principal cidade do Romantismo italiano, Milão.[67] Ao longo da década de 1820, diversos autores passariam a escrever os primeiros romances históricos italianos, como "Ildegonda", escrita por Tomasso Grossi em 1820.[67] Entre os anos de 1820 e 1840, Alessandro Manzoni passa a escrever "I promessi sposi" (em português: "Os Noivos"), sua obra mais famosa e um dos principais romances históricos da Europa da primeira metade do século XIX.[68] A obra teve um grande impacto na literatura italiana e no romance histórico europeu, pela sua pesquisa histórica extensa, e pela preocupação de Manzoni com os limites entre história e ficção.[69]

Manzoni havia vivido em Paris entre 1805 e 1810, e acompanhou de perto o surgimento do Romantismo francês. Nos anos após a derrota de Napoleão, Manzoni participou ativamente das discussões sobre o Romantismo na Itália, surgidas com a publicação de um ensaio da Madame de Stäel em 1816, e teve seus primeiros contatos com a obra de Walter Scott.[70] A partir disso, Manzoni passou a se dedicar a escrever seu próprio romance histórico, misturando a literatura romântica e o modelo scottiano com a perspectiva da Filosofia da História de Giambattista Vico.[68]

"Czar Ivan, o Terrível e o Padre Sylvester"(em russo: Царь Иоанн Грозный и иерей Сильвестр), pintura de 1856 por Pavel Pleshanov

Na Rússia Imperial do século XIX, o romance histórico chegou na década de 1830, em um momento de busca por uma identidade nacional, e de uma nascente historiografia russa.[71] As origens do romance histórico russo se dão a partir da publicação de "A História do Estado Russo" (em russo: Истории государства Российского), obra em 12 volumes escrita pelo historiador Nikolai Karamzin entre 1818 e 1829, e das primeiras traduções das obras de Walter Scott para o russo, ocorridas no mesmo período.[72] Uma geração inteira de autores russos passou, na década de 1830, a escrever romances históricos, explorando o passado russo através do gênero do romance histórico.[71] Estes autores incluíam Alexander Pushkin, Nikolai Gogol, Faddei Bulgarin, Rafail Zotov, e muitos outros.[73] Esta primeira geração de romancistas foi marcada justamente por sua ligação ao Romantismo, e da inspiração no modelo de romance histórico não apenas de Walter Scott, mas também de Victor Hugo, Alfred de Vigny e Alessandro Manzoni.[73]

O sucesso dos romances históricos no mundo literário russo foi tão grande na década de 1830, que os termos "romance" e "romance histórico" se tornaram sinônimos na língua russa.[74] Um dos principais dilemas da literatura deste período é sobre o pertencimento do Império Russo ao mundo europeu, e sobre a noção do que seria a história russa. Para muitos intelectuais russos da época, ao contrário das nações europeias, o passado russo seria marcado pela monotonia e pela falta de uma cultura moderna própria.[75] Os romancistas do período buscaram contrapôr essa noção a partir da demonstração da diversidade da cultura russa, com suas múltiplas religiões, costumes e tipos de clima.[75] Ao longo do tempo, este debate passou a ser marcado por um crescente nacionalismo russo, com um esforço por parte dos autores em escrever sobre uma variedade de períodos e regiões da história russa, incluindo as primeiras populações Rus' na Alta Idade Média, as conquistas de Ivan, o Terrível e de Pedro, o Grande, o reinado de Catarina, a Grande e as Guerras Napoleônicas.[76][77]

Enquanto a década de 1830 marcou o auge do romance histórico russo, com mais de 100 publicações por diferentes autores, a década de 1840 foi marcada pela queda de popularidade, com menos de 40 publicações.[78] Ao longo do final da década de 1830 e no decorrer da década de 1840, o romance histórico foi passando a ser considerado uma forma de literatura menos prestigiada e até mesmo infantil.[79] Em um período em que a literatura russa passa a se dedicar a problemas sociais do período e a ser influenciada pelos primeiros autores da "Escola Natural" (primeiro período do Realismo na Rússia), muitos dos novos romances históricos passaram a ter como público-alvo não mais a elite intelectual, mas sim o público infantil.[80]

Depois da queda da popularidade do romance histórico durante a década de 1840, o gênero passou por um período de crise.[81] Apesar de produções como "Odnorog" de Panteleimon Kulish terem sido publicadas, nenhuma obra da década de 1850 obteve notoriedade, e os críticos apontavam que o gênero estava ultrapassado.[81] Na década de 1860, um grande número de romances históricos foram publicados, em uma tentativa de renovação do gênero, mas sem muito sucesso.[81] Um dos principais romances históricos desse período foi "Príncipe Serebrenni" (em russo: "Князь Серебряный"), escrito por Aleksei Konstantinovich Tolstoy e publicado em um periódico de Moscou entre 1859 e 1861. A obra de Aleksei, primo de segundo grau de Leo Tolstoy, é considerada o último romance histórico inspirado no modelo clássico de Walter Scott e última grande obra do romantismo russo.[82]

Período vitoriano (REVISAR)[editar | editar código-fonte]

"Dr Manette and Lucie with Charles Darnay", de C.E. Brock, em 1938, baseada em "Um Conto de Duas Cidades", de Charles Dickens.

Em meados do século XIX, o romance histórico caiu em declínio, deixando de ser uma forma divertida de entretenimento para a maioria dos leitores e passando para um relativo esquecimento.[83] Uma possível justificativa para isso seria que os autores que deram continuidade a forma do romance histórico inaugurada por Walter Scott estariam se preocupando muito mais em ater-se aos fatos do que Scott normalmente fazia, o que tornava as narrativas maçantes ao invés de gerarem interesse.[84] Dessa forma, a popularidade do gênero também passou a cair, e ao passo que muitos romances históricos de cunho moralizante eram publicados, caía a popularidade do gênero.[84]

Apesar disso, vários romancistas superaram esses problemas e escreveram romances históricos no período vitoriano.[83] [84] Alguns dos mais famosos escritores de romances históricos na chamada Era Vitoriana são Charles Dickens, William Makepeace Thackeray, George Eliot, Thomas Hardy, Rafael Sabatini, entre outros.[83] Em Um conto de duas cidades, por exemplo, Charles Dickens menciona no prefácio que para escrever sobre a Revolução Francesa leu The French Revolution: A History, escrito por Thomas Carlyle em 1837.[85] Além disso, Dickens utilizou fontes documentais e históricas para a escrita de seu romance histórico, como tabelas de impostos francesas, livros emprestados de Thomas Carlyle e obras de Jean-Jacques Rousseau.[86] Segundo Harold Orel, o periódico "The Celebrity Interview" foi um dos grandes responsáveis pela popularização dos escritores de romance histórico no período vitoriano, divulgando as obras de forma chamativa através de entrevistas com os autores.[87]

Uma diferenciação que se pode fazer entre os romances históricos da primeira metade do século XIX dos que se seguiram no período vitoriano é que os romancistas vitorianos inseriam em suas narrativas lições que o passado teria deixado à contemporaneidade.[88] Harold Orel afirma que os romancistas históricos inseriam em seus livros lições, muitas vezes escondidas e quase imperceptíveis, que poderiam aproximar a narrativa dos problemas contemporâneos aos leitores. Essa técnica também contribuía para a sensação de atualidade dos textos.[88] Outro aspecto interessante a respeito da escrita dos romances históricos vitorianos é que um número muito pequeno de autores de fato se preocupava com a fidelidade aos acontecimentos e às confirmações históricas.[88]

Como é comum nessas publicações, o romance histórico vitoriano era escrito numa perspectiva específica de acordo com os escritores das obras e o público ao qual elas se direcionavam.[89] Assim, é possível encontrar nas obras desse período uma série de referências às expansões imperiais britânicas e aos contexto histórico de avanço em direção às colônias na África e na Ásia. Isso pode ser visto através de romances ao longo de todo o século XIX, de Mansfield Park de Jane Austen (escrito em 1814) à Grandes Esperanças de Charles Dickens (escrito em 1861). [Olha, acho que nenhum deses dois livros é um romance histórico - Flávia] [89] Sobre isso, o escritor Edward Said fala sobre a necessidade de ler essas obras de maneira a compreender quem elas mostram e como mostram: em diversos momentos das obras são mencionados ou apresentados personagens e lugares de fora do Ocidente, porém sob o olhar europeu e ocidental.[90]

O autor Theodore Koditschek aponta que alguns tipos de romance histórico da era vitoriana, sobretudo aqueles que se aproximavam do conceito de história do historiador Thomas Macaulay, serviram para justificar a colonização britânica na Índia e na África do Sul, e à representar os povos destas regiões como culturalmente inferiores.[91] Estes romances históricos, alinhados à historiografia de Macaulay, buscavam explorar o passado britânico a partir da Revolução Inglesa de 1640, com a perspectiva de compreender a formação do Império Britânico, passando pela união com a coroa escocesa em 1707 e pela união com o território da Irlanda em 1800, e justificando a expansão e do Império em direção às colônias.[92] [nesse trecho fala-se mais de Macaulay que dos romances. Não fiquei sabendo nenhum nome de autor nem de livro - Flávia

Internacionalização[editar | editar código-fonte]

Entre 1858 e 1868, o jornal Ḥadīqat al-Akhbār, de Beirute, passou a traduzir pela primeira vez diversos romances históricos europeus, principalmente franceses, para a língua árabe.[93] Isso acontece em um período da geopolítica otomana em que Beirute se torna um importante centro comercial do Império Otomano com a França, em razão da produção local de seda. A influência francesa, juntamente com o crescimento de uma classe média local composta de comerciantes e intelectuais, levou ao interesse na literatura ocidental e no desenvolvimento de uma identidade política e cultural libanesa e síria.[94] Entre as obras publicadas no Ḥadīqat al-Akhbār estavam sobretudo romances europeus que tinham um aspecto de aventura e fantasia envolvidos, como "Robinson Crusoé" de Daniel Defoe, "Cinco Semanas em um Balão" de Júlio Verne e os romances históricos "Os Miseráveis" de Victor Hugo e "O Conde de Monte Cristo", de Alexandre Dumas.[95] O jornal passou a criar um fórum literário para população letrada de Beirute, incluindo com obras voltadas para o público leitor feminino, que Khalil al-Khûri, dono do jornal, considerava como sendo uma parte da sociedade que tinham um papel fundamental no processo de desenvolvimento cultural e social dos países árabes.[96] Para além da língua árabe, "O Conde de Monte Cristo" foi traduzido para o turco em 1871, e para o persa em 1873.[97]

Essas traduções se tornaram imensamente populares, e diversos autores árabes passaram a se inspirar nestas obras no processo do desenvolvimento do que hoje é conhecido como o romance árabe moderno.[97] Dentre estes autores está Jirjî Zaydan, escritor do Egito - que na época funcionava como um Quedivato do Império Otomano - de origem libanesa, que, em 1890, passa a escrever romances históricos inspirados no formato de Walter Scott e de romances europeus de sua época, com o intuito de familiarizar seus leitores com a história dos árabes e do Islã.[98] Utilizando como pano de fundo momentos importantes da história dos povos árabes, como a conquista da Espanha pelos bérberes e a conquista de Constantinopla pelos otomanos, as obras de Zaydan, como A Batalha de Poitiers e A Conquista de Andalusia eram caracterizadas por uma mistura de histórias de amor, intrigas de família e aventuras.[98] Zaydan faz parte de um movimento maior chamado de Al-Nahda, um dos movimentos que deu a base intelectual do Nacionalismo Árabe.[6]

NOVIDADES AQUI Em relação ao romance histórico na Ásia no final do século XIX, há produções literárias que já trazem reflexões antiimperiais sobre a colonização da Índia pelos britânicos. A. WATSON AND L. WILLIAMS p. 18 BRITISH ROMANTICISM IN ASIA

Séc XX[editar | editar código-fonte]

Início do século (Revisar)[editar | editar código-fonte]

No início do século XX, o romance histórico na Inglaterra agregava elementos do naturalismo e do impressionismo franceses.[99] Neste período, os principais romancistas ingleses foram Ford Madox Ford, George Moore e Maurice Hewlett.[99] Um tema recorrente nas produções deste período é a figura feminina sofrendo cruelmente pela força dos movimentos históricos e por homens.[99] Neste sentido, houve uma aumento no número de obras sobre a história das rainhas Tudor e Stuart na Inglaterra, buscando demonstrar o drama pessoal e o sofrimento das mulheres na história.[100] Exemplos deste tipo de romance podem ser encontrados em The Queen's Quair, publicado em 1904 por Hewlett, The Fifth Queen, de 1906 e The Fifth Queen Crowned, de 1908, ambos escritos por Madox Ford. O conceito de história nos romances deste período é tido como algo mecânico e amedrontador (geralmente representado como uma força masculina) contrastando com os valores da humanidade, que são representados pela virtude e pela psicologia complexa das personagens femininas.[100] Nesse mesmo período, Joseph Conrad escrevia os romances históricos The Arrow of Gold, de 1919, The Rover, de 1923, e Suspense, de 1925, todos ambientados na Europa continental durante eventos importantes dos séculos XVIII e XIX, como a Revolução Francesa, a ascensão de Napoleão e as Guerras Carlistas na Espanha.[101]

No começo do século XX, o movimento da Al-Nahda - a chamada "Renascença Cultural" dos países árabes - continua a trazer renovações para a literatura e para as artes das mais diferentes partes do Norte da África e do Oriente Médio, principalmente em países que compõem o Império Turco-Otomano.[102] Baseando-se no modelo proposto pelo egípcio Jirjî Zaydan. marcado pelos seus elementos pedagógicos e de entretenimento, o gênero do romance histórico passa a ser utilizado como uma forma de explorar as identidades nacionais dos países árabes a partir de suas histórias.[102] No Egito, por exemplo, após a Revolução de 1919 e a dissolução no Império Turco-Otomano ao final da Primeira Guerra Mundial, diversos setores da sociedade egípcia passam a enaltecer a ideia de "orgulho nacional".[103] Isso, somado à descoberta em 1922 da Tumba de Tutancâmon, dá início a uma série de romances históricos do chamado "Faraonismo", ambientados no Egito Antigo, buscando construir a ideia de continuidade entre o antigo império e o novo regime.[103] Entre os autores deste movimento estão Tawfiq al-Hakïm, com seu livro de 1919, 'Awdat al-rûh e, em um período posterior, Najïb Mahfūz com seu Tharthara fawq al-Nîl', de 1966.[103] Na Tunísia, o romance histórico mais célebre é Barq al-layl, escrito por al-Bashir Khurayyif, ambientado no reino Haféssida do século XVI, traçando paralelos com a ocupação espanhola no país, que ocorria na época da publicação.[103][104] Na Síria, o autor Ma'ruf al-Arna'ūt escreveu quatro romances históricos situados em diferentes períodos da história do Islã.[103][104] No Iraque, Mahmūd Ahmad al'Sayyid escreve o romance Jalal Khalid, sobre a revolta iraquiana ao protetorado britânico.[104] O autor Roger Allen identifica nestes romances históricos um movimento de desenvolvimento da literatura árabe moderna, após a Primeira Guerra Mundial, um período em que o Oriente Médio e o Norte da África se encontravam sobre o domínio da política dos protetorados britânicos.[104] No entanto, com a chegada da Segunda Guerra Mundial em 1939, a maior parte dos autores da literatura árabe passarão a escrever romances voltados aos problemas contemporâneos, se afastando do gênero do romance histórico, que será retomado apenas nos períodos das independências e do Pan-arabismo, nas décadas de 1960 e 1970.[104]

No Japão do final Era Meiji, na virada do século, o romance histórico é caracterizado por um conflito, iniciado na década de 1890, entre aqueles que adotavam todo tipo de ideia vinda do Ocidente e aqueles que defendem a importância da cultura e da identidade nacional japonesa.[105] Alguns autores importantes desse período de reafirmação da identidade japonesa frente às influências ocidentais são Natsume Sōeki, Kōda Rohan e Mori Ögai.[105] É na primeira década do século XX que estes autores passam a mesclar elementos da literatura estrangeira com as tradições literárias do Japão e da China.[105] Romances históricos deste período como Kanzan Jittoku (escrito por Ögai em 1916) demonstram também uma preocupação com a utilização de documentações históricas nas narrativas ficcionais, influenciados pelos estudos da filologia alemã.[105] O autor Michael Bourdaghs aponta que o começo do século XX é um momento de mudança no nacionalismo japonês.[7] O nacionalismo revolucionário da Restauração Meiji dá lugar para um nacionalismo moderno, principalmente depois da vitória na Guerra Sino-Japonesa, em 1895.[7] Esse novo nacionalismo passa por um desenvolvimento dos estudos da língua e da literatura japonesa. Dessa forma, a literatura de ficção histórica teve um papel fundamental em transformar o passado pré-moderno japonês em uma tradição cultural nacional.[7] No romance histórico, em especial, o autor Shimazaki Tōson teve um papel fundamental em traduzir a história pré-moderna no Japão para o imaginário nacional.[106] No seu romance histórico Yoake mae (夜明け前 lit. "Antes do Alvorecer"?), publicado entre 1929 e 1935, Tōson busca desconstruir a ideia até então vigente na historiografia, de que a Restauração Meiji teria sido uma revolução feita por alguns poucos setores da elite japonesa. Em contraponto à narrativa oficial, o autor representa a Restauração como uma revolução popular.[106] De acordo com Michael Bourdaghs, o romance mostra um movimento mais amplo nas décadas de 1920 e 1930 em construir uma ideia de comunidade nacional japonesa.[107] Em 1939, no Japão do Período Showa, o autor Yoshikawa Eiji publica aquele que se tornaria o romance histórico mais vendido do Japão no século XX, Musashi.[108] Com mais de três mil páginas na edição original, Musashi conta a história do samurai Miyamoto Musashi, que viveu no Japão do final do século XVI e início do século XVII.[109] Publicada durante a Segunda Guerra Mundial, a obra é interpretada por alguns de seus críticos como uma glorificação da violência, e um estímulo a cultura de guerra.[109]

Modernismo (Revisar)[editar | editar código-fonte]

"Homenaje a Virginia Woolf", desenho feito por GEMDIAZ em 2012.

Em 1925, a inglesa Virginia Woolf escreve um ensaio intitulado "Modern Fiction" (em português: "Ficção Moderna"), em que ela defende a necessidade da constante reinvenção da literatura de ficção, da utilização e readaptação dela para a necessidade dos autores.[110] De acordo com Virginia, o mundo é um lugar complexo demais, e que deve ser explorado pelos romancistas através da exploração da interioridade, das experiências próprias de cada indivíduo.[111] Dessa forma, ela propõe um modelo de literatura que se baseia na representação da psicologia dos personagens e na contestação das estruturas literárias formais (como o Realismo e o Romantismo). Este modelo de literatura proposto por Woolf é chamado comumente de modernismo literário.[111] Em um momento histórico em que as teorias de Sigmund Freud e Albert Einstein alteravam a própria concepção de realidade, o modernismo buscava retratar o sentimento de diferentes experiências históricas e culturais.[112] Em 1928, Virginia Woolf traz esse modelo literário para o romance histórico através de "Orlando", um romance biográfico semi-ficcional que conta a história de sua protagonista da Era Tudor, no século XVI, ao século XX.[111] A obra de Woolf é caracterizada por subverter as noções de identidade e de historicidade ao ter uma protagonista imortal, e que muda de gênero: na obra, Orlando era homem até os 30 anos, e desde então, tornou-se mulher.[111][113] No prefácio da obra, Woolf coloca sua busca em desconstruir o modelo do romance histórico, por entender que a tradição realista, convencionada em uma busca pela explicação "verdadeira" da história, falha em representar as múltiplas experiências que existem dentro da realidade.[113]

A década de 1930 foi caracterizada por um aumento nas tensões internacionais e no sentimento de crise após eventos como a Crise de 1929, o início da Guerra Civil Espanhola, o avanço de teorias de superioridade raciais e a ascensão do nazismo na Alemanha.[114] Esse sentimento de tensão e angústia frente a uma crise internacional - que se materializaria na Segunda Guerra Mundial)- levou ao aumento de publicações de romances históricos, e também de obras teóricas sobre o gênero.[114] Entre os principais autores desse período estão, além de Virginia Woolf, autores como Sylvia Townsend, Jack Lindsay, Rose Macaulay e Vera Britain.[114] Além disso, é nessa década, em 1937, que György Lukács publica sua obra "O Romance Histórico", principal obra sobre a teoria do romance histórico no século XX.[114]

Em 1941, Virginia Woolf publica sua última obra, o romance histórico "Between the Acts" (em português: "Entre os Atos").[115] Escrita nos últimos anos de sua vida e durante o início da Segunda Guerra Mundial, a obra trata da história da realização de uma peça de teatro sobre a história inglesa em uma pequena vila do interior da Inglaterra, pouco tempo antes da declaração de guerra, em 1939.[115] A estrutura de "Between the Acts" é considerada por muitos críticos como a mais confusa dos romances de Woolf, em razão da falta de um protagonista fixo (como é o caso de "Orlando").[115]

Nesta sua última obra, a autora busca desconstruir a ideia de experiência histórica não apenas coletivamente, mas individualmente: não há coesão na experiência histórica dos personagens, apenas fragmentos de memórias, diferentes impressões dos indivíduos sobre o passado.[115] Através dessa desconstrução, Woolf tenta explorar como essas diferentes experiências e memórias formam a noção das pessoas sobre a história, e também levam à criação de obras de arte.[115] A obra é composta por uma série de simbologias que buscam fazer analogias entre a peça, o público e os atores com a própria noção de história, da forma como se constroem as narrativas e os conhecimentos sobre o passado.[115] [Olha, nós temos todos esses parágrafos basicamente devotados à Woolf. Os outros autores citados, nem os nomes de suas obras aparecem. Eu acho que tá muito Virginia Woolf, que precisa abrir espaço para os outros autores. Sei que ela é uma romancista muito importante, mas acho que tá muito focado nela - Flávia]

No Brasil, o romance histórico do Modernismo é caracterizado pelo seu embasamento na promoção da diversidade cultural brasileira e a inspiração na chamada antropologia cultural.[116] Se distanciando do enfoque em raça e tradição do regionalismo do começo do século, o modernismo utilizava-se dos estudos do folclore, da linguística e da psicanálise; os artistas do modernismo buscavam, através de sua estética própria, apontar possibilidades para o futuro do Brasil frente ao contexto e aos problemas do mundo contemporâneo.[116] [Que autores? Que obras? Teriam como apresentar alguns nomes? - Flávia] No entanto, em 1926, com a volta do historiador Gilberto Freyre de sua formação na Europa, o movimento regionalista retoma força na literatura, buscando defender a tradição regional como a principal virtude cultural brasileira.[116] É neste período de renovação do regionalismo que o romance histórico se torna popular novamente, baseado na cultura nativista e na busca pelas origens e pela crítica à subjetividade do movimento modernista.[117] Neste período, principalmente ao longo da década de 1930, autores como Jorge Amado e Érico Veríssimo tiveram um papel importante na popularização do romance regionalista.[118] Com a biografia "ABC de Castro Alves", publicada em 1941, Jorge Amado escreve sua primeira obra de cunho histórico.[119] No ano seguinte, 1942, publica a biografia de Luís Carlos Prestes, intitulada "O Cavaleiro da Esperança".[120] Em 1954, publica "Os Subterrâneos da Liberdade", romance em três volumes sobre a vida a política na Era Vargas.[119] Na década de 1930, Érico Veríssimo publicou suas primeiras obras dentro do gênero histórico com a obra "A Vida de Joana D'Arc", em 1935.[118] Apesar desta primeira obra ter um caráter biográfico e voltado para o público infantil, o autor publica cinco anos depois, em 1940, seu primeiro romance histórico, intitulado "Saga".[118] A obra descreve, em forma de diário, a vida de um combatente da Guerra Civil Espanhola.[118] Entre 1949 e 1961, Érico Veríssimo publicou a trilogia "O Tempo e o Vento", uma saga de romances históricos que seguem a história da família Terra-Cambará ao longo da história do Rio Grande do Sul, de 1745 a 1945.[121] Enquanto o primeiro romance, "O Continente", fala sobre a história regional da segunda metade do século XVIII ao final do século XIX, os dois outros, "O Retrato" e "O Arquipélago", falam do período histórico vivido por Érico Veríssimo, nascido em 1905.[122] Esse romance histórico de Veríssimo é marcado pela busca em representar a forma como os fatos e crises históricas atingem a sociedade e os conflitos de gerações na vida política brasileira.[121]

Realismo Soviético (Revisar)[editar | editar código-fonte]

"Galya of the Birds", de Pavel Globa, 1918.

O realismo soviético enquanto escola literária e artística compreende as produções artísticas do período que vão, geralmente, de 1930 até 1960. Segundo Katerina Clark, uma das principais características do romance no realismo soviético, ou socialista, é que o papel político que a arte cumpre é diferente [e qual seria? - Flávia] do colocado para as obras de literatura da Europa Ocidental.[123] O romance realista soviético tinha a intenção de ser uma forma popular de literatura, construída com fins didáticos.[124] Outro aspecto colocado por Clark é o papel que o romance realista soviético tem na construção dos mitos do Estado.[125] Isso se deve à grande importância que a política e a ideologia têm na escrita dessas obras, principalmente no momento em que, segundo a autora, os valores do governo vão sendo impostos às produções culturais.[126] [quais romances históricos foram produzidos com essas caraterísticas? Poderiam dar exemplos? - Flávia]

Uma caracterização possível do romance realista soviético, segundo Booker e Juraga, é que esse tipo de literatura é inseparável do seu caráter político. Construir novas formas de identidade cultural na sociedade é uma função nessas produções .[127] Ainda segundo esses autores, o que teria ocorrido com os estudiosos desse movimento literário é que, pelo contexto político da época, formas muito complexas de arte modernista de alta qualidade foram compreendidas apenas como propaganda.[127] Um exemplo dessa discussão é a obra de Maxim Gorki: o romance histórico mais famoso de Gorki é Klim Samgin, que narra a história da Rússia pré-revolucionária, mostrando a emergência da burguesia e o seu fim, na tomada pelos bolcheviques do poder governamental.[128] Essa obra seria um marco nas produções do realismo socialista porque estaria apresentando a necessidade histórica da Revolução Russa ao mesmo tempo em que descreve com detalhes essa sociedade.[128] Essa forma de escrita do romance se aproximaria profundamente, segundo Keith Booker e Dubravka Juraga, da forma de escrita de Walter Scott ao falar do declínio da sociedade escocesa de modo a vinculá-lo ao desenvolvimento do capitalismo britânico.[128]

Mercado Editorial pós-1945 (Revisar)[editar | editar código-fonte]

O romance histórico ocidental escrito no período pós Segunda Guerra Mundial tem diferenciações em relação às produções anteriores. A partir de 1945, é observado por pesquisadores do gênero literário do romance e do romance histórico que a confiança nas narrativas sobre o passado foi abalada pelas experiências daquele período.[129] A respeito das obras britânicas, por exemplo, Margaret Scanlan observa que há uma tendência em revisitar o passado (imperial e/ou militar) já conhecido do público buscando descobrir o lado oculto e inglório que não se conhecia, desmistificando essa história comum.[129] Essa tendência estaria conectada, segundo Scanlan, ao gradual declínio do poder britânico militar e economicamente.[129] Um exemplo disto é a obra The Siege of Krishnapur de 1973, do autor J. G. Farrell, um romance histórico situado na Índia dos anos 1857, que traz críticas tanto à política econômica da Inglaterra quanto à noção da história enquanto progresso linear.[130]

No contexto histórico do pós-guerra, a nível global se colocam condições de profunda mestiçagem cultural, decorrentes das migrações massivas resultantes da guerra e da descolonização no continente africano, na Ásia e na Oceania. Essas transformações, aliadas ao crescimento da economia mundialmente interligada, fizeram com que fosse percebida uma compreensão nesse período da história como algo que não é único e contínuo, mas que ao mesmo tempo não pode mais ser feito isoladamente, sem todas as outras histórias.[130] O que pode ser concluído a respeito desse momento histórico é que a construção das análises e reflexões sobre os objetos só poderiam se dar historicamente.[130]

Já o mercado editorial de romances históricos nos Estados Unidos da América deste período ficou marcado pela sua relação com o público leitor feminino.[131] Nos anos anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, sobretudo a partir da década de 1960, inicia-se um novo momento no mercado editorial nos EUA, agora voltado para a produção em massa de obras de ficção.[132] É neste período em que se populariza, através de editoras como a Harlequin, um tipo específico de romance histórico voltado para o público feminino. Este tipo de romance era caracterizado por suas narrativas simples e lineares, ligadas a relacionamentos amorosos, vendidas a preços acessíveis, e em que o aspecto histórico é secundário.[132]

A autora Resa Dudovitz aponta como, apesar deste tipo de romance ter, na ampla maioria dos casos, protagonistas mulheres, estas personagens (geralmente representadas como virgens), ficavam restritas ao ambiente doméstico, esperando passivamente um homem para se casar.[132] A autora aponta como este tipo de literatura é rigidamente marcada por personagens brancos e heterossexuais, reflexo de um tipo específico de público para o qual os romances eram voltados.[133]

No entanto, a segunda metade do século XX é marcada também pelo aumento exponencial no número de romances publicados por mulheres.[134] Como aponta a autora Diana Wallace, a maior parte dos romances históricos escritos por mulheres ao longo do século foram voltados para o público leitor feminino.[135] Ela defende que a popularidade dos romances históricos femininos na primeira metade do século foi importante para a formação das escritoras que nasceram a partir da década de 1950, e argumenta que os romances históricos escritos por mulheres serviram como uma das raízes da segunda onda do feminismo.[134]

-Mulheres e o romance histórico na América latina (Amores)

- Inglaterra: neo-victorians? - isa

-Ken Follett

-Philippa Gregory

-Bernard Cornwell

-Noah Gordon

-Shiba Ryotaro (Pedro)

Na Síria, durante a década de 1990, muitos autores passaram a escrever romances históricos.[136] Através de autores como Nabil Sulayman, Fawwaz Haddad, Khayri al-Dhahabi e Nihad Sirris, este movimento literário busca resgatar a tradição do romance histórico realista.[136] Este movimento, marcado pela sua desilusão com a esfera política síria do período, é marcado pela desconfiança na figura do historiador, enxergado como um propagador de uma história oficial falsa. Estes autores buscam através do romance explorar os problemas históricos sírios, contestando muitas das narrativas historiográficas sobre história do país.[136]

Entre a década de 1960 e 1980, uma nova fase do romance histórico se inicia no Brasil.[137] As obras deste período, apesar de sua variedade, são marcadas pela perspectiva de um tempo de crise da ideia patriótica e otimista de nação.[137] Neste período figuram as obras de autores como Antônio Callado, Nélida Piñon, Luiz Antonio de Assis Brasil, Ignácio de Loyola Brandão, João Ubaldo Ribeiro, Benito Barreto e Ariano Suassuna.[137] Neste período também são publicadas diversas narrativas semi-ficcionais baseadas em relatos e memórias dos autores, como as obras de Fernando Gabeira, Alfredo Sirkis, Rodolfo Konder e Ferreira Gullar.[137]

Na década de 1990, estima-se foram publicados mais de 110 romances históricos no Brasil.[138]

-Agosto

-Xangô de Baker Street, o Homem que Matou Getúlio Vargas, as esganadas

-Casa das sete mulheres, farol no pampa

Em Portugal, a obra de José Saramago é marcada pelo diálogo com a tradição do romance histórico português de Almeida Garret e Alexandre Herculano.[139] No entanto, Saramago, ao mesmo tempo que referencia e homenageia estas tradições literárias, as critica através de paródias das características dessas tradições.[139] No romance histórico "Memorial do Convento", publicado em 1982, Saramago busca retratar a sociedade portuguesa barroca e os embates entre valores intelectuais e espiriturais, fazendo uso de simbolismos e associações.[140]

Já em "O Ano da Morte de Ricardo Reis", publicado em 1984, sobre a história da volta de Fernando Pessoa (usando seu pseudônimo, Ricardo Reis) à Lisboa, durante o regime salazarista.[141] O autor Horácio Costa destaca a utilização da digressão por Saramago para a construção de todos os elementos do romance: Fundo e forma, enredo e linguagem.[141]

Realismo Mágico (Revisar)[editar | editar código-fonte]

O Reino deste Mundo, 2019. Colagem digital utilizando uma pintura de Toussaint Louverture e o mapa da colônia do Haiti em 1795.

O realismo mágico, também chamado de realismo maravilhoso e realismo fantástico, é uma categoria do romance histórico contemporâneo na América Latina. Há bastante discussão entre os pesquisadores do assunto a respeito das definições conceituais do realismo mágico; para Seymour Menton, existem duas básicas: a Americanista e a Internacionalista.[142] A compreensão americanista entende que a cultura da América Latina difere da europeia e da estadunidense por conta dos aspectos indígenas e africanos que se colocam nela.[142] Os chamados internacionalistas, por outro lado, compreendem que o realismo mágico não é um fenômeno literário exclusivamente latino-americano.[142] Já Adalbert Dessau define o realismo mágico como uma representação simultânea da realidade física e social dos personagens e a transformação mágica (ou mítica) que essa realidade tem no imaginário popular.[142] Segundo a autora Helene Carol Weldt-Basson, existem críticos que não consideram o realismo mágico enquanto uma forma de romance histórico; no entanto, para a autora, se for considerado o aspecto do que ela chama de propósito histórico, as obras do realismo mágico devem ser consideradas como ficção histórica, pois eles buscam ilustrar, por meio da mitologia e do que é fantasioso, tanto a história da América Latina (que muitas vezes é mais surpreendente do que a própria ficção) quanto buscam mostrar como as crenças populares latino-americanas influenciaram as percepções de realidade e história.[143] Dessa forma, para Helene Carol, as narrativas dessa escola literária não se utilizam da história como um pano de fundo da ficção, mas sim a entendem como parte da mensagem em questão nos textos.[143]

O romance do realismo mágico também foi compreendido pelos críticos pela denominação de "o novo romance histórico hispano-americano".[144] A obra que teria inaugurado esse novo modo de escrita do romance histórico na América Latina é El reino de este mundo, de Alejo Carpentier, escrito em 1949, e que chamou a atenção pela diferenciação na forma de lidar com a história na composição da obra.[144] A partir da obra de Carpentier é que se sucederam vários escritores amplamente conhecidos por suas obras, como Gabriel García Márquez, Carlos Fuentes e Augusto Roa Bastos.[144] Segundo o crítico Fernando Ainsa, há uma série de características do novo romance histórico latino-americano que o distinguem das produções anteriores, como a distorção consciente da história através de omissões, exageros e anacronismos; e a ficcionalização de personagens históricos bem conhecidos (que segundo Ainsa, difere do modelo usado por Walter Scott e seus sucessores).[145] Segundo Gilnei Francisco Fleck, essas produções contribuíram para o desenvolvimento de uma consciência latino-americana verdadeira.[146] Apesar de ser uma inovação nas produções literárias, essa nova forma do romance histórico não entrou imediatamente em atrito com as formas tradicionais, nem as substituiu; segundo Fleck, o que ocorreu foi a coexistência de modalidades de escrita desse subgênero.[146] O romance histórico das últimas décadas do século XX também se caracteriza pelo questionamento ao fazer histórico e à história oficial, pois traz nas narrativas as vozes dos povos colonizados, que confrontam a historiografia tradicional e o passado oficial.[147]

Além de Alejo Carpentier, também se destacam no realismo mágico as obras de Isabel Allende e Gabriel García Márquez.[143] A obra Cem anos de solidão, de 1967, de García Márquez, sobre as guerras civis na Colômbia, é um exemplo clássico do realismo mágico na América Latina; utilizando-se de muitos recursos como as hipérboles e os elementos fantásticos, a narrativa retrata vários eventos históricos, baseando-se em crônicas históricas.[143] Dessa forma, o livro todo seria, segundo Weldt-Basson, uma reflexão sobre a importância da história e as formas pelas quais ela pode nos ensinar a impedir infortúnios.[143] Em Cem anos de solidão, García Márquez emprega os artifícios fantásticos, exageros e situações impossíveis em meio à narração dos eventos históricos, como uma "peste de insônia", e os médicos invisíveis de uma das personagens, de modo que a narrativa depende bastante da ironia e da sátira para criar um retrato da história da Colômbia.[148]

Sobre os trabalhos de Isabel Allende, o mais divulgado é A casa dos espíritos, romance histórico de 1982 sobre a queda de Salvador Allende e a República Socialista do Chile.[148] A autora é bastante comparada a Gabriel García Márquez, devido às semelhanças entre A casa dos espíritos e Cem anos de solidão; no entanto, a pesquisadora Weldt-Basson defende que os usos de Allende do realismo mágico diferenciam-se dos de García Márquez porque têm outros objetivos e imperativos que os do autor, além de apontarem o movimento do romance histórico realista mágico para uma perspectiva feminista.[148] Weldt-Basson também afirma que a obra de Isabel Allende também difere da de Márquez porque a sua utilização do realismo mágico é bem menos exagerada (em comparação a Cem anos de solidão), de forma que a questão histórica na obra de Isabel Allende é bem mais visível e proeminente; além de personalidades históricas importantes como Salvador Allende e Augusto Pinochet aparecem na narrativa, há também o uso de documentos históricos na obra, como o discurso de Salvador Allende ao povo chileno, que é citado praticamente sem grandes alterações no romance.[149]

Pós-colonialismo (Revisar)[editar | editar código-fonte]

Refotografia de Eleanor Xiniwe, cantora sul-africana, tirada originalmente em 1891 na Companhia Estereoscópica de Londres durante uma turnê.

A literatura do pós-colonialismo africano, de modo geral, é inseparável de um viés político, inserido num contexto histórico.[150] [10] A situação sócio-econômica e política das sociedades do continente africano depois dos movimentos de libertação nacional, com viés anticolonialista, fizeram com que o desenvolvimento das artes nessa conjuntura não fosse de maneira alguma separado dos acontecimentos da realidade.[150] Assim, o romance histórico africano foi muito vinculado ao momento da descolonização, o que fez com que as produções do período tivessem um certo sentido de urgência história, de modo a contribuir para a construção de identidades nacionais de acordo com as novas nações independentes.[10]

Segundo o crítico Emmanuel Obiechina, o romance africano ocidental estava crescendo junto com as várias transformações pelas quais as nações em ascensão estavam passando, fazendo com que os escritores se atentassem muito às influências dessas circunstâncias.[10] Um outro aspecto em relação à escrita dos romances africanos diz respeito à dificuldade da literatura africana receber a sua devida importância enquanto movimento literário; uma preocupação era a de que escritores africanos teriam que se adaptar à forma ocidental de escrita para que fossem vistos seriamente.[150]

O romance histórico foi um subgênero muito importante para a literatura africana desde seu início, sendo um dos primeiros trabalhos de grande repercussão o Chaka, de Thomas Mofolo.[10] A obra narra a história de Chaka, um líder dos Zulus que os teria guiado durante uma série de batalhas, por volta de 1816, na disputa pelo estabelecimento de um grande império no sul da África.[10] Segundo Keith Booker, a existência deste romance histórico é um lembrete de que existiam diversos aspectos das sociedades, organizações políticas e estruturas em larga escala do continente africano que não se encontravam sob domínio europeu.[10] Booker também analisa que, dada a situação política da descolonização, o romance histórico foi, de certa forma, muito semelhante ao que este gênero literário significou para a burguesia emergente na Europa.[151] Pela análise do Romance Histórico de György Lukács, ele ajudou a classe burguesa em ascensão a transmitir uma visão de mundo, sobre a Europa e sobre a Europa em relação ao mundo; da mesma forma, segundo Booker, teria sido o romance histórico para as nações independentes da África, pois ele foi compreendido como uma via de construção, e estabelecimento, das identidades culturais pós-coloniais.[151]

Um dos principais desafios que os escritores de romance histórico encontraram para produzir foi a questão de que a história oficial sobre a África e os africanos era a história do colonialismo.[152] Por isso, parte do trabalho desses autores foi o de desafiar o legado colonial, mostrando a resistência dos povos à dominação europeia.[152] Dessa forma, é preciso destacar a importância das tradições orais para a literatura africana, bem como a característica híbrida dessa literatura, no sentido de que há nos romances históricos africanos muita influência dos romances históricos tradicionais europeus; no entanto é preciso considerar as diversas transformações que este gênero teve em sua produção no contexto da descolonização africana.[153]

O romance histórico na Índia no período pós-colonial também se relaciona a...

A literatura de romance histórico de língua árabe continua nesse período histórico. No Iêmen o gênero do romance histórico aparece nos anos 1970, com a obra Lutando com a morte, que foi escrita por Abd al-Rahim al-Sabalani.[154] Segundo Mikhail Suvorov, os romances históricos desse período tinham tendência à entendimentos edificantes a respeito da história.[154]

Pós-Modernismo (Escrever)[editar | editar código-fonte]

-Margaret Atwood

-Umberto Eco

-Transnacionalidade

-Discursos de si

-Escapismo?

Contra-narrativas (Publicado)[editar | editar código-fonte]

"A Ride for Liberty", pintura de 1864 por Eastman Johnson representando a fuga de escravos no Sul dos Estados Unidos. A história de resistência à escravidão passou a ser um tema recorrente de muitos dos romances históricos do século XX

A partir da década de 1960, narrativas de grupos historicamente excluídos do discurso historiográfico surgem como um novo tema recorrente nos romances históricos.[155] A ideia de multiculturalismo se tornou uma demanda das democracias após a Segunda Guerra Mundial, e a partir da perspectiva da "história vista de baixo", a historiografia e os romancistas passaram a explorar as histórias de grupos que não eram representados na historiografia e na literatura, principalmente no Ocidente.[155] Dessa forma, na segunda metade do século XX, há um aumento significativo de romances históricos que lidam com temas como a homossexualidade em diferentes períodos, a escravidão e a história das mulheres.[155][156]

Como aponta Norman Jones, o romance histórico serviu, a partir dos movimentos de contracultura na década de 1960, como um espaço para discutir a história da identidade e da sexualidade LGBT, principalmente de gays e lésbicas.[157] Romances históricos como "The Persian Boy", publicado em 1972 por Mary Renault e "A Canção de Aquiles", publicado em 2011 por Madeline Miller, exploram o tema da homossexualidade na Antiguidade a partir do ponto de vista da relação de personagens como Alexandre, o Grande e Aquiles.[158]

A partir da década de 1970, sobretudo nos Estados Unidos, o romance histórico que aborda a escravidão se populariza. Em um contexto de contestação civil dos movimentos negros nos Estados Unidos, este tipo de romance levanta a discussão sobre o lugar dos homens e das mulheres negras na história dos EUA, principalmente durante o século XVIII e o século XIX.[159] Um dos primeiros romances desse gênero foi "Kindred", escrito por Octavia Butler e publicado em 1979, contando a história de uma escritora afro-americana que é transportada do ano de 1976 para 1815, no auge do sistema escravista das plantations no sul dos EUA.[160] Os romances históricos sobre a escravidão tratam, dessa forma, não apenas da escravidão em si, mas do impacto dela na sociedade, e a questão da memória e da identidade das pessoas negras na sociedade contemporânea.[161] Uma característica comum destes romances é a estrutura narrativa não-linear, em que os eventos não seguem necessariamente uma ordem cronológica.[162] Essa estrutura narrativa é relacionada ao tema da memória que costumeiramente faz parte das histórias, a partir da ideia da dificuldade em verbalizar um passado traumático.[162]

Ao longo da segunda metade do século XX, mas principalmente a partir da década de 1990, surge uma nova tendência entre algumas escritoras do gênero em escrever histórias protagonizadas por personagens históricas femininas, de forma a explorar o papel e a agência destas mulheres em seus contextos, assim como suas aspirações políticas e sua sexualidade.[163] Dentro deste movimento estão autoras como Margaret Atwood, autora de Vulgo, Grace, publicado em 1996, e Philippa Gregory, autora de diversos romances históricos, entre eles A Irmã de Ana Bolena, publicado em 2001.[163] Nas obras, autoras como Gregory e Atwood utilizam-se da tensão entre ficção e fato histórico para escrever narrativas sobre suas personagens históricas, com o objetivo de criticar e se contrapôr a um cânone literário que é formado em sua maioria por autores homens, em narrativas que costumeiramente remetem as personagens femininas à uma posição de passividade.[163]

Vantagens e desvantagens[editar | editar código-fonte]

Anacronismo (Revisar)[editar | editar código-fonte]

Uma dos principais críticas ao romance histórico, colocada desde o século XVII, reside na sua incapacidade de separar a realidade histórica das invenções ficcionais dos autores.[164] [Acho que valeria desenvolver esse argumento mais um pouco. Talvez até copiar para cá algum trecho nesse sentido que vocês já escreveram - Flávia]

Um outro aspecto levantado é que, por se tratar de uma abordagem literária e ficcional do passado, o romance histórico como um gênero literário tende a passar ao leitor concepções erradas sobre a história.[165] O próprio Walter Scott, em cartas e prefácios de seus livros, afirmava que, apesar da importância da pesquisa histórica por parte do autor a fim de assegurar que a história presente nos romances pareça autêntica, alguns fatos eram impossíveis de se obter.[166] Na sua visão, independentemente do tempo de pesquisa que o autor dedique para estudar os costumes e as linguagens de uma população, alguns detalhes sempre vão estar errados.[166]

Ainda assim, muitas sociedades de antiquários criticavam os romances de Scott, apontando diversos erros e anacronismos encontrados nas obras.[166] Scott afirmava que a leitura feita por esses críticos era uma leitura com falta de imaginação.[167] Em uma de suas obras, "Peveril of the Peak", escreve, como resposta:

Os conteúdos da história são acessíveis a todos, e não são esgotados ou empobrecidos pelas partes que lhe são pegas emprestadas, assim como uma fonte não é drenada de água quando subtraímos uma parte dela para propósitos domésticos. E em resposta à sombria acusação de falsidade contra uma narrativa anunciada positivamente como sendo fictícia, pode-se apenas responder com a exclamação do Prior - "Caramba, deve alguém jurar a verdade de uma canção?"
Original (em inglês): The stores of history are accessible to every one, and are no more exhausted or impoverished by the hints thus borrowed from them than the fountain is drained by the water which we subtract for domestic purposes. And in reply to the sober charge of falsehood against a narrative announced positively to be fictitious, one can only answer by Prior's exclamation - 'Odzooks, must one swear to the truth of a song?'
— Walter Scott

 em Peveril of the Peak (1822), p.129-130 (em inglês)

O historiador e romancista contemporâneo, Ian Mortimer, aponta que a invenção de fatos é algo que ocorre naturalmente na escrita do romance histórico.[168] De acordo com ele, independente da quantidade de pesquisa feita por um romancista ou historiador, alguns fatos sobre o passado são impossíveis de se saber, e que, enquanto o historiador se atém apenas às evidências disponíveis, o romancista preenche as lacunas com aspectos ficcionais e suposições.[168] Para Mortimer, no entanto, isso marca uma virtude da ficção histórica como um todo, por levantar questionamentos sobre o passado que a escrita formal da história não costumam levantar.[168]

TEXTOS, ASSUNTOS, ETC[editar | editar código-fonte]

A pintura "The Abdication of Mary, Queen of Scots" (1850), de Joseph Severn, é baseada no capítulo 22 do romance histórico "O Abade" (1820), de Walter Scott.

Verbetes Secundários até agora[editar | editar código-fonte]

  • Amelie Opie
  • Biblioteca circulante
  • Charles-Dominique-Joseph Eisen
  • Conceito de História
  • Cumandá (romance)
  • História Particular
  • História Secreta
  • Ingermina o la hija del Calamar
  • Jean-Pierre Norblin de La Gourdaine
  • Jirjî Zaydan
  • José Milla y Vidaurre
  • Joseph de Longueil
  • Juan José Nieto
  • La Hija del Adelantado
  • Libelle (literatura)
  • Lista de Romances Históricos
  • Maeda Ai (crítica)
  • Nouvelle Historique
  • Romance Sentimental
  • Romance de Fronteira
  • Santo Kyoden
  • Susannah Gunning
  • Txalcaltecas
  • Xicotencatl II
  • Yamada Bimyō

Referências

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Bibliografia[editar | editar código-fonte]

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Livros[editar | editar código-fonte]

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Teses e Dissertações[editar | editar código-fonte]

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