AZD1222
A AZD1222, ASD1222 , ChAdOx1, nCoV-19 ou Covishield, conhecida no Brasil popularmente como vacina Oxford-AstraZeneca, é uma vacina contra COVID-19 desenvolvida pela equipe do Instituto Jenner da Universidade de Oxford, no Reino Unido, em parceria com o conglomerado farmacêutico anglo-sueco AstraZeneca.[1][2][3] A vacina é aplicada por injeção intramuscular e utiliza um adenovírus de chimpanzé modificado nomeado ChAdOx1 como vetor viral não-replicante.
No Brasil, popularmente chamada de "vacina de Oxford", os testes estão sendo feito em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz e Bio Manguinhos, enquanto que na Índia está sendo produzida em parceria com o Instituto Serum, o maior fabricante de vacinas do mundo.
A vacina foi aprovada para uso emergencial no Reino Unido no dia 30 de dezembro de 2020.[4]
A bula do paciente pode ser acessada aqui.
História[editar | editar código-fonte]
No dia 23 de abril de 2020, começou o seu primeiro ensaio clínico da fase I na Europa.
Em 23 de novembro de 2020, a empresa anunciou que após testes de fase II e III "nenhuma hospitalização ou casos graves da doença foram relatados em participantes que receberam o vacina". A empresa também anunciou que os testes incluíam 23 mil pessoas no Reino Unido e no Brasil e que um total de 60 mil pessoas seria testada, incluindo voluntários dos Estados Unidos, Japão, Rússia, África do Sul, Quênia e outros países da América Latina.[5]
Em 17 de dezembro de 2020, dados complementares foram divulgados pela Universidade de Oxford de que a vacina produzia uma ampla resposta imunológica das células T.[6]
Em 27 de dezembro de 2020, a AstraZeneca anunciou que tinha descoberto a "a fórmula vencedora" da vacina contra o novo coronavírus, sem dar mais detalhes sobre o assunto. A empresa também comunicou que ela tinha evitado 100% dos casos de Covid-19 grave.[7]
No dia 30 de dezembro de 2020, a primeira aprovação para uso aconteceu no Reino Unido.[4]
Reação grave inespecífica[editar | editar código-fonte]
Em 08 de setembro de 2020, a farmacêutica AstraZeneca anunciou uma pausa temporária nos testes da vacina de coronavírus, após uma voluntária apresentar uma reação grave: a síndrome conhecida como mielite transversa, que afeta a medula espinhal. A voluntária se recuperou bem e não havia indícios específicos de que a síndrome estivesse ligada a aplicação da vacina.[8]
Os testes foram retomados dias depois.[9][10]
Problema nos testes[editar | editar código-fonte]
Em novembro de 2020, quando já se esperava os resultados da fase III dos testes, a empresa acabou admitindo que havia ocorrido um erro na aplicação de uma das doses da vacina. Segundo o comunicado, invés de uma dose inteira, meia dose havia sido usada na primeira aplicação. No entanto, segundo a empresa também, neste grupo de pessoas, justo, a vacina havia tido uma eficácia de cerca de 90%, enquanto no grupo que havia recebido as duas doses inteiras planejadas, a eficácia havia sido de 62%.[11][5][7][12]
Devido o erro, a empresa pediu um prazo maior para conduzir mais testes, antes de pedir a liberação ou registro nos órgãos competentes no Reino Unido e outros países, como o Brasil.[13]
Parceria com o laboratório Gamaleya da Rússia[editar | editar código-fonte]
Em 11 de dezembro de 2020, a Universidade de Oxford e a AstraZeneca anunciaram que testariam uma combinação da AZD1222 com a Sputnik V, a vacina russa produzida pelo laboratório ruso Gamaleya.[3]
Problema de eficácia contra variante sul-africana[editar | editar código-fonte]
Em 07 de fevereiro, o Ministério da Saúde da África do Sul suspendeu temporariamente o uso da ChAdOx1 por ela apresentar pouco eficácia contra a nova variante do Sars-Cov-2 descoberta no país. [14]
A vacina[editar | editar código-fonte]
Fórmula[editar | editar código-fonte]
A vacina usa o vetor ChAdOx1, que são partículas virais (pv) do vetor adenovírus recombinante de chimpanzé. O adenovírus símio (ChAd) sorotipo Y25 é modificado por tecnologia de DNA recombinante usando como vetor um bacteriófago λ de Escherichia coli (Enterobacteria phage λ) para substituir as sequências de genes nativos E4 orf4, orf6 e orf6/7 por aqueles do adenovírus humano HAdV-C5. A tecnologia do vetor ChAdOx1 já estava em desenvolvimento em fase experimental antes da pandemia de COVID-19, com publicações, anteriores à pandemia, reportando seu potencial uso em vacinas candidatas para febre do vale Rift,[15] MERS,[16] dentre outras doenças infecciosas.[17][18][19]
Na AZD1222, o adenovírus de chimpanzé é modificado geneticamente para expressar o gene da proteína “Spike” (proteína “S”) do Sars-CoV-2. Depois de obtido, os adenovírus são amplificados em grande quantidade usando células cultivadas em biorreatores descartáveis. Estes adenovírus são purificados, concentrados e estabilizados para compor a vacina final. Os adenovírus que compõem a vacina não podem se replicar na pessoa vacinada (vírus não-replicante), mas são reconhecidos pelas células, que desencadeiam uma resposta imunológica específica para a proteína S, gerando anticorpos e outras células (células T) contra o novo coronavírus.[20]
Posologia e modo de uso[editar | editar código-fonte]
A vacina terá aplicação intramuscular, sendo necessárias duas doses de e 0,5 mL do imunizante, podendo a segunda ser aplicada de 4 a 12 semanas após a primeira. [20] [4]
A proteção é obtida cerca de duas semanas depois das doses aplicadas.[21]
Reações adversas e contraindicações[editar | editar código-fonte]
As reações mais comuns foram sensibilidade, dor, sensação de calor, vermelhidão, coceira, inchaço, hematoma (manchas roxas) ou uma caroço no local da aplicação; sensação de indisposição de forma geral; sensação de cansaço (fadiga); calafrio, sensação febril e febre; dor de cabeça; enjoos (náusea);dor nas articulação ou dor muscular; sensações parecidas com a de uma resfriado. [22]
Segundo as bulas, a vacina não deve ser aplicada em quem já teve reação alérgica grave; sofre de imunodeficiência, tem distúrbios na coagulação do sangue ou toma anticoagulante e em quem teve uma infecção grave com febre alta (maior que 38°C) dias antes da imunização. Grávidas, lactantes, crianças e adolescentes menores de 18 anos também não devem ser imunizados, pois estes grupos não foram estudados.[19][22]
Regulação e comercialização[editar | editar código-fonte]
Uso emergencial[editar | editar código-fonte]
No dia 30 de dezembro de 2020, o Reino Unido foi o primeiro país a conceder a liberação para o uso emergencial da vacina.[23][4]
Dias depois, em 8 de janeiro de 2021, a Fiocruz pediu o seu uso emergencial no Brasil junto à Anvisa.[24]
No dia 14 de janeiro de 2021, o Ministério da Saúde do Brasil enviou um avião a Mumbai para adquirir 2 milhões de doses da AZD1222 no Instituto Serum da Índia, prevendo o início da vacinação ainda em janeiro.[25]
No dia 17 de janeiro de 2021, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, por unanimidade, o uso emergencial das vacinas AZD1222 e CoronaVac no Brasil.[26]
A União Europeia concedeu autorização de uso da vacina em 29 de janeiro de 2021. [27]
Registro definitivo[editar | editar código-fonte]
Em 29 de janeiro de 2021, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que naquele dia a AstraZeneca e a Fiocruz haviam pedido o registro definitivo da vacina de Oxford. Segundo a Anvisa em comunicado oficial: "o registro concedido pela Anvisa será o sinal verde para que a vacina seja comercializada, distribuída e utilizada pela população, nos termos da indicação estabelecida na bula".[28]
Preço[editar | editar código-fonte]
A vacina é a mais barata a estar em desenvolvimento.
E deverá custar em torno de US$ 3,16 doláres estadunidenses.[29]
Referências
- ↑ «As 6 potenciais vacinas contra COVID que já começaram testes em humanos». UOL. Consultado em 29 de setembro de 2020
- ↑ «Como funciona a vacina de Oxford com a AstraZeneca». Exame. Consultado em 29 de setembro de 2020
- ↑ a b «Vacina de Oxford será testada em uso combinado com a russa Sputnik V». www.uol.com.br. Consultado em 29 de dezembro de 2020
- ↑ a b c d releases, 8:30am to 5pm For real-time updates including the latest press; Statements, News; https://www.twitter.com/mhragovuk, see our Twitter channel at. «Oxford University/AstraZeneca COVID-19 vaccine approved». GOV.UK (em inglês). Consultado em 30 de dezembro de 2020
- ↑ a b «AZD1222 vaccine met primary efficacy endpoint in preventing COVID-19». www.astrazeneca.com (em inglês). Consultado em 29 de dezembro de 2020
- ↑ «Oxford vaccine stimulates broad antibody and T cell functions». www.research.ox.ac.uk (em inglês). Consultado em 29 de dezembro de 2020
- ↑ a b «Covid-19: AstraZeneca diz ter encontrado fórmula mais eficaz para a vacina». www.uol.com.br. Consultado em 29 de dezembro de 2020
- ↑ «Pessoa de teste que teve reação adversa é mulher e não era do grupo placebo». www.uol.com.br. Consultado em 29 de dezembro de 2020
- ↑ «Vacina de Oxford volta a ser testada no Reino Unido, diz Universidade». www.uol.com.br. Consultado em 29 de dezembro de 2020
- ↑ «Anvisa autoriza retomada de testes de vacina de Oxford contra covid no Brasil». www.uol.com.br. Consultado em 29 de dezembro de 2020
- ↑ «Covid-19: Fiocruz produzirá vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford». Fiocruz. Consultado em 29 de dezembro de 2020
- ↑ «Última fase dos testes clínicos da vacina de Oxford tem eficácia média de 70,4%». CNN Brasil. Consultado em 29 de dezembro de 2020
- ↑ «Vacina de Oxford terá que passar por novo teste, diz CEO da AstraZeneca». www.uol.com.br. Consultado em 29 de dezembro de 2020
- ↑ «What You Need To Know About Vaccine Efficacy Against The 501Y.V2 Variant - SA Corona Virus Online Portal». SA Corona Virus Online Portal (em inglês). Consultado em 7 de fevereiro de 2021
- ↑ Warimwe, George M.; Gesharisha, Joseph; Carr, B. Veronica; Otieno, Simeon; Otingah, Kennedy; Wright, Danny; Charleston, Bryan; Okoth, Edward; Elena, Lopez-Gil (5 de fevereiro de 2016). «Chimpanzee Adenovirus Vaccine Provides Multispecies Protection against Rift Valley Fever». Scientific Reports. ISSN 2045-2322. PMC 4742904
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- ↑ Munster, Vincent J.; Wells, Daniel; Lambe, Teresa; Wright, Daniel; Fischer, Robert J.; Bushmaker, Trenton; Saturday, Greg; van Doremalen, Neeltje; Gilbert, Sarah C. (16 de outubro de 2017). «Protective efficacy of a novel simian adenovirus vaccine against lethal MERS-CoV challenge in a transgenic human DPP4 mouse model». NPJ Vaccines. ISSN 2059-0105. PMC 5643297
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- ↑ López-Camacho, César; Dowall, Stuart; Graham, Victoria; Findlay-Wilson, Stephen; Rayner, Emma; Kim, Young Chan; Hewson, Roger; Reyes-Sandoval, Arturo (14 de janeiro de 2019). «A Zika vaccine based on chimpanzee adenovirus ChAdOx1 elicits lineage-transcending sterile immunity and prevents colonisation of brain and ovaries». bioRxiv (em inglês). 514877 páginas. doi:10.1101/514877. Consultado em 15 de janeiro de 2021
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- ↑ a b Fiocruz (22 de janeiro de 2021). «VACINA COVID-19 (RECOMBINANTE) - Bula Profissionais da Saúde» (PDF). Anvisa. Consultado em 30 de janeiro de 2021
- ↑ a b «Perguntas & Respostas - Sobre a vacina». Bio-Manguinhos/Fiocruz. 5 de novembro de 2020. Consultado em 29 de dezembro de 2020
- ↑ «JCVI issues advice on the AstraZeneca COVID-19 vaccine». GOV.UK (em inglês). Consultado em 30 de dezembro de 2020
- ↑ a b Fiocruz (22 de janeiro de 2021). «VACINA COVID-19 (RECOMBINANTE) - Bula do Paciente» (PDF). Anvisa. Consultado em 30 de janeiro de 2021
- ↑ «Covid-19: vacina de Oxford-AstraZeneca é aprovada no Reino Unido». Fiocruz. Consultado em 14 de janeiro de 2021
- ↑ «AstraZeneca/Oxford: Fiocruz envia pedido para uso emergencial da vacina contra Covid-19 à Anvisa». InfoMoney. 8 de janeiro de 2021. Consultado em 11 de janeiro de 2021
- ↑ «Avião da Azul que buscará vacinas contra a Covid-19 inicia a rota às 13h em Viracopos-SP». Ministério da Saúde. Consultado em 14 de janeiro de 2021
- ↑ «Anvisa autoriza por unanimidade uso emergencial das vacinas Coronovac e de Oxford contra a Covid-19». G1. Consultado em 17 de janeiro de 2021
- ↑ «Press corner». European Commission - European Commission (em inglês). Consultado em 30 de janeiro de 2021
- ↑ «Anvisa recebe pedido de registro definitivo da vacina de Oxford». Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa. Consultado em 30 de janeiro de 2021
- ↑ «Temperatura, doses e preço: o que se sabe sobre a vacina de Pfizer». CNN Brasil. Consultado em 29 de dezembro de 2020