Venceslau da Sérvia
Venceslau da Sérvia | |
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Representação moderna de Venceslau | |
Príncipe da Sérvia | |
Reinado | ca. 780-?[a] |
Antecessor(a) | Desconhecido |
Sucessor(a) | Todóstlabo |
Descendência | Todóstlabo |
Dinastia | Blastímero |
Pai | Desconhecido |
Religião | eslava |
Venceslau (em sérvio: Вишеслав/Војислав, Višeslav/Vojislav; em latim: Boiseslav) ou Biséstlabo (em latim: Boisesthlabus; em grego medieval: Βοϊσέσθλαβος, Boisésthlabos) é o primeiro príncipe sérvio (arconte) conhecido pelo nome, governando ca. 780. A Sérvia era um Estado sujeito ao Império Bizantino, situado nos Bálcãs Ocidentais, com a Bulgária a leste. No Sobre a Administração Imperial de meados do século X, Venceslau aparece como progenitor da casa reinante sérvia, conhecida como Casa de Blastímero. Descendia do Arconte Desconhecido que liderou seu povo à Dalmácia e estabeleceu governo hereditário sob suserania bizantina. O nome daqueles que o precederam não é mencionados. A dinastia governou a Sérvia do começo do século VII até ca. 960.
Nome
[editar | editar código-fonte]Na edição de Gyula Moravcsik do Sobre a Administração Imperial, seu nome é escrito Βοϊσέσθλαβος, enquanto J. J. Reiske escreve-o Βοισέσθλαβος;[1] ele é transcrito em latim como Boiseslav[2] e Boisesthlabus[1] respectivamente. O nome é traduzido em sérvio como Višeslav (Вишеслав). A outra variante de seu nome é Vojislav (Војислав); os historiadores do século XIX se dividiram entre o uso de "Višeslav" e "Vojislav", com a interpretação alternativo de que o uso de "Višeslav"[2] era devido a um erro na transliteração e com seu nome real sendo "Vojislav".[3] O nome Višeslav é ditemático (de dois lexemas) derivados das palavras eslavas više (maior, mais largo) e -slav (glória, fama), significando aproximadamente "glória maior"; Vojislav deriva de voj (guerra) e slav, significando "glória militar".
Antecedentes
[editar | editar código-fonte]A história do Principado da Sérvia e a Casa de Blastímero é registrada no Sobre a Administração Imperial, compilado pelo imperador Constantino VII Porfirogênito (r. 913–959). Ela obteve informações sobre os sérvios de, entre outras, uma fonte sérvia.[4] A obra cita o primeiro governante sérvio, cujo nome é desconhecido e é conhecido convencionalmente como o Arconte Desconhecido, que liderou os sérvios ao norte dos Bálcãs. Ele recebeu a proteção de Heráclio (r. 610–641) e diz-se que morreu pouco antes da invasão búlgara de 680.[5] Os eslavos invadiram e se assentaram nos Bálcãs nos séculos VI e VII.[b] Porfirogênito diz que os sérvios sempre estiveram sob controle imperial.[6] Seu relato sobre a primeira cristianização dos sérvios pode ser datada de 632–638; isso pode ter sido uma construção de Porfirogênito, ou pode ter realmente ocorrido, compreendendo um limitado grupo de chefes com a maior parte da tribo negando-se a segui-los.[7]
Segundo o Sobre a Administração Imperial, a "Sérvia Batizada", conhecido erroneamente na historiografia como Ráscia,[8] incluía as "cidades habitadas" (castros ecúmenos) de Destínico, Tzernabusces, Megítero, Dresnico, Lesnico e Salines, enquanto a "pequena terra" (cório) de Bósnia, parte da Sérvia, teve tinha as cidades de Catera e Desnico. As outras terras habitadas pelos sérvios, ou principados, que são mencionados incluem a Pagânia, Zaclúmia, Travúnia,[9] e a "terra" de Dóclea que foi mantida que foi mantida pelo Império Bizantino, embora foi presumivelmente mantida pelos sérvios também.[10] Elas estavam todas situadas na costa do mar Adriático e dividiam suas fronteiras setentrionais (na hinterlândia) com a Sérvia Batizada.[9] As fronteiras exatas do Principado da Sérvia são incertas.[8] O governante foi intitulado "arconte da Sérvia".[c] O Sobre a Administração Imperial menciona que o trono era herdado pelo filho varão; seus descendentes sucederam-o, embora seus nomes são desconhecidos até o reinado de Venceslau.[5][11]
História
[editar | editar código-fonte]O primeiro líder da dinastia conhecido pelo nome foi Venceslau, que começou seu governo em torno de 780 e era contemporâneo do imperador Carlos Magno (r. 768–814).[a] Os sérvios à época estavam organizados em zupanias, uma confederação de comunidades vagamente equivalente a um condado, chefiado pelo zupano local (magistrado ou governador). O governo era hereditário, e o zupano reportou ao príncipe, a quem tinha obrigação de ajudar na guerra.[12] Para V. Ćorović, os sérvios viviam retirado em desfiladeiros, em sua antiga organização tribal, enquanto o poder bizantino foi nominalmente reconhecido. Chefes locais, grão-zupanos, governaram a Sérvia por direito de herança. A terra foi dividido entre os irmãos do chefe, com o irmão mais velho tento certo controle local sobre o coletivo.[13] Segundo uma teoria do historiador B. Radojković (1958), a Sérvia foi um "principado dividido" e Venceslau poderia ser um líder militar (grão-voivoda), que, com sua companhia, tomou controle absoluto e transformou-se no governante hereditário como grão-zupano. Dessa forma, o primeiro Estado sérvio foi estabelecido após 150 anos de vida permanente na nova terra natal e existência de democracia militar.[14] A obra de B. Radojković, porém, foi desacreditada por S. Ćirković.[15]
Embora Venceslau é apenas citado pelo nome, o Sobre a Administração Imperial menciona que os sérvios estava à época em paz com os búlgaros, seus vizinhos, com quem compartilharam fronteira comum.[16] Os búlgaros, sob Telerigue, planejaram colonizar a Bulgária com berzitos,[17] pois a primeira expansão búlgara causou massivas migrações eslavas e o despovoamento da Bulgária quando, em 762, mais de 200 000 pessoas fugiram ao território bizantino e foram realocadas na Ásia Menor.[18] os búlgaros foram derrotados em 774, após o imperador Constantino V (r. 741–775) saber de um raide que estavam planejando.[17] Em 773, os búlgaros cortaram a rota de comunicação, através do vale do Vardar, entre a Sérvia e os bizantinos.[19] Em 783, uma grande revolta eslava ocorreu no Império Bizantino, estendendo-se da Macedônia ao Peloponeso, que foi subsequentemente debelada pelo patrício Estaurácio. Na Panônia, no norte da Sérvia, Carlos Magno começou sua ofensiva contra os avares.[17] A Dalmácia à época tinha firme relações com os bizantinos. [20] Houve um conflito bizantino-franco entre 789–810 pela Dalmácia, embora nada se sabe nas fontes coetâneas sobre os eslavos na hinterlândia. O conflito bizantino-franco terminou com a Paz de Nicéforo de 812, com os francos cedendo a costa dálmata enquanto os bizantinos mantiveram as cidades dálmatas.[21]
Rescaldo e legado
[editar | editar código-fonte]Venceslau foi sucedido por seu filho Todóstlabo e então seu neto Proségoes,[22] e um deles muito provavelmente governou durante a revolta de Luís da Panônia Inferior contra os francos (819–822).[18] Segundo os Anais Reais Francos de Eginhardo, Luís fugiu de sua sede em Síscia aos sérvios (que se acreditam viviam em algum lugar na Bósnia Ocidental) em 822,[18] com Eginhardo mencionando "os sérvios, que controlavam a maioir parte da Dalmácia".[23]
O bisneto de Venceslau, Blastímero, começou seu governo em ca. 830; ele é o mais antigo governante sobre quem se tem informação substancial. Entre 839 e 842, uma guerra de três anos foi travada entre Blastímero e o cã Presiano I, que terminou em vitória sérvia. A longevidade da dinastia demonstra a estabilidade da monarquia e Estado.[24] Os nomes dos governantes sérvios através de Mutímero (r. 851–891) são nomes eslavos ditemáticos, segundo a tradição do eslavo antigo. Com a cristianização no século IX, nomes cristãos apareceram.[25] Os quatro sucessores de Venceslau não aparecem na Crônica do Padre de Dóclea[26] (ca. 1300–10[27]) considerada não confiável pelos historiadores com relação a Alta Idade Média.[28] Em vez disso, a Crônica menciona vários líderes lendários ou não confirmados historicamente: Sueulado, Selímero, Vladino e Ratímero.[4] Os historiadores Panta Srećković (1834–1903) acreditaram que o autor cristão da Crônica não estava disposto a nomear esses governantes por serem pagãos, que também talvez tinham reputação por derrotar, matar e dispersas cristãos.[27] Uma ilustração de Venceslau está inclusa na obra de 1885 de Kosta Mandrović.[29]
Ver também
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Precedido por Desconhecido Último citado: Arconte Desconhecido |
Príncipe da Sérvia ca. 780-?[a] |
Sucedido por Todóstlabo |
Notas
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- [a] ^ A historiografia concorda que Venceslau governou em ca. 780,[22] ou "as últimas décadas do século VIII"[5] sendo um contemporâneo do imperador Carlos Magno (r. 768–814).[22]
- [b] ^ Eslavos invadiram e se assentaram nos séculos VI e VII.[30] Até finais da década de 560, eles envolveram-se em invasões, cruzando o Danúbio, embora com limitados assentamentos eslavos, sobretudo através de colônias federadas bizantinas.[31] A fronteira do Danúbio e Sava foi superada pela ocupação em larga escala dos eslavos no final do século VI e começo do VII.[32] O que é hoje a Sérvia Central foi uma importante província geoestratégica, através da qual cruzava a Via Militar. Essa área foi frequentemente atacada por bárbaros nos séculos V e VI.[33] Os vários eslavos que chegara se misturaram e assimilaram os descendentes da população autóctone.[34][35]
- [c] ^ O governante sérvio foi intitulado "arconte da Sérvia"[36] (ἄρχοντος Σερβλίας, ἄρχων Σερβλίας, ἄρχοντος τοὒ Σἐρβλου)[37] que é traduzido por Moravcsik como "príncipe sérvio"[16] e "príncipe da Sérvia".[38] Na historiografia servo-croata, o título eslavo de knez é usado em vez do arconte grego.[25]
Referências
- ↑ a b Reiske 1840, p. 153.
- ↑ a b Departamento histórico-filológico 1968, p. 152.
- ↑ Živković 2012.
- ↑ a b Živković 2006, p. 23.
- ↑ a b c Blagojević 1989, p. 19.
- ↑ Živković 2006, p. 15.
- ↑ Živković 2002, p. 207–209.
- ↑ a b Novaković 2010.
- ↑ a b Moravcsik 1967, p. 153–155.
- ↑ Fine 1991, p. 53.
- ↑ Živković 2006, p. 22–23.
- ↑ Fine 1991, p. 225, 304.
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- ↑ a b c Ćorović 2001, Бугари и балкански Словени.
- ↑ a b c Ćirković 2008, p. 14–16.
- ↑ Živković 2002, p. 230.
- ↑ Živković 2002, p. 218.
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- ↑ a b c Samardžić 1993, p. 24.
- ↑ Eginhardo 1845, p. 83.
- ↑ Živković 2006, p. 23–24.
- ↑ a b SANU 1995, p. 37.
- ↑ SANU 1934, p. 11.
- ↑ a b Živković 2009, p. 362–365.
- ↑ Živković 2006, p. 16.
- ↑ Mandrović 1885, p. 24.
- ↑ Fine 1991, p. 26–41.
- ↑ Fine 1991, p. 29.
- ↑ Fine 1991, p. 33.
- ↑ Živković 2002, p. 187.
- ↑ Fine 1991, p. 38, 41.
- ↑ Ćorović 2001.
- ↑ Živković 2008.
- ↑ Moravcsik 1967, p. 154, 156.
- ↑ Moravcsik 1967, p. 157.
Bibliografia
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