Viagens na Minha Terra

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Wikisource
Wikisource
A Wikisource contém fontes primárias relacionadas com Viagens na Minha Terra
Viagens na Minha Terra
Autor(es) Almeida Garrett
Idioma português
País Portugal Portugal
Localização espacial Vale de Santarém
Editora Typ. Gazeta dos Tribunais
Formato 17 cm
Lançamento 1846
Páginas 2 volumes

Viagens na Minha Terra é um livro da autoria de Almeida Garrett; obra na qual se misturam o estilo digressivo da viagem real (que o autor fez de Lisboa a Santarém) e a narração novelesca em torno de Carlos e Joaninha.

Estilo e Contexto[editar | editar código-fonte]

O livro Viagens na Minha Terra, publicado em volume em 1846, é o ponto de arranque da moderna prosa literária portuguesa: pela mistura de estilos e de gêneros, pelo cruzamento de uma linguagem ora clássica ora popular, ora jornalística ora dramática, ressaltando a vivacidade de expressões e imagens, pelo tom oralizante do narrador, Garrett libertou o discurso da pesada tradição clássica, antecipando o melhor que a este nível havia de realizar Eça de Queirós. Viagens na Minha Terra é talvez a obra mais importante do Romantismo português.[1]

Mas a obra vale também pela análise da situação política e social do país e pela simbologia que Frei Dinis e Carlos representam: no primeiro é visível o que ainda restava de positivo e negativo do Portugal velho, absolutista; o segundo representa, até certo ponto, o espírito renovador e liberal. No entanto, o fracasso de Carlos é em grande parte o fracasso do país que acabava de sair da guerra civil entre miguelistas e liberais e que dava os primeiros passos duma vivência social e política em moldes modernos.

A Viagem[editar | editar código-fonte]

Partindo de Lisboa, Almeida Garrett descreve a sua viagem pelo Vale do Tejo até Santarém. Após uma curta ligação de barco, o autor prossegue ora a pé, ora a cavalo, por Vila Franca, Vila Nova da Rainha, Azambuja e Cartaxo. Deixando-nos algumas reflexões sobre o que encontra pelo caminho, é no Vale de Santarém que por fim de detém mais tempo.

A descrição do povoamento é profundamente ligada à terra e à natureza, como apraz ao estilo romântico, entrando em directo contraste com o que nos virá mais tarde a apresentar sobre a cidade de Santarém. Uma vez aqui, o leitor é confrontado com uma cidade decadente, incapaz de uma sólida expressão de vida urbana ou de respeitar os muitos tesouros e heranças nacionais que passadas gerações lhe deixaram.

O Conto[editar | editar código-fonte]

O conto, inserido em vários capítulos da narrativa de viagem, começa por apresentar ao leitor dona Francisca e Joaninha, as residentes de uma casa que muito fascina o narrador. A idosa, amplamente devota e tornada cega após um grande desgosto, é todas as sextas-feiras visitada por Frei Dinis, um dos últimos clérigos do Convento de São Francisco de Santarém. A absoluta austeridade religiosa de Frei Dinis inspira em dona Francisca um imenso temor a Deus e a segredos do passado que ambos parecem partilhar.

Portugal encontra-se em plena guerra civil. Com o aproximar das tropas constitucionais, na sequência da evacuação dos realistas para o Ribatejo, o Vale de Santarém torna-se palco de um cerco à cidade. Joaninha e a avó, após recusarem o convite de Frei Dinis para se refugiarem em Santarém, tornam-se conhecidas de ambos os lados da barricada. As andanças de Joaninha tornam-se conhecidas entre liberais e miguelistas, demonstrando a jovem uma graça que lhe concede o apelido de "menina dos rouxinóis". Certa tarde, adormecida debaixo de uma árvore, é reconhecida por Carlos, o seu primo há algum tempo exilado, agora feito oficial das forças de D. Pedro IV. O reencontro é emotivo e ambos professam o seu amor. Ao regressar ao seu regimento, Carlos reflecte sobre Georgina, a namorada inglesa que deixou para trás ao juntar-se ao exército e percebe-se perdido entre dois amores.

Pouco tempo depois, é decretada ordem de ataque e a cidade de Santarém é por fim tomada pelos liberais. Carlos acorda ferido no convento de Frei Dinis, com Georgina a seu lado. A inglesa, apesar das juras de amor feitas por Carlos, diz perceber que o seu coração pertence à prima. Interrompe-os o frade, por quem o jovem nutre uma notória animosidade. A conversa torna-se hostil e surge do reencontro a revelação de que o clérigo é na realidade o seu pai. A verdade é exposta pela avó, que após anos de sofrimento finalmente consegue abraçar o neto. Carlos, porém, abandona o convento e nunca mais regressa.

Semanas mais tarde, Joaninha recebe uma carta do primo. Por fim é explicada a vida de Carlos no estrangeiro e todas as peripécias amorosas que o trouxeram a este ponto. Após expor uma lista de paixões, Carlos diz mais uma vez amar Joaninha, mas acrescenta que é agora indigno de afeição e garante nunca mais voltar.

O fim da narrativa vê Frei Dinis na velha casa do Vale, a fazer companhia a dona Francisca, agora também surda e senil. É revelado pelo próprio que Carlos é agora barão e agiota e em breve será deputado.

Personagens[editar | editar código-fonte]

  • Frei Dinis - frade austero, fiel ao Convento de São Francisco de Santarém, visita frequente da casa de dona Francisca.
  • Carlos - militar pela causa liberal, natural do Vale de Santarém. Neto de dona Francisca e primo de Joaninha.
  • Dona Francisca - Avó de Joaninha e Carlos, natural do Vale de Santarém. Mulher devota e cega pelo desgosto.
  • Joaninha - Menina de 16 anos, de profundos olhos verdes, cuidadora de Dona Francisca.
  • Georgina - Inglesa, rival de Joaninha pelo amor de Carlos.
  • Laura e Júlia - Irmãs de Georgina.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Revista COLÓQUIO/Letras n.º 51 (Setembro de 1979). As Viagens na Minha Terra e a Menina dos Rouxinóis, pág. 15.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]