Wikipédia:Projetos/Acordo ortográfico/Aprender

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Rua em Aachen afetada pela reforma da ortografia alemã de 1996: Kongreßstraße passou para Kongressstraße.

Aprender é um subprojeto do Projeto Acordo Ortográfico que tem por objetivo procurar experiências similares noutras WPs e selecionar ensinamentos úteis para a WP-pt.

Estado: 100% 100% dos objetivos concretizados

Participantes[editar código-fonte]

Resultado do trabalho desenvolvido[editar código-fonte]

Antes de definirmos o que fazer na WP-pt quanto ao AO 1990, pareceu-nos útil começar por estudar outras línguas que também foram objeto de mudanças ortográficas recentes — o alemão (reforma ortográfica de 1996), o francês (retificações de 1990) e o neerlandês (novo vocabulário de 2006) — e como reagiram as respetivas WP. Para tal foi criado este subprojeto.

Foi necessário começar por conhecer genericamente as particularidades ortográficas das três línguas, bem como as alterações operadas. Pela leitura de políticas e recomendações das WP-de, WP-fr e WP-nl, complementada pelas explicações dadas por wikipedistas de cada uma das três WP, foi possível conhecer em pormenor a forma como cada WP lidou com a questão.

As conclusões a que chegámos foram as seguintes:

  1. Ao contrário do nosso AO 1990, as alterações ortográficas do alemão, do francês e do neerlandês são pouco (alemão e neerlandês) ou mesmo nada (francês) vinculativas.
  2. Assim, as diversas WP tiveram grandes dificuldades em tomar uma posição sobre o assunto. Na WP-fr não se chegou a qualquer consenso, sendo as retificações de 1990 aí quase completamente ignoradas.
  3. Pelo contrário, nas WP-de e WP-nl, apesar de certas discordâncias, foi decidido seguir as normas oficiais. Há, no entanto, no caso da WP-de, o cuidado de dizer expressamente que quem não segue as novas normas ortográficas pode continuar a colaborar na WP, desde que não se oponha a que os seus contributos sejam ortograficamente revistos.
  4. Outro ensinamento a retirar é que não devemos permitir que o debate interno descambe para as virtudes ou defeitos do próprio AO. Há que centrar permanentemente as atenções no que é melhor para a comunidade da WP. Foi nesse debate interminável que caiu a WP-fr, impedindo-a de tomar uma decisão.
  5. Os exemplos da WP-de e da WP-nl ensinam-nos, também, que não é necessário esperar que toda a sociedade se converta às novas normas ortográficas (o que ainda está longe de acontecer nesses países) para que as adotemos internamente. Havendo uma clara decisão por parte dos governos em ir em frente, podemos também avançar na WP com toda a segurança.

Reformas ortográficas noutras línguas[editar código-fonte]

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Embora, como já vimos, as atenções estejam sempre muito voltadas para o espanhol e o inglês, desde o início do século XX praticamente todas as grandes línguas sofreram reformas ortográficas, algumas bem profundas. Fiz uma lista das principais, deixando intencionalmente o português de fora (entre parênteses o número de falantes de cada língua na atualidade):

  • 1901: reforma ortográfica da língua alemã (185 milhões)
  • 1906: reforma ortográfica da língua sueca (10 milhões)
  • 1917: reforma ortográfica da língua russa (278 milhões)
  • 1928: profunda reforma ortográfica da língua turca (73 milhões), substituindo-se o alfabeto árabe pelo latino.
  • 1934: reforma ortográfica da língua neerlandesa (27 milhões)
  • 1935: reforma ortográfica da língua francesa (115 milhões)
  • 1946: reforma ortográfica da língua japonesa (130 milhões)
  • 1946-47: nova reforma ortográfica da língua neerlandesa
  • 1947: reforma ortográfica da língua indonésia (200 milhões)
  • 1948: reforma ortográfica da língua dinamarquesa (6 milhões)
  • 1972: nova reforma ortográfica da língua indonésia
  • 1980: nova reforma ortográfica da língua dinamarquesa
  • 1990: nova reforma ortográfica da língua francesa
  • 1996: nova reforma ortográfica da língua neerlandesa
  • 1996: nova reforma ortográfica da língua alemã
  • 2006: nova reforma ortográfica da língua neerlandesa

Para mais pormenores ver en:Spelling reform.

O caso do alemão[editar código-fonte]

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A língua alemã no mundo[editar código-fonte]

Estima-se que atualmente haja 180 milhões de pessoas a falar a língua alemã, dos quais 105 milhões a falam como língua materna. É a língua com maior número de falantes na União Europeia. É oficial na Alemanha, Áustria, Liechtenstein, Suíça (cooficial com o francês, o italiano e o romanche) e Luxemburgo (cooficial com o francês e o luxemburguês). É ainda oficial em determinadas regiões da Dinamarca, Polónia, Itália, Eslováquia e Namíbia. É também falada por pequenas comunidades de alemães e seus descendentes em vários países, nomeadamente no leste europeu e, como sabemos, em estados do sul do Brasil.

A ortografia da língua alemã[editar código-fonte]

Apesar de preservar uma indelével marca etimológica, ortograficamente o alemão apresentava (já antes da reforma de 1996) uma muito maior coerência e ligação à oralidade do que, por exemplo, o inglês ou o francês. No entanto, especialmente a partir da década de 1960 começaram a surgir críticas, vindas dos mais variados setores, à sua alegada complexidade e reclamando uma simplificação. Não me vou perder em pormenores, que podem facilmente conhecer lendo a secção "História da reforma ortográfica de 1996" e o resto do artigo.

A reforma ortográfica de 1996[editar código-fonte]

Depois de um trabalho demorado, a 1 de julho de 1996, em Viena, foi aprovada uma reforma ortográfica com a assinatura de representantes da Alemanha, Áustria, Suíça e Liechtenstein. O Luxemburgo decidiu autoexcluir-se do processo. Como é normal, houve numerosos protestos dos mais variados setores, incluindo professores, escritores e meios de comunicação social. Isto apesar das alterações afetarem apenas 0,5% do vocabulário, sendo que 90% das alterações diziam respeito ao uso do ß, ponto em que, na generalidade, todos estavam de acordo.

Em 2004 e 2006 foram feitas alterações e precisões às regras inicias e admitidas algumas das grafias tradicionais. Com o passar do tempo as críticas aparentam ter diminuído e, aos poucos, a nova grafia parece que vai entrando nos hábitos dos utentes da língua alemã.

A Wikipédia de língua alemã e a reforma[editar código-fonte]

A Wikipédia em alemão (WP-de) é a segunda mais importante, contando com mais de 750 mil artigos. Para conhecer com mais profundidade a WP-de: en:German Wikipedia.

Pela opinião de alguns wikipedistas alemães contactados[1], a política da WP-de em relação à ortografia está descrita na página de:Wikipedia:Rechtschreibung (i.e., Wikipédia:Ortografia). Resumidamente aqui se diz que a ortografia oficialmente adotada pela WP-de é a da reforma de 1996, seguindo-se sempre a revisão mais recente, atualmente a versão revista de 2006. É reconhecido o caráter controverso da reforma, mas nesta página — integrada nas políticas da WP-de (Richtlinien no original) — diz-se também que discordar da reforma não deve ser um obstáculo à participação ativa no projeto. Todos são livres de escrever pelas normas antigas, desde que não se oponham a que a grafia dos seus artigos possa ser corrigida e atualizada. E normalmente é. No entanto, nenhuma palavra com a nova grafia pode ser revertida para a anterior. No caso das grafias duplas (nomeadamente algumas grafias antigas que foram admitidas pela revisão de 2006 como também válidas, caso de Geografie e Geographie, por exemplo) são mantidas as opções dos respectivos autores por uma ou outra forma.

Esta política foi criada logo no início da WP-de, já que a reforma entrou em vigor em 1998 e a WP só começou em 2001. É conhecido que já houve discussões intermináveis sobre o assunto que, com o passar do tempo, foram amainando. Agora, pelo menos na WP-de, há uma aparente pacificação e unanimidade em torno do assunto.

Ver também[editar código-fonte]

O caso do francês[editar código-fonte]

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A língua francesa no mundo[editar código-fonte]

Estima-se que atualmente existam 280 milhões de pessoas que falam francês em todo o mundo, dos quais 76 milhões como língua materna. É língua oficial das Nações Unidas (com o árabe, o chinês, o espanhol, o inglês e o russo) e de um número muito alargado de organizações internacionais. É oficial em 29 países, entre os quais a França, o Canadá (com o inglês), a Bélgica (com o neerlandês), a Suíça (com o alemão, o italiano e o romanche), o Luxemburgo (com o alemão e o luxemburguês), o Haiti e 22 países africanos. É também falada nas diversas possessões francesas (Guiana Francesa, Guadalupe, Martinica, Reunião, Nova Caledónia, Polinésia Francesa, etc.) e em pequenas comunidades da Itália (Vale de Aosta), dos Estados Unidos (Luisiana e Maine), do Líbano, do Vietname e da Índia (Pondicherry). A Francofonia (em francês la Francophonie) é a organização internacional que congrega os países de língua francesa.

A ortografia da língua francesa[editar código-fonte]

Tal como o inglês, o francês evidencia uma forte marca etimológica e caracteriza-se por um grande conservadorismo na ortografia, que pouco se alterou ao longo dos séculos. Cabe à Academia Francesa, fundada por Richelieu em 1635, zelar pelo idioma e publicar regularmente o dicionário oficial da língua.

Durante a década de 1970 tornaram-se demasiado insistentes os pedidos de modernização da grafia do francês, tida por muitos como completamente obsoleta. Em 1989, o então primeiro-ministro francês Michel Rocard solicitou ao Conselho Superior da Língua Francesa (Conseil supérieur de la langue française) a incumbência de propor uma simplificação e regularização da ortografia.

As retificações ortográficas de 1990[editar código-fonte]

O Conselho Superior da Língua Francesa, constituído por representantes dos diversos países francófonos — e incluindo membros da Academia Francesa, linguistas e dicionaristas —, foi incumbido de se debruçar sobre os seguintes temas: uso do hífen, o plural das palavras compostas, o acento circunflexo, o particípio passado e diversas anomalias. As conclusões dos trabalhos foram reunidas num documento chamado Relatório de 1990 sobre as Retificações Ortográficas (Rapport de 1990 sur les rectifications orthographiques) que foi validado pelas autoridades linguísticas da Bélgica e do Canadá e aprovado por unanimidade pela Academia Francesa. No entanto, a Academia clarificou que estas eram apenas recomendações e que as velhas grafias continuariam a ser consideradas corretas, ao lado das novas. As novas normas — que afetam cerca de 2 mil palavras — foram publicadas no Journal officiel de la République française em dezembro de 1990.

Não sendo obrigatórias, as novas grafias são as recomendadas e adotadas pela Academia Francesa na mais recente edição do seu dicionário (a 9.ª), nos dicionários Hachette e Nouveau Littré, nos corretores ortográficos da Microsoft e do OpenOffice.org. As próximas edições dos dicionários Larousse e Robert também já as deverão contemplar. Apesar disso, os editores de livros mostram-se relutantes em aderir às novas regras.

Ao contrário do que aconteceu nos países de língua alemã, que privilegiaram desde logo o ensino, os ministérios da Educação dos países francófonos limitaram-se a emitir vagas recomendações, dando liberdade às escolas de optarem entre ensinar as normas tradicionais ou as novas. Na Suíça, por exemplo, a entidade encarregada pelo ensino nos cantões francófonos emitiu uma circular referindo que os alunos que seguissem as recomendações de 1990 não podiam ser penalizados por esse facto. Ou seja, trata-se mais de tolerar do que de encorajar a nova grafia e muito menos de a tornar obrigatória. Só em 2007 (17 anos depois da publicação das recomendações), o ministério da Educação francês passou a dar preferência clara à chamada "ortografia retificada".

Como é habitual, as retificações propostas em 1990 foram mal recebidas por amplos setores da sociedade, especialmente a francesa, com destaque para os escritores e os editores. A sua adoção está a ser muito lenta e tarda a ser usada nos jornais. Por exemplo, o Le Monde nunca a usou.

A Wikipédia de língua francesa e as retificações[editar código-fonte]

A Wikipédia em francês (WP-fr) é a terceira mais importante, contando com mais de 660 mil artigos. Para conhecer com mais profundidade a WP-fr: fr:Wikipédia en français.

Pelas informações dadas por alguns wikipedistas franceses[2] fica a ideia de que as coisas aqui são completamente diferentes da situação alemã. Há uma página de recomendações ortográficas fr:Wikipédia:Orthographe, mas nada é dito quanto às regras concretas que devem ser seguidas. Entre setembro de 2007 e janeiro de 2008 houve um aceso debate na WP-fr, mas que foi inconclusivo. Vale a pena dar uma vista de olhos pela página de votação — agora peça de arquivo fr:Wikipédia:Prise de décision/Rectifications de l'orthographe de 1990 —, e pela respetiva página de discussão.

Os argumentos usados pelos wikipedistas que estavam contra a adoção das retificações de 1990 foram basicamente dois:

  1. As alterações de 1990 são meras recomendações, sem qualquer caráter vinculativo;
  2. As alterações de 1990 são apenas marginalmente utilizadas e nem sequer são ensinadas nas escolas de forma generalizada.

Como a comunidade não chegou a acordo quanto a uma política ou uma recomendação a seguir, na prática o que acontece hoje em dia na WP-fr é que ambas as formas são válidas, mas as antigas é que prevalecem. As novas normas são toleradas mas, por regra, apenas em novos artigos completamente escritos dessa forma. Quando alguém faz um acrescento ou alteração a um artigo pré-existente usando a nova grafia, o mais usual é que um outro wikipedista altere essa passagem para a escrita tradicional, como se de um erro se tratasse. Quanto aos nomes dos artigos, também o que prevalece é a grafia pré-1990, com redirecionamentos da nova grafia para a antiga (por exemplo: maitre => maître), onde está o artigo.

Ver também[editar código-fonte]

O caso do neerlandês[editar código-fonte]

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A língua neerlandesa no mundo[editar código-fonte]

Estima-se que atualmente haja 27 milhões de pessoas que falam neerlandês (termo preferível a holandês, também usado) em todo o mundo, dos quais 23 milhões como primeira língua. É língua oficial dos Países Baixos, da Bélgica (com o francês), do Suriname, de Aruba e das Antilhas Holandesas. É também falada em pequenas comunidades da França (Flandres Francesa) e da Alemanha (Baixa Renânia). O africânder (ou africâner), falado na África do Sul, deriva do neerlandês mas é considerado uma língua independente.

A ortografia da língua neerlandesa[editar código-fonte]

A ortografia do neerlandês é tida como bastante lógica e muito mais simples do que a do inglês ou a do francês. Após a Segunda Guerra Mundial, os governos dos Países Baixos e da Bélgica decidiram unificar a ortografia da língua neerlandesa que, apesar de ser falada nos dois países, regia-se por duas grafias diferentes. Em 1954 foi publicado um vocabulário ortográfico comum, conhecido como het Groene Boekje (i.e., o Livro Verde, mais informação aqui), pela cor da capa do livro.

Entretanto, em 1980 foi criada a Nederlandse Taalunie (i.e., União da Língua Neerlandesa, mais informação aqui), um misto de academia da língua e de CPLP neerlandesa, que elaborou novas regras ortográficas em 1994 e publicou uma nova versão do Livro Verde em 1996, comprometendo-se a revê-lo a cada 10 anos. Esta edição de 1996 pura e simplesmente eliminou todas as grafias duplas, até aí amplamente usadas.

A edição do Livro Verde de 2006[editar código-fonte]

Como estabelecido, foi publicada uma nova versão revista do Livro Verde em 2006. Nesta revisão foram introduzidas novas alterações que foram muito contestadas por amplos setores da sociedade, especialmente nos Países Baixos.

Apesar das instituições governamentais e do ensino obedecerem às prescrições do Livro Verde de 2006, um grupo jornalístico e editorial recusou-se terminantemente a usá-las e decidiu criar um novo vocabulário ortográfico, a que deu o nome de Witte Boekje (i.e. Livro Branco). Apesar de se basear nas mesmas regras ortográficas de 1994, o Livro Branco propõe grafias significativamente diferentes e admite um grande número de grafias duplas. O Livro Branco recebeu ampla adesão dos mass media holandeses, mas tem passado despercebido na Bélgica.

A Wikipédia de língua neerlandesa e o Livro Verde[editar código-fonte]

A Wikipédia em neerlandês (WP-nl) é a sétima mais importante, contando com mais de 440 mil artigos. Para conhecer com mais profundidade a WP-nl: en:Dutch language Wikipedia.

Segundo alguns wikipedistas holandeses contactados[3], a WP-nl decidiu seguir as normas emanadas pela União da Língua Neerlandesa, obedecendo sempre à edição mais recente do Livro Verde, no caso presente, a de 2006, conforme descrito na página Spellinggids. No entanto, a ortografia parece ser um tema particularmente controverso na sociedade holandesa e isto também transparece na WP-nl. Apesar de alguns preceitos do Livro Verde serem contestados, seguem-no à risca para evitar discussões intermináveis no seio da WP-nl.

Ver também[editar código-fonte]


Referências

  1. Aos usuários da WP-de BishkekRocks, Nichtbesserwisser e Stern os nossos agradecimentos pelas informações prestadas
  2. Aos usuários da WP-fr Asclepias, Hégésippe Cormier e Thierry Caro os nossos agradecimentos pelas informações prestadas
  3. Aos usuários da WP-nl Mallerd e Melsaran e ao usuário Jcwf do Wikt-nl os nossos agradecimentos pelas informações prestadas


Texto em negrito