Witold Gombrowicz
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| Witold Gombrowicz | |
|---|---|
Witold Gombrowicz | |
| Nome completo | Witold Marian Gombrowicz |
| Nascimento | 4 de agosto de 1904 |
| Morte | 24 de julho de 1969 (64 anos) |
| Nacionalidade | |
| Ocupação | Escritor e dramaturgo |
| Magnum opus | Cosmos (1965) |
Witold Marian Gombrowicz (Małoszyce, 4 de agosto de 1904 – Vence, 24 de julho de 1969) foi um escritor e dramaturgo Polaco. As suas obras caracterizam-se por uma profunda análise psicológica, um certo sentido do paradoxo e absurdo, tendo ainda um certo "travo" anti-nacionalista. Em 1937, publicou seu primeiro romance, Ferdydurke, no qual se encontram muitos dos temas que aborda nas suas obras: problemas da imaturidade e juventude, a criação da identidade por meio da interação social e um exame irónico e crítico do papel das classes na sociedade e cultura da Polónia do início do século XX.
Só alcançou projeção nos últimos anos da sua vida, quando a edição francesa de dois dos seus romances, na década de 1960, lhe trouxe reconhecimento público. É hoje considerado um dos maiores nomes da literatura polaca. Foi indicado quatro vezes ao Prêmio Nobel de Literatura, entre 1966 e 1969.[1]
Biografia
[editar | editar código]Anos polacos
[editar | editar código]Gombrowicz nasceu em Małoszyce, perto de Opatów. Era o mais novo de quatro filhos de Jan Onufry e Antonina. Num texto autobiográfico, A Kind of Testament, escreveu que a sua família vivera durante 400 anos na Lituânia, numa propriedade situada entre Vilnius e Kaunas, mas foi desalojada depois de o seu avô ter sido acusado de participar na Revolta de Janeiro de 1863.[2] Mais tarde descreveu as origens e a condição social da família como exemplos iniciais de um sentimento vitalício de estar 'entre'.[3] Em 1911, a família mudou-se para Varsóvia. Após concluir os estudos no Ginásio de São Estanislau Kostka, em 1922, Gombrowicz ingressou em Direito na Universidade de Varsóvia, obtendo o grau de MJur em 1927.[4] Passou um ano em Paris, onde estudou no Instituto de Altos Estudos Internacionais (Institut des Hautes Études Internationales). Não foi particularmente aplicado nos estudos, mas a sua estadia em França proporcionou-lhe contacto constante com outros jovens intelectuais. Chegou também a visitar o Mediterrâneo.
Quando retornou à Polónia, Gombrowicz começou a candidatar-se a cargos jurídicos, sem grande sucesso. Na década de 1920 iniciou-se na escrita. Sua tentativa de escrever um romance popular em colaboração com Tadeusz Kępiński revelou-se um fracasso. No final da década de 1920 e início da de 1930, Gombrowicz começou a escrever contos, mais tarde reunidos sob o título Memórias de um Tempo de Imaturidade, editados por si e publicados com o nome Bacacay, a rua onde viveu durante o exílio na Argentina. A partir desse momento de estreia literária, as suas críticas e crónicas começaram a surgir na imprensa, sobretudo no Kurier Poranny (Correio da Manhã). Gombrowicz passou a reunir-se com outros jovens escritores e intelectuais, formando uma sociedade artística de café nos espaços Zodiak e Ziemiańska, ambos em Varsóvia. A publicação de Ferdydurke, o seu primeiro romance, granjeou-lhe reconhecimento nos meios literários.[5][6]
Exílio na Argentina
[editar | editar código]Pouco antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, Gombrowicz participou da viagem inaugural do transatlântico polaco MS Chrobry para a América do Sul. [7] Quando soube do início da guerra na Europa, decidiu permanecer em Buenos Aires até o seu fim; apresentou-se à legação polaca em 1941, mas foi considerado inapto para o serviço militar. Permaneceu na Argentina até 1963 — muitas vezes, sobretudo durante a guerra, em condições de pobreza.
No final da década de 1940, Gombrowicz procurava integrar-se nos círculos literários argentinos através da publicação de artigos, da realização de conferências no café Fray Mocho e, finalmente, da publicação, em 1947, de uma tradução espanhola de Ferdydurke, com a ajuda de amigos como Virgilio Piñera. Esta versão do romance é hoje considerada um acontecimento marcante na história da literatura argentina, mas, na época, não trouxe a Gombrowicz grande notoriedade, tal como não trouxe a publicação, em 1948, da sua peça Ślub em espanhol (El Casamiento). Entre dezembro de 1947 e maio de 1955, Gombrowicz trabalhou como empregado bancário no Banco Polaco, filial argentina do Bank Pekao, e estabeleceu amizade com Zofia Chądzyńska, que o introduziu na elite política e cultural de Buenos Aires. Em 1950 começou a trocar correspondência com Jerzy Giedroyc e, em 1951, iniciou a publicação de textos na revista parisiense Culture, em que fragmentos de Dziennik (Diários) apareceram em 1953. Nesse mesmo ano, publicou um volume que incluía Ślub e o romance Trans-Atlantyk, no qual o tema da identidade nacional em contexto de emigração foi abordado de forma controversa. Após outubro de 1956, quatro livros de Gombrowicz foram publicados na Polónia e granjearam-lhe enorme notoriedade, embora as autoridades não tenham permitido a publicação de Dziennik (Diário).[8]
Gombrowicz teve relações tanto com homens como com mulheres. No seu Diário (1953–1969), publicado em fascículos, escreveu sobre as suas aventuras na subcultura homossexual de Buenos Aires, em particular as experiências com jovens de classe baixa — tema que retomou na entrevista concedida a Dominique de Roux em A Kind of Testament (1973).[9]
Últimos anos na Europa
[editar | editar código]Na década de 1960, Gombrowicz alcançou reconhecimento internacional, e muitas das suas obras foram traduzidas ao inglês, incluindo Pornografia (Pornography) e Kosmos (Cosmos). As suas peças foram representadas em teatros de todo o mundo, especialmente na França, Alemanha e Suécia.[10]
Tendo recebido uma bolsa da Fundação Ford, Gombrowicz retornou à Europa em 1963. Em abril desse ano, embarcou num navio italiano, desembarcou em Cannes e seguiu de comboio para Paris. Um registro desta viagem encontra-se no seu diário. Permaneceu durante um ano em Berlim Ocidental, onde foi alvo de uma campanha difamatória organizada pelas autoridades polacas.[11] [12] A sua saúde deteriorou-se durante esta estadia, o que o impossibilitou de regressar à Argentina. Em 1964, voltou à França e passou três meses na Abadia de Royaumont, perto de Paris, onde conheceu Rita Labrosse, uma canadense de Montreal que estudava literatura contemporânea. Nesse mesmo ano, mudou-se para a Côte d’Azur, no sul de França, com Labrosse, a quem contratou como secretária. Viveu o resto da sua vida em Vence, perto de Nice. [13][10]
A saúde de Gombrowicz impediu-o de usufruir plenamente do renome tardio. Agravou-se significativamente na primavera de 1964; ficou acamado e deixou de conseguir escrever. Em maio de 1967 recebeu o Prix International. No ano seguinte, em 28 de dezembro, casou-se com Labrosse. Por iniciativa do seu amigo Dominique de Roux, que procurava animá-lo, proferiu uma série de 13 conferências sobre a história da filosofia para Roux e Labrosse, ironicamente intituladas Guia da Filosofia em Seis Horas e Quinze Minutos (ou Guia da Filosofia em Seis Horas e um Quarto), que Roux transcreveu. As conferências começaram com Kant e terminaram com o existencialismo. A série ficou inacabada, interrompida pela morte de Gombrowicz a 24 de julho de 1969.[14] Foi sepultado no cemitério de Vence.[15]
A escrita e estilo
[editar | editar código]Gombrowicz escreveu sempre em polonês, mas recusou a publicação das suas obras na Polónia até que fosse levantada a censura sobre a versão integral de Dziennik (Diário), onde relatava os ataques de que fora alvo. Por isso permaneceu praticamente desconhecido do grande público até à década de 1970. Entretanto, os seus livros eram publicados em polonês pelo Instituto Literário de Paris de Jerzy Giedroyc e traduzidos em mais de trinta línguas. As suas peças foram encenadas em diversos países por encenadores de renome, como Jorge Lavelli, Alf Sjöberg, Ingmar Bergman, Jerzy Jarocki e Jerzy Grzegorzewski.[16]
A sua escrita distingue-se pela análise psicológica incisiva, pela ironia e pelo sentido do absurdo. Criticou o romantismo polaco e afirmou ter escrito Trans-Atlantyk em desafio a Adam Mickiewicz. A sua obra dialoga com o existencialismo e o estruturalismo, marcada por alusões lúdicas, sátira e neologismos (como gęba e pupa em Ferdydurke). Este romance, publicado em 1937, tornou-se um clássico da literatura polaca e uma sátira às diversas camadas sociais, introduzindo termos que entraram no uso comum.
O estilo de Gombrowicz caracteriza-se pela análise psicológica, pelo paradoxo e pelo humor absurdo, muitas vezes crítico do nacionalismo. Explorou os temas da imaturidade, da juventude, das máscaras sociais e da luta contra tradições enraizadas. É lembrado como um escritor que nunca sacrificou a imaginação nem a originalidade a qualquer preço, fosse ele político, religioso ou social.[17]
Tradução da obra ao português
[editar | editar código]Em Portugal, algumas das suas obras foram traduzidas por Luísa Neto Jorge e levadas à cena pelo Teatro Experimental de Cascais.
Do curso e livro O Curso de Filosofia em Seis Horas e um Quarto, ministrado entre 27 de abril e 25 de maio de 1969, que ajudou o grande escritor polonês a suportar os últimos meses de sua vida na luta contra um câncer terminal, ele nos legou a seguinte e valiosa lição:
"... a escolha não é a escolha de um fato, é a escolha de um valor. Eu não posso escolher livremente meu tamanho, mas depende de mim, considerar minha estatura como qualidade ou defeito."
Principais obras
[editar | editar código]- Kosmos, novela, 1965
- Historia, teatro, 1962
- Pornografia, novela, 1960
- Dzienniki (Diários), 1953–1969
- Trans-Atlantyk, novela, 1953
- Ślub (O Casamento), teatro, 1953
- Ferdydurke, novela, 1937
- Iwona, księżniczka Burgunda (Yvonne, Princesa da Borgonha), teatro, 1935
- Memórias dos tempos da imaturidade, (mais tarde renomeado Bakakaj), colecção de pequenos contos, 1933
Obra publicada em português (lista parcial)
[editar | editar código]- Ferdydurke, 7 Nós Editora, 2011, ISBN: 978-989-8306-05-0
- Cosmos, Vega, Lisboa, 1995. ISBN: 978-972-699-453-4
- Contos Polacos, Editorial Estampa, 1997.
- A Pornografia, Relógio D'Água, 1988. ISBN: 978-972-708-073-1
- Morte ao Dante, & Etc., 1987. ISBN: 014-400-012-605-3
- Curso de Filosofia em Seis Horas e Quinze Minutos, Editorial Teorema, 1996. ISBN: 978-972-695-259-6
- Contra Os Poetas, Edições Antígona, 1989. ISBN: 978-972-608-007-7
Ligações externas
[editar | editar código]- Portal oficial de Witold Gombrowicz (em polonês) (em francês) (em castelhano) (em inglês)
- Foto de Witold Gombrowicz
- Artigo, em inglês, sobre Witold Gombrowicz
- Institut national de l'audiovisuel (INA)
- ↑ Mehlin, Hans (21 de maio de 2024). «Nomination Archive». NobelPrize.org (em inglês). Consultado em 2 de setembro de 2025
- ↑ Gombrowicz, Witold (1 de setembro de 2007). A Kind of Testament (em inglês). [S.l.]: Dalkey Archive Press. p. 28. Consultado em 2 de setembro de 2025
- ↑ Stewart, Jon Bartley (2013). Kierkegaard's Influence on Literature, Criticism, and Art: The Anglophone World (em inglês). [S.l.]: Ashgate Publishing, Ltd. p. 140. Consultado em 2 de setembro de 2025
- ↑ «Witold Gombrowicz | Modernist writer, avant-garde playwright, diarist. | Britannica». www.britannica.com (em inglês). 31 de julho de 2025. Consultado em 2 de setembro de 2025
- ↑ «„Bywa, iż sobą zdumiewam siebie." – 50. rocznica śmierci Witolda Gombrowicza - Ministerstwo Kultury i Dziedzictwa Narodowego - Portal Gov.pl». Ministerstwo Kultury i Dziedzictwa Narodowego (em polaco). Consultado em 2 de setembro de 2025
- ↑ «SFE: Gombrowicz, Witold». sf-encyclopedia.com. Consultado em 2 de setembro de 2025
- ↑ «85 lat temu we włoskiej stoczni w Monfalcone nad Adriatykiem położono stępkę MS „Batory"». dzieje.pl (em polaco). Consultado em 2 de setembro de 2025
- ↑ CMS, Widzialni. «Patron Biblioteki - Biblioteka Publiczna Miasta i Gminy im. Witolda Gombrowicza w Ożarowie». biblioteka.ozarow.pl (em polaco). Consultado em 2 de setembro de 2025
- ↑ Franklin, Ruth (23 de julho de 2012). «Imp of the Perverse». The New Yorker (em inglês). ISSN 0028-792X. Consultado em 2 de setembro de 2025
- ↑ a b «Witold Gombrowicz». Culture.pl (em inglês). Consultado em 2 de setembro de 2025
- ↑ Kowalska, Magdalena (2004). "Gombrowicz w Berlinie : czyli Gombrowicz uwikłany w historię" (PDF). Pamiętnik Literacki [Literary Memoir] (in Polish). 95 (4). IBL PAN: 39–110. ISSN 0031-0514 – via bazhum.muzhp.pl.
- ↑ «Europa - Witold Gombrowicz». witoldgombrowicz.com. Consultado em 2 de setembro de 2025
- ↑ Gombrowicz, Witold (2010). «Ferdydurke». Budapest: Central European University Press. Discourses of Collective Identity in Central and Southeast Europe 1770–1945 (em inglês): 313–321. ISBN 978-615-5211-94-2. Consultado em 2 de setembro de 2025
- ↑ Ziarek, Ewa P?onowska (1 de janeiro de 1995). The Rhetoric of Failure: Deconstruction of Skepticism, Reinvention of Modernism (em inglês). [S.l.]: SUNY Press. Consultado em 2 de setembro de 2025
- ↑ Bobrowski, Tomasz (30 de maio de 2018). «Vence, Gombrowicz's city (French Riviera)». French Riviera (em inglês). Consultado em 2 de setembro de 2025
- ↑ "BIBLIOGRAFIA WITOLDA GOMBOWICZA" (PDF). Retrieved 26 March 2020.
- ↑ Kühl, Olaf (2005). Gęba Erosa. Tajemnice stylu Witolda Gombrowicza. Kraków: Universitas. ISBN 83-242-0357-5.
