Zé Pelintra
Zé Pelintra | |
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Imagem de Zé Pelintra | |
Outro(s) nome(s) | Mestre do Catimbó |
Nome nativo | José Pereira dos Anjos |
Clã | Linha dos Malandros |
Símbolo | comidas nordestinas, cerveja clara, cigarro, moedas, cartas de baralho |
Dia | 07 de julho |
Cor(es) | branco e vermelho |
Região | Brasil |
Religiões | Catimbó e Umbanda |
Zé Pelintra ou Zé Pilintra[1] é uma falange[2] de entidades de luz originária da crença sincrética denominada Catimbó, surgida na Região Nordeste do Brasil. O Zé Pelintra também é comumente "incorporado" em terreiros de Umbanda, tendo seu culto difundido em todo o Brasil. Nessa religião, é considerado parte da linha de trabalho dos malandros.[2]
O Zé Pelintra é uma das mais importantes entidades de cultos afro-brasileiros, especialmente entre os umbandistas. É considerado o espírito patrono dos bares, locais de jogo e sarjetas, embora não alinhado com entidades de cunho negativo, é uma espécie de transcrição arquetípica do "malandro".[3][4] Exatamente por isso, serve igualmente como um arquétipo da cultura de origem africana enquanto alvo de preconceito, tal como ocorreu nas eleições municipais do Rio de Janeiro em 2020.[5]
Segundo relatos, teria nascido no estado de Pernambuco. Há, ainda, relatos de que nasceu próximo à cidade pernambucana de Exu.[6]
Descrição[editar | editar código-fonte]
No seu modo de vestir, divergem-se algumas formas do típico Zé Pelintra: na mais comum, é representado trajando terno completo de linho S-120,[7] na cor branca, sapatos bicolor, gravata grená ou vermelha e chapéu panamá de fita vermelha ou preta.[3] Sua roupa assemelha-se aos "zoot suit",[8] usada nos Estados Unidos por negros e latinos nas década de 1930[9] e 1940.[10]
Também é possível utilizar roupas de algodão comumente usadas entre os escravos e chapéu de palha diferenciando-se apenas por seu lenço vermelho ou cachecol vermelho e uma fita vermelha em seu chapéu, bem como porta sua bengala típica.
Já na Jurema, é representado de camisa comprida branca ou quadriculada com mangas dobradas e calça branca dobrada nas pernas, sem sapatos e com um lenço no pescoço nas cores vermelha ou outras, traz na mão sua bengala e seu cachimbo.
Incorporados, costumam consumir bebidas alcoólicas.[11]
História[editar | editar código-fonte]
Apesar de ter importância religiosa tanto para os praticantes de Catimbó quanto de Umbanda, Zé Pelintra é entidade originária do primeiro.[12] A absorção da entidade de uma religião por outra se processou quando os grandes centros urbanos do sudeste do Brasil passaram a englobar antigas áreas rurais e estimular a migração de trabalhadores de outras partes do país, em seu processo de desenvolvimento.[13]
Culto[editar | editar código-fonte]
Zé Pelintra é invocado quando seus seguidores precisam de ajuda com questões domésticas, de negócios ou financeiras e é reputado como um obreiro da caridade e da feitura de obras boas. No catimbó, é considerado um "mestre juremeiro". Já na Umbanda, Zé Pelintra é um guia pertencente à linha do Povo da Malandragem. Por vezes, incorpora em giras de exus[3] ou em giras de pretos-velhos, embora não seja de nenhuma dessas duas linhas de trabalho.
Majoritariamente os seguidores de Zé Pelintra concentram-se nos ambientes urbanos de Rio de Janeiro e São Paulo, mas eles também podem ser encontrados no Nordeste do Brasil, entre os "catimbozeiros", e nas áreas rurais de praticamente todo o país.[3]
Zé Pelintra, tanto na Umbanda, como no Catimbó, é tido como protetor das classes menos favorecidas em geral, tendo ganhado o apelido de "Advogado dos Pobres", pela patronagem espiritual e material que exerce. É comum achá-lo em festas e exposições, sempre rindo.
Homenagens[editar | editar código-fonte]
O músico e compositor Itamar Assumpção escreveu uma canção sobre Zé Pelintra em 1988, em parceria com Waly Salomão, intitulada "Zé Pilintra".[14] Em 2005, foi homenageado no samba-enredo da escola de samba Unidos de Cosmos, no refrão que diz "o meu tambor vai ecoar, boa noite, Zé Pelintra, tenho fé, vou lhe exaltar".[15] Este samba passou a ser cantado todos os anos antes do início do desfile da escola, bem como em festividades na quadra. Em 2022, o vereador carioca Átila Alexandre Nunes Pereira criou um projeto de lei para que o dia 7 de julho seja comemorado como o Dia de Zé Pelintra.[16]
Referências
- ↑ Ribeiro, José (1974). Catimbó de Zé Pilintra: mistério, magia, feitiço. 21. Rio de Janeiro: Editora Espiritualista
- ↑ a b www.genuinaumbanda.com.br. «Zé Pelintra». Consultado em 3 de novembro de 2018. Arquivado do original em 23 de março de 2019
- ↑ a b c d Mario Teixeira de Sá Júnior. «Malandros e Baianos: A sacralização do humano no panteão umbandista do século XX» (PDF). Consultado em 3 de novembro de 2018. Arquivado do original (PDF) em 4 de setembro de 2011
- ↑ Júlia Pereira (30 de novembro de 2016). «Do Catimbó aos Terreiros. Como Zé Pelintra chega na Umbanda?». Consultado em 30 de novembro de 2020
- ↑ «Após Crivella ironizar 'chapeuzinho de Zé Pelintra', acessório é adotado por eleitores e aliados de Paes». G1. 30 de novembro de 2020. Consultado em 30 de novembro de 2020
- ↑ https://www.cartacapital.com.br/blogs/dialogos-da-fe/sarava-seu-ze/
- ↑ Simas, Luiz Antonio; Rufino, Luiz; Haddock-Lobo, Rafael (23 de outubro de 2020). Arruaças: uma filosofia popular brasileira. [S.l.]: Bazar do Tempo Produções e Empreendimentos Culturais LTDA
- ↑ Thompson, Robert Farris (1993). Face of the Gods: Art and Altars of Africa and the African Americas (em inglês). [S.l.]: Museum for African Art
- ↑ Face of the gods: art and altars of Africa and the African Americas. [S.l.]: Museum for African Art. 1993. 98 páginas. 9780945802136
- ↑ Nei Lopes (2004). Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana. [S.l.]: Selo Negro. 697 páginas. 9788587478214
- ↑ Mariana Balan (11 de Junho de 2017). «Uma Questão de Fé - Meu encontro com Zé Pelintra». Consultado em 3 de novembro de 2018
- ↑ «Origens do catimbó». 4 de setembro de 2005. Consultado em 13 de maio de 2010
- ↑ «Após Crivella ironizar 'chapeuzinho de Zé Pelintra', acessório é adotado por eleitores e aliados de Paes». G1. Consultado em 3 de dezembro de 2020
- ↑ «Rita Amaral e Vagner Gonçalves da Silva - Foi Conta pra Todo Canto». Consultado em 26 de maio de 2010
- ↑ Galeria do Samba. «Carnaval 2005». Consultado em 3 de novembro de 2018
- ↑ Dia, O. (12 de maio de 2022). «Projeto de lei pretende festejar Dia do Zé Pelintra em 7 de julho | Rio de Janeiro». O Dia. Consultado em 7 de julho de 2022
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- Augras, M. (1983) O duplo e a metamorfose: A identidade mítica em comunidades Nagô. Petrópolis: Vozes.
- Bardin, L. (1994) Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70.
- Bastide, R. (1978) O Candomblé da Bahia. Rito Nagô. (2ª ed.) São Paulo: Ed. Nacional; Brasília, INL. (Coleção Brasiliana, V. 313).
- Birman, P. (1985) O que é Umbanda. (3ª ed.) São Paulo: Brasiliense. (Coleção Primeiros Passos, V. 97).
- _________. (1991) Relações de Gênero, Possessão e Sexualidade. Phisis. A representação na Saúde Coletiva. 1(2), 37-57.
- _________. (1995) Fazer estilo criando gênero: Possessão e diferenças de gênero em terreiros de Umbanda e Candomblé no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, Ed. UERJ.
- Damatta, R. (1991) A casa & a rua: Espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan.
- __________. (1997) Carnavais, Malandros e Heróis: Para uma sociologia do dilema brasileiro. (6ª ed.) Rio de Janeiro: Rocco.
- Del Priore, M. (1993) Ao sul do corpo: Condição feminina, maternidades e mentalidades no Brasil Colônia. Rio de Janeiro: José Olympio; Brasília: Edunb.
- Magnani, J.G.C. (1986) Umbanda. São Paulo: Ática. (Série Princípios, V. 34).
- Meyer, M. (1993) Maria Padilha e toda a sua quadrilha: De amante de um rei de Castela a Pomba-Gira de Umbanda. São Paulo: Duas Cidades.
- Montero, P. (1985) Da doença à desordem: A Magia na Umbanda. Rio de Janeiro: Graal. (Coleção Biblioteca de Saúde e sociedade, V. 10).
- Mott, L. (1988) Escravidão, homossexualidade e demonologia. São Paulo: Ícone.
- Negrão, L.N. (1996) Entre a cruz e a encruzilhada: Formação do Campo Umbandista em São Paulo. São Paulo: EDUSP.
- Nogueira, C.R.F.(2000) O Diabo no imaginário cristão. Bauru: EDUSC.
- Ortiz, R. (1991) A morte branca do feiticeiro negro: Umbanda e Sociedade Brasileira. (2ª ed.) São Paulo: Brasiliense.
- Parker, R.G. (1991) Corpos, Prazeres e Paixões: A cultura sexual no Brasil contemporâneo. (2ª ed.) São Paulo: Best Seller.