Movimento zapatista

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Zapatistas)
 Nota: Se procura outros significados, veja Zapatista (desambiguação).

O Movimento zapatista inspirou-se na luta de Emiliano Zapata contra o regime autocrático de Porfirio Díaz que encadeou a Revolução Mexicana em 1910. Os zapatistas tiveram mais visibilidade para o grande público a partir de 1 de janeiro de 1994 quando se mostraram para além das montanhas de Chiapas com capuzes pretos e armas nas mãos dizendo ¡Ya Basta! (Já Basta!) contra o NAFTA (acordo de livre comércio entre México, Estados Unidos e Canadá) que foi criado na mesma data.

O movimento defende uma gestão autônoma e democrática do território, a participação direta da população, a partilha da terra e da colheita.

Terras indígenas[editar | editar código-fonte]

Tradução da imagem: Você está em território Zapatista em rebeldia. Aqui manda o povo e o governo obedece. Zona Norte junta do Bom Governo. Se proíbe estritamente o tráfico de: armas, semeadura e consumo de drogas, bebidas alcoólicas, venda ilegal de madeira. Não à destruição da natureza.

As comunidades indígenas estão espalhadas por todos os Estados mexicanos com maior concentração nos Estados de Guerrero, Puebla, Oaxaca, Chiapas, Yucatan e no Estado do México. Os zapatistas concentram-se no sul e sudeste, principalmente Oaxaca e Chiapas. As áreas zapatistas do sul são montanhas e de difícil acesso, áreas estratégicas para a guerrilha zapatista como proteção contra o Exército Mexicano: existe a Serra de Madre do Sul, que se estende por 1.200 quilômetros pela costa sul, e a sudeste pela Cordilheira de Tehuantepec com 2.000 metros de altura e ao longo de 150 km em Oaxaca, além das montanhas: Pico de Orizaba, Serra Madre de Chiapas, Vulcão de Tacuma e Meseta Central.

Línguas e dialetos[editar | editar código-fonte]

As línguas indígenas do México pertencem a três grupos: Hokano, Otomangue e Yutonahua. As línguas Hokanas são Seri, Tequistlateca e Yumana e são faladas nas regiões do oeste dos Estados Unidos, costa do Estado de Sonora e centro de Oaxaca. As línguas Otomangue são Amuzga, Chinanteca, Mixteca, Otopame, Popoloca chocholteco, Ixcateco, Mazateco e Popoloca, Tlapaneca, Zapoteca, faladas nas regiões da Serra Madre do Sul, na fronteira entre Guerrero e Oaxaca, noroeste de Oaxaca, Puebla, Guerrero, Veracruz, Querétaro, Hidalgo, Tlaxcala e Acapulco. As línguas Yutonahua são Corachol, Náhuatl, Pimana, Taracahita, e são faladas nas regiões de Nayarit, Jalisco, Estado do México, Durango, Guerrero, Michoacán, Morelos, Oaxaca, Puebla, San Luis Potosí, Tabasco, Tlaxcala e Veracruz. Em Chiapas predominam as línguas maias.

Economia[editar | editar código-fonte]

Um dos princípios dos zapatistas é a autonomia, o que inclui a economia das cidades autônomas, cercadas por quartéis e pelo exército, os municípios rebeldes estabelecem formas de governo alternativas ao padrão mexicano. A economia das cidades zapatistas baseia-se na economia de produção e subsistência e também pela confecção de materiais indígenas à venda para turistas, toda a renda é controlada sem hierarquia, pelas Juntas de Bom Governo.

Exército Zapatista de Libertação Nacional[editar | editar código-fonte]

Bandeira do EZLN.

O EZLN é um grupo indígena revolucionário de esquerda com inspirações Zapatistas e comunistas com sede em Chiapas, o estado mais pobre do México. Incorpora tecnologias modernas como telefones via satélite e Internet como uma maneira de obter a sustentação local e estrangeira. Consideram-se parte do largo movimento de antiglobalização.

Sua voz mais visível, embora não seu líder, porque é um segundo-comandante — todos os comandantes são índios maias — é o subcomandante Marcos. O comunicado abaixo do subcomandante em 28 de março de 1994 explica o porque de esconder os rostos e porque todos os zapatistas dizem que se chamam "Marcos": "Marcos é gay em São Francisco, negro na África do Sul, asiático na Europa, hispânico em San Isidro, anarquista na Espanha, palestino em Israel, indígena nas ruas de San Cristóbal, roqueiro na cidade universitária, judeu na Alemanha, feminista nos partidos políticos, comunista no pós-guerra fria, pacifista na Bósnia, artista sem galeria e sem portfólio, dona de casa num sábado à tarde, jornalista nas páginas anteriores do jornal, mulher no metropolitano depois das 22h, camponês sem terra, editor marginal, operário sem trabalho, médico sem consultório, escritor sem livros e sem leitores e, sobretudo, zapatista no Sudoeste do México. Enfim, Marcos é um ser humano qualquer neste mundo. Marcos é todas as minorias intoleradas, oprimidas, resistindo, exploradas, dizendo ¡Ya basta! Todas as minorias na hora de falar e maiorias na hora de se calar e aguentar. Todos os intolerados buscando uma palavra, sua palavra. Tudo que incomoda o poder e as boas consciências, este é Marcos."

Presença militar[editar | editar código-fonte]

O ex presidente Vicente Fox foi eleito em 2000 com um discurso dizendo que acabaria com o conflito com os zapatistas em quinze minutos. Como o conflito não acabou, paramilitares vigiam as fronteiras das terras indígenas continuamente, controlando a entrada de turistas e ativistas nas regiões zapatistas. O conflito não se agrava ainda mais em razão da presença, nas áreas indígenas, de organizações internacionais de apoio à causa zapatista, tais como : Chiapas Human Rights Observer Project,[1] do Canadá; Zapatista students, Global Exchange,[2] Barrio Warriors de Aztlan, Chiapas Coalition 98,[3] e Chiapas Peace House Project, dos Estados Unidos; TM Crew,[4] da Itália; Colectivo de Solidaridad con la Rebelión Zapatista de Barcelona, [5] da Espanha; Direkte Solidarit Chiapas,[6] da Suíça; Korautnomedia chiapasa, da Nova Zelândia; Zapatista Solidarity Collective Melbourne,[7] da Austrália, Japanese solidarity, do Japão' e Comitê Avante Zapatistas! do Brasil, além de organizações locais de direitos humanos e da Anistia Internacional. Contudo, massacres, como o de Acteal, e prisões de militantes em terras indígenas são constantes .

Massacre de Acteal[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Massacre de Acteal

O Massacre de Acteal aconteceu em 22 de dezembro de 1997 no vilarejo de Acteal em Chiapas, 46 indígenas tzotziles entre eles 18 crianças, 22 mulheres e 6 homens foram mortos dentro da Igreja de Acteal. A comunidade zapatista local testemunha que 90 paramilitares supostamente membros da Máscara Roja (Máscara Vermelha) fizeram o massacre, durante uma operação que se prolongou por cerca de 7 horas, a curta distância de um posto militar. Os militares ali estacionados não intervieram por forma a evitar o massacre, existindo relatos de que na manhã seguinte alguns deles se encontravam na Igreja, lavando o sangue das paredes. Após indignação da comunidade zapatista, mais de 100 indígenas foram presos em Tuxtla Gutiérrez, capital de Chiapas.

Depois da investigação pela Procuradoria Geral da República do México, entre os supostos participantes na chacina estavam ex-oficiais do exército mexicano e de segurança pública, condenados a pouco mais de três anos de prisão.

Acordo de San Andrés[editar | editar código-fonte]

O Acordo de San Andrés sobre Direitos e Cultura Indígena foi um documento que o governo do México acordou com o Exército Zapatista de Libertação Nacional en 16 de fevereiro de 1996 em San Andrés Larráinzar, Chiapas para comprometer-se a modificar a Constituição do México e outorgar direitos aos povos indígenas sobre autonomia, justiça e igualdade.

Plano Puebla-Panamá[editar | editar código-fonte]

O Plano Puebla-Panamá (atualmente denominado Proyecto Mesoamerica[8]é financiado pelo Banco Centroamericano de Integração Econômica (BCIE) e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Trata-se de uma proposta de integração da América Central, atingindo as regiões de Belize, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá e nove estados do México, incluindo regiões autônomas zapatistas, como Chiapas e Oaxaca. Segundo matéria publicada em The Ecologist de junho de 2001,[9] o projeto implica a evacuação de comunidades indígenas de suas terras para dar espaço a estradas, aeroportos, centros industriais, plantações e áreas protegidas por bases militares.

Livros[editar | editar código-fonte]

Em português[editar | editar código-fonte]

  • EZLN: Passos de uma Rebeldia do Emílio Gennari. ISBN 85-873-946-06
  • A Revolução Invencível, subcomandante marcos e exército de libertação nacional, cartas e comunicados orgs. Massimo Di Felice e Cristobal Muñoz
  • Votán-Zapata, a marcha indígena e a sublevação temporária orgs. Massimo Di Felice e Marco F. Brige

Em espanhol[editar | editar código-fonte]

  • Zapatistas: La Lucha Continua..., David Sanchez.

Em inglês[editar | editar código-fonte]

Vídeos[editar | editar código-fonte]

Referências

Referências bibliográficas[editar | editar código-fonte]

Referências na internet[editar | editar código-fonte]

Commons
Commons
O Commons possui imagens e outros ficheiros sobre Movimento zapatista