Zélia Cardoso de Mello

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Zélia Cardoso de Mello
Zélia Cardoso de Mello
Zélia Cardoso de Mello nas comemorações dos 200 anos do Ministério da Fazenda, em 2008.
139.ª Ministra da Economia, Fazenda e Planejamento do Brasil
Período 15 de março de 1990
a 10 de maio de 1991
Presidente Fernando Collor
Antecessor(a) Maílson da Nóbrega
Sucessor(a) Marcílio Marques Moreira
Dados pessoais
Nome completo Zélia Maria Cardoso de Mello
Nascimento 20 de setembro de 1953 (70 anos)
São Paulo, SP
Nacionalidade brasileira
Alma mater Universidade de São Paulo (USP)
Prêmio(s) Ordem do Mérito Militar[1]
Cônjuge Chico Anysio (1992–1998)
Profissão professora, acadêmica, economista

Zélia Maria Cardoso de Mello GOMM (São Paulo, 20 de setembro de 1953) é uma professora, acadêmica e economista brasileira. Foi ministra da Economia durante o Governo Collor.

Entre 1991 e 1998, teve um relacionamento com o ator e humorista Chico Anysio, com quem teve seus dois filhos, Rodrigo e Vitória.[2] Em 1995, lançou junto com o marido a revista feminina Victoria. A família mudou-se em 1997 para Nova Iorque, onde Zélia atualmente reside com os filhos e trabalha prestando assessoria.[3]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Formada pela Universidade de São Paulo, na década de 70 trabalhou na Cecap (Caixa Estadual de Casas para o Povo) em São Paulo.[4]

Em 1976-77 foi economista na Companhia Estadual de Casas Populares (CECAP). Foi analista senior do Banco Auxiliar de São Paulo (1977/78) e consultora da empresa Dummont Assessoria e Planejamento SC Ltda., (São Paulo, 1978). Em 1981/82 atuou como economista junto à Embaixada do Brasil em Londres. Integrou o Conselho Fiscal da Companhia Energética Paulista (CESP) (1983/1987) e assumiu a Diretoria Financeira administrativa da Companhia de Desenvolvimento Habitacional de São Paulo (1984/1986), ambos os cargos no governo Franco Montoro.[5]

Em agosto de 1990, como ministra, Zélia foi admitida por Collor à Ordem do Mérito Militar no grau de Grande-Oficial especial.[1]

Em 1995, Zélia foi absolvida pelo Supremo Tribunal Federal das acusações de crime contra a administração pública durante o Governo Collor, conforme decisão proferida no inquérito n. 785 de relatoria do Ministro Ilmar Galvão.[6]

Foi casada com Chico Anysio entre 1992 e 1998.

Ministra[editar | editar código-fonte]

Zélia foi empossada em 15 de março de 1990, na posse do presidente Fernando Collor na Presidência, já no dia seguinte, em uma coletiva tumultuada e confusa no auditório do Ministério da Fazenda em Brasília, a então ministra ao lado de seus assessores Antônio Kandir e Ibrahim Eris, anunciou o Plano Collor, “São medidas duras e profundas” falou ela,[7] inicialmente chamado de Plano Brasil Novo, mas depois o nome original foi abandonado por não ter "pegado" na população, os rumores sobre a divulgação de alguma medida de impacto começaram a circular quando, a pedido de Collor, o ainda presidente José Sarney decretou feriado bancário de três dias (14, 15 e 16 de março).

Confisco[editar | editar código-fonte]

Por meio da Medida Provisória 168, 15/3/1990, depois Lei nº 8.024, 12/4/1990, a medida mais controversa e conhecida, três dias antes, a própria Zélia havia descartado a possibilidade de um confisco, o bloqueio de saques de aplicações financeiras maiores do que 50 mil cruzados novos, o equivalente a algo como R$ 18 mil em 2020,[8] os valores em cruzados novos bloqueados ficariam recolhidos ao Banco Central por 18 meses, recebendo juros de 6% ao ano mais correção monetária e seriam liberados em 12 parcelas mensais a partir do 19º mês.

O confisco que tinha como objetivo fazer um intenso corte no fluxo monetário na economia para frear a inflação[9] que estava em cerca de 80% ao mês, em um primeiro momento, o pacote econômico surtiu efeito, em março de 1990, apenas uma semana depois do anúncio, uma pesquisa do Instituto Datafolha, revelou que 81% dos entrevistados avaliaram o Plano Collor como "bom", de 84%, a inflação despencou para 3%, porém, em junho, subiu para 9% e, no mês seguinte, voltou para a casa dos dois dígitos, para 12%.[10]

A própria Zélia contou em sua biografia, Zélia, uma paixão, o livro de Fernando Sabino, escrito a partir de informações dadas pela própria Zélia, traz que a poupança só foi incluída no bloqueio no último momento - a princípio, a medida atingiria apenas as aplicações do overnight - e o valor a ser confiscado só foi decidido na noite anterior ao anúncio, durante uma festa-surpresa no resort Academia de Tênis, às margens do Lago Paranoá, os valores de 20 mil e 70 mil também foram cogitado, o livro diz: "Sempre que tem um problema, Zélia gosta de dar uma trégua para se distrair, deixando o subconsciente trabalhar. Escreveu num papel os números 20, 50 e 70 e voltou à festa", escreveu Sabino. "Ao regressar, havia optado pelos 50 mil".[3]

Outras medidas[editar | editar código-fonte]

  • A conversão financeira de cruzados novos (NCz$) para cruzeiros (Cr$) em proporção 1:1;
  • Após a cobrança extraordinária de 8% de IOF nos haveres não monetários e na venda ou transmissão de ações e ouro, isentos os depósitos à vista e os títulos e depósitos do ativo das instituições financeiras;
  • A conversão em cruzeiros deveria ser feita no momento da liberação dos valores retidos, com regras diferenciadas: papel-moeda, conversão imediata, sem bloqueio; depósitos à vista e cadernetas de poupança, liberação imediata de até Cr$ 50 mil (pela taxa de câmbio oficial de 13/3/1990, US$ 1.300,00; pela taxa do câmbio paralelo, US$ 610,00 em 13/3, US$ 1.110,00 em 19/3 e US$ 770,00 em 30/3); aplicações overnight e contas remuneradas, liberação imediata de Cr$ 25.000,00 ou de 20% do total, valendo o maior; fundos e depósitos a prazo, 20% do total;
  • Preços e salários, sendo determinado pelo governo, posteriormente, ajustes que eram baseados na inflação esperada;
  • Eliminação de vários tipos de incentivos fiscais: para importações, exportações, agricultura, os incentivos fiscais das regiões Norte e Nordeste, da indústria de computadores e a criação de um imposto sobre as grandes fortunas;
  • Indexação imediata dos impostos aplicados no dia posterior a transação, seguindo a inflação do período;
  • Aumento de preços dos serviços públicos, como gás, energia elétrica, serviços postais, etc;
  • Liberação do câmbio e várias medidas para promover uma gradual abertura na economia brasileira em relação à concorrência externa;
  • Extinção de vários institutos governamentais e anúncio de intenção do governo de demitir cerca de 360 mil funcionários públicos, para redução de mais de 300 milhões em gastos administrativos.

Segundo o acadêmico Carlos Eduardo Carvalho, Professor do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a medida política que ficou conhecida como confisco, não fazia parte, originalmente, do Plano Collor e tem origens num consenso entre os candidatos à presidência da época: Fernando Collor, Ulysses Guimarães e Luiz Inácio Lula da Silva.[11][9]

Com Zélia Cardoso de Mello, o Brasil conheceu uma época de mudanças, marcando "uma revolução" [12] em vários níveis da administração pública e na macroeconomia: privatização, abrindo-se pela primeira vez às importações, modernização industrial e tecnológica, redução da dívida do setor público, controle da hiperinflação e uma explosão na demanda.[13][14] O Plano Collor foi seguido pelo governo sucessor como por exemplo na esfera das privatizações.[15]

  • No Governo Collor, o Banco do Brasil registrou recordes positivos de superávits:[16]
    • 1990: Cr$ 293.100 milhões
    • 1991: Cr$ 252.000 milhões
    • 1992: Cr$ 446.800 milhões

Ela deixa o ministério em 10 de maio de 1991, sendo substituída pelo economista Marcílio Marques Moreira.[17]

Publicações[editar | editar código-fonte]

É autora de inúmeros artigos publicados em revistas brasileiras e estrangeiras. Lançou em 1985 o livro Metamorfoses da Riqueza São Paulo 1845-1895.[5]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b BRASIL, Decreto de 9 de agosto de 1990.
  2. «Leia cronologia do humorista Chico Anysio». BOL Notícias. 23 de março de 2012. Consultado em 5 de novembro de 2022. Cópia arquivada em 3 de dezembro de 2013 
  3. a b «Entre infartos, falências e suicídios: os 30 anos do confisco da poupança». G1. Consultado em 6 de abril de 2023 
  4. A Fantástica História de Silvio Santos. Arlindo Silva. Editora do Brasil. pg.67.
  5. a b «Biografia de Zélia». Consultado em 30 de maio de 2007. Arquivado do original em 14 de fevereiro de 2006 
  6. «Supremo Tribunal Federal». portal.stf.jus.br. Consultado em 22 de setembro de 2022 
  7. «Há 30 anos, brasileiro recebia o anúncio de confisco da poupança». Estadão. Consultado em 6 de abril de 2023 
  8. «'Plano Collor tinha caráter recessivo, mas com método', diz ex-presidente». Estadão. Consultado em 6 de abril de 2023 
  9. a b Félix, Fernando Jasper-Colaboraram André Lückman e Rosana. «Um desastre bem arquitetado». Gazeta do Povo. Consultado em 6 de abril de 2023 
  10. «Entre infartos, falências e suicídios: os 30 anos do confisco da poupança». G1. Consultado em 6 de abril de 2023 
  11. Carvalho, Carlos Eduardo (abril de 2006). «As origens e a gênese do Plano Collor». Nova Economia: 101–134. ISSN 0103-6351. doi:10.1590/S0103-63512006000100003. Consultado em 6 de abril de 2023 
  12. Revista Isto é
  13. As origens e a gênese do Plano Collor
  14. A perda do suporte financeiro do estado também implica um ajuste financeiro por meio do aumento da liquidez corrente e redução do endividamento de longo prazo
  15. Revista Bovespa, Programa ajudou a financiar gastos sociai
  16. «Você sabia?, Site oficial de Collor». Consultado em 2 de novembro de 2008. Arquivado do original em 29 de outubro de 2008 
  17. «Entre infartos, falências e suicídios: os 30 anos do confisco da poupança». economia.uol.com.br. Consultado em 6 de abril de 2023 
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Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Precedido por
Maílson Ferreira da Nóbrega
Ministra da Fazenda
1990 — 1991
Sucedido por
Marcílio Marques Moreira