Não matar

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Este logo, criado por Glenn D. Paige, explica o conceito do não matar combinando o velho símbolo asiático do yin-yang com o recente descobrimento neurológico que indica que o estímulo dos circuitos entre os sistemas cerebrais que controlam as emoções e o movimento podem ajudar a mudar o comportamento humano de violento a não violento. De forma análoga, as iniciativas criativas transformadoras (em azul), apoiadas nas capacidades humanas do não matar (em branco), podem trazer o fim das mortes intencionais entre humanos(em vermelho)

Não matar (do inglês: nonkilling) faz referência a sociedades humanas nas quais a morte intencional, ameaças de morte e condições que levem ao matar estejam ausentes.[1] Assim como "não-violência", o conceito faz referência não a uma negação senão a uma afirmação. Embora o uso do termo no âmbito acadêmico se relacione habitualmente com a morte de seres humanos, em ocasiões estende-se para animais e outras formas de vida.[2] Este também é o caso do uso tradicional do termo "não-matar" no marco da ética budista expressada no primeiro preceito da Pancasalia,[3] de forma similar a outras tradições espirituais. De forma significativa, o termo foi usado recentemente na "Carta por um Mundo sem Violência"[4] aprovada pela Oitava Cimeira Mundial de Prémios Nobel da Paz.[5]

Analisando a sua origem, o não matar complementa os conceitos de paz (ausência de guerra e das condições que possam desembocar nela), não violência (psicológica, física e estrutural), e ahiṃsā (não machucar com pensamentos, palavras ou ações).[6] Sem excluir nenhuma das anteriores, o não matar oferece um enfoque diferente caracterizado pelo carácter medível dos seus objetivos e da natureza aberta da sua realização. Enquanto o uso de termos como «não violência» e «paz» frequentemente seguem a forma de argumentação clássica por meio de ideais abstratas que podem levar à passividade, o matar (e seu oposto, o não matar) pode ser quantificado e relacionado a causas específicas seguindo o enfoque da saúde pública (prevenção, intervenção e transformação pós-traumática) rumo à progressiva erradicação do matar.[7] Esta lógica segue as recomendações da Organização Mundial da Saúde, que classificou a violência como uma "doença prevenível"[8]

Por outra parte, o não matar não estabelece nenhum caminho predeterminado para chegar a uma sociedade livre de mortes intencionais, na forma em que o fazem algumas ideologias ou tradições espirituais que promovem a abstenção de tirar vidas humanas. Como enfoque aberto, apela à infinita criatividade e variabilidade humanas, estimulando explorações continuas nos campos da educação, a pesquisa, a ação social e a construção de políticas, e desenvolvendo um amplo leque de alternativas científicas, institucionais, educativas, políticas, econômicas e espirituais à letalidade humana. Ainda, apesar do seu enfoque específico, o não matar também aborda questões sociais mais amplas.[9]

Em relação à agressão psicológica, os ataques físicos e a tortura que tencionam aterrorizar com ameaças de morte, manifesta ou latente, o não matar implica a remoção das suas causas psico-sociais. Enquanto a morte de seres humanos derivada de condições sócio-econômicas estruturais produto do desenvolvimento de capacidades letais assim como resultado da desvio de recursos para fins letais, o não matar implica remover as privações ligadas à letalidade. Em relação às ameaças à viabilidade da biosfera, o não matar implica a ausência de ataques diretos contra os recursos que sustentam a vida e o fim da degradação indireta associada com a letalidade. Em relação às formas de matar acidentais, o não matar implica a criação e desenvolvimento das condições sociais e tecnológicas que levem à sua eliminação.[10]

No seu livro Nonkilling Global Political Science, Glenn D. Paige estimou que menos de 0,5% de todos os humanos que tem existido mataram a outros humanos.[11] Ainda, há evidencias antropológicas que apontam a que em certas culturas e sociedades o matar ocupa níveis estatisticamente insignificantes.[12] Já que os humanos viveram exclusivamente como caçadores-recoletores — uma forma de organização social que plasma os atributos de uma sociedade do não matar- durante 99% da sua existência, também parece obvio que os níveis de violência e mortes intencionais também foram muito reduzidos durante a maior parte da história do Homo sapiens sapiens.[13]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Glenn D. Paige, Nonkilling Global Political Science. Center for Global Nonkilling, 2002; 3rd ed. 2009, página 1.[1]
  2. V. K. Kool and Professor Rita Agrawal, "The Psychology of Nonkilling", in Toward a Nonkilling Paradigm, editado por Joám Evans Pim. Honolulu: Center for Global Nonkilling, 2009.
  3. Stewart McFarlane in Peter Harvey, ed., Buddhism. Continuum, 2001, page 187. Buddhist Scriptures in Pali language have explicit reference to nonviolence and nonkilling: monks should not only themselves abstain from killing but should also refrain from encouraging other people to kill themselves (Vinayapitaka III: .71-74)
  4. 8th World Summit of Nobel Peace Laureates, Charter for a World without Violence. Roma, 15 de dezembro de 2007.[2] Arquivado em 10 de maio de 2009, no Wayback Machine.
  5. "To address all forms of violence we encourage scientific research in the fields of human interaction and dialogue and we invite participation from the academic, scientific and religious communities to aid us in the transition to nonviolent, and nonkilling societies".
  6. "Nonkilling Global Society", in Peace Building, editado por Ada Aharoni, in Encylopedia of Life Support Systems (EOLSS), 2005, Eolss Publishers, Oxford [3].
  7. Antonino Drago, "Nonkilling Science", in Toward a Nonkilling Paradigm, editado por Joám Evans Pim. Honolulu: Center for Global Nonkilling, 2009.
  8. World report on violence and health, 2002 [4].
  9. Glenn D. Paige, Nonkilling Global Political Science. Center for Global Nonkilling, 2002; terceira edição 2009.[5]
  10. "Nonkilling Global Society", in Peace Building, edited by Ada Aharoni, in Encylopedia of Life Support Systems (EOLSS), 2005, Eolss Publishers, Oxford [6].
  11. Glenn D. Paige, Nonkilling Global Political Science. Center for Global Nonkilling, 2002; 3rd ed. 2009, página 40.[7]
  12. Veja-se Encyclopedia of peaceful societies, [8].
  13. Leslie E. Sponsel , "Reflections on the Possibilities of a Nonkilling Society and a Nonkilling Anthropology", in Toward a Nonkilling Paradigm, editado por Joám Evans Pim. Honolulu: Center for Global Nonkilling, 2009.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]