Vila Madalena

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Vila Madalena
Bairro de São Paulo
Panorama do bairro em 2009, no dia do grande blecaute.
Fundação 17 de agosto de 1893
Estilo arquitetônico inicial eclético
art nouveau
Estilo arquitetônico predominante pós-moderno
Imigração predominante Líbano  França
Zona de valor do CRECI Zona B
Distrito Pinheiros
Subprefeitura Pinheiros
Região Administrativa Oeste
Mapa

Vila Madalena (originalmente Vila dos Farrapos) é um bairro nobre da cidade de São Paulo situado no distrito de Pinheiros, na região oeste.[1] É o destino final da Linha 2 - Verde do Metrô, onde é servido por um terminal de ônibus.

Este bairro é bastante conhecido por ser um reduto boêmio da cidade de São Paulo, desde o início dos anos 70, quando estudantes com pouco dinheiro passaram a morar por lá,[2] por causa da proximidade à Universidade de São Paulo e a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Lá há grande concentração de bares e casas noturnas, além da escola de samba Pérola Negra. O nome do bairro também serviu de título a uma novela da Rede Globo, na década de 1990. Por causa de sua fama de bairro jovem e boêmio e por estar próximo ao metrô, diversos albergues (hostels) se instalaram na região.

Devido ao grande número de galerias e estúdios de arte, mistura eclética de restaurantes (Nutty Bavarian é uma marca presente em grande quantidade na Vila Madalena por causa dos viajantes que passam por lá) e bares e uma série de ruas e becos grafitados, como as ruas do Beco do Batman, que atraem jovens profissionais e inúmeras pessoas de diversas localidades, foi eleito o 13.º bairro mais legal do mundo de 2022 na publicação da revista Time Out.[3][4]

História[editar | editar código-fonte]

A Vila dos Farrapos foi estabelecida no século XVI como parte da sesmaria doada ao bandeirantes Fernão Dias.[5] Ela era habitada por índios que migraram para o centro da cidade após a chegada dos jesuítas em 1554.[6] A região começava no Córrego do Rio Verde (nas imediações da Rua Girassol) e ia até o Córrego das Corujas (Rua Harmonia).[5]

Existe a lenda de que o bairro teria recebido o nome atual pois o português dono das terras as repartiu em três partes e batizou os três bairros com o nome de suas filhas, Ida, Beatriz e Madalena. De acordo com o historiador Eduardo José Afonso, a história provavelmente é falsa, já que ela surgiu no mesmo período do que os bares do bairro.[7]

Na década de 1910, as empresas Light e City consturíram uma estação de bonde na Vila Madalena. O bairro, que até então era de terra, sem eletricidade, de difícil acesso e cortado por córregos, recebeu melhorias em sua infraestrutura e vários trabalhadores se instalaram na região. Ainda assim, o local era considerado rural e considerado perigoso, sendo apelidado de “Risca-Faca” por causa dos botecos locais.[6]

Entre os anos 20 e 30, houve uma grande imigração de portugueses após o loteamento do bairro realizado pela prefeitura. A luz foi instalada em 1928.[6] Muitos deles vieram trabalhar na construção do Cemitério São Paulo, e construiram chácaras na região. Também houve uma grande imigração de italianos e espanhóis, e mais tarde de nordestinos.[5]

Nos anos 70 e 80, muitos estudantes passaram a alugar casas na Vila Madalena.[6] Em 1986, a Ditadura Militar fechou o Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (CRUSP), fazendo com que estudantes da USP que frequentavam os bares locais alugassem casas no bairro.[8] Os aluguéis baratos também atraíam os hippies.[5] Os bares do bairro, como o Sujinho, viraram um ponto de encontro para hippies, intelectuais, militantes de esquerda e artistas.[5]

Em 1990, houve um boom imobiliário na região, e foram construídos muitos prédios baixos e de luxo.[6][9]

Características[editar | editar código-fonte]

São comuns manifestações artísticas no bairro. Na foto, grafites no muro do Cemitério São Paulo.

Uma das características mais pitorescas do bairro é o nome de suas ruas. São nomes líricos como: Paulistânia, Harmonia, Girassol, Purpurina, Wisard e Original. Segundo historiadores, as ruas foram batizadas por sugestão de estudantes, participantes do movimento anarquista. A adoção de nomes poéticos tinha a intenção de quebrar a tradição urbana de homenagear autoridades públicas.

Rua Heitor Penteado.

Hoje, o bairro abriga uma concentração ímpar de ateliês e centros de exposições artísticas. Lojas de vanguarda e escolas de música e teatro também compõem as características do lugar.

A associação de moradores organiza feiras para mostrar os talentos artísticos do bairro e um festival anual - a famosa "Feira da Vila" - que atrai gente de toda a cidade, com shows e barracas de artesanato. Uma vez por mês, as lojas e ateliês fazem um fim de semana com todos os produtos na calçada e uma van leva gratuitamente os visitantes para conhecer os pontos mais interessantes do bairro.

A partir de 2014, o bairro, que vinha concentrando um grande número de festas populares, como os carnavais de rua, passou a ter estas atividades diminuídas. Uma das maiores concentrações, e que causou mais polêmica, foi durante os jogos da Copa do Mundo de 2014, que chegou a reunir 70 mil pessoas de uma só vez, em eventos que ficaram conhecidos como "Carnacopa". Aquela grande concentração levou os moradores do bairro a ingressarem no Ministério Público com uma representação, naquele mesmo ano, denunciando alegados transtornos que passaram, como roubos, depredação, tráfico de drogas, atentado ao pudor e outros. No carnaval de 2018, por proibição da prefeitura, pela primeira vez o bairro deixou de receber o tradicional desfile de blocos carnavalescos. No entanto, nem todos concordaram com esta decisão, como o jornalista e morador do bairro, Hélio Schwartsman.[10]

Vila Madalena na mídia[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Vila Madalena (telenovela)

A novela Vila Madalena, ambientada em São Paulo foi exibida no final dos anos 90. Escrita por Walther Negrão, morador do bairro, mostrava a rotina e os ambientes característicos da Vila Madalena e da cidade como um todo.[11]

A população que constituiu o bairro era de imigrantes portugueses, sendo que somente após 1960 muitas ruas foram asfaltadas. Predominantemente residencial no início, a referência do bairro era a Igreja Santa Maria Madalena e São Miguel Arcanjo, cujo primeiro pároco foi o Pe. Olavo Pezzotti. Fica na Rua Girassol, que tem este nome por causa de uma das casas perto da igreja que tinha um grande girassol amarelo no quintal.

Vila Madalena na literatura[editar | editar código-fonte]

A autora Anna Flora, mestre em Teatro pela Universidade de São Paulo, apresenta o livro A República dos Argonautas, que mistura o regime militar brasileiro em suas dificuldades durante a década de 70 com as aventuras dos argonautas da mitologia grega. A narradora, moradora do bairro, conta a influência da ditadura nos moradores da região e também nos jovens menores de dezoito anos. Naquela época, as pessoas do bairro se reuniam para se manifestar contra o governo ditatorial e mostrarem sua indignação em relação à censura e à falta de liberdade de expressão.

O jornalista e artista plástico Enio Squeff, publicou pela editora Boitempo em 2002 "Vila Madalena – Crônica histórica e sentimental", parte da série “Trilhas”: Os volumes apresentam visões pessoais sobre bairros e regiões da capital, com o objetivo de reunir dos materiais diversos sobre a construção das imagens pluralistas, social e culturalmente da cidade.

Moradores ilustres[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Distrito de Pinheiros, em SP, comemora 450 anos». G1 SP. 14 de agosto de 2010. Consultado em 23 de março de 2024. Cópia arquivada em 23 de março de 2024 
  2. "Cervejaria vai reformar Vila Madalena", Diego Zanchetta e Rodrigo Brancatelli, Jornal da Tarde, 26 de abril de 2008, pág. 6A
  3. «Time Out names an area of Guadalajara in Mexico as the Coolest Neighbourhood in the World to visit». Time Out (em inglês). 11 de outubro de 2022. Consultado em 19 de novembro de 2022. Cópia arquivada em 23 de março de 2024 
  4. «Vila Madalena é eleita como o 13º bairro mais legal do mundo para visitar em 2022». Estadão. 13 de outubro de 2022. Consultado em 19 de novembro de 2022. Cópia arquivada em 23 de março de 2024 
  5. a b c d e Marisa Folgato (1 de julho de 2017). «Vila Madalena: alegria na tristeza». Veja São Paulo. Consultado em 23 de março de 2024. Cópia arquivada em 23 de março de 2024 
  6. a b c d e Abrahão de Oliveira (12 de agosto de 2015). «O Bairro Boêmio de São Paulo - A história da Vila Madalena». SP In Foco. Consultado em 23 de março de 2024. Cópia arquivada em 23 de março de 2024 
  7. Maurício Xavier (14 de fevereiro de 2020). «História do surgimento da Vila Madalena pode ser 'fake news' secular». Veja São Paulo. Consultado em 23 de março de 2024. Cópia arquivada em 23 de março de 2024 
  8. Deisy Rodrigues (6 de janeiro de 2024). «Beco do Batman na Vila Madalena - Galeria de Arte a Céu Aberto». São Paulo Sem Mesmice. Consultado em 22 de fevereiro de 2024. Cópia arquivada em 22 de fevereiro de 2024 
  9. Afonso, Eduardo José. «Vila Madalena : O Bairro Boêmio, só isto?» (PDF). Associação Nacional de História. XXV Encontro Estadual de História da ANPUH-SP. Consultado em 23 de março de 2024 
  10. a b «Barricadas a foliões na Vila Madalena são reflexo de "Carnacopa" de 2014». UOL. 12 de fevereiro de 2018. Consultado em 12 de fevereiro de 2018. Cópia arquivada em 12 de fevereiro de 2018 
  11. «Vila Madalena - Memória Globo - Rede Globo» 
  12. «As baladas de um roqueiro». Guia da Vila. Consultado em 12 de janeiro de 2010 
  13. «Sobre». Enio Squeff. Consultado em 6 de março de 2020 
  14. «Irreverência com inteligência». Guia da Vila. Dezembro de 2009. Consultado em 12 de janeiro de 2010 
  15. «Balada Literária de Marcelino Freire domina Vila Madalena». ESTADAO.COM.BR. 18 de novembro de 2009. Consultado em 12 de janeiro de 2010 
  16. «Marias do bairro». Revista Quem. Consultado em 12 de janeiro de 2010 
  17. «Nosso "pão" francês». Guia da Vila. Consultado em 12 de janeiro de 2010 
  18. «Um artista eclético». Guia da Vila. Consultado em 12 de janeiro de 2010 
  19. «O talento secreto de Rafael Cortez». Contigo. Consultado em 12 de janeiro de 2010 
  20. «petraleao». X (formerly Twitter). Consultado em 11 de novembro de 2023 
  21. «petraleao». X (formerly Twitter). Consultado em 11 de novembro de 2023