En passant

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Captura en passant

En passant (francês: [ɑ̃ paˈsɑ̃], "passando") é uma lei do jogo de xadrez que permite uma exceção da captura do peão. No avanço de duas casas do peão, caso haja um peão adversário na coluna adjacente e na mesma fileira, este pode capturar o peão movido como se tivesse havido um avanço de somente uma casa. A captura en passant deve ser feita imediatamente após o peão ter avançado duas casas, portanto, o jogador pode decidir não fazer a captura perdendo o direito de fazê-la posteriormente.[1] Como qualquer outro movimento, se a captura en passant for forçada, isto é, se for o único movimento restante, deverá ser feita.

Este tipo de captura especial foi adotado em conjunto com a regra que permite que os peões avancem duas casas no seu primeiro movimento. A regra evita que um peão passe ao lado de outro sem ser capturado.[2]

História[editar | editar código-fonte]

Exemplo com avanço de duas casas do peão

A permissão da captura en passant foi uma das principais regras alteradas no xadrez entre os séculos XII e XV, junto com a introdução do avanço por duas casas do peão no primeiro movimento, o roque e os movimentos da Dama e Bispo.[3] O espanhol Ruy López de Segura cita a regra em seu livro Libro de la Invención Liberal y Arte del Juego del Axedrez de 1561.[4] Na maioria dos lugares a regra en passant foi adotada em conjunto com o avanço do peão por duas casas mas somente universalmente aceita por volta de 1880, com a adoção das regras italianas.[2] A motivação para criar a captura en passant era evitar que os peões, através do novo movimento de avanço por duas casas, escapassem da captura de um peão adversário.[3]

A regra[editar | editar código-fonte]

Suponha um peão branco em d5, um peão avançado, portanto. Se as pretas jogarem o peão de e7 para e5 (avançando duas casas no primeiro lance do peão), as brancas tem permissão para capturar este peão, colocando seu próprio peão de d5 em e6, e anotando uma captura (e.p.) (abreviatura para en passant). Se, no lugar de ter jogado e5, as pretas tivessem jogado c5, com o peão também saindo de sua posição inicial em c7, o peão das brancas também poderia capturar en passant.[1]

A captura en passant é admitida somente imediatamente ao avanço de duas casas do peão adversário, ou seja, se o peão que avançou duas casas de uma vez não for tomado no próximo lance, a tomada en passant deste peão não mais poderá ser realizada, ou seja, a captura en passant não pode ser adiada para os lances subseqüentes.[1] É o único movimento onde a peça que captura não ocupa a casa do tabuleiro da peça capturada.[5]:463

Exemplo da captura en passant
Pretas jogam
abcdefgh
8
c7 preto peão
e7 preto peão
e6 black cross
d5 branco peão
e5 black circle
8
77
66
55
44
33
22
11
abcdefgh
O peão preto está na posição inicial e pode ser movido tanto para e6, onde poderia ser capturado no movimento seguinte, quanto para e5.
Brancas jogam
abcdefgh
8
c7 preto peão
e6 black cross
d5 branco peão
e5 preto peão
8
77
66
55
44
33
22
11
abcdefgh
As pretas movem então o peão para e5, passando por e6.
Pretas jogam
abcdefgh
8
c7 preto peão
e6 branco peão
8
77
66
55
44
33
22
11
abcdefgh
No movimento seguinte, as brancas capturam o peão preto en passant, por ter passado em e6, ao alcance do peão branco.

Notação[editar | editar código-fonte]

Tanto na notação algébrica de xadrez quando na notação descritiva de xadrez o movimento é denotado por "e.p." ou similar, mas tal notação não é obrigatória exceto nos problemas de análise retrógada.[2] Na notação algébrica, a captura é escrita como se o peão capturado tivesse avançado somente uma casa, por exemplo, bxa3 (ou bxa3e.p.).[6]

Repetição de três movimentos e empate por afogamento[editar | editar código-fonte]

abcdefgh
8
d8 preto rei
d7 branco peão
d6 branco rei
c4 preto peão
d4 branco peão
c3 branco cavalo
8
77
66
55
44
33
22
11
abcdefgh
Se as pretas jogam está configurado o empate por afogamento caso a captura en passant não for mais permitida. Caso contrário devem jogar..cxd3 e eventualmente perdem a partida.

A possibilidade da captura en passant é relevante para invocar o empate por afogamento. Duas posições em que as peças estão todas nas mesmas casas, com o mesmo jogador a mover, são consideradas posições diferentes se havia uma oportunidade de fazer uma captura en passant na primeira posição, e claro a oportunidade não existe na segunda posição.[7]

Em seu livro sobre regras e organização do xadrez, o Árbitro Internacional Kenneth Harkness escreveu que é frequentemente perguntado se uma captura en passant deve ser feita se é o único movimento legal disponível.[8] Este ponto foi debatido no século XIX, com alguns argumentando que o direito de capturar en passant é um "privilégio" que não pode ser obrigatório a exercer. Em seu livro Chess Praxis (1860), Howard Staunton escreveu que a captura é mandatória nestas situações. As regras do xadrez foram atualizadas para deixar isto claro.[9] Na atualidade, está definido que o jogador deve realizar o movimento ou abandonar a partida. O mesmo é verdadeiro se a captura en passant é o único movimento que permite ao jogador sair da situação de xeque.[8]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c FIDE. «FIDE Laws of Chess taking effect from 1 January 2018». International Chess Federation (FIDE) (em inglês). Cópia arquivada em 23 de janeiro de 2021 
  2. a b c Hooper, David; Whyld, Kenneth (1992). The Oxford Companion to Chess (em inglês) 2ª ed. Oxford: Oxford University Press. p. 124-125. ISBN 0-19-866164-9 
  3. a b Davidson, Henry (1949), A Short History of Chess, ISBN 0-679-14550-8 1981 paperback ed. , McKay, pp. 14,16,57 
  4. Golombek (1977), p.108
  5. Burgess, Graham (2000), The Mammoth Book of Chess, ISBN 978-0-7867-0725-6 2nd ed. , Carroll & Graf 
  6. Golombek (1977), p.216
  7. Schiller, Eric (2003), Official Rules of Chess, ISBN 978-1-58042-092-1 2nd ed. , Cardoza, p. 27 
  8. a b Harkness, Kenneth (1967), Official Chess Handbook, ISBN 1-114-15703-1, McKay, p. 49 
  9. Winter, Edward (1999), Stalemate, Chesshistory.com, consultado em 12 de junho de 2009 

Referência bibliográfica[editar | editar código-fonte]

  • HOOPER, David & WHYLD, Kenneth (1992). The Oxford Companion to Chess (em inglês) 2ª ed. Inglaterra: Oxford University Press. ISBN 0-19-866164-9 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]